por Nubor Orlando Facure.
Seu Miranda e sua esposa eram frequentadores assíduos do Centro Espírita.
Trabalhavam nas reuniões mediúnicas e no setor de assistência aos enfermos.
Ambos estão as voltas com dona Júlia que a visitam diariamente para atendê-la no leito que está imobilizada há mais de seis meses.
Eles veem para dar-lhe o passe, trazer a água fluidificada e ler uma página do “Evangelho segundo o Espiritismo”.
A leitura de hoje faz menção a nossa parentela na Terra, que um dia esperamos reencontrar na espiritualidade para colher os frutos da experiência terrena.
A vida e a morte têm esse capricho: reúne, separa e reencontra.
As semanas passam rápidas até que Seu Miranda fica sabendo da morte súbita de dona Júlia.
Aquele coração não suportava mais, apesar de tantos remédios.
Quase dez anos depois, uma grande surpresa:
No Centro Espírita bem diante de seu Miranda uma mensagem é psicografada.
Muito emocionado nosso abnegado servidor do Evangelho percebe que trata-se de uma carta escrita por dona Júlia:
Saudoso irmão Miranda,
Ao desencarnar percebia por muitos e muitos dias que ficou em minha memória nossa última lição do Evangelho.
Ela nos alertava que a tristeza da separação seria amenizada pelo reencontro com parentes que partiram na minha frente, reconfortando-me o coração.
Percebi com o tempo que sustentava um grande e doloroso engano que me levou várias vezes ao desespero.
As portas se abrem, mas o cenário é bem outro, e a realidade é mais penosa que tudo que eu pudesse imaginar.
Após meus primeiros meses de recomposição das forças físicas, tive coragem de perguntar sobre a possibilidade de encontrar a querida mãezinha que me antecedera na partida.
Fui levada até uma dirigente da instituição que me internava naquela ocasião para expor meu pedido aflito.
Era a irmã Alda, que, mansamente, me acolheu e, sem apontar qualquer negativa do pedido que fiz, recomendou que eu precisava, antes de mais nada, passar por um “estágio” num lar de velhinhos.
Ali eu iria acumular créditos e experiência com o carinho que podia distribuir aos idosos.
Algum tempo depois atuando firmemente no estágio que me foi proposto, fui, de novo, falar com irmã Alda.
Poderia rever os dois filhos que me antecederam na morte?
Novamente a irmã Alda me recomendou trabalho.
Trocaria de função, agora eu seria voluntária numa escola de jovens que precisavam de orientação cristã.
Dediquei meu tempo e muito esforço nessa tarefa.
Mais recentemente, depois de oito anos de trabalho voluntário, já não suportava a saudade.
Foi quando fiz novo apelo à irmã Alda.
Que me permitisse o encontro com Tobias meu amado esposo.
Com a mesma delicadeza a nossa diretora me encaminhou para um grupo de excursões entre os encarnados que toda semana acudiam moradores de rua.
Hoje, depois desses dez anos de trabalho, trago as palavras amigas da irmã Alda para nosso esclarecimento.
Sobre minha mãe:
Após a morte ela permanecia em tratamento médico de uma psicose que a atormentou por anos.
Meus dois filhos:
Depois de abusos com bebidas e drogas aguardam liberação da clínica que os acolheu nas imediações da Terra.
Meu esposo está envolvido com obsessores que cobram justiça. Ele se comprometeu desviando o dinheiro deles.
Lição de casa:
Com os dez anos de dedicação voluntária nos estágios que irmã Alda me destacou pude aprender:
O amor que exige posse, tiraniza.
O amor que faz milagres, não dispensa o concurso do tempo.