Boletim GEAE

Grupo de Estudos Avançados Espíritas

http://www.geae.inf.br

Fundado em 15 de outubro de 1992
Boletim Quinzenal de Distribuição Eletrônica

"Fé inabalável é somente aquela que pode encarar a razão, face a face, em todas as épocas da humanidade", Allan Kardec

Ano 13 - Número 491 - 2005            19 de abril de 2005


Editorial

Mudanças na vida cotidiana

Artigos

Curso de Ciência e Espiritismo, 9ª Aula, Alexandre Fontes da Fonseca, Brasil
Complexidade e Liberdade II, Edgar Morin, França
Entre a fé e o Amor, Milton R. Medran Moreira - CEPA, Brasil

História & Pesquisa

Vidência e Clarividência III, Jáder dos Reis Sampaio, Brasil


Questões e Comentários

Livre Arbítrio e Perfeição, Marcelo Latini, Brasil
Assistência a Espíritos Desencarnados, Ivan Guimarães, Brasil
Pedido de Sugestões para Estudos e Pesquisas, Carlos A. Primolam, Brasil

Painel

GEAE Lança Novo Projeto - Estudos em Inglês da Doutrina Espírita, via Encontros Virtuais Paltalk
Estudo Sistematizado da Doutrina Espírita na UNICAMP - Universidade de Campinas



Editorial


Mudanças na vida cotidiana


Amigos,

Nós que participamos do GEAE  não estamos isentos das atribulações normais da vida cotidiana, entre elas as mudanças que periodicamente ocorrem na vida de todos. Desencarnações de familiares e amigos, períodos de transformações no serviço, problemas temporários de saúde, compromissos sociais diversos e tantas outras ocorrências naturais da vida neste mundo material.

Há mudanças que acabam transformando nosso dia-a-dia e exigindo maior esforço e tempo na adaptação, com impactos sobre as tarefas que executamos. É por isso que algumas vezes não conseguimos manter a periodicidade correta dos boletins e temos alguns atrasos nas edições. Mas, graças a Deus, temos conseguido manter a continuidade do trabalho editorial e - contando com a compreensão de todos os amigos que conosco trocam experiências através do GEAE - tocando adiante nossos estudos.

Um aspecto interessante das tarefas no GEAE é a forma como elas acabam influenciando a forma como passamos pelas transformações da vida. Ao longo destes anos de estudo temos aprendido com os colegas mais experientes a encarar a vida de forma mais abrangente, aprendemos que as transformações são naturais, decorrentes da nossa necessidade de burilamento. Situações que se transformam em lições, levando-nos a entender diferentes aspectos de nós mesmos e do mundo ao nosso redor.

Nada neste mundo material é permanente, tudo está sujeito a leis sábias que modificam os cenários com a finalidade de forçar os atores a exercerem novas habilidades e serem mais flexiveis na atuação. A impermanência do mundo material, que atinge mesmo nosso próprio corpo fisico, que se transforma incessantemente,  força-nos a não nos apegarmos a esta ou aquela circunstância, força-nos a viver o que vier pela frente e a sermos senhores de nós mesmos independentemente dos fatores externos. O espírito eterno  - que em essência todos nós somos - não pode e não deve estar preso ao transitório, deve encontrar a felicidade não no fato de possuir algo, ou estar em algum lugar ou posição, mas sim em "ser".

E "ser" significa agir de forma a vivenciar a eternidade agora mesmo, significa atuar de conformidade com os principios em que acreditamos, significa fazer em cada instante de vida o melhor que pudermos dentro do ponto de compreensão que já atingimos. O Espiritismo é um caminho para atingir este equilibrio interior, não é o único, existem outras filosofias e religiões que vividas sinceramente levam aos mesmos resultados, mas ninguem pode negar que é um dos mais coerentes e claros.

O Espiritismo é muito mais que uma ciência, pois almeja além do saber, a interiorização do saber. É mais que uma filosofia, pois além de questionar a vida, almeja transformar para melhor a própria vida, é mais que uma religião, pois além de estabelecer uma ligação do ser com o criador, almeja elevar o ser até o criador.

Assim, amigos, existem mudanças na nossa vida cotidiana,  mudanças que encaradas da forma correta, pela perspectiva do ser eterno, sempre somam algo de melhor a nós mesmos e aos que nos cercam. E, longe de nos apegarmos aos cenários que se vão, devemos nos adequar aos novos cenários que a vida nos apresenta, sob a direção extraordinária desta realidade maior a que chamamos de Deus.

Muita Paz,
Carlos Iglesia
Editor GEAE

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Artigos

 
 

Curso de Ciência e Espiritismo, 9ª Aula, Alexandre Fontes da Fonseca, Brasil


1. FÍSICA E ESPIRITISMO IV: FENÔMENOS ESPÍRITAS: CLÁSSICOS OU QUÂNTICOS ?


Na aula anterior (Boletim 490), apresentamos algumas características dos fenômenos espíritas, especialmente, os fenômenos mediúnicos inteligentes e de efeitos físicos. Apresentamos, também, algumas propriedades dos fenômenos quânticos que caracterizam o mundo microscópico. Chamamos de C1, C2 e C3 as características relacionadas com a quantização da troca de energia, dualidade onda-partícula e não-localidade, respectivamente. Pedimos aos leitores que leiam novamente a aula anterior antes de prosseguir de modo a perceberem mais claramente os argumentos que serão apresentados a seguir.

Tanto a mediunidade de efeitos inteligentes quanto a de efeitos físicos não podem ser analisadas sob os aspectos relacionados às características C1 e C2. Primeiramente porque eles são macroscópicos, isto é, os volumes de informação nos efeitos inteligentes, e do objeto utilizado nos efeitos físicos são macroscópicos. Todos esses fenômenos envolvem processos de trocas e interações fluídicas em quantidades macroscópicas. Portanto, a característica C1 é impossível de ser medida ou inferida pois não temos como avaliar se as trocas fluídicas ocorrem de forma quantizada ou em pacotes múltiplos de alguma quantidade pequena (um quantum) nos fenômenos mediúnicos.

A característica C2 também não pode ser avaliada pois é impossível testar se esses fenômenos possuem características duais com relação a alguma propriedade ou característica qualquer. No caso da matéria, os efeitos do tipo “onda” para objetos macroscópicos são muitas ordens de grandeza menores do que os efeitos do tipo “partícula” e, por isso, não são percebidos. Mesmo que os fluidos em sua estrutura íntima possuam a característica C2 jamais poderemos sentí-la nos fenômenos mediúnicos porque eles são macroscópicos.

A característica C3 (não-localidade) é aquela que gera mais confusão entre nós. O aspecto “sutil” relacionado com a C3, apresentado por alguns fenômenos quânticos, tem chamado a atenção do Movimento Espírita. Porém, como veremos adiante, os fenômenos espíritas, de acordo com a Doutrina Espírita, não são não-locais.

Primeiramente, vamos analisar a questão 282 do Livro dos Espíritos [1]. Segundo os espíritos, é através do Fluido Universal que os espíritos se comunicam, ou seja, ele é o veículo da transmissão do pensamento. Se existe um veículo de transmissão para a informação, então esse fenômeno é local e, portanto, ocorre dentro de um intervalo de tempo e espaço. Por mais rápido que seja o fluxo de idéias de um espírito para o médium, ele não ocorre de forma instantânea. Por mais sutil que seja o processo de comunicação através do pensamento, ele se utiliza do fluido universal como meio de propagação, “como, para vós, o ar o é do som”(questão 282), que é uma característica de fenômeno clássico local. O fenômeno não-local é caracterizado por ocorrer sem o intermédio de nenhum meio ou fluido.

Além disso, o fenômeno de não-localidade que pode ocorrer entre duas ou mais partes de um sistema quântico, jamais poderá ser usado como meio de transmissão de informação, como as ondas eletromagnéticas são o meio de transmissão de informação no telefone celular, por exemplo. Desde que no fenômeno mediúnico inteligente ou de efeitos físicos, alguma informação é transmitida do desencarnado para um ou mais encarnados, então esse fenômeno não ocorre por intermédio de um processo não-local.

Ainda a título de demonstração de que a não-localidade realmente não faz parte das explicações dadas pelos espíritos, vejamos a seguinte questão do Livro dos Espíritos [1]:

89. Os Espíritos gastam algum tempo para percorrer o espaço?
“Sim, mas fazem-no com a rapidez do pensamento.”

Essa questão diz que por mais rápido sejam os espíritos, eles possuem velocidade finita, isto é, eles gastam algum tempo para percorrer o espaço. Isso, portanto, é uma característica de fenômeno local. O movimento dos espíritos é um fenômeno local. Para ser um fenômeno não-local é necessário que o deslocamento ocorra de forma instantânea.

Agora, vamos analisar a explicação dada pelo espírito de Erasto para a mediunidade de transporte (ver aula anterior). Se nenhum espírito pode trazer uma flor de um outro planeta por causa da diferença de ambiente fluídico, então isso significa que o espírito, nesse tipo de fenômeno, precisa se deslocar até o local onde o objeto está presente. Ele deve combinar seus fluidos com os fluidos materializados e atuar sobre o objeto para então trazê-lo. Isso é uma característica de fenômeno local. A forma ou os mecanismos físicos pelos quais o fenômeno ocorre são desconhecidos no momento. Talvez, esses mecanismos envolvam propriedades quânticas da matéria física densa e/ou da matéria fluídica, mas somos incapazes de verificar isso com base somente na Doutrina Espírita ou mesmo nos fenômenos em si. Em aulas futuras, falaremos sobre como definir um projeto de pesquisa espírita apropriado para investigar um problema como esse.

Nossa conclusão, com base na Doutrina Espírita, é que os fenômenos espíritas não são quânticos e não podemos inferir se suas propriedades decorrem de aspectos quânticos seja dos fluidos, seja da matéria. Esses fenômenos são, simplesmente, clássicos. Isso, nem de longe, compromete o valor do Espiritismo tanto como doutrina quanto como disciplina científica. A título de informação, a Mecânica Clássica ainda é muito utilizada no estudo de diversos fenômenos naturais como, por exemplo, a vida. Sistemas físicos cujas dimensões são macroscópicas, como os seres vivos, não podem ser estudados diretamente com a teoria quântica pois ela é intratável computacionalmente, nesses casos. Portanto, não existe nada de vergonhoso em reconhecer que os fenômenos espíritas são explicados a partir de conceitos clássicos. Isso tem muito mais valor científico do que a proposição e repetição, sem compreensão, de afirmativas que envolvam terminologias e/ou conceitos oriundos de teorias quânticas modernas. Se por um lado as pessoas em geral são incapazes de avaliar essas afirmativas, as pessoas que possuem formação científica facilmente percebem os equívocos das mesmas e podem se desinteressar do Espiritismo por causa de um engano.

É importante frisar que assim como alguns fenômenos macroscópicos da matéria decorrem das propriedades quânticas da estrutura microscópica da mesma, é perfeitamente possível que algumas propriedades dos fluidos espirituais decorram de propriedades de sua estrutura íntima. Isso é bem diferente do que expomos aqui! Uma coisa é a formulação de uma teoria que explique o comportamento de um determinado tipo de objeto em uma escala de tamanho macroscópica. Outra coisa, é buscar explicar as propriedades macroscópicas de um sistema em termos das propriedades microscópicas das diversas partes que compõem o mesmo. Segundo a história da ciência, as teorias para a estrutura da matéria só vieram depois das teorias clássicas. Portanto, é preciso que trabalhemos primeiro em descortinar todas as propriedades macroscópicas dos fluidos espirituais para então buscarmos desenvolver alguma teoria para a estrutura microscópica que explique essas propriedades. Foi dessa forma que a ciência chegou até a teoria quântica da matéria e justamente o fato de explicar algumas propriedades macroscópicas é que conferiu o valor sólido que a teoria quântica apresenta.

André Luiz, em Mecanismos da Mediunidade, tenta fazer uma analogia entre a estrutura da matéria fluídica e os mecanismos dos fenômenos mediúnicos. Mas, como veremos em aula futura, as analogias de André Luiz não incluem a consideração de que os fenômenos mediúnicos são não-locais.

Na próxima aula, analisaremos a idéia de que Deus ou o Espírito seria uma “função de onda”.

2. PESQUISA SOBRE OS CRISTAIS DA ÁGUA: SEM VALOR CIENTÍFICO (POR ENQUANTO)

Na aula anterior comentamos sobre algumas pesquisas cujo valor científico se revela pela forma de análise do assunto e da qualidade da bibliografia utilizada.

Aqui, vamos comentar um exemplo de trabalho espiritualista que ainda não possui respaldo científico. Se trata das pesquisas realizadas pelo Dr. Massaru Emoto sobre a cristalização da água [3].

Segundo Emoto [3], as vibrações absorvidas por uma amostra de água podem ser verificadas através da forma de cristalização das moléculas dessa amostra. Pensamentos, sentimentos, músicas, cores, palavras, etc. atuariam sobre a água, de acordo com o Dr. Emoto.

Através de uma busca simples na internet podemos verificar que o nome do Dr. Emoto é bastante conhecido junto a muitos grupos espiritualistas (incluindo o Movimento Espírita) de todo o mundo. Porém, o trabalho do Dr. Emoto ainda não é conhecido, formalmente, pela comunidade científica. Já explicamos em aulas anteriores a questão sobre a comprovação científica e a necessidade de divulgar a pesquisa científica através de artigos publicados em periódicos científicos que possuem o método de análise por pares. Infelizmente, por enquanto, nenhuma parte do trabalho do Dr. Emoto foi publicada em alguma revista científica. Ele apenas divulga seu trabalho em homepages particulares e através de livros de divulgação. Como vimos na aula 6 (Boletim 488), livros de divulgação tem pouco valor como referência científica. Por essas razões, o trabalho do Dr. Emoto não pode ser considerado, ainda, como cientificamente comprovado.

Podemos acrescentar uma discussão realizada por nós sobre essa pesquisa com a água [5]. A afirmativa do Dr. Emoto de que uma palavra escrita no rótulo de um frasco com uma amostra de água, influencia a forma de cristalização da mesma, é ilógica e contrária à Doutrina Espírita pois sabemos que são os espíritos os agentes que agem sobre os fluidos direcionando-os para atuarem sobre a matéria. Sabemos que a água é suscetível de impregnar-se de fluidos presentes no ambiente ou direcionados a ela por algum encarnado ou desencarnado. Mas dizer que basta escrever uma palavra infeliz para que a água absorva fluidos negativos, é confundir o efeito com a causa [5]. Esse é um exemplo de pesquisa que ainda não possui respaldo científico e que apresenta conclusões doutrinárias equivocadas.
A questão sobre a necessidade de qualquer trabalho de pesquisa ser publicado em revista científica de circulação nacional ou internacional, como passo inicial necessário para uma comprovação ou aceitação científica, é uma idéia que precisa ser melhor esclarecida no meio espírita. Isso pode ser facilmente confundido com a idéia de préconceito, por parte da comunidade acadêmica, com relação a determinados assuntos. Na aula 11, discutiremos essa questão sob um ponto de vista filosófico e prático. Veremos como separar a idéia de ‘comprovação científica’ válida para a sociedade como um todo, da idéia de ‘característica científica’ válida para a Doutrina Espírita. Isso é de suma importância para que nós saibamos nos colocar perante o Movimento Espírita, a sociedade e a comunidade científica.

Referências

[1] A. Kardec, O Livro dos Espíritos, Editora FEB, 76a Edição (1995).
[2] A. Kardec, O Livro dos Médiuns, Editora FEB, 62a Edição, Rio de Janeiro (1996).
[3] M. Emoto, The Message from Water, Vol. I, Ed. Hado Kyoiku Sha, (1999).
[4] http://www.hado.net e http://thank-water.net
[5] A. F. da Fonseca, “Mensagem” dos cristais de água: cientificamente NÃO comprovado!, Jornal Alavanca 489, p. 3 (2004).

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Complexidade e Liberdade II, Edgar Morin, França

(Continuação do Artigo iniciado no Boletim 490)

Este texto apareceu anteriormente na publicação de ensaios Thot, da Associação Palas Athena, São Paulo (no. 67, 1998, pp. 12-19) e encontra-se disponível no endereço
http://www.geocities.com/pluriversu/complexi.html

O Pensamento Complexo

Desses três desafios — a relação entre a ordem, a desordem e a organização; a questão da separabilidade ou a distinção entre separabilidade e não-separação; e o problema da lógica — podem ser tiradas as três vertentes do pensamento complexo. Discutir sem dividir: a palavra complexus retira daí seu primeiro sentido, ou seja, "o que é tecido junto". Pensar a complexidade é respeitar a tessitura comum, o complexo que ela forma para além de suas partes. 

A segunda linha fundamental é a imprevisibilidade. Um pensamento complexo deve ser capaz de não apenas religar, mas de adotar uma postura em relação à incerteza. As ciências físicas, que descobriram a incerteza, encontraram estratégias para lidar com ela, utilizando a estatística, por exemplo. A eletrônica permite alcançar resultados de grande precisão, em termos de conhecimento desse mundo flutuante. O pensamento capaz de lidar com a incerteza existe no domínio das ciências, mas não nos âmbitos social, econômico, psicológico e histórico.

O terceiro ponto é a oposição da racionalização fechada à racionalidade aberta. A primeira pensa que é a razão que está a serviço da lógica, enquanto a segunda imagina o inverso. Racionalizar significa acreditar que, se um determinado sistema é coerente, é portanto perfeito e por isso não precisa ser verificado. Vivemos sob o império de idéias racionalizadoras, que não conseguem se dar conta do que acontece e privilegiam os sistemas fechados, coerentes e consistentes. A ciência econômica contemporânea — formalizada e matemática — é um magnífico exemplo de racionalização. É inteiramente fechada, não consegue perceber as paixões, a  vida, a carne dos seres humanos. Por isso, é incapaz de fazer previsões quando surgem eventos inesperados. Mais ainda que no século de Moliére, os Disfoirus triunfam. 

O desafio é hoje generalizado. falar da incerteza é falar do caos. Emprego esse termo em seu sentido original, e não no derivado das teorias sobre o tema. Trata-se, como no pensamento grego, da idéia de que o cosmos, ou universo ordenado, nasce do caos, isto é, que forças genésicas extremamente violentas, comportando potencialmente a ordem e a desordem indiferenciadas, podem se exprimir num determinado momento. Os gregos pensavam que a origem do organizado, ou racional, é a loucura. É o que  sustenta Platão, quando diz que diké, a justiça,  é filha de hubris, o delírio. O caos é um pouco daquilo que corresponde à palavra physis, isto é, o mundo no qual estamos e do qual as coisas nascem. Está continuamente presente sob o cosmos, ou — pouco importa — no interior dele. O Universo é caos. Isso quer dizer que forças de desordem, ordem e organização brotam continuamente do seu seio, o que dá origem à constituição de novas estrelas, a colisões de galáxias e, em nossa Terra, ao conflito de impulsos de barbárie e associação.

De acordo com a teoria do caos, processos deterministas por natureza conduzem, com grande rapidez, a estados imprevisíveis e aparentemente desordenados. Por quê? Porque as interações são incontroláveis e o conhecimento total e absoluto dos estados iniciais não nos é permitido. É uma maneira de dizer que, mesmo na ocorrência de um determinismo inicial, há imprevisibilidade e desordem aparentes. O que compreendeu Henri Atlan, o termodinâmico de origem austríaca, quando disse que a vida existe à temperatura de sua própria destruição? Segundo o seu belo livro Entre le Cristal et la Fumée [Entre o Cristal e a Fumaça], é preciso entender que não somos nem fumaça nem cristal. Não somos seres fluidos nem sólidos. Somos híbridos que vivem à temperatura de sua combustão e destruição.

No desafio da complexidade, certos filósofos podem nos ajudar:  Heráclito, com o enfrentamento das contradições; Sócrates com a dialética, cujo jogo de oposições faz progredir o conhecimento; Nicolás de Cusa, no plano místico; João da Cruz; Jacob Boehme; Pascal, em cuja obra não se reconheceu o papel central que desempenham as contradições; Hegel, evidentemente; Nietzsche, até certo ponto.

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Entre a fé e o Amor

"O futuro da paz entre os homens depende do amor"
(João Paulo II)

O homem cuja morte emocionou o mundo no último dia 2 de abril foi intransigente na defesa dos postulados de sua fé. Era de seu ofício e não poderia ser diferente. Os cânones da instituição que chefiou por quase três décadas lhe impunham esse dever irrenunciável. Disciplinado, não transigiu.

Tivesse apenas feito isso, entretanto, seu nome não mereceria mais que um burocrático registro na história. Até porque, em termos de intransigência nas questões da fé, muitos dos que o antecederam superaram-no de longe. Levaram até as últimas conseqüências a primazia da crença, convencidos que estiveram ser ela o valor supremo, diante do qual todo o restante poderia ser violado.

Por séculos, a fé reinou soberana, presumindo-se que todas as outras virtudes viriam por acréscimo. Nem sempre vieram. Ao contrário, na mesma medida em que se lhe concedia primazia, o mundo se fazia mais carente de amor, alheio à solidariedade e distante da paz.

O mérito de João Paulo II reside em ter sabido conjugar a fé com o amor. Se, escudado naquela, foi fiel aos seus, inspirado neste se tornou líder de todos os homens de boa vontade. Como guardião de uma crença, zelou por sua imutabilidade. As questões que aludem ao mistério nem sempre se submetem às razões do progresso. Mas, como mandatário de uma missão de paz a ser levada a homens de diferentes ou de nenhuma fé, propagou o amor e a solidariedade entre todos, elegendo esses valores como indispensáveis à felicidade de crentes e não-crentes.

Fé é questão de foro íntimo. Pessoal e intransferível. Depois de impregnar as entranhas da alma, tende a se tornar irremovível. Se imposta, gera intransigência e, facilmente, conduz a conflitos, promovendo a guerra. Amor é instrumento de fraternidade. Contagia, irradiando solidariedade. Plantada no coração dos homens, conduz à tolerância e resulta, necessariamente, na paz.

Tivesse João Paulo concedido primazia à fé em detrimento do amor, sua caminhada seria obscura. Quase inútil. Por mais que nesse sentido o impulsionasse a usina de energia que lhe habitava a alma, pouco teria contribuído para transformações dos homens e do mundo. Pregaria no deserto. Judeus não se fariam, por isso, crentes da chegada de um messias há cerca de 2.000 anos. Muçulmanos não trocariam Meca por Roma. Budistas, hinduístas e xintoístas não abandonariam seus ritos milenares, nem dispensariam seus deuses para venerar o nazareno. Espiritualistas livre-pensadores não renunciariam a busca incondicionada a dogmas para aderir ao rebanho conduzido por seu respeitável cajado.

Foi a opção pelo amor universal, mesmo sem abrir mão de sua fé particular, que fez de Karol Wojtyla a grande personalidade de nosso tempo, de unânime aceitação. Religião e fé são laços que unem crentes entre si. Expressões provisórias das limitações humanas, empecilhos à percepção do essencial. Amor é essência da vida. É fundamento da verdadeira unidade.

A fé é humana e, portanto, frágil. O amor é divino e, quando assimilado, torna-se a mais nobre expressão da presença divina em nós, alçando o homem à dimensão da eternidade. João Paulo, sem jamais trair sua provisória condição humana, fez a opção pelo eterno, que é a morada do espírito.

Mílton R. Medran Moreira
Presidente da Confederação Espírita Pan-Americana-CEPA

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História & Pesquisa

(Seção em parceria com a "Liga de Historiadores e Pesquisadores Espíritas")

Vidência e Clarividência, Jáder dos Reis Sampaio, Brasil

Uma Revisão dos Conceitos na Literatura Espírita, Metapsíquica e Parapsicológica - Parte III

(Continuação do Artigo iniciado no Boletim 489)

4. A Clarividência e os Médiuns Videntes no Livro "O Espiritismo Perante a Ciência" de Gabriel Delanne

Delanne trata do percurso de fenômenos e idéias no período que compreende o magnetismo e o hipnotismo na segunda parte do livro "O Espiritismo perante a ciência".

O termo clarividência, aqui, é empregado como sinônimo de dupla-vista. Delanne não mantém a distinção de Kardec, empregando-os indistintamente.

É bastante esclarecedora a sua digressão histórica. Ele analisa os fenômenos encontrados na literatura do chamado sonambulismo natural, sonambulismo magnético
e hipnotismo. Deter-nos-emos nos fenômenos de clarividência.

Ele entende por sonambulismo natural como um caso particular do sono onde "o indivíduo caminha dormindo e procede como se estivesse acordado". (p. 91) Duas características são arroladas para distinguir-se das movimentações que podem acompanhar os sonhos: "o andar durante o sono" e "a perda da lembrança do que se passou, ao acordar". (p. 92) Neste estado de consciência, encontram-se muitos relatos de pessoas que prosseguem suas atividades intelectuais. Músicos registram composições, filósofos redigem textos, sacerdotes escrevem sermões.

A questão da clarividência está associada ao sonambulismo natural em função das peculiaridades descritas com relação aos casos de sonâmbulos. Delanne faz a transcrição de diversos casos da literatura médica da época, onde se vêem uma sonâmbula que sobe no telhado de sua casa de olhos fechados sem acidentar-se, um farmacêutico sonâmbulo que faz formulações químicas durante o sono e que consegue "ler" de olhos fechados uma receita absurda colocada por um médico para testar suas faculdades sonambúlicas e de um sacerdote sonâmbulo que escrevia e lia seus sermões, corrigindo-os durante o ato sonambúlico, mesmo tendo sido colocado um anteparo entre seus olhos fechados e o papel onde escrevia.

Nestes exemplos, a clarividência é entendida como uma forma de visão sem o uso dos olhos.

Por sonambulismo magnético, o autor entende como a provocação do estado sonambúlico através do emprego do magnetismo animal. (p. 103) O estado sonambúlico é caracterizado pela insensibilidade da pele, do sentido do olfato (a reação ao amoníaco, por exemplo), e da reação aos estímulos sonoros ambientes e mesmo uma insensibilidade a estímulos dolorosos.

Interessa-nos a descrição feita por Delanne dos fenômenos perceptivos dos sonâmbulos artificiais. Da mesma forma que nos casos de sonambulismo natural. Há relatos de casos de transposição dos sentidos e de dupla-vista, onde uma sonâmbula de Deleuze lê oito linhas com os olhos vendados (p. 107). Há casos relatados de visão nas costas, audição pela palma das mãos, leitura pela extremidade dos dedos, leitura de cartas à distância, entre outros. Em todos os casos, Delanne busca elementos para demonstrar a tese da emancipação da alma de Kardec como a que melhor explicaria estes fenômenos.

Finalmente o pesquisador francês trata do hipnotismo, que a seu ver nada mais é que uma nova teoria para explicar os fenômenos do sonambulismo magnético. Revendo os estudos de Braid, ele relata que os hipnotizados não doentes podem, com os olhos fechados, "desenhar, descobrir objetos ocultos, designar os indivíduos a quem estes objetos pertencem, ouvir uma conversa, em voz baixa, num aposento vizinho, enfim, predizer o futuro". (p. 126) Vemos aqui também a existência de fenômenos de clarividência. Assim como Allan Kardec, seu discípulo mantém o emprego do termo clarividência para fenômenos não-mediúnicos.

Na mesma obra citada, Gabriel Delanne trata da mediunidade de vidência, que conjuntamente com a mediunidade de audiência considera como mediunidades sensoriais.

Para explicar os fenômenos que havia analisado, ele considera dois tipos de mecanismos de vidência: um primeiro onde o médium veria com os olhos e um segundo
em que o médium veria em estado de desprendimento (médium sonambúlico, portanto, na descrição kardequiana).

Em um primeiro momento, Delanne distingue a mediunidade vidente das ilusões de ótica e das alucinações. A mediunidade vidente se distingue da alucinações à medida que caracteriza-se como a percepção de pessoas que viveram, dão mostras da sua identidade e apresentam conhecimentos verificáveis, desconhecidos anteriormente pelos médiuns. Outro elemento importante de distinção entre os fenômenos que poderíamos adicionar ao seu trabalho seria o caráter patológico da personalidade das pessoas que alucinam sem o uso de drogas ou as alterações fisiológicas causadas por doenças orgânicas, como as febres. Em síntese, os médiuns videntes teriam "supostas alucinações" sem que as mesmas transtornassem sua saúde mental.

Na mediunidade sonambúlica, o vidente entraria em um certo torpor, afastando-se do corpo sem, no entanto, adormecer. Ele passa a relatar as percepções que tem do ambiente físico e espiritual ao alcance da sensibilidade do seu perispírito, e que são transmitidos ao seu sistema nervoso.

A visão dos espíritos "com os olhos", no pensamento de Delanne, seria distinta das materializações. Seu suporte empírico parece vir dos inúmeros casos isolados de aparições espontâneas, como as "visitas no momento da morte" para pessoas que aparentemente nunca mostraram qualquer dote mediúnico, que Flammarion tanto descreveu em seus trabalhos. No caso das materializações, todos os presentes percebem pelo órgão da visão os espíritos, que se servem do "fluido nervoso" do médium de efeitos físicos para "condensar-se". No caso da vidência com os olhos, Delanne descreve o seguinte mecanismo que reproduzo a seguir:

"...Se um Espírito, porém, quer manifestar sua presença, entra em relação fluídica com o encarnado, assim como vimos precedentemente, e, estabelecida a comunicação, acumula pelo magnetismo espiritual, no nervo ótico, uma quantidade de fluido nervoso maior que de ordinário; certas fibras se sensibilizam e podem, desde logo, entrar em vibração correspondente à do invólucro do Espírito. Desde que se produz esse fenômeno, o ser, assim modificado, vê o Espírito e o verá enquanto a ação continuar." (p. 370-371)

Continuando sua explicação, Delanne afirma que com a repetição do fenômeno as fibras óticas se adaptariam aos poucos às vibrações dos espíritos, tornando-se cada vez mais apto à sua percepção. Desta forma, faria sentido falar em um novo sentido. (p. 371)

Neste fenômeno os espíritos atuariam em suas vibrações da mesma forma que nas experiências da Ótica onde os raios ultravioleta tornam-se visíveis ao serem dirigidos a um vidro que contém silicato de urânio.

Embora esta tese se constitua em uma explicação plausível para os fenômenos de aparições espontâneas, ela nos deve ainda alguns esclarecimentos. Se os espíritos podem atuar diretamente no nervo ótico das pessoas em geral, alterando suas vibrações, porque a faculdade de percebê-los visualmente não é universal? Caso haja alguma singularidade das fibras óticas de algumas pessoas, que seriam então médiuns videntes "com os olhos", porque as alterações anatômicas ainda não foram constatadas pela medicina contemporânea? Que estruturas anatômicas agem como sensores para as ondas espirituais? Se não há alterações anatômicas, que alterações funcionais distinguem médiuns videntes de pessoas sem esta faculdade? Enquanto tais respostas não são respondidas satisfatoriamente, prefiro crer que a faculdade de vidência espiritual tem por elemento sensor o perispírito do médium.

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Questões e Comentários 


Livre Arbítrio e Perfeição, Marcelo Latini, Brasil

Prezado senhor,

Na semana passada fui procurado por uma moça, estudante de história" que me solicitou esclarecimento de algumas dúvidas, as quais gostaria que me ajudassem a esclarece-la:

1- Se o livre arbítrio existe porquê eu não posso ter a escolha de não continuar existindo? Não continuar existindo para ela seria desaparecer o espírito e o corpo para todo e sempre.

2- Porquê todo o trabalho para alcançar a perfeição se ela não quer ser perfeita?

A moça não me pareceu nem um pouco depressiva, ou obsedada. No entanto, observa-se falta de cultura religiosa, mas não se trata de uma ateia. Ela aceita o espírito e a sobrevivência deste após a morte.Os questionamento acima faz parte de suas interrogações na vida.

Ficaria muito grato se pudessem ajudar-me a esclarece-la.

Abraços,
Marcelo Latini - SEAE- Sociedade Espírita Aprendizes do Evangelho.



Prezado Marcelo,

As questões que a estudante de história lhe apresentou são parecidas com aquele tipo de questão que não apresentam uma resposta dentro de nossa estrutura lógica usual. Um exemplo: Se Deus é todo-poderoso Ele não poderia construir uma pedra tão grande ou tão pesada que Ele mesmo não pudesse carregá-la? Como se pode ver, qualquer resposta a essa questão (sim ou não) leva a uma contradição.

Esse tipo de questão não faz sentido em termos práticos. Ela não serve para nada se a gente quiser saber se Deus é ou não "todo-poderoso". Se uma questão não pode ser respondida de forma satisfatória (sem contradições), essa questão não serve para o estudo prático da questão. No caso do valor de "todo-poder" atribuído ao Criador, isso se torna evidente quando vemos a sabedoria e a grandeza da própria criação (tudo no Universo, incluindo nós mesmos).

Vamos analisar a questão da moça:

Veja bem, o livre-arbítrio ou a liberdade de escolha é proporcional ao conhecimento ou entendimento das leis da natureza. Um bebê, por mais livre que esteja, é incapaz de abrir uma porta e sair de um recinto. Ninguém diz que "o bebê não quis sair do recinto". Ele não sai do recinto porque ele não tem capacidade de encontrar a solução para sair do mesmo.

Portanto, só é livre, de verdade, quem tem conhecimento. Jesus não disse "Conhecereis a verdade e ela vos libertará"? Se eu não sei qual caminho tomar diante de uma bifurcação qualquer escolha que eu fizer não significará livre-arbítrio (pois eu não tenho como avaliar qual o melhor caminho) mas simplesmente, chance, isto é, tentativa e erro. Se eu tomar o caminho da direita e ver que esse caminho traz dificuldades, na próxima vez que eu me encontrar diante da mesma bifurcação eu poderei tomar uma decisão de ir pela esquerda (para descobrir se esse caminho é melhor), ou ir para direita sabendo das dificuldades do mesmo.

Dito isso, vamos analisar a situação da pergunta da moça: Ela parte do pressuposto (equivocado) de que a existência de uma pessoa (qualquer um de nós) depende ou não da nossa escolha. Se eu não sei se isso é verdade, primeiro eu tenho que fazer essa pergunta: Minha existência (ou desaparecimento) depende de uma escolha minha? A resposta, segundo a Doutrina Espírita, é que somos espíritos imortais. Portanto, segundo o Espiritismo não temos escolha sobre "existir" ou "não-existir" (desaparecer). Assim, a resposta para a pergunta da moça, segundo o Espiritismo, é: não podemos escolher "não existir" porque essa opção não existe na natureza.

Aqui outra pergunta deveria ser feita antes: O progresso é uma Lei da natureza? R. Segundo a Doutrina Espírita, o progresso é uma Lei natural assim como a gravidade é uma lei material da natureza que diz que os corpos com massa se atraem com um força proporcional ao produto de suas massas e inversamente proporcional ao quadrado da distância entre eles. Eu posso "querer" que a gravidade não funcione comigo? Não, pois a gravidade simplesmente age sobre todos os corpos. Todos os corpos devem obedecer à lei da gravidade. Ninguém questiona o aspecto moral de termos que obedecer à lei da gravidade e muito menos ninguém questiona "querer" (ou não querer) sofrer sua atuação.

O  mesmo vale com relação ao progresso. O máximo que uma pessoa tem o direito de ter é o desejo de não progredir assim como qualquer um tem o direito de não querer cair para o chão. Isso (o desejo) é suficiente para que uma pessoa não progrida? R. Segundo a Doutrina Espírita o máximo que pode ocorrer é uma  criatura 'estacionar' com relação ao seu progresso. Porém, isso é uma condição passageira pois sempre existirão circunstâncias novas que promoverão o progresso da criatura, mesmo que ela não queira.

Portanto, a Lei do Progresso não depende, em absoluto, de nossa vontade de progredir.

Um abraço fraterno,
Alexandre Fontes da Fonseca - Editor GEAE


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Assistência a Espíritos Desencarnados, Ivan Guimarães, Brasil

Ola amigos do GEAE,

Nunca submeti perguntas a este forum e não sei se estou agindo de forma correta. De antemão peço desculpas caso as perguntas forem um tanto óbvias ou o meio não for o correto.

1. Participo de uma uma reunião mediúnica e observando um fato comum, me fez pensar. Supondo que a maioria das reuniões mediúnicas acontecem no Brasil e em alguns outros poucos paises. Como ficaria a ajuda a espiritos necessitados de se comunicarem para exporem suas angústias, idéias e serem doutrinados principalmente? Espiritos que desencarnaram por exemplo nos EUA ou Itália não teriam esse privilégio?

2. No caso dos animais, pelo que entendo, não existe expiação, mas sim uma dor inerente a todos que habitam a matéria no planeta terra. Então no caso de um cão, por exemplo que perdeu uma das patas, ele teve este fato ocorrido por uma "fatalidade" já que ele nada tem a expiar? Mas então fatalidade existe? Se sim todos estamos sujeitos a ela, e então também posso perder uma perna sem nada ter feito no passado?

 Um forte abraço a todos a quem considero amigos,

Ivan Guimaraes

Prezado Ivan,

Tentarei responder às suas perguntas.

1) Um Espírito sofredor ligado emocionalmente a um local onde não existam Centros Espíritas fará contato com qualquer médium que encontre, mesmo que o dito médium não saiba que é médium. Se o médium em questão for emocionalmente evoluído, ele se sentirá perturbado e recorrerá à prece ou à ajuda espiritual da igreja ou templo que freqüente. Desse modo, o Espírito desencarnado será beneficiado. Desamparado não fica nenhum filho de Deus que queira ser ajudado. Privilégio é algo que Deus jamais dará a um filho em detrimento de outro. É por isso que todas as igrejas tratam, de um modo ou de outro, das perturbações pelas quais passam seus fiéis.

2) Existem expiações e provas. Animais são sujeitos apenas a provas e é por meio de tais provas que eles vão desenvolvendo suas emoções para, um dia,ingressarem no reino hominal. Se eles ingressassem no reino animal sem nunca terem experimentado a dor para saber como lidar com ela, isso sim não seria compatível com a justiça divina. Cada patamar evolutivo é um longo período de treinamento para a conquista de novas possibilidades e ingresso no patamar seguinte.

Conheci uma professora de Meditação Transcendetal faz vários anos que estava com um câncer terminal. Durante toda a vida ela só tinha ajudado os outros e nunca tinha feito mal a ninguém. Uma vez, no hospital, ela me disse que o grande aprendizdo que vinha tendo com a sua doença era aceitar ser cuidada pelos outros e sentir o carinho que outros podiam ter por ela. Passara a vida toda se sentindo auto-suficiente e forte para todos ajudar sem necessitar de ajuda. Aprendeu com a dor que estamos todos em uma grande teia de vida e que uns precisam dos outros para avançar.

Quem dira que o câncer em uma pessoa aprentemente muito evoluída tinha um propósito educativo, não é mesmo?

Sim, pode nos ocorrer muita coisa que nos pareça expiação mas que seja apenas prova ou nem isso.

Usando a sua pergunta, suponhamos que eu esteja afastado de um irmão por motivo de uma briga e que ele queira se chegar a mim e fazer as pazes e não saiba como. Se eu quebrar a perna, ele pode ver nisso a oportunidade de se aproximar e eu posso aceitar a sua aproximação por necesidade. Durante a minha convalecença, nós conversamos e nos tornamos amigos novamente.

Foi expiação? Claro que não. Tampouco foi prova. Foi apenas uma ajuda que eu e ele tivemos para fazer as pazes que nunca deveriam ter sido quebradas por uma briga tola qualquer.

Fatalidade? Essa palavra inexiste para alguém que estuda a Doutrina. Tudo o que ocorre em nossas vidas tem um propósito educativo. Nada ocorre por ocorrer.

Um abraço fraterno,
Renato Costa - Editor GEAE

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Pedido de Sugestões para Estudos e Pesquisas, Carlos A. Primolam, Brasil

Boa Tarde!

Formamos um grupo pequeno e queremos continuar os estudos após o contato com a obra básica de Kardec, sabemos que há muito o que aprender... pertencemos a uma casa espírita que suporta a formação em 4 anos sobre a obra básica, depois disso cada um pesquisa como pode. (...)

Poderiam sugerir ou nos encaminhar para alguém que possa nos ajudar a tomar algumas decisões sobre o que e como pesquisar e como desenvolver esses trabalhos em nosso grupo?

Agradeço vossa atenção.

Carlos A Primolan
Presidente Prudente-SP


Caro amigo Carlos A. Primolan,

Parabenizo voce e demais membros do seu pequeno grupo pelo desejo ardente de estudar com seriedade e aprofundar os conhecimentos através da pesquisa séria e do estudo dedicado. A busca do conhecimento através do estudo perseverante é na verdade uma das maiores responsabilidades que temos para conosco mesmos na luta pelo progresso. E lógico que devemos em primeiro plano ter a preocupação de nos tornarmos melhores seres humanos, pois como sabemos "a quem mais se dá, mais será pedido", ou seja, os conhecimentos que a Doutrina Espirita nos passa deve nos tornar conscientes da responsabilidade que isso representa para todos nós.

Como uma primeira dica em relação ao seu pedido de orientação, eu diria que a as obras básicas se constituem mesmo na base das bases e devem ser objeto de permanente estudo e re-estudo. Na verdade, cada vez que voltamos a qualquer uma delas, veremos que tem algo novo a aprender e estamos sempre aprendendo. Como disse Kardec na Introdução ao Livro dos Espiritos:

"Acrescentemos que o estudo de uma doutrina, qual a Doutrina Espírita, que nos lança de súbito numa ordem de coisas tão nova quão grande, só pode ser feito com utilidade por homens sérios, perseverantes, livres de prevenções e animados de firme e sincera vontade de chegar a um resultado." (...)

"Anos são precisos para forma-se um médico medíocre e três quartas partes da vida para chegar-se a ser um sábio. Como pretender-se em algumas horas adquirir a Ciência do Infinito? Ninguém, pois, se iluda: o estudo do Espiritismo é imenso; interessa a todas as questões da metafísica e da ordem social; é um mundo que se abre diante de nós. Será de admirar que o efetuá-lo demande tempo, muito tempo mesmo?"

Assim, não se considerem satisfeitos em relacao aos estudos dessas obras tão necessárias em apenas um período tão curto de 4 anos, continuem estudando-as com perseverança, pois são elas que irão vos fornecer uma base segura par acontinuar buscando novos conhecimentos através de outras obras, sabendo distinguir o joio do trigo.

Num próximo passo, é absolutamente necessário que busquemos conhecer um pouco dos trabalhos daqueles autores clássicos que ainda ao tempo de Kardec e depois escreveram obras de suma importância as quais nos possbilitam a entender melhor as bases essenciais em que foram construídos os ensinamentos da Doutrina Espírita, quer seja, o tripé filosofia, ciência e religião. Neste particular temos as obras de Leon Denis, Gabriel Delanne, Ernesto Bozanno, Aksakof, Williams Crookes, dentre outros.

A literatura espirita brasileira e vastissima e repleta de obras essenciais ao conhecimento da verdadeira Doutrina Espirita, as quais podem hoje ser facilmente encontradas nas livrarias espiritas. Eu particularmente gosto muito das obras de Herculano Pires com as quais travei contacto desde o início em que despertei interesse pelo espiritismo. A suas obras podem hoje ser facilmente encontradas e adquiridas via Internet através da Editora Paidéia que esta re-editando todas.

Falando-se de autores mais modernos eu quero me referir ao Hermínio C. Miranda que tem escrito prolificamente sobre todos os aspectos da Doutrina Espirita, em especial a mediunidade. Este e no meu entender um autor extraordinario e que eu recomendo com toda segurança e tranquilidade. A sua produção é bastante grande e as suas obras podem ser facilmente encontradas em quaisquer livrarias espiritas, bem como através das editoras Publicações Lachâtre e a Candeia.

Enfim meu irmão, estou apenas passando algumas informações essenciais e de acordo com a minha experiência, mas o campo é mesmo muitíssimo vasto e voce irá aos poucos descobrindo coisas novas por si mesmo. Isto ai no entanto, te dará uma base essencial para seguir adiante com segurança.

Desejo a voce e ao seu grupo muito sucesso nesta jornada fascinante de estudo perseverante e de busca de conhecimentos rumo ao progresso e a felicidade que todos almejamos.

Muita Paz e fique a vontade para novos contactos.

Antonio Leite - Editor GEAE

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Painel


GEAE Lança Novo Projeto

Estudo em Inglês da Doutrina Espírita via Encontros Virtuais Paltalk

Os membros do Conselho Editorial do GEAE decidiram pelo lançamento de mais uma atividade sob a direção do grupo - a realização de encontros virtuais para estudos da Doutrina Espírita no idioma inglês, através da ferramenta Paltalk.

Como diz a máxima, “quando os trabalhadores estão prontos, o trabalho aparece”. Acreditamos que apesar das eventuais dificuldades de se tocar um projeto desta natureza, estamos imbuídos da maior boa vontade em servir desinteressadamente, e por certo contaremos com o apoio dos amigos espirituais que nos assistem e nos ajudam nesta tarefa de disseminar os ensinamentos da Doutrina Espírita pelo mundo afora. Contamos hoje com a presença de um membro no Conselho Editorial do GEAE cuja lingua nativa é o inglês e outros com uma boa fluência neste idioma, o que nos leva a acreditar que estamos preparados para levar adiante esta atividade pioneira com um certo dinamismo e eficiência.

O nosso mundo atual se transformou numa aldeia global onde a informação já deixou de ser privilégio de apenas alguns poucos irmãos, e o campo para a disseminação das mais variadas idéias é amplo e fértil. Como nos advertiu Kardec, uma das maiores formas de caridade é a disseminação dos ensinamentos espíritas. Já existem vários grupos promovendo o estudo da Doutrina Espírita através de reuniões virtuais via Paltalk, mas todos esses estudos são desenvolvidos em língua portuguesa, estando assim o campo aberto para as demais línguas.

Mantendo-se dentro da mesma filosofia adotada pelo grupo desde a sua origem, o nosso objetivo é simples e despretensioso. Vamos estudar a Doutrina Espírita através da troca fraterna de idéias e experiências e aprofundar os nossos conhecimentos individuais, o que nos possibilitará ampliar os nossos horizontes na consecução de um entendimento mais abrangente da mensagem dos espíritos superiores que, com a ajuda de Allan Kardec, elaboraram a Doutrina dos Espíritos. Não nos move a pretensão professoral nem tão pouco a idéia de convencer ou conquistar adeptos para o Espiritismo. A nossa meta é a de promover uma interação salutar, movidos pelo interesse fraterno de ajuda mútua, o que certamente nos propiciará galgar alguns degraus na senda do conhecimento e do aprimoramente espiritual.

Inicialmente teremos um encontro por mês, mas a medida que o projeto tome impulso com o aumento de participantes, poderemos incrementar o número de encontros mensais. Os encontros virtuais serão sempre levados a efeito no segundo domingo de cada mês, iniciando-se às 5:00 PM (horário de Nova Iorque/Flórida, eastern time) e encerrando-se às 6:30 PM.

O grupo virtual será denominado GEAE - Spiritism to the World, o qual será encontrado no Paltalk dentro da categoria Groups/Religious.

Nosso primeiro encontro acontecerá no dia 8 de maio de 2005, no horário acima indicado, onde estaremos estudando o tema:

The Creator – First Cause and Creator of all Things

[The Spirits Book – First Book, Chapter I]

Você poderá eventualmente encontrar o grupo GEAE – Spiritism to the World aberto no Paltalk em diferentes datas e horários. Poderemos abrir o grupo acasionalmente sem prévia determinação de horários e datas, o que faremos com o objetivo de manter um diálogo informal com aquelas pessoas interessadas em conhecer mais sobre o Espiritismo em geral. Seja bem vindo ao grupo nessas ocasiões e fique a vontade para apresentar suas perguntas.

Para participar desses encontros você precisa fazer o download da última versão do Paltalk através do seguinte link:

http://support.paltalk.com/Download.html

Feito o download e a instalação do programa no seu sistema você estará apto a participar dos encontros, bastando para tanto se conectar à Internet nas datas e horários acima indicados, abrir o seu Paltalk, localizar o grupo na respectiva categoria (Religious), clicar duas vezes no nome do grupo (GEAE - Spiritism to the World) e você estará dentro do grupo. A partir de então, o processo operacional para que voce participe ativamente dos estudos é bem simples e de fácil entendimento.

Conselho Editorial

GEAE – Grupo de Estudos Avançados Espíritas


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Estudo Sistematizado da Doutrina Espírita na UNICAMP - Universidade de Campinas

Grupo de Estudos Espíritas da Unicamp (GEEU)

        Toda quinta-feira, 12:00-13:10

        Sala FE03 da Faculdade de Engenharia Elétrica
        Traga seu "Livro dos Espíritos"


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GRUPO DE ESTUDOS AVANÇADOS ESPÍRITAS

O Boletim GEAE é distribuido por e-mail aos participantes do Grupo de Estudos Avançados Espíritas
Inscrição/Cancelamento - inscricao-pt@geae.inf.br

Informações Gerais - http://www.geae.inf.br/pt/faq
Conselho Editorial - editor@geae.inf.br
Coleção dos Boletins em Português - http://www.geae.inf.br/pt/boletins
Coleção do "The Spiritist Messenger" - http://www.geae.inf.br/en/boletins
Coleção do "Mensajero Espírita" - http://www.geae.inf.br/el/boletins