por Fernando Torres
Francisco Cândido Xavier, o famoso médium brasileiro nascido em Uberaba, entra em seu sexagésimo-primeiro ano de ininterrupto apostolado mediúnico. Ao analisarmos sua extensa obra mediúnica (cerca de 350 livros), podemos classificá-la em diversas fases que, embora não tenham se manifestado independentemente uma das outras, refletem, em nossa visão, um programa do plano espiritual. Arbitrariamente, dividiremos as fases em quatro, embora possamos identificar muitas outras, destacaremos aquelas que consideramos mais relevantes:
1) Fase das mensagens dos escritores luso-brasileiros,
2) Fase dos romances de Emmanuel,
3) Fase das obras de André Luiz,
4) Fase das mensagens de parentes já desencarnados.
Neste boletim, assim como nos próximos boletins do GEAE, iremos descrever, uma a uma, cada uma destas fases, buscando levar a todos (dentro de nossas limitações de tempo e recursos bibliográficos) alguns aspectos interessantes e curiosos de cada uma.
1) Fase das mensagens dos escritores luso-brasileiros
A primeira fase, iniciada em 1932, guarda semelhanças com a fase das “mesas girantes” no início do Espiritismo, pois despertou a atenção geral da população para a fenomenologia mediúnica. Esta é a fase em que Chico Xavier recebeu mediunicamente poemas e contos de inegável valor literário, transmitidos por mestres da literatura luso-brasileira como Castro Alves, Antero de Quental, Fagundes Varela e Casimiro de Abreu, entre outros. O primeiro livro desta fase, “Parnaso do Além Túmulo”, contém 56 poemas de 14 escritores já desencarnados, refletindo tendências que vão do Romantismo ao Simbolismo. A obra foi amplamente comentada na época devido à inusitada semelhança entre o estilo dos escritores quando vivos e posteriormente através da pena mediúnica de Chico Xavier. Os poemas foram analisados por especialistas da área que constataram a existência de elementos estilísticos que comprovaram a desconcertante autoria das obras: os poetas já falecidos! Alguns chegaram mesmo a duvidar que um rapaz de 21 anos, de origem pobre e com formação acadêmica ainda mais humilde, pudesse ter escrito poemas de tão elevado teor literário.
Quando se soube que os poemas haviam sido ditados mediunicamente, logo apareceram críticas para reduzir-lhes as virtudes. Uma das críticas era que o tema dos poemas não coincidia com os temas utilizados pelos poetas quando vivos. Esta crítica leviana não leva em consideração que não são poucos os escritores que tiveram várias fases temáticas durante sua carreira e por que deveriam eles se prender a um tema eternamente? Na verdade, o tema escolhido pelos “Imortais” incomodava muitas pessoas, uma vez que eles voltavam à Terra para proclamar que a vida continuava, e muitos ainda se lamentavam do tempo perdido com a propagação de ideias materialistas. Se os temas não eram os mesmos, como explicar o estilo que se conservara?! Buscou-se então uma explicação ainda mais esdrúxula: os poemas eram de autoria do próprio Chico Xavier, que deveria ter lido muito as obras destes autores ao ponto de assimilar-lhes o estilo. Ridículo.
Para ilustrar alguns exemplos de poemas recebidos por Chico Xavier nesta fase, transcreveremos trechos de alguns deles:
“Esses seres que passam pelas dores
Às geenas do pranto acorrentados
Aluviões de peitos sofredores
No turbilhão dos grandes desgraçados
Corações a sangrar, ermos de amores
Prisioneiros da angústia e da quimera
São os heróis de lutas torturantes”
— Cruz e Sousa
“Vós, que seguis a turba desvairada
Às hostes dos descrentes e dos loucos
Que de olhos cegos e ouvidos moucos
Estão longe da senda iluminada
Retrocedei dos vossos mundos ocos
Começai outra vida em nova estrada
Sem a ideia falaz do grande Nada”
— Olavo Bilac
“No caminho que a treva encheu de horrores
Passa a turba infeliz, exausta e cega
É a humanidade que se desagrega
No apodrecido ergástulo das dores!
Donde venho? Das eras remotíssimas
Das substâncias elementaríssimas
Venho dos invisíveis protozoários”
— Augusto dos Anjos
Desta fase, deve-se destacar também o livro “Antologia dos Imortais”, psicografado no mesmo formato que o “Parnaso”. Em 1937, a psicografia foi levada aos tribunais. Chico Xavier lançou naquele ano o livro “Crônicas de Além Túmulo”, de autoria de Humberto de Campos, o famoso cronista e jornalista maranhense. A viúva de Humberto de Campos, Catharina Vergolina de Campos, moveu um processo contra o médium, acusando-o de usar indevidamente o nome do famoso escritor em uma obra que sua família julgava de qualidade inferior. Chico Xavier ganhou a causa, mas, para evitar problemas no futuro, Humberto de Campos decidiu utilizar o pseudônimo “Irmão X” nos livros seguintes. O episódio está detalhadamente narrado no livro “A Psicografia ante os Tribunais”, de Miguel Timponi, editado pela FEB. As obras de Irmão X são, na sua maioria, contos, crônicas e entrevistas que ele realizou no mundo espiritual, destacando-se o encontro com o imperador D. Pedro II e a atriz Marilyn Monroe.
Fonte: Boletim GeaE, Número 23, 16/03/1993
2) Fase dos romances de Emmanuel
A próxima fase que descreveremos neste boletim refere-se ao período em que Chico Xavier recebeu mediunicamente os romances transmitidos pela entidade espiritual que se apresenta pelo nome de Emmanuel. Este espírito, que desde cedo se identificou como protetor e mentor espiritual de Chico Xavier, tem em seu protegido um companheiro com quem compartilhou sofrimentos e alegrias durante séculos de experiências reencarnatórias em comum. Emmanuel nos deixou várias obras de cunho moral e evangélico, mas nos focalizaremos apenas nos 5 romances que ele ditou nas décadas de 40 e 50. Estes romances foram psicografados numa fase de intensa atividade mediúnica de Chico Xavier, o qual era obrigado a escrever madrugada adentro para receber os capítulos emocionantes que descrevem a história de sacrifício, martírio e exemplificação de personagens ligadas à causa cristã. Havia muita expectativa e ansiedade por parte dos assistentes presentes nas reuniões mediúnicas, que “torciam” pelos seus personagens favoritos e teciam opiniões pessoais sobre o provável destino dos mesmos.
Talvez o mais popular destes romances seja “Há Dois Mil Anos”, verdadeira autobiografia de Emmanuel conforme ele mesmo revela no prefácio do livro. Esta é sua passagem na Terra como o orgulhoso senador Públio Lentulus, casado com a encantadora Lívia, que abraça o Cristianismo provocando a revolta do marido. A doença da filha, Flávia, obriga o desesperado senador a buscar a ajuda de Jesus, e o encontro dos dois é descrito emocionadamente num capítulo de rara beleza. Envolvido numa trama perversa, Públio Lentulus é jogado contra sua própria esposa, que suporta resignadamente o desprezo do marido até sua prova máxima nos circos romanos. Encontra-se neste livro o singelo poema “Alma Gêmea”, dedicado ao senador Lentulus por Lívia, e que se tornou muito popular no meio espírita.
O livro “50 Anos Depois” é a sequência de “Há Dois Mil Anos”, onde Emmanuel narra sua reencarnação expiatória como Nestório, um escravo convertido ao Cristianismo que vem ao mundo numa condição humilde para dominar seu orgulho, motivo principal de sua queda na encarnação anterior como patrício romano. Célia, no entanto, é a personagem principal deste livro, a qual nunca será esquecida pelos seus valorosos testemunhos de fé e renúncia. Vivendo numa sociedade preconceituosa, ela se vê obrigada a se vestir como homem para poder servir a Jesus num núcleo religioso de hábitos muito rígidos localizado no norte da África.
“Ave, Cristo!” também é um episódio do Cristianismo primitivo que se passa por volta do ano 200 de nossa era. Trata-se da luta do romano convertido ao Cristianismo, Quinto Varro, para conduzir seu filho, Taciano, ao caminho do comportamento cristão. Desconhecendo a identidade do pai, Taciano é responsável pela sua morte e, retornando ao mundo espiritual, Quinto Varro pede mais uma oportunidade reencarnatória para recuperar seu filho. O livro possui uma rede complexa de relações na qual almas com débitos em comum são colocadas face a face nas mais diversas e inesperadas situações.
Fechando o ciclo de obras que têm como cenário o Mundo Romano, encontramos aquela que é considerada a “obra-prima” de Emmanuel, o livro “Paulo e Estêvão”. Trata-se da vida de Paulo de Tarso, o apóstolo dos gentios, cuja alma repleta de conflitos filosóficos representa, na opinião de Herculano Pires, a transição do padrão de comportamento típico daquela época para o modo de ser cristão. Responsável diretamente pela morte de Estêvão, primeiro mártir do Cristianismo, Saulo de Tarso vê a figura de Jesus “perseguindo-o” em cada ato de sua vida, convidando-o ao trabalho em sua seara, até que no inesquecível episódio da visão de Jesus às portas de Damasco, Saulo finalmente se curva diante do irresistível apelo. Emmanuel descreve as viagens de Paulo, que percorreu todo o Mediterrâneo fundando igrejas e distribuindo suas famosas epístolas para servirem de orientação aos primeiros núcleos cristãos. “Paulo e Estêvão” foi transmitido a Chico Xavier pelo próprio Paulo de Tarso, que se valeu da mediação de Emmanuel devido à grande distância psíquica entre Chico e Paulo. Segundo o próprio Chico Xavier, receber “Paulo e Estêvão” representou o mais emocionante episódio de sua carreira mediúnica, pois ao término do romance, todas as personagens do livro se apresentaram para agradecer e reverenciar o grande esforço e dedicação do médium mineiro.
“Renúncia” é o único romance que se passa fora do ambiente romano. Desta vez, Emmanuel nos conta a história de Alcione, entidade de elevada elevação espiritual que renasce na Europa do século XVII para ajudar no erguimento moral de seu amado, Polux, assim como de outras entidades que cruzaram seu caminho. A psicologia de Alcione, segundo Emmanuel, é das mais complexas, e seus exemplos de renúncia e desprendimento não podem ser analisados superficialmente, pois representam um padrão de comportamento somente compatível com espíritos de elevada hierarquia moral. Sobre Alcione, Emmanuel ainda diz: “Na grandeza de sua dedicação, vemos o amor renunciando à glória da luz, a fim de se mergulhar no mundo da morte.”
Emmanuel sempre deixou bem claro que seus romances não tinham pretensões literárias, mas sua ideia central foi nos descrever, através de seus romances, casos reais de renúncia e desprendimento para servir-nos de exemplos. Nós que sempre nos queixamos da vida deveríamos nos espelhar nos exemplos de Lívia, Célia, Quinto Varro, Paulo de Tarso, Alcione e tantas outras personalidades que, vivendo em ambientes muito mais hostis que o nosso, deram seus testemunhos de fé e coragem para provar que a morte nunca seria forte o suficiente para aniquilar a vida.
Fonte: Boletim GeaE, Número 24, 23/03/1993
3) Fase das obras de André Luis
André Luiz é um dos autores espirituais mais lidos e admirados pelo público espírita, mas sua verdadeira identidade não é conhecida. Temos razões para crer que, após o “Caso Humberto de Campos”, os espíritos que haviam encarnado como pessoas ilustres resolveram ocultar suas identidades sob pseudônimos para evitar incidentes desagradáveis entre suas famílias e o médium. Todavia, o próprio André Luiz deixa-nos entrever no seu livro “Nosso Lar” que ele havia sido, quando encarnado, um prestigiado médico no Rio de Janeiro nas primeiras décadas deste século. Várias possibilidades foram levantadas, como a de que ele poderia ter sido Oswaldo Cruz, Carlos Chagas ou mesmo Miguel Couto, mas existem certos detalhes (como o número de filhos que André Luiz diz ter tido) que conflitam com dados oficiais referentes a estas personalidades. Para nós espíritas, no entanto, a verdadeira identidade de André Luiz tem pouca importância quando comparada com a imensa e riquíssima obra que ele transmitiu através da mediunidade de Chico Xavier.
Foram ao todo 16 livros, e alguns bateram recordes de vendagem, como é o caso de “Nosso Lar”, que chega à sua quadragésima-primeira edição com um total de 930.000 exemplares vendidos! Abaixo segue-se a lista das obras que completam a “coleção André Luiz”:
– Nosso Lar
– Os Mensageiros
– Missionários da Luz
– Obreiros da Vida Eterna
– No Mundo Maior
– Libertação
– Agenda Cristã
– Entre a Terra e o Céu
– Nos Domínios da Mediunidade
– Ação e Reação
– Evolução em Dois Mundos
– Mecanismos da Mediunidade
– Conduta Espírita
– Sexo e Destino
– Desobsessão
– E a Vida Continua
Os livros de André Luiz tiveram um impacto muito grande no meio espírita porque tratavam de um assunto sobre o qual tínhamos pouca informação desde Kardec. O tema central é A VIDA NO MUNDO ESPIRITUAL, suas peculiaridades, leis e até mesmo sua geografia! Até André Luiz, quase não tínhamos muitas referências sobre este assunto, e mesmo o capítulo VI do segundo livro de “O Livro dos Espíritos” dava margem a muitas perguntas que somente mais tarde puderam ser respondidas. Era natural que os espíritos que orientavam Kardec não quisessem dar muitos DETALHES sobre este assunto, uma vez que era necessário dar prioridade aos alicerces da codificação que deveriam ser solidamente assentados. Além do mais, as revelações sobre o mundo espiritual poderiam não ser bem recebidas e entendidas, o que resultaria no descrédito da Doutrina Espírita. Era necessário que o tempo preparasse as consciências para revelações futuras que dariam prosseguimento à implantação do Espiritismo no seio da nossa sociedade.
As revelações de André Luiz foram tão surpreendentes que mesmo a Federação Espírita Brasileira (FEB) hesitou em lançar alguns de seus livros, pois algumas pessoas os achavam “fantasiosos” demais. Na verdade, o ceticismo tinha sua razão de ser, pois nós espíritas devemos seguir a recomendação kardequiana de aguardar a concordância e universalidade dos ensinos dos espíritos antes de aceitarmos uma revelação. Apesar de um certo ceticismo, o filósofo Herculano Pires chamava a atenção para o fato de que várias descrições que André Luiz havia feito do mundo espiritual coincidiam com as descrições que Anthony Borgia havia feito no seu livro “A Vida nos Mundos Invisíveis”. Mesmo hoje em dia vemos dezenas de livros sendo publicados por escritores não espíritas, confirmando as informações de André Luiz e até mesmo o cinema já começa a vulgarizar estas informações, embora com uma certa imprecisão.
De todos os livros de André Luiz, “Nosso Lar” é o mais popular e até já foi traduzido para o inglês e francês recebendo os títulos de “Astral City” e “Notre Demeure”, respectivamente. Trata-se da história de André Luiz ao chegar ao mundo espiritual, seus padecimentos iniciais (seus abusos na área do fumo e alimentação o qualificaram como suicida), o socorro prestado por sua mãe e seu encaminhamento à colônia espiritual “Nosso Lar”. Segundo o autor espiritual, esta colônia seria uma espécie de lar temporário para almas em trânsito, na qual os espíritos são recebidos e amparados após o desencarne. André Luiz age como um repórter que pergunta sobre o novo mundo onde ele agora vive e se maravilha com a eficiência e organização dos trabalhos por ele presenciados.
“Missionários da Luz” nos traz informações preciosas sobre o processo de “reencarnação” dos espíritos. O capítulo que descreve a reencarnação de Segismundo é importantíssimo, pois nele são descritas todas as etapas do processo reencarnatório desde a consulta aos futuros pais até a fecundação. “Ação e Reação” é um livro fundamental que analisa vários casos com a finalidade esclarecedora de colocar em evidência o aspecto incorruptível e inexorável da Lei Divina que determina o destino dos espíritos em encarnações futuras. Em “Mecanismos da Mediunidade”, André Luiz utiliza conceitos da Física para servirem de analogia a fim de explicar o interessante fenômeno da comunicação mediúnica. André Luiz deixa bem claro sua dificuldade em passar para nós o que ele viu, uma vez que somente uma analogia bem pálida pode ser feita na falta de termos precisos para descrever as maravilhas por ele presenciadas.
O livro “Evolução em Dois Mundos” possui uma história bem curiosa. Chico Xavier habitava em Pedro Leopoldo na época em que o livro foi psicografado, e os capítulos por ele recebidos não tinham uma conexão aparente entre si. Quando o livro foi terminado, André Luiz recomendou que Chico Xavier entrasse em contato com o médium Waldo Vieira, que habitava em Uberaba, e foi assim que se descobriu que cada um dos médiuns havia recebido capítulos alternados que, quando colocados juntos, faziam com que a obra tivesse sentido. Esta é apenas uma das inúmeras histórias interessantes envolvendo o grande médium mineiro e que confirma uma vez mais a autenticidade do fenômeno mediúnico.
Fonte: Boletim GeaE, Número 25, 30/03/1993
4) Fase das mensagens de parentes já desencarnados
Ao encerrar este ciclo de artigos sobre as fases da obra mediúnica de Chico Xavier, iremos focalizar desta vez as mensagens recebidas de parentes já desencarnados. Embora nunca tenha havido propriamente uma “fase” na qual Chico Xavier tenha recebido exclusivamente este tipo de comunicação, nos últimos tempos temos observado uma predominância de publicações que estampam estas mensagens. São livros contendo mensagens ditadas por pessoas que tranquilizam seus parentes a respeito do seu estado após a passagem para o outro mundo. Talvez nunca saibamos com exatidão o número de entidades que escreveram cartas através de Chico, mas certamente foram milhares, a julgar pelo número de pessoas que frequentaram seu centro espírita durante décadas de atividade mediúnica.
Normalmente, as pessoas que procuram Chico Xavier com o intuito de obter uma comunicação desta natureza são familiares que perderam um ente querido e, inconformadas com o destino, desejam entender o porquê da morte “tão prematura”. As comunicações geralmente ocorrem de forma espontânea, e os parentes nem precisam se identificar no início da reunião, pois Chico os chama pelos nomes para entregar aquilo que Divaldo Franco chama de “o correio de luz”. As pessoas que buscam ajuda de Chico representam todas as classes sociais, e muitas percorrem milhares de quilômetros até Uberaba; às vezes, o esforço é recompensado com uma missiva de um ente querido que quase sempre se expressa em tom consolador.
Há poucos anos, o atual Presidente do Senado Federal, o Senador Humberto Lucena, recorreu à mediunidade de Chico Xavier para receber uma comunicação de seu neto, que havia morrido afogado numa piscina no bairro Lago Sul em Brasília. A mensagem transmitida pelo seu neto, auxiliado pelo espírito Bezerra de Menezes, tornou-se publicamente conhecida, pois o próprio Senador incumbiu-se da divulgação da mesma, revelando detalhes familiares impressionantes.
Curiosamente, em Goiás, uma mensagem recebida por Chico Xavier foi anexada ao processo de defesa de uma pessoa acusada do assassinato de um amigo. Os dois brincavam com uma pistola quando inesperadamente houve o disparo que ocasionou a morte de um deles. Na mensagem recebida por Chico Xavier, o espírito da vítima inocentou o amigo de qualquer responsabilidade, e sua assinatura foi até reconhecida em cartório!
Aqueles que negam a possibilidade de comunicação com os “mortos” recorrem a verdadeiros “malabarismos cerebrais” para explicar o fenômeno. O exemplo mais ilustre é o do jesuíta espanhol Oscar Quevedo, que lançou a teoria da “pan-mnesia”, literalmente significando “memória de tudo”. Segundo o religioso, Chico Xavier teria a capacidade de “ler as mentes” das pessoas que o procuram e então reteria as informações necessárias para ilustrar suas comunicações num prodigioso mecanismo de acumulação de informações. Difícil é explicar como Chico Xavier faria a “varredura” mental de uma pessoa numa reunião onde dezenas de pessoas se comprimem num salão de modestas proporções, e torna-se ainda mais difícil e embaraçoso explicar como o médium retiraria informações desconhecidas dos próprios familiares! A questão da assinatura por si só é mais que suficiente para autenticar o fenômeno. Mesmo que a teoria do Padre Quevedo estivesse correta, o fenômeno Chico Xavier ainda seria um caso no mínimo formidável que mereceria toda a atenção da comunidade científica. No entanto, Quevedo apenas dá um verniz novo à velha teoria do “inconsciente” criada pelos metapsiquistas no século passado, e ainda assim não consegue explicar todos os fenômenos.
“A explicação espírita se impõe pela sua simplicidade”, confessou o Prêmio Nobel Charles Richet após anos de pesquisas no campo da Metapsíquica. De fato, basta ler o segundo capítulo de “O Livro dos Médiuns”, onde Allan Kardec deixa bem claro que a comunicação mediúnica não é nada de sobrenatural ou miraculoso. Trata-se de um fenômeno natural, inerente à condição humana, que sempre existiu e nunca deixou de ocorrer. A história da cultura antropológica mostra que ao longo dos séculos, o homem sempre manteve contato com os espíritos, que assumiram nomes variados como “daimon”, gênio, deuses, “espírito-santo” e assim por diante. O Espiritismo NÃO INVENTOU a mediunidade; apenas propôs uma sistemática para seu desenvolvimento e controle dentro de padrões elevados de moral cristã.
Chico Xavier é para nós um dos mais perfeitos médiuns que já existiu. Sua fidelidade a Kardec, seu carisma, sua humildade e, sobretudo, sua dedicação aos trabalhos de caridade na seara cristã o tornam personalidade respeitadíssima em qualquer círculo. Até os adversários da Doutrina Espírita o respeitam e o veneram pelo trabalho monumental de difusão das ideias cristãs desde a década de 30! Seu nome já foi lembrado para o Prêmio Nobel da Paz, e ele é cidadão honorário de várias cidades brasileiras. Seus livros são best-sellers há anos, talvez apenas superados em número de vendagem pelas obras de Jorge Amado. Vale a pena lembrar que Chico Xavier NÃO recebe direitos autorais. Ele vive de uma pensão de funcionário público aposentado, e suas posses se resumem a uma humilde casa em Uberaba.
No mês de abril, é comemorado o aniversário de Chico Xavier, e este trabalho que hoje se encerra é dedicado a este grande homem que há mais de 60 anos consola os infelizes, esclarece os sedentos de conhecimento e ilumina os corações de milhões de pessoas que já leram qualquer uma de suas 350 obras. Muito obrigado, Chico Xavier!
Fonte: Boletim do GeaE, Número 27, 13/04/1993
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Nota do Editor: O texto foi adaptado com correções feitas pelo ChatGPT (25/06/2024)