Aula 18. Conclusões Finais

por Alexandre Fontes da Fonseca

 

É com bastante satisfação que chegamos ao final das aulas sobre Ciência & Espiritismo em coincidência com o 13º Aniversário do Boletim do GEAE. O leitor pode verificar que iniciamos essas aulas justamente no Boletim de Aniversário de 12 anos, encerrando, então, um ano de estudos.

Estamos concluindo o conjunto de aulas sobre Ciência e Espiritismo mas jamais consideraremos o assunto como estando encerrado. A Ciência tem uma característica muito positiva que é o caráter progressivo. Ela evolui com o progresso dos Homens e isso, naturalmente, se estende ao conteúdo que intentamos introduzir com essas aulas. Vamos brevemente rever o que estudamos ao longo desse ano.

Essas aulas sobre Ciência e Espiritismo tiveram dois objetivos fundamentais: 1) introduzir os leitores às formas, objetos, métodos e rigores do trabalho de pesquisa nos meios acadêmicos; e 2) exemplificar como utilizar isso no desenvolvimento dos estudos e atividades de pesquisa espíritas. Não tivemos a intenção de supervalorizar o aspecto científico do Espiritismo em detrimento dos outros. É preciso lembrar (e repetir) que o Movimento Espírita não é um movimento puramente científico ou acadêmico onde devemos apenas trabalhar de acordo com os métodos científicos ou de acordo com os procedimentos acadêmicos. Em seu Editorial do Boletim número 491, Carlos Iglesia expõe de modo muito lúcido que “O Espiritismo é muito mais que uma ciência, pois almeja além do saber, a interiorização do saber. É mais que uma filosofia, pois além de questionar a vida, almeja transformar para melhor a própria vida, é mais que uma religião, pois além de estabelecer uma ligação do ser com o criador, almeja elevar o ser até o criador.

Às vezes, ocorre que companheiros muito bem intencionados, motivados pelo estudo e progresso da Ciência e dos meios de comunicação (como a internet), se entusiasmam após a primeira leitura de trabalhos espíritas de valor científico e desejam contribuir com a divulgação do Espiritismo aproveitando essas ferramentas de progresso.

No entanto, precisamos ter a consciência de que cada ferramenta tem funções e características bem definidas e o equilíbrio (mental e emocional) é necessário para não deixarmos o nosso entusiasmo extrapolar as mesmas para situações onde, a rigor, elas não se aplicam. A Ciência deve, portanto, ser vista como uma valiosa ferramenta de progresso e como tal precisa ser conhecida e estudada por aqueles que se interessam por ela. Estes deverão treinar o uso correto da mesma para que a empreguem com sabedoria. Devemos estar vigilantes e atentos aos convites ao menor esforço que, neste campo em particular, sugerem que a Ciência está prejudicada, enferrujada, totalmente incapaz de ajudar o Homem em seu caminho evolutivo. Muitas vezes nos esquecemos que é a criatura que externa seus conflitos no uso inadequado das ferramentas que a bondade divina lhe emprestou para progredir. Qualquer expressão de materialismo por parte dos cientistas reflete pura e simplesmente o sentimento deles como espíritos em trânsito para o progresso espiritual. Assim, lembrando das palavras de Jesus “Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus” (Mt 22,21), busquemos desenvolver maior responsabilidade em nossos propósitos de contribuir com o progresso dos conhecimentos espíritas usando a ferramenta da Ciência.

Esses comentários objetivam a nossa conscientização de que o Movimento Espírita possui muitas atividades diferentes e que TODAS ELAS são de grande valor dentro do objetivo maior de divulgação da Doutrina Espírita. Todos os aspectos doutrinários (filosófico, científico e religioso) são de enorme valia no progresso das pessoas e, convenhamos, se algum deles não fosse útil, os Espíritos Superiores teriam orientado Kardec nesse ponto. As pessoas são muito diferentes, com experiências e bagagens espirituais diferentes. Umas se sensibilizam mais com o aspecto religioso e por isso esse aspecto as iniciará no Movimento Espírita. Outros se afinizam pelo aspecto filosófico ou científico e naturalmente se interessarão por esses aspectos dentro do Espiritismo. Nosso cuidado deve ser em não transmitir valores em desacordo com a mensagem espírita-cristã em nome de atrair, satisfazer e manter as pessoas que se interessam por esse ou aquele aspecto doutrinário. Sabemos, por exemplo, que não se deve adotar imagens de santos, ornamentos, estátuas e outros objetos com intento de ressaltar o aspecto religioso do Espiritismo. Mas sabemos da enorme importância da existência das reuniões de estudo do Evangelho Segundo o Espiritismo que mostra que os ensinamentos da Doutrina Espírita revivem justamente os ensinamentos cristãos.

Da mesma forma, com relação ao aspecto científico, nossa atitude deve ser totalmente consistente tanto com o que conhecemos por Ciência quanto com a mensagem espírita. Kardec, no período em que trabalhou na codificação, demonstrou enorme senso científico, muito além do seu tempo. Ele buscou aliar seus conhecimentos e experiências como educador e cientista à descoberta do fenômeno espírita, jamais propondo ideias que ele não pudesse demonstrar através dos fatos e agregar, dessa forma, o devido valor.

Nossa intenção foi trazer ao leitor amigo e interessado as ideias de rigor e trabalho que ocorrem nos meios acadêmicos da atualidade de modo a mostrar a necessidade e a importância do esforço no estudo para a aquisição do conhecimento sólido que serve de base para o progresso. Talvez a palavra esforço cause estranheza mas basta lembrarmos, por exemplo, das obras de André Luiz. A palavra esforço é usada muitíssimas vezes para refletir a necessidade de vigilância de cada individualidade na aquisição dos valores morais que o levarão aos grandes vôos da imortalidade. Diversas narrativas de André Luiz existem sobre as palestras ministradas por Espíritos já bastante elevados. Segundo André Luiz, em tais eventos a oportunidade da pergunta não é dada a todos os que assistem a palestra. Geralmente, somente aqueles que tem maior experiência no assunto da palestra possuem o direito de interpelar os bondosos instrutores da vida maior. Isso sugere a nós outros que a desencarnação não é nem porta de acesso à felicidade absoluta nem torna os Espíritos conhecedores de tudo. As palavras de Jesus “a cada um segundo a suas obras” (Mt 16,27) são bastante claras: ninguém almejará colher um grão sequer sem o esforço da plantação. Da mesma forma, o aspecto científico do Espiritismo exige o esforço paciente e constante de todos nós que nos afinizamos com ele. Todos sonhamos com o dia em que a sociedade reconhecerá o Espiritismo e alguns companheiros valorosos, como Hermínio de Miranda, expõem a opinião de que “Temos que reconhecer – não sem certa dose de humildade cristã – que não basta nossa crença inabalável nos fenômenos demonstrados, para torná-los aceitáveis aos outros. É preciso, para vencer a resistência da ideia preconcebida ou da mera preguiça humana de pensar, não apenas a nossa convicção de mais de um século, mas o pronunciamento oficial da Ciência, que, para muitos de nossos irmãos, será a palavra final sobre o assunto” [1]. E podemos ter certeza de que não adianta apenas fazer afirmativas de que “a Ciência está comprovando o Espiritismo” que vamos satisfazer aos critérios que a crítica apresenta.

Não podíamos nos esquecer ainda de citar o Codificador sobre esta questão do esforço e da paciência. No item XIII da Introdução de O Livro dos Espíritos, Kardec diz:

Anos são precisos para forma-se um médico medíocre e três quartas partes da vida para chegar-se a ser um sábio. Como pretender-se em algumas horas adquirir a Ciência do Infinito? Ninguém, pois, se iluda: o estudo do Espiritismo é imenso; interessa a todas as questões da metafísica e da ordem social; é um mundo que se abre diante de nós. Será de admirar que o efetuá-lo demande tempo, muito tempo mesmo?” (Grifos nossos).

Iniciamos as aulas falando sobre as características que determinam se um capo de estudo pode ou não ser chamado de científico à luz da Filosofia da Ciência. Graças ao esforço do Prof. Silvio S. Chibeni, podemos dizer com toda a certeza que o Espiritismo possui todos os ingredientes de qualquer disciplina científica. Em seguida, iniciamos a falar da Ciência Espírita, propriamente dita, onde os assuntos a serem pesquisados não envolvem nenhum conceito ou fenômeno de outra ciência. Falamos sobre a divulgação dos trabalhos científicos, a forma pela qual os artigos são feitos e avaliados e sua importância no processo de desenvolvimento da disciplina em questão. Falamos sobre os assuntos de interesse espírita que envolvem outras disciplinas científicas como a Medicina, a Matemática e a Física. Neste último caso, nos detivemos em analisar algumas afirmativas trazendo um exemplo de crítica que normalmente ocorre na atividade cotidiana do cientista profissional. Vimos que a Medicina é uma das Ciências que mais abrem espaço para introdução dos conceitos espíritas e evangélicos. Vimos, também, através de alguns exemplos de nossa autoria, que algumas áreas mais abstratas como a Matemática podem contribuir com resultados de interesse ao espiritualista em geral. Discutimos a diferença de valores científicos entre os diversos tipos de livros, os diversos tipos de artigos e a diferença entre livros e artigos. Expusemos nosso ponto de vista sobre a relação entre a Universidade e o Espiritismo bem como analisamos a ideia de uma universidade espírita. Introduzimos o leitor à ideia de projeto de pesquisa apresentando um exemplo espírita para futuras consultas. Falamos da importância não só do estudo em qualquer trabalho de pesquisa, mas também da orientação nesse processo, especialmente no caso de iniciantes. Encerramos as aulas falando do local de trabalho do pesquisador espírita figurando o laboratório de pesquisa de acordo com o gênero de pesquisa a ser realizada.

Entretanto, teríamos ainda muito a dizer bem com ainda muito a ouvir de outros irmãos espíritas que trabalham em outras áreas da ciência, e mesmo dos espíritas que nada conhecem do meio acadêmico. Porém, podemos dizer que a intenção de fomentar o diálogo aberto, franco e fraterno sobre o assunto, foi atingido de forma satisfatória.

Uma ideia está subjacente ao nosso interesse com essas aulas sobre Ciência & Espiritismo e que merece vir à tona. Não há necessidade de que uma pessoa se torne cientista profissional para contribuir cientificamente com o progresso do conhecimento espírita. Basta que aprendamos com as pessoas que militam no meio acadêmico os ingredientes mínimos para a realização de um bom trabalho de pesquisa. Podemos dizer que ao contrário do que se possa imaginar, isso não requer de nós mais do que já temos. Basicamente, isso requer um pouco do nosso esforço, de nossa capacidade de estudar, de nosso tempo disponível. E, acima de tudo, isso requer de nós a paciência de seguir um passo após o outro, e a humildade para recebermos, analisarmos e aceitarmos as críticas ao nosso trabalho. Na medida em que as pessoas aprenderem como se realiza um trabalho sério de pesquisa, mais e mais os Espíritos superiores encontrarão terreno fértil para sugerir ideias que ajudarão o progresso do entendimento espírita.

As instituições, federações e órgãos de unificação espíritas devem, tanto quanto possível, apoiar a iniciativa em atividades de pesquisa. Especial atenção deve ser dada aos jovens e iniciantes na atividade de pesquisa espírita. Em nossa opinião, o Movimento Espírita já está maduro para a realização de trabalhos de pesquisa cada vez mais sérios e tão organizados quanto os de outros setores da sociedade ou de outras disciplinas acadêmicas.

Eu gostaria finalizar manifestando meu agradecimento especial aos membros do Conselho Editorial do GEAE pela ideia, oportunidade e apoio ao longo deste um ano de estudos. Agradecemos também aos bons Espíritos por toda ajuda invisível e pelas ideias inspiradas ao longo deste trabalho. Por fim, pedimos a Deus que nos fortaleça e ilumine em nossos propósitos de evolução em todos os aspectos. Que nos unamos cada vez mais para a realização de estudos e trabalhos que divulguem a Doutrina Espírita e nos elevem um pouco mais para junto do Criador.

Referências

[1] H. C. Miranda, Sobrevivência e Comunicabilidade dos Espíritos, Editora FEB, 3ª Edição (1975).


Fonte: Boletim GEAE 13(500), 15/10/2005

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