Boletim GEAE

Grupo de Estudos Avançados Espíritas

http://www.geae.inf.br

Fundado em 15 de outubro de 1992
Boletim Quinzenal de Distribuição Eletrônica

"Fé inabalável é somente aquela que pode encarar a razão, face a face, em todas as épocas da humanidade", Allan Kardec

Ano 12 - Número 483 - 2004            15 de outubro de 2004

EDIÇÃO COMEMORATIVA DE 12 ANOS DO GEAE

Editorial

Com a Palavra os Editores

Artigos

Um Diálogo Fraterno sobre a Ciência & Espiritismo VIII
Curso Ciência & Espiritismo, Alexandre Fontes da Fonseca, Brasil

História & Pesquisa

A Pesquisa Qualitativa entre a Fenomenologia e o Espiritismo-Formal IV, Jáder dos Reis Sampaio, Brasil


Questões e Comentários

Questões Intrincadas sobre o Espiritismo VI

Painel

GEPE - Grupo de Estudo e Pesquisa Espirita



Editorial


Com a Palavra os Editores

Amigo(a) leitor(a) dos Boletins do GEAE:

        Permita-nos repassar a nossa alegria nesse momento e juntos comemorarmos o dia 15 de outubro de 2004 que representa 12 anos de trabalho do Grupo de Estudos Avançados Espíritas, utilizando a via eletrônica internet, como meio para o estudo da vida com base na doutrina espírita, codificada por Allan Kardec que também neste mês, comemoramos os 200 anos a data de sua reencarnação ocorrida na Europa.

        São 12 anos de um trabalho contínuo, sério, humilde e dedicado de muita gente unida no mesmo objetivo comum, encarnados e desencarnados, que dessa forma contribuíram para o sucesso do grupo. Enfrentamos dificuldades, principalmente em decorrência da necessidade que temos todos nós, editores, colaboradores e leitores, de associarmos nossa vida particular e profissional com o tempo disponível para as atividades do grupo. Além disso, o negativismo e o fanatismo de alguns, atuaram como forças restritivas a esse trabalho. Conseguimos passar por isso com muito apoio, principalmente no início do grupo e, gradativamente ele foi se solidificando e agregando novos valores, com trabalhadores na seara do bem, devidamente requisitados pelo plano espiritual e que prontamente atenderam ao chamado para essa missão. Sabíamos da falta de tempo disponível para uma dedicação maior de todos desde o seu início e o grupo foi assim criado, pois nossa vida deve mesmo prosseguir em total harmonia. Devemos cumprir os nossos deveres. E cumprir bem. Para isso, o grupo tem o objetivo de apoiar. Não se trata, de maneira alguma, de servir de imposição a ninguém. Tudo o que é imposto, é no fundo, uma violação do livre direito do pensamento. Mas a necessidade do discernimento do bem e do mau, do bom e do ruim se encontra dentro da Lei Divina. E isso é o que buscamos. Nosso desejo é o de melhor contribuir para o progresso da humanidade, da natureza, ou seja, contribuir com a Lei de Deus.

        Amigo leitor, ou amiga leitora, referimos principalmente a você que no silêncio da leitura isolada, ou na ausência de manifestação estando em qualquer lugar do planeta sente a necessidade de se evoluir e entende o sentido de avançar sempre. Sabemos o quanto gostaria de manifestar após a leitura de um texto ou comentário de seu interesse e o quanto de bom teria a contribuir. Entretanto, isso pode não ocorrer no momento. Não se preocupe! A melhoria na sua conduta pessoal é o que nos interessa, seja você assumidamente espírita ou não. Não importa o meio e sim a forma como evoluímos espiritualmente.

        Como ocorre a melhoria em nossa vida? Isso temos que aprender muito, com muito trabalho. Pensar que melhoria significa, melhores condições materiais como financeiras, um emprego ou ocupação, aquisição de algo que gostaria, etc. Não simplesmente! Evidentemente que qualquer melhoria na vida é bem-vinda. Muitos nem precisam de bens materiais, pois têm muito. Mas com certeza, precisam de muita melhoria! Falamos, porém, do apoio moral para enfrentar tempestades. Aquele apoio que estimula e nos empurra para cima em busca da paz interior. Que estende a mão quando é preciso levantar, pois somos vulneráveis a cair a qualquer momento. Uma muralha bem construída com materiais resistentes, planejada com alta tecnologia e levantada em terreno firme pode durar muito tempo, fazendo-se as devidas manutenções. Mas a mesma muralha construída em solo arenoso e inadequado, será rapidamente destruída, a menos que seja reestruturada e devidamente construída para esse tipo de solo. Tudo depende de tempo. A muralha é um conglomerado de átomos e, portanto, sofrerá desgaste lentamente com o tempo, devido às forças restritivas da natureza.

        Nossa estrutura espiritual, ou psicológica depende muito do ambiente em que estivermos vivendo. Se estivermos vivendo em meio adequado, seremos fortes e resistentes. Mas é preciso estarmos preparados, com manutenção adequada do espírito para que vivendo em meio impróprio com forças restritivas fortes, possamos viver bem e sairmos vitoriosos em nosso trabalho com a ajuda das forças poderosas propulsoras do bem, aliviando nossos sofrimentos em busca da felicidade eterna. E assim, impelir o progresso e o equilíbrio universal.

        O Espiritismo nos apóia sempre como nosso consolador eterno, pois está bem fundamentado como filosofia, religião e ciência, garantindo um futuro melhor e mais feliz a todos aqueles que desejam, segundo seus méritos próprios. É preciso tirar proveito disso o quanto antes, encurtando o caminho do sofrimento desnecessário.

        Agradecemos sempre aos mentores espirituais do GEAE que colocaram a oportunidade nas NOSSAS mãos e que somos meros instrumentos; certamente estamos referindo a você também.

        Parabéns a todos por procurarem o caminho da verdade e da vida e continuemos sempre em frente, em busca do amor e da paz infinita.

        Vida longa ao GEAE!!!

Raul Franzolin Neto
Pirassununga – São Paulo - Brasil
 
        Os participantes mais antigos do GEAE podem já ter lido como conheci o GEAE, mas creio ser valido, diante dos doze anos de trabalho deste grupo de divulgação da Doutrina Espírita, tecer alguns comentários.

        Em 1991 eu havia decidido que gostaria de fazer doutorado no exterior. Um grande amigo, que na época trabalhava na mesma empresa que eu e estava também decidido a fazer doutorado no exterior, me estimulou muito. Minha esposa também apoiou a idéia e também se inscreveu para fazer doutorado. Depois de  pesquisarmos vimos que a Universidade americana mais conceituada no que queríamos estudar era a UMASS – University of Massachussets, sendo a segunda melhor a Case Western Reserve Universisty. Claro, decidi enviar o pedido de inscrição para as duas, mas torcendo para ser admitido na primeira. Nosso amigo foi aceito, para iniciar os estudos em setembro de 1991. No entanto, eu não consegui aprovar meu curso pela empresa... Haveria a possibilidade de solicitar bolsa ao CNPq, mas não havia tempo hábil para inicio das aulas em setembro. Entretanto, seria possível obter a aprovação de bolsa no CNPq até janeiro, e a CWRU aceitava alunos nesta época. Ou seja, o “destino” me “empurrava” para a CWRU... Assim, em janeiro de 1992 fui morar em
Cleveland, no Estados Unidos, onde fica a CWRU.

        Até hoje me lembro da angústia que sentia, pois estava largando o trabalho que fazia no Centro Espírita João Batista, no Rio de Janeiro. Não era muito, mas me proporcionava um aprendizado imenso. Me lembro das conversas com a D. Zely, presidente do Centro naquela época. Estava querendo continuar a estudar, já que não haviam Centros Espíritas nas proximidades, e havia decidido incluir na bagagem a coleção da Revista Espírita, que ainda não havia tido a oportunidade de ler. Lembro que D. Zely dizia que certamente surgiriam oportunidades de trabalho, e que talvez eu pudesse participar de algum grupo.

        Algum tempo se passou, e, depois de me instalar com a família, encomendei um computador e comecei a descobrir o correio eletrônico e a BBS local, a Cleveland Freenet. A BBS era gratuita e administrada pela Universidade onde estudava. Apesar de minha área profissional não ser informática, sempre me interessei pelo assunto e comecei a me aprofundar. Descobri então a Bras-net, através daquele amigo meu que estava morando em Massachussets. Era muito bom poder trocar correspondência com brasileiros em diversos lugares do mundo. Tinha de tudo na Bras-net, resumo dos principais jornais brasileiros, notícias, piadas, a RUI (Rádio Uirapuru de Itapipoca), discussões diversas. Um pouco do Brasil andando pelos fios da Internet...

        Um belo dia abri minha caixa de correio eletrônico e tinha a mensagem do Raul Franzolim, convidando pessoas interessadas em trocar informações sobre diversos assuntos. Lembro que o texto não deixava claro que se tratava de um espírita escrevendo. Imediatamente respondi, e me tornei um dos membros daquela lista.

        Eu esperava ansiosamente pelas mensagens, e lembro de ter participado logo no início das discussões. Pouco tempo depois eu e Raul descobrimos que morávamos no mesmo Estado, e, por uma destas “coincidências” da vida, a cerca de duas horas de carro. Nos visitamos diversas vezes, e a amizade cresceu muito. Isso não teria sido possível se estivesse estudando na UMASS...

        Quando o Raul voltou para o Brasil havia a preocupação de como tornar viável a continuação do GEAE. Me comprometi a segurar o bastão até que ele estivesse estabelecido, conectado e com tempo para reassumir os trabalhos. Mas, o que acabou acontecendo foi a criação do Conselho Editorial, formato que persiste até hoje, em 1996, quando retornei ao Brasil.

         Eu vejo o Boletim do GEAE como uma forma de Revista Espírita da era da Internet. A participação de seus assinantes é que faz com que as discussões sejam enriquecidas. São os leitores que trazem os assuntos que serão abordados. Não é o Conselho Editorial que faz o Boletim, são vocês, leitores.

        E, o mais importante de tudo, na minha opinião, é que é possível ver a mão de nossos amigos espirituais, orientando, dirigindo e nos estimulando a continuar e trazer sempre coisas novas para que este trabalho de divulgação da Doutrina Espírita encontre continuidade.

        Agora completamos doze anos ininterruptos de Boletim do GEAE. Aquela proposta humilde, surgida da necessidade de trocar idéias, cresceu e atinge lugares antes inimagináveis do planeta. Mas, melhor do que isso, atinge o coração e as mentes de seus leitores, trazendo um canal de comunicação sempre aberto à troca de idéias saudáveis em torno da Doutrina Espírita. Na minha opinião, uma Doutrina que se aplica a cada aspecto de nossa existência.

José Cid
Rio de Janeiro - Brasil


        Por volta de 1994 eu trabalhava com o desenvolvimento de sistemas de comunicação de dados e tive os primeiros contatos com a Internet, que começava a se estender para usuários fora da área acadêmica. As tecnologias de acesso eram limitadas, bem distantes dos recursos atuais, mas já permitiam a troca de e-mails com relativa facilidade. Os textos eram em ASCII puro - os caracteres alfabéticos sem acentuação - e necessitava-se improvisar a acentuação e usar alguns artifícios - como os "emoticons" (sinais gráficos para representação de emoções) para dar um pouco mais de vida aos textos. Era a época também em que se seguia ainda a "netiqueta", uma série de regras consensuais de comportamento na rede, dentre elas a de não enviar propagandas não solicitadas.

        Foi por essa época que lendo os e-mails de um "newsgroup" - o antepassado dos sistemas modernos de listas e de grupos de interesse - chamado BRASNET encontrei uma cópia do Boletim GEAE n° 1 que havia sido postada novamente pelo José Cid. O José estava na coordenação do grupo desde que Raul Franzolin, que iniciou o grupo em 1992 nos EUA, retornou ao Brasil.

        Me inscrevi no grupo e durante algum tempo apenas acompanhei as trocas de idéias. Me impressionou vivamente a forma como o José conduzia as discussões, ele levava o debate de tal forma que o GEAE parecia o equivalente virtual daquelas rodas de amigos que se formam nas universidades para aprofundar os estudos de algum tema mais dificil. E via-se claramente que participando dos debates estava um grupo de pessoas sérias e empenhadas no aprendizado. As idéias eram apresentadas e debatidas em réplicas e tréplicas que convergiam para um entendimento maior da questão inicial, sem personalismos ou vaidades.

        Incentivado pelo ambiente simples e fraterno me aventurei a mandar alguns comentários sobre história do espiritualismo, um tema que sempre me interessou bastante, e aos poucos fui participando mais ativamente dos debates. Devido a um pequeno incidente - um e-mail enviado diretamente para os participantes do grupo por uma pessoa interessada em fazer propaganda de idéias políticas - foram necessárias algumas adaptações ao modo de trabalho do GEAE e o José passou a utilizar uma lista de distribuição, criada e administrada pelo Sérgio Freitas. Também surgiu a idéia de montar um FAQ (repostas a perguntas frequentes), que descrevesse o modo de operação do grupo e suas regras, tarefa na qual me envolvi mais diretamente.

        Em 1995 foi montada pelo Sérgio a primeira página WEB do GEAE e neste mesmo ano conseguimos autorização da FEESP para colocar o Livro dos Espíritos no site. A digitalização do livro levou quase um ano, escaneávamos as páginas, passávamos pelo OCR (o programa que transforma imagens em texto) e revisávamos os textos para eliminar os erros do processo. A equipe que participou deste trabalho foi o núcleo do Conselho Editorial que se formou em 1996. A volta do José ao Brasil, ao término de seus estudos nos Estados Unidos, foi um grande desafio para a continuidade do GEAE e assim ele - em contato com o Raul - teve a idéia de criar este grupo de trabalho com o papel de editor e moderador. O Conselho Editorial possibilitou que o trabalho se tornasse menos pessoal e portanto mais independente das eventuais trocas. Hoje o conselho é formado pelo Ademir Xavier, Alexandre Fonseca, Antonio Leite, Edgar Crespo, José Cid, Raul Franzolin, Renato Costa, Yvonne Limoges e eu.

        O José e o Raul me convidaram - e me convenceram - a participar do Conselho Editorial, o que inicialmente relutei pois não me via capacitado para a tarefa. Não tinha experiência com a atividade editorial e minha atuação no movimento espírita era bastante limitada. Esta experiência no GEAE acabou sendo para mim uma escola extraordinária, ainda não me considero um editor experiente ou um escritor, mas aos poucos fui aprendendo, com os amigos que participam do GEAE, a articular as idéias e a exprimí-las de maneira franca e fraterna. Também me levaram a conhecer um pouco melhor o Espiritismo, na maior parte das vezes me mostrando onde eu estava equivocado e apresentando diferentes pontos de vista. Isto sem falar nos estudos que foram necessários para responder a questionamentos mais dificeis ou para entender argumentos que estavam além dos meus conhecimentos.

        E o mais importante de tudo, nestes anos o GEAE foi se extendendo aos poucos, e por isso tivemos oportunidade de conhecer pessoas de um grande número de localidades diferentes, de vários paises. Cada uma destas pessoas - que formam o grupo de estudos propriamente dito - trouxe sua visão particular do mundo e da Doutrina. Foram contatos enriquecedores.

        Chegamos agora às comemorações do 12° aniversário do grupo, passando para o 13° ano seguido de publicação do Boletim, e não posso deixar de observar que este trabalho - esta experiência de comunicação fraterna pela Internet, que justifica o "avançado" do nome GEAE - não seria possivel sem a base solidamente construida por Kardec. O impulso por detrás desta busca de uma melhor compreensão do mundo vem da forma como o Codificador enfatizou o estudo e o aperfeiçoamento pessoal. Não é por outro motivo que os espíritas buscam incessantemente se instruirem, examinando cuidadosamente cada idéia antes de aceitá-la ou rejeitá-la.

        É esta visão de mundo - a Doutrina Espírita - que nos reune a todos (o Boletim 481 foi distribuido para 3.499 assinantes e o Spiritist Messenger 54 para 651) e torna viável a publicação de um Boletim quinzenal. De nada serviriam os "facilitadores" da comunicação - nosso verdadeiro papel como Conselho Editorial - se não existisse este extraordinário laço de união.

Parabéns GEAE!
Muito Obrigado Kardec!
Feliz Aniversário a Kardec e a todos os participantes do GEAE!

Muita Paz,

Carlos Alberto Iglesia Bernardo
São Paulo – Brasil


        A história do Espiritismo sempre foi marcada por eventos de comunicação. O fluxo de informação que atingiu a Terra no último quarto do Séc. XIX foi uma revolução de comunicação nunca vista na história da humanidade. O Espiritismo foi concebido como uma doutrina científica totalmente baseada nos novos ensinamentos do mundo invisível, ensinamentos que são totalmente consistentes com os aspectos morais e éticos da filosofia cristã uma vez despida dos aspectos externos da religião convencional.

        Uma segunda revolução iria ocorrer no último quarto do século seguinte, o vigésimo. Cem anos após a invasão organizada, o advento da Internet marcou uma nova era para a humanidade. O GEAE foi então o resultado de duas revoluções nunca vistas anteriormente. Sou particularmente orgulhoso de ter vivido nessa época quando máquinas de cálculo encontraram uma nova aplicação como ferramentas de comunicação. De fato, meu interesse pelo GEAE (que apareceu em outubro de 1992) existiu a partir do momento em que me conectei a net em 1996. Baseado no princípio da afinidade, fui atraído ao trabalho do GEAE logo após minhas primeiras experimentações como webmaster da página "Spiritism to the World", uma dos primeiros sites em inglês na época. O GEAE já era então um grupo amadurecido que publicava eletronicamente seu periódico em português. Esses boletims forneciam notícias e informação à comunidade de língua portuguesa, notavelmente formada por brasileiros que viviam tanto no Brasil como no exterior, e eram de interesse prático. A velocidade e formatação com que eram enviados faziam os "boletins eletrônicos" bastante notórios e, até hoje, constituem o trabalho central do grupo. Entretanto, todos sabiam que o trabalho em português era limitado por causa das restrições linguísticas. A idéia do GEAE-EN (uma versão do GEAE em inglês) era assim natural. Para motivar um fluxo constante de informação em inglês semelhante ao fluxo em português, uma versão inglesa dos boletins GEAE foi concebida. Participei desse trabalho no final de 1997 depois de um convite via e-mail do Carlos Aberto. O primeiro boletim GEAE-EN foi lançado em dezembro de 1997. Desde então o número de amigos espíritas (e grupos) que recebem e lêem esses boletins cresce anualmente.

        De uma certa forma, o objetivo inicial do GEAE-EN era bastante audacioso. Logo ficou claro que as diferenças linguísticas estavam longe de ser os únicos obstáculos a um crescente fluxo de informação relacionada a temas espíritas na web. Diferenças culturais são também importantes. Novos membros ligaram-se ao GEAE-EN para complementar os trabalhos: Antônio Leite (em NY nos EUA), Renato Costa (no Brasil) e Yvonne Limoges (na Flórida, nos EUA). A participação deles afetou fundamentalmente os trabalhos do GEAE-EN que passaram a ter uma dinâmica nunca vista antes.

        Gostaria de agradecer ao GEAE nesse 12 aniversário pela oportunidade de trabalho. Acredito que o GEAE é uma ferramenta importante de comunicação que transcende as fronteiras físicas entre os países e culturas. O Espiritismo precisa da cooperação dos indivíduos para que sua mensagem superior tenha alcance global. Antes da internet, ninguém era capaz de dizer como isso poderia ser possível se não fosse por meio dos Espíritos. Hoje sabemos que as notícias locais e comunicações espirituais (por meio de médiuns excepcionais) podem se tornar amplamente conhecidas através de trabalhos de grupos como o GEAE.

        Sou igualmente orgulhoso de ser um de seus membros.

Muita paz,

Ademir Xavier Jr.
Campinas - São Paulo - Brasil

        Considero o meu encontro com o GEAE como um daqueles salutares incidentes que acontecem em nossas vidas, os quais na maioria das vezes encaramos como "acidentais". O fato ocorreu no início do ano de 1995, quando já me encontrava aqui na América há quase um ano. Um certo dia digitei a palavra Spiritism em um dos navegadores da internet, e qual não foi a minha surpresa ao me deparar com a homepage do grupo. Digo surpresa porque àquela época a WWW ainda engatinhava e eu não esperava encontrar nenhum grupo espírita com página na Web.

    A minha primeira impressão sobre a página foi a melhor possível e imediatamente comecei a surfar avidamente pela mesma. Após a leitura do FAQ comecei a ler os boletins em português, que àquela época já se aproximava do número 150. Fiquei muito impressionado com a qualidade e o volume do material lá disponível e mais ainda com a forma simples, fraterna e dinâmica em que os temas mais variados eram abordados pelos membros do grupo, sempre embasando tudo na Codificação. A minha primeira mensagem foi enviada por ocasião da comemoração do 4o aniversário do grupo (boletim 210), oportunidade em que fiz uma pequena contribuição ao enviar o artigo de autoria do meu amigo/irmão Christiano Torchi, intitulado Iniciação ao Conhecimento da Doutrina Espirita, o qual foi disponibilizado na página. Com a continuidade dos contactos e uma participação mais ativa como colaborador, fui convidado pelo Ademir Xavier para fazer parte do Conselho Editorial, o que ocorreu em Dezembro de 2000, oportunidade em que passei a contribuir com a elaboração dos boletins em portugues (boletim 404).

        Desnecessário é enfatizar aqui o quanto tenho sido beneficiado com a participação neste grupo fraterno de estudos e trocas de idéias sobre a Doutrina dos Espíritos. A medida que estudamos mais dedicadamente esta doutrina grandiosa, percebemos a nossa pequenez e sentimos a necessidade de ajuda, o que vamos buscar no convívio fraterno com pessoas que vibram na mesma harmonia e são animadas pelo mesmo propósito, o da busca da Verdade. O GEAE tem sido ao longo desses 12 anos de existência um palco maravilhoso onde essa busca é conduzida pela bússola segura da Codificação, onde os seus membros estão bem conscientes da advertência do Mestre:

"Acrescentemos que o estudo de uma doutrina, qual a Doutrina Espírita, que nos lança de súbito numa ordem de coisas tão nova quão grande, só pode ser feito com utilidade por homens sérios, perseverantes, livres de prevenções e animados de firme e sincera vontade de chegar a um resultado."

        Agradeçamos a Deus e a Kardec por esta maravilhosa oportunidade e procuremos nos instruir e acima de tudo servir ao nosso próximo de forma simples e desinteressada. Procuremos agir como verdadeiros Trabalhadores de Deus, como nos recomenda este modesto trabalhador da causa espírita, Hermínio Miranda:

"Trabalhadores de Deus desejamos ser e o seremos toda vez que apagarmos o nosso nome na glória suprema do anonimato, para que o nosso trabalho seja de Deus, que faz germinar a semente e crescer a árvore, e não nosso, que apenas confiamos a semente ao solo. Somos portadores da mensagem, não seus criadores, porque nem homens nem espíritos criam; apenas descobrem aquilo que o Pai criou."

        Que os bons amigos espirituais continuem nos assistindo.


Muita Paz,

Antonio Cunha Lacerda Leite
Nova Iorque – USA


        Minha primeira interação com o GEAE ocorreu em janeiro de 1998 quando, após algum tempo em que eu vinha visitando o site do GEAE, eu visitei a página de links e vi que estava listada a URL de uma certa editora e livraria internacional. Sabendo que a dita livraria e editora publicava artigos a favor do ateísmo e atacando o Cristianismo, escrevi ao GEAE explicando o fato e sugerindo que o link fosse deletado. O Sérgio Freitas, que havia criado o website do GEAE, respondeu a meu email agradecendo pela informação, dizendo que o link seria deletado e explicando que o GEAE não tinha condição de examinar em detalhe toda informação que chegava de todos os cantos do mundo.

        A partir dali passei a visitar o site do GEAE esporadicamente, lendo artigos e baixando trabalhos disponíveis.

        Em junho de 2003, estava eu ocupado procurando artigos para alimentar a seção de artigos do site da IEJA (www.ieja.org), quando li no site do Portal do Espírito (www.espirito.com.br) um artigo muito bom escrito pelo Carlos Iglesia. Escrevi imediatamente a ele pedindo permissão para reproduzir o artigo no site da IEJA. O Ademir, que vinha cuidando da seção em inglês do site do GEAE e da edição do Spiritist Messenger, estava muito ocupado na ocasião e sem tempo para se dedicar à tarefa como gostaria. Então, após visita o site da IEJA e constatar que ele tinha uma seção em inglês, o Carlos me escreveu autorizando a reprodução do seu artigo e me perguntando se eu gostaria de ajudar a cuidar da seção em inglês do site do GEAE. Sentindo-me muito feliz e honrado com o convite, aceitei de imediato.

        Desde então tenho feito o melhor que posso para ser útil, enquanto que, indubitavelmente, os Bons Espíritos que cuidam do GEAE têm feito muito mais me ajudando. Como diz o ditado, para cada boa ação que fazemos, Deus sempre nos dá em dobro.

Renato Costa
Rio de Janeiro - Brasil

       
        O convite que nos foi feito para participarmos do Conselho Editorial do GEAE foi e continua sendo para n
ós motivo de honra e muita alegria. Nós acreditamos que os membros do Conselho Editorial do GEAE trabalham arduamente para apresentarem a mensagem e as idéias espíritas de uma forma aberta e racional, mantendo-se fiéis aos princípios doutrinários. Nós sentimos ter encontrado companheiros espíritas que trabalham com determinação para preservar um bom equilíbrio entre os três aspectos do Espiritismo: científico, filosófico e religioso/moral. Esta homepage fornece informações referentes ao aspecto analítico e científico do Espiritismo, ao mesmo tempo que proporciona material que toca os nossos corações e a nossa alma, uma vez que o Espiritismo deve satisfazer a nossa razão e estar em harmonia com os nossos sentimentos.

Edgar Crespo and Yvonne Limoges
Spiritist Society of Florida – St. Petersburg, Flórida – USA

       
        Em 1995 me inscrevi para o recebimento dos Boletins do GEAE.
Em julho de 1996, eu enviei para os editores um comentário sobre um texto do Raul Franzolin Neto sobre evolução. O meu comentário foi publicado no Boletim n. 196 (vide arquivo
no site http://www.geae.inf.br) seguido da resposta do Raul ao meu comentário. A resposta gentil do Raul me fez sentir que o GEAE era um grupo sincero disposto ao estudo sério do Espiritismo e, o que é muito importante, respeitava os leitores e assinantes em seus questionamentos. Enfim, me senti fazendo parte do grupo e não apenas um expectador distante. Senti que podia colaborar enviando questões ou comentários e, na medida do possível, isso foi o que fiz de forma mais ou menos frequente. Caro leitor, a sensação de ter um comentário publicado, discutido e comentadoé muito positivo que nos faz sentir participantes do processo e não apenas "expectadores passivos". É por isso que sempre, sempre, serão bem vindos toda e qualquer contribuição seja na forma de comentário, seja na forma de questão.
        Eu sempre lia os tópicos de cada boletim e, na medida da disponibilidade, eu procurei ler os textos que mais me atraiam a atenção. Em 2001, eu enviei alguns comentários sobre algo que havia sido publicado e tive a feliz oportunidade de trocar uma série de e-mails com um dos editores, o Antonio Leite.

	Em 2003 resolvi colaborar um pouquinho mais com os Boletins, particularmente, sobre questões ligadas à Ciência e Espiritismo. Minhas contribuições sempre 
foram comentadas e discutidas de forma muito fraterna e construtiva com o Ademir Xavier.

Em outubro de 2003, por ocasião de uma viagem que fiz aos EUA, pude conhecer pessoalmente o Antonio Leite, com quem criei um grande laço de amizade.
Tivemos a oportunidade de conversar muito sobre Espiritismo e Movimento Espírita no Brasil e nos EUA.

Em março de 2004, por indicação tanto do Antonio quanto do Ademir, recebi o convite para colaborar como membro do conselho editorial. Aceitei com um
sentimento de gratidão ao grupo e a Deus pela oportunidade de poder servir, mesmo sabendo de minhas limitações.

Nesta ocasião em que comemoramos o bicentenário do nascimento de Allan Kardec, nós gostaríamos de dividir com todos os leitores e assinantes dos Boletins
do GEAE, nosso sentimento mais puro de gratidão e amor ao Criador pela Vida, a Jesus pelo exemplo vivo de Amor e a Kardec por abrir mão de sua vida pessoal
para nos mostrar
e demonstrar que é o Criador quem devemos adorar (em espírito e verdade) e é Jesus quem devemos tomar por guia e modelo. E, acima de tudo,
que a Vida continua e sempre progrediremos.

Que possamos honrar a todos eles dando a nossa cota de esforço pessoal pela nossa reforma íntima e pela divulgação da Doutrina dos Espíritos. Ela, sim, é que
merece todo os créditos; ela é que tem o poder de ajudar o Homem; ela é que nos instrui. Nós... nós somos apenas seus beneficiários; somos apenas os seus
intermediários; nós somos os seus "braços", "pernas", "bocas" e "dedos" (no computador) para que ela, a Doutrina, brilhe diante de cada internauta, de cada novo
visitante, em todo o mundo.

Que Jesus nos fortaleça e ilumine, agora e sempre."

Um abraço,

Alexandre Fontes da Fonseca
Brotas – Sao Paulo - Brasil
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Artigos


Um Diálogo Fraterno sobre a Ciência & Espiritismo VIII

(Continuação do Artigo iniciado no Boletim 476)

23) André Luiz, no livro "Evolução em Dois Mundos", avança em diversas explicações sobre o Fluído Cósmico e o Corpo Espiritual. Há paralelos entre estas explicações e as teorias científicas atuais?

[Ademir] Isso depende por demais da maneira particular de interpretãção das teorias. Como dissemos, as teorias tem aplicação e interesse até o ponto onde elas se mostrem capazes de explicar os fenômenos. Conexões com outras interpretações não fazem parte do trabalho do dia-a-dia de um físico (o que parece ser mais apropriado a um epistemólogo). Assim tudo é possível, e só o futuro dirá se essas reinterpretações são viáveis ou não, na medida em que se tornarem aptas a melhor descrever o universo que observamos.

24) Normalmente os Físicos, e mais ainda os dedicados a Cosmologia, esquivam-se a responder perguntas sobre Deus, mas a própria fundamentação da Cosmologia não é uma ordem no Universo que possibilite a aplicação das mesmas leis físicas em qualquer canto dele? Esta ordem subjacente ao Universo não é a própria conceituação de uma "Causa Primeira"?

[Ademir] Existe um princípio que tem sido redescoberto em cosmologia denominado "Princípio Antrópico". Ele diz que o universo é do jeito que é pois foi o único que propiciou a existência e desenvolvimento de vida consciente. A Cosmologia sempre esteve as voltas com a idéia de Deus e o princípio antrópico parece apontar na direção da importância da idéia de consciência (Espírito para nós espíritas).

Mas, por causa do que dissemos nas questões acima (ver questão 23), as teorias são úteis na medida em que conseguem explicar suficientemente bem o que observamos. Se existe uma teoria (paradigma) que explique a estrutura, distribuição, cor, densidade, temperatura da matéria "detectável" sem a utilização da idéia de Deus, essa será adotada pois, nesse caso, a idéia de Deus se mostra supérflua. Em ciência (e nos paradigmas) é preciso que um princípio tenha funcionalidade para ser incorporado. A idéia de Deus  - embora fale profundamente as nossas almas - é superflua nas descrições da física. Isso não significa que Deus não exista mas fornece bastante combustível ao Ateísmo.

[Alexandre] A questão é filosófica. A física e a cosmologia não estão preocupadas em responder se Deus existe ou não. Elas estão preocupadas com o estabelecimento de relações causais práticas. Por exemplo as leis de Newton explicam o movimento. Porque as leis de Newton são como são, não é mais escopo da física. Mas isso não resume nem simplifica a questão. No fundo eu não me preocupo com a prova científica de Deus. Penso que antes disso a gente deve pensar em possíveis verificações para a existência e sobrevivência da alma.

Mas essa questão sobre “causa primeira” mostra que o princípio de causa e efeito é extremamente básico no Espiritismo. Se eu disser para voces que a mec. quântica afrouxou esse princípio (o que é verificado experimentalmente) voces ficarão assustados! Se a teoria quântica permite que alguns efeitos ocorram “sem uma causa” então isso é um problema porque no momento inicial do Big Bang, todos os fenômenos eram regidos por leis quânticas (tudo confinado em escalas microscópicas). Então devemos ter mais cautela antes de sair por aí expondo nossas idéias porque os materialistas são muito inteligentes e podem pegar essas “brechas” para fazer desacreditar no espiritismo. 

25) Onde entram as teorias do "Universo Holográfico" e do "Universo Autoconsciente" tão divulgadas pela midia? Em que estas teorias abririam campo para as interpretações espiritualistas do Universo?

[Ademir] Não conheço essas teorias. Parecem a meu ver interpretações em forma de síntese de alguns conceitos da física moderna tal como a noção de não localidade, a idéia de que existe uma conexão oculta entre fenômenos ou efeitos que se localizados espacialmente em pontos diferentes. A não localidade parece implicar a primeira vista na quebra das conexões causas mas, analisando-se com mais cuidado, a causalidade não é violada em nenhum momento se por transmissão de sinal entendemos a transmissão de informação relevante sobre um determinado sistema. Minha resposta a essa questão segue a linha exposta nas respostas às questões 21 e 18. 

[Alexandre] A teoria do Universo Autoconsciente foi proposta pelo Prof. Dr. Amit Goswami com a chamada filosofia idealista. Ao meu ver essa foi a proposta espiritualista com base em mec. quântica mais séria que já vi superando o trabalho do Dr. Hernani G. Andrade por utilizar de forma bastante precisa os conceitos quânticos. Porém o Prof. Amit Goswami acredita no panteismo e ele não incluiu o espírito como individualidade independente da matéria (corpo físico). Nesse caso, a teoria dele, por mais interessante que seja em fazer uma proposta para o Criador, não nos inclui como espíritos. Portanto, ela deve ser considerada como uma proposta espiritualista e não espírita.

Eu já li algo a respeito da idéia holográfica de que o Universo registra todas as informações do que ocorre e que em cada região podemos obter informação sobre o que acontece com o todo. Essa é uma proposta esotérica para explicar a clarividência, por exemplo, onde, ao se colocar em estados alterados de consciência onde as ondas mentais vibram de modo mais coerente, uma pessoa acessaria a informação sobre “coisas” e “eventos” distantes no espaço e no tempo. Mas eu não conheço mais a respeito e não sei como testar esta teoria. Mas o espiritismo apresenta uma explicação de valor tão científico ou mais do que essa teoria.

Continua no próximo Boletim

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Curso Ciência & Espiritismo, Alexandre Fontes da Fonseca, Brasil

Em comemoração aos 12 anos do GEAE

TEXTO INTRODUTÓRIO
Ademir Xavier Jr. - Editor GEAE

        Seja por constituir um objeto de grande interesse do público, seja pelo sua ampla notoriedade frente aos novos desenvolvimentos da civilização, a Ciência provocou, é certo, uma profunda revolução na história da humanidade. A história diz que acontecimentos como a revolução industrial e as guerras recentes tiveram como arcabouço o lento porém profundo desenvolvimento das disciplinas científicas. O impacto das ciências com consequências tecnológicas foi decisivo para a estrutura econômica contemporânea, criando uma fissura de origem nitidamente técnica entre países ricos e pobres. "Países em desenvolvimento" esforçam-se por se livrar de seu passado menos desenvolvido, buscando políticas públicas de fomento à pesquisa e o desenvolvimento tecnológico.

        Nesse panorama em que a Ciência substituiu a religião em muitos aspectos do dia-a-dia moderno, existe alguma receita para se ter boa ciência? Como se dá o processo de geração de conhecimento genuinamente científico? Como se distingue uma disciplina em seus aspectos científicos, e quem é resposável por essa distinção? A parte do interesse geral que respostas a essas questões podem ter, surge também naturalmente dúvidas, na mente de muitos espíritas, sobre a estruturação científica da Doutrina Espírita. Há um consenso geral de que o Espiritismo deva se curvar (embora não implicando se modificar) frente a novas descobertas e teorias da Ciência, embora não se saiba muito bem como isso deva acontecer. Há muitos espíritas que apressadamente propõem uma "revisão" dos fundamentos ou de partes secundárias da doutrina, embasando-se em aparentes justificativas fundamentadas em novas teorias científicas. Tal situação cria climas de conflitos sem justificativa, quando as tensões aparecem por falta de conhecimento das sutilezas do processo de desenvolvimento da ciência e de sua própria conceituação.

     É para dirimir essas dúvidas e esclarecer o aspectos verdadeiramente científicos do Espiritismo que os textos do Alexandre foram escritos. Partindo da experiência adquirida em seu treinamento em física, que é uma das ciências de maior prestígio na atualidade e que maior influência teve sobre o desenvolvimento de vários campos do conhecimento (inclusive sobre psicologia moderna), é feita uma descrição do modo de operação e desenvolvimento dessa ciência. Uma definição suficientemente ampla de ciência é difícil de ser concebida em poucas linhas, mas podemos ter uma boa idéia do que é fazer ciência física genuinamente por uma descrição detalhada do processo de pesquisa em física, o que é muito mais simples. Parte-se, então, a partir de um paralelo com os estudos espíritas para a conclusão nitidamente kardequiana de que o Espiritismo é uma ciência genuína, embora o objeto de estudo dessa ciência não seja da mesma natureza que o de outras ciências materiais. A distinção entre objetos de estudo é crucial para se compreender bem que, longe de querer modificar o Espirismo ou de pretender que ele dispute com a Física ou disciplinas correlacionadas um status de igualdade, devemos compreendê-lo como o grande complemento a uma visão unificada das coisas ao nosso redor, onde matéria e espírito são os grandes constituintes. Desta forma, não é necessário que a Física desvende as últimas dimensões da matéria e encontre o espírito para que o Espiritismo tenha reconhecimento, pois esse valor, independentemente do reconhecimento, ele já o tem. Muito menos precisa a Doutrina Espírita se torcer para incluir entre seus postulados determinadas descobertas recentes, posto que tais descobertas são feitas sobre objetos do munto material que não coincidem com os objetos de estudo da Doutrina Espírita, além do caráter quase sempre transitório das teorias construídas em torno dessas pesquisas. É prejudicial ao desenvolvimento natural da Doutrina Espírita como ciência querer fundi-la com qualquer teoria física justamente porque essas teorias físicas se alteram dia-a-dia, além de versarem sobre objetos que tem pouca relação com o interesse principal da pesquisa espírita.
      Após ler os textos do Alexandre passamos a compreender que todo espírita deve reconhecer nos progressos das ciências (não importando a origem deles, seja em novas descobertas nucleares ou no desvendamento do mecanismo dos genes) um avanço na direção oposta à ignorância. Embora o desenvolvimento científico não se prenda, em princípio, à aplicações eticamente corretas, devemos entender que todo desenvolvimento é assim para o bem, uma vez que as sementes desses desenvolvimentos serão utilizadas no futuro para facilitar ou amenizar nossas dificuldades materiais, além das possibilidades sempre presente de se fazer o bem com tais descobertas. Os que se impressionam com essas novas descobertas não tem razão assim para maiores temores: assim como o Espiritismo, a Ciência caminha em direção à verdade, fonte de toda libertaçã

Aula 1: Introdução e Conceito de Ciência

1. INTRODUÇÃO

Podemos dizer que o interesse do movimento espírita por questões científicas é tão antigo quanto a própria doutrina espírita. No Brasil, isso é fato comum como se pode verificar através das datas das primeiras edições de algumas publicações como, por exemplo, as obras do nosso irmão Hernani G. Andrade, A Teoria Corpuscular do Espírito (1958) [1] e Novos Rumos À Experimentação Espirítica (1960) [2]. O número de publicações, em livros e revistas, sobre questões científicas ligadas ou aplicadas ao Espiritismo é bastante expressivo nos dias de hoje.

Determinados avanços científicos como, por exemplo, as teorias modernas da Física e as pesquisas na área de Biologia, como a lei de evolução de Darwin, o projeto Genoma e as experiências com a clonagem de animais, despertam o interesse pois esses temas parecem ter alguma conexão, de um jeito ou de outro, com algumas questões espíritas relacionadas à interface espírito-matéria.

A maioria dos espíritas, como a maioria das pessoas em geral, não possue formação profissional em Ciência. Isso dificulta o uso da ferramenta do bom senso na análise de idéias e propostas de caráter científico para os conceitos espíritas, originadas de irmãos desencarnados ou, mesmo, encarnados. Mesmo sabendo que é preferível “rejeitar 10 verdades do que aceitar uma só mentira” [3], os espíritas ficam sem jeito de questionar algumas idéias, mesmo aquelas muito difíceis, seja de um espírito cujo nome retém enorme respeito, seja de um irmão encarnado que possui títulos universitários ou respeito no movimento espírita. Muitos preferem evitar o ato de questionar para evitar melindres e ofensas já que nós espíritas, muitas vezes, consideramos pessoal uma crítica à alguma de nossas idéias. No entanto, essa postura é um engano que pode gerar inconvenientes ainda mais sérios, cedo ou tarde, para o movimento espírita. O progresso exige que tenhamos o entendimento daquilo que nos chega através do intelecto, e quando não podemos alcançar esse entendimento com relação a determinados assuntos, a prudência orienta que aguardemos o futuro antes de lhes dar crédito. É perfeitamente possível compreender que críticas a quaisquer idéias estão longe de representar uma ofensa ao autor das mesmas.

O diálogo sobre Ciência e Espiritismo, que vem sendo apresentado em partes no Boletim de GEAE (N. de 476 a 482) nos levou a uma percepção de que mesmo entre cientistas profissionais existem diferenças em suas opiniões e pontos de vista com relação à questão sobre como a Ciência se insere e contribui com o Espiritismo e vice-versa, isto é, como o Espiritismo, em seu aspecto científico, se coloca diante da Ciência e das várias ciências.

As idéias suscitadas no diálogo acima mencionado e a necessidade de nos munirmos com mais ferramentas para a verificação do critério do bom-senso ensinado por Kardec para com todo o conteúdo espírita que vem sendo divulgado como científico, motivaram o conselho editorial do GEAE a propor-nos a preparação de um conjunto de artigos sobre ao assunto. Iremos, talvez exageradamente, chamar esses artigos de “aulas” sobre Ciência e Espiritismo e o objetivo principal é iniciar uma ampla discussão e orientação com e para os leitores do Boletim do GEAE, sobre questões atuais como: o que é ciência; o que é Física; como o Espiritismo se insere no aspecto científico; o que ou como as ciências, como a Física, podem contribuir para o desenvolvimento ou entendimento de determinados conceitos espíritas; como se produz o conhecimento dito científico e que critérios e métodos existem para analisar se um artigo científico é válido ou não; etc.

Assim, perguntas, dúvidas e comentários sobre o assunto podem ser enviados a qualquer momento. Mais ou menos a cada três aulas (dependendo do número de perguntas) uma aula de dúvidas será preparada para respondê-las.

Neste “curso” buscaremos abordar não apenas algumas definições presentes na literatura espírita sobre aspectos filosóficos da ciência, mas também oferecer um ponto de vista do dia-a-dia profissional deste autor sobre a prática de pesquisa e ciência. Discutiremos algumas orientações básicas para a realização de pesquisas espíritas, teóricas ou práticas, de forma séria e consistente.

Enfatizamos que estes apontamentos não são absolutos sobre o assunto. Comentários, críticas e sugestões serão sempre bem vindos.

2. CONCEITO DE CIÊNCIA

O conceito de ciência não é algo simples que possa ser apresentado com uma ou duas frases. Essa palavra traz múltiplos significados que, em conjunto, refletem a prática e o produto da atividade dita científica. Um dos autores que, ao nosso ver, melhor contribuiu no entendimento desse aspecto e sua relação com o Espiritismo é o Prof. Silvio S. Chibeni. Recomendamos fortemente a leitura e o estudo de seus trabalhos.

Ao falar do aspecto filosófico do Espiritismo, Chibeni [4] comenta que o que hoje chamamos de ciência está historicamente ligado ao que se entendia de filosofia nos primeiros tempos da nossa cultura ocidental. Em outras palavras, a filosofia significa a busca da verdade [5].

E Chibeni, através dos conhecimentos filosóficos modernos, já há mais de 10 anos, analizou e discutiu a idéia de Ciência Espírita [6]. Não é nossa intenção repetir aqui sua análise e argumentação mas sim apresentar um resumo dos pontos principais. O leitor encontrará nas respostas dadas pelo Prof. Ademir Xavier (Boletins ns. 476 a 482) esse aspecto do conceito de ciência. Os cientistas, em geral, possuem visões particulares que diferem desta análise. Mas já existe algum consenso dentre vários irmãos espíritas (que são cientistas) de que essa análise é legítima.

Uma visão leiga e antiga de ciência diz que a atividade científica compreende os seguintes passos: i) extensa observação dos fatos e aquisições de dados experimentais; ii) análise dos dados e a obtenção de leis gerais; iii) testes experimentais e controlados destas leis gerais através de novas observações e experimentos.

Apesar da atividade científica envolver esses três ítens, a ordem pela qual eles ocorrem está longe de ser a que apresentamos acima. Os filósofos, ao analisarem como os cientistas trabalham, perceberam que é impossível observar os fatos sem ter uma hipótese ou idéia pré-concebida. Isto significa que o ítem (ii) sempre anda de mãos dadas com o ítem (i) quando não vai a frente como, por exemplo, em algumas descobertas importantes na área de Física de partículas. Por exemplo, a previsão da existência do positron (anti-partícula associada ao elétron), foi realizada anos antes de sua descoberta experimental. Um aspecto muito interessante ressaltado por Chibeni [6] e Xavier Jr. [7] é que a atividade científica envolve uma grande dose de criatividade. Não existe um “método geral” para se obter uma teoria a partir apenas da observação dos fatos. Se isso fosse possível, os cientistas perderiam o emprego uma vez que bastaria programar um computador para seguir tal “método”.

Portanto, ciência é uma atividade humana que envolve o uso da imaginação tanto na proposiçãso de leis e teorias quanto na preparação de ferramentas experimentais ou observacionais para a verificação dos fatos ou da realidade. O desenvolvimento daquilo que chamamos “método científico” também faz parte dessa criatividade. Lembremos que Kardec criou um método para a análise das mensagens mediúnicas. Podemos dizer que a função básica do método científico é ajudar os cientistas a selecionarem, dentre as mil e uma idéias que passam pelas suas cabeças, aquelas que sejam as mais simples e eficazes para a explicação das leis básicas que estão por trás dos fenômenos. Discutiremos mais a respeito do método científico na próxima aula.

Os estudiosos da Filosofia da Ciência perceberam que todas as disciplinas científicas possuem determinadas características que independem da disciplina em si. Essas características que definem o adjetivo científico de cada disciplina, envolvem a existência de um núcleo teórico principal ou conjunto de hipóteses principais (os fundamentos e leis básicas da disciplina científica). Este núcleo possui à sua volta um conjunto de hipóteses auxiliares que complementam e fazem o contacto ou a conexão entre os dados experimentais ou fatos observados e o núcleo teórico principal. Essa estrutura é, ainda, acompanhada de regras mais ou menos explícitas que norteiam o desenvolvimento da disciplina. Uma parte dessas regras, ditas negativas garante que o núcleo principal nunca deve ser alterado. As discrepâncias deverão ser resolvidas através de ajustes nas partes não centrais, isto é, dentro do conjunto de hipóteses auxiliares. O conjunto de regras positivas orientam sobre como e onde essas correções deverão ocorrer. A esse conjunto de hipóteses principais ou núcleo teórico principal chamamos de paradigma da disciplina científica.

Com base nestes aspectos filosóficos sobre o que é uma ciência, Chibeni [6] conclui que o Espiritismo é uma verdadeira disciplina científica. E isso é um fato independente das outras disciplinas científicas ortodoxas mais conhecidas como a Física, a Química e a Biologia. Em outras palavras, o aspecto científico do Espiritismo não depende dos conceitos das outras ciências.

Além das referências abaixo, os leitores são referidos aos comentários do Ademir Xavier Jr. no diálogo sobre Ciência e Espiritismo, publicados nos boletins ns. de 476 a 482 e aos artigos do Prof. Silvio S. Chibeni, referências [4,5].

Na próxima aula, discutiremos o conceito de método científico e como ele se relaciona com as definições de ciência acima e com o Espiritismo.

Referências

[1] H. G. Andrade, A Teoria Corpuscular do Espírito, Editado pelo autor, (1958).

[2] H. G. Andrade, Novos Rumos à Experimentação Perispíritica, Editado pelo autor (1960).

[3] Erasto (Espírito desencarnado), Revista Espírita 8, p. 257, (1861).

[4] S. S. Chibeni, O Espiritismo em seu tríplice aspecto Parte II 2003, Reformador Setembro, pp. 38-41.

[5] S. S. Chibeni, O Espiritismo em seu tríplice aspecto Parte I 2003, Reformador Agosto, pp. 39-41.

[6]S. S. Chibeni, Ciência Espírita 1991, Revista Internacional de Espiritismo Março, pp.45-52.

[7] A. Xavier Junior, Como se deve entender a relação entre o Espiritismo e a Ciência 2004, Boletim do GEAE 472.

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História & Pesquisa

(Seção em parceria com a "Liga de Historiadores e Pesquisadores Espíritas")

A Pesquisa Qualitativa Entre a Fenomenologia e o Empirismo-Formal IV, Jáder dos Reis Sampaio, Brasil

(Continuação do Artigo iniciado no Boletim 480)

A Pesquisa Qualitativa entre a Matriz Hermenêutico-Fenomenológica e a Matriz Empírico-Formal

Não foi difícil mostrar que em meio aos chamados cientistas humanos e sociais, incluindo-se aí os que laboram no campo da administração, há uma multiplicidade de concepções de ciência. Selecionamos duas orientações, seguindo a proposta de Zilles, que designamos como “matrizes”, posto que não se trata de aplicar um método para uma disciplina (como a física) e outro para outra (como a medicina). Trata-se de entender que mesmo dentro de uma dada disciplina, especialmente aquelas cujo objeto se acha em clara interação com o homem e sua cultura, é-se passível de aplicar métodos de pesquisa qualitativa com bases fenomenológico-hermenêuticas ou com bases empírico-formais.

Geralmente, quando se usa o conceito “pesquisa qualitativa” está se dizendo “pesquisa não-quantitativa”, ou seja, que por algum motivo não construiu suas conclusões a partir da análise matemática das suas variáveis, que por sua vez não foram mensuradas a nível intervalar ou de razão. Sempre que se define assim, está se dizendo que se aceita a matriz empírico-formal como referência epistemológica (única) para a construção do conhecimento, que se está procedendo segundo as suas prescrições metodológicas mas que se reconhece uma limitação da pesquisa: seja o desconhecimento teórico do fenômeno específico (ausência de variáveis conhecidas) que demanda uma pesquisa exploratória, seja a desconfiança da capacidade de um modelo teórico aceito explicar corretamente um fenômeno, seja a impossibilidade de se mensurar um número significativo de variáveis a nível nominal, tudo isto justificaria o emprego da pesquisa qualitativa como uma préetapa
ou uma etapa confirmatória do desenvolvimento teórico (uma teoria de regularidades).

Considerando-se a matriz hermenêutico-fenomenológica, entretanto, o termo pesquisa qualitativa assume uma dimensão totalmente diferente diante da construção teórica. Aqui se parte da crítica da metodologia empírico-formal como incapaz de construir teorias válidas, especialmente com relação a fenômenos que pressupõe a subjetividade ou ação subjetiva e intencional dos atores sociais. Neste cenário, não se buscam regularidades, mas sim a compreensão das opções dos agentes, daquilo que os levou singularmente a agir como agiram. Só é possível esta empreitada ouvindo os sujeitos a partir de sua lógica e exposição de razões. Quando muito, pode-se identificar crenças compartilhadas mais ou menos por grupos sociais, ou seja, cultura, sem pressupor que ela seja uma categoria estática no tempo e no espaço, mas uma categoria analítica em permanente transformação. Desta forma, a análise da linguagem (ou análise do discurso) parece ser mais produtiva que a análise matemática.

Na matriz empírico-formal, tem-se a análise a partir de objetos, mesmo que estes sejam produções ideológicas de uma pessoa ou grupo social. Isto leva seus críticos a atentarem para o fenômeno da reificação, que neste sentido seria a transformação em objeto daquilo que não o é.

Na matriz fenomenológico-hermenêutica tem-se a análise a partir da percepção do sentido das produções do sujeito, em busca de essências e de compreensão, através da intersubjetividade, o que leva seus críticos a atentarem para o fenômeno da subjetividade, no sentido de uma certa arbitrariedade do pesquisador na construção de suas teorias, assim como de uma dificuldade de verificação ou falsificação destas.

Entendemos que os dois métodos produzem conhecimento, mas cabe ao pesquisador senso crítico e clareza sobre seus objetos e objetivos, assim como a explicitação suficiente das matrizes epistemológicas que estão em uso a fim de não se perder em sua pesquisa e se fazer compreendido por seus pares. Concluímos também que a medida em que objetividade e subjetividade se entrecruzam no objeto de pesquisa, torna-se mais complexo fazer escolhas metodológicas.

Fontes Bibliográficas

BACON, Francis. Novum organum ou verdadeiras indicações acerca da interpretação da natureza. São Paulo: Nova Cultural, 1988. [Coleção “Os Pensadores”]
BRANDÃO, Helena H. N. Introdução à análise do discurso. São Paulo: Editora da UNICAMP, 1996.
BRUYN, Severyn. The new empiricists: the participant observer and phenomenologist. In: FILSTEAD, William. Qualitative methodology: firsthand involvment with the social world. Chicago: Rand McNally, 1970.
CHAUÍ, Marilena. Husserl: Vida e Obra. São Paulo: Nova Cultural, 1988. [Coleção “Os Pensadores”]
CICOUREL, A. Method and measurement in sociology. New York: The free press, 1969.
DE BRUYNE, Paul, HERMAN, Jacques, DE SCHOUTHEETE, Marc.Os processos discursivos. In: Dinâmica da pesquisa em ciências sociais. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1991.
ELY, Margot et. al. Grounding. In: Doing qualitative research: circles within circles. London: The Falmer Press, 1996
GLASER, B., STRAUSS, A. L. A discovery of substantive theory: a basic strategy underlying qualitative research. In: FILSTEAD, William. Qualitative methodology: firsthand involvment with the social world. Chicago: Rand McNally, 1970.
HUME, David. Investigação acerca do entendimento humano. São Paulo: Nova Cultural, 1988. [Coleção “Os Pensadores”]
HUSSERL, Edmund. Elementos de uma elucidação fenomenológica do conhecimento. In: Investigações Lógicas. São Paulo: Nova Cultural, 1988. [Coleção “Os Pensadores”]
JUNG, Carl G. A prática da psicoterapia. Petrópolis: VOZES, 1985.
KIRK, Jerome, MILLER, Marc L. Reliability and validity in qualitative research. London: Sage, 1988.
MARTINS, Gilberto. Abordagens metodológicas em pesquisas na área de Administração. Revista de Administração, São Paulo, v.32, n. 3, p. 5-12, jul/set 1997.
MILES, M., HUBERMAN, A. Michael. Qualitative data analysis. California: Sage, 1994.
PARASURAMAN, A. Qualitative research. In: Marketing research. Canada: Addison-Wesley, 1986.
SAMPSON, Peter. Qualitative research and motivation research. In: WORCESTER, Robert R. Consumer market research handbook. Amsterdam: ESOMAR, 1991.
VALVERDE, José María. História do pensamento. São Paulo: Nova Cultural, 1987.
ZILLES, Urbano. Teoria do conhecimento. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1994.

Destaques

"...a pesquisa qualitativa não é uma pesquisa para a qual não se teve fôlego para estudar um número suficiente de eventos que permitam generalização, nem está às voltas com um tipo de objeto que permite apenas uma mensuração não-métrica e muito menos é uma abordagem menor da ciência porque não consegue estabelecer com fundamento leis que estabelecem relações determinantes ou probabilísticas entre eventos. Trata-se de um tipo de pesquisa própria para a análise em profundidade de fenômenos onde se pressupõe, ou se busca entender melhor, a singularidade ou a subjetividade."

A idéia que o conhecimento científico é um tipo de conhecimento verdadeiro, e que a aplicação da metodologia científica conduz à obtenção da verdade, é um mito de difícil sustentação se o leitor se dispuser a analisar atentamente os pressupostos sobre os quais se constrói uma dada teoria epistemológica.

Grosso modo, temos então uma noção de ciência, que seria um método de produção de conhecimento verificável e acumulável, que estabelece nexos de causalidade entre fenômenos, a partir da observação sistemática e experimentação de fenômenos naturais com a finalidade de identificarem-se, por generalização, regularidades (leis) passíveis de descrição matemática.

Este problema não é diferente nas ciências administrativas, posto que têm por objeto as organizações de trabalho constituídas por seres humanos. Se por um lado é possível estabelecer regularidades que parecem ser universais às relações de troca (lei de oferta e procura nas ciências econômicas), da mesma forma temos as organizações com suas singularidades (os transplantes de modelos administrativos, por exemplo), gerando outputs diferentes daqueles que seriam esperados por um certo modelo administrativo.

Neste cenário, não se buscam regularidades, mas sim a compreensão das opções dos agentes, daquilo que os levou singularmente a agir como agiram. Só é possível esta empreitada ouvindo os sujeitos a partir de sua lógica e exposição de razões. Quando muito, pode-se identificar crenças compartilhadas mais ou menos por grupos sociais, ou seja, cultura, sem pressupor que ela seja uma categoria estática no tempo e no espaço, mas uma categoria analítica em permanente transformação.

A Pesquisa Qualitativa Entre a Fenomenologia e o Empirismo-Formal

Jáder dos Reis Sampaio

Professor assistente da Universidade Federal de Minas Gerais. Psicólogo formado pela UFMG, Especialista em Psicologia do Trabalho pela Universidade de Brasília - UnB, Mestre em Administração pela UFMG e Doutorando em Administração pela Universidade de São Paulo - USP.

Artigo publicado originalmente na Revista de Administração da Universidade de São Paulo

[SAMPAIO, Jáder dos Reis. A pesquisa qualitativa entre a fenomenologia e o empirismo formal.
Revista de Administração. São Paulo, v. 36, n. 2, p.16-24, abr/jun 2001.]

Fim
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Questões e Comentários


Questões Intrincadas sobre o Espiritismo VI

(Continuação do Artigo iniciado no Boletim 478)


7) Se o esquecimento das vidas passadas é colocado por Deus com uma finalidade bem específica, porque o ser humano procura saber o que aconteceu? Por que a procura por terapias de Vidas Passadas? E porque a necessidade de se comunicar com pessoas queridas que já faleceram? Se todos são obrigados a aceitar serenamente a separação provocada pela morte como um desígnio de Deus, porque aos espíritas caberia o privilégio de se comunicar com amigos e parentes? Não seria isso uma forma de revolta humana contra a vontade de Deus?

Fica-nos claro, mais uma vez, que a sua leitura das obras básicas do Espiritismo, se houve, não foi atenta. O Espiritismo não estimula a busca por saber o que aconteceu em vidas anteriores. A Terapia de Vidas Passadas, também chamada de Terapia Transpessoal, é um ramo da psicologia com objetivos determinados e nobres e que utiliza o conhecimento sobre a lei natural da reencarnação para ajudar as pessoas com problemas sérios de comportamento, como por exemplo, os variados tipos de fobias. Inclusive, é bom lembrar, a esmagadora maioria dos que a utilizam não são Espíritas, mas pessoas de outras correntes religiosas, que comprovaram na prática que pacientes foram curados por esse processo. Assim, a TVP não é para saciar a curiosidade das pessoas em saber o que foram em vidas passadas, como nos leva a crer a sua fala.

Os Espíritos superiores não saem por aí dizendo que é para a gente buscar saber o que fomos e fizemos no passado. Entretanto, os registros feitos com essa técnica são indícios científicos da reencarnação. Dia chegará em que essas pesquisas mostrarão clara e  certamente que a reencarnação é um fato como a Terra girar em torno do Sol e, será, que os religiosos de certas crenças vão continuar repetindo o antigo erro da igreja em mandar queimar os que diziam em contrário?

Muitas pessoas têm um alto grau de curiosidade a respeito do passado. Por isso procuram inteirar-se de suas vidas anteriores, embora isso - se de fato acontecer positivamente -  possa ter efeitos deletérios na vida presente. O esquecimento do passado faz parte do processo de evolução espiritual como condição de reiniciar o aprendizado. Esse esquecimento diz respeito ao conhecimento específico e nunca às tendências e gostos, à inteligência e outros fatores, embora o corpo e disposições genéticas possam modificar ou impedir (nunca criar) a manifestação de certas tendências. Nossa consciência permanece a mesma, muito embora tenhamos nos esquecido completamente de nossa infância, das situações que vivemos na época, dos amigos que tivemos. Mas sabemos que somos conseqüência daquilo que vivemos.

A Terapia Transpessoal, portanto, é uma técnica médica e jamais será utilizada por Espíritas estudiosos a não ser que por algum motivo sério que motive sua ida a um psicólogo. Se o motivo de uma TVP for sério, o resultado será benéfico, se for leviano, será nulo.

Aliás, tudo o que ocorre na criação acontece porque os desígnios divinos assim o permitem. Se nos é concedida a oportunidade de aprender para ampliar nossos conhecimentos ou refinar o que anteriormente havíamos aprendido, é porque isso é bom para nossa evolução. Do mesmo modo, se nos for permitido lembrar de um ou outro evento no passado, seja de forma espontânea ou com a ajuda de um terapeuta, podemos estar certos de que tal ocorrerá somente se for para o nosso próprio bem e se atender a uma real necessidade nossa. Por acaso, o fato de nascermos ignorantes faz com que nossa mãe esteja cometendo um ato  “de revolta humana contra a vontade de Deus?” ao nos colocar na escola?
*
Interessante uma passagem do livro de Jó, que diz: “Consulte as gerações passadas e observe a experiência de nossos antepassados. Nós nascemos ontem e não sabemos nada. Nossos dias são como sombra no chão. Os nossos antepassados, no entanto, vão instruí-lo e falar a você com palavras tiradas da experiência deles”. (Jó 8, 8-10). Se naquela época não existiam livros escritos onde os antepassados pudessem colocar suas experiências, qual é o sentido dessa recomendação? É fácil para quem sabe da realidade da comunicação com os mortos. Eles aparecerão pessoalmente para falar de suas experiências para que possamos nos aproveitar delas. É o que acontece com os Espíritos que, vindo com a permissão de Deus, têm como missão nos instruir com suas experiências.
*
Veja só, a necessidade de se comunicar com pessoas queridas falecidas é a mesma que temos em nos comunicar com pessoas queridas que se mudaram para longe de nós. O Espiritismo nos orienta a aceitar com serenidade a separação causada pela morte. Mas, mais uma vez, notamos que sua leitura das obras básicas não foi atenta. Isso nunca foi nem será privilégio dos espíritas. Mas é natural que pessoas que seguem crenças que condenam a comunicação com os Espíritos não recebam notícias de seus entes queridos falecidos. Se bem que não existe ser humano que não tenha "sonhado" que esteve com um parente ou amigo falecido. O Espiritismo é a única doutrina que explica isso de forma muito natural, mais natural até do que as complicadas teorias psicológicas.
*
Estranhamos você sugerir que o desejo de saber notícias dos entes queridos é um sentimento de revolta contra Deus. Não existe pessoa em sã consciência que não se preocupe em saber se o filho(a) ou pai(mãe) ou qualquer ente querido falecido está bem. Expressões como “Deus o guarde”, “Descanse em paz” revelam esse sentimento nas pessoas. Portanto, o desejo de saber notícias nem sempre significa revolta. Existem os que se revoltam pelo falecimento de pessoas queridas, sim. Mas o Espiritismo, pelo contrário, ajuda a aceitar o fato, ao mostrar que a separação é passageira. Nesse aspecto, o Espiritismo ajuda as pessoas a não se revoltarem contra os desígnios divinos. O ato de saber notícias nem de longe constitui desrespeito ou revolta contra Deus e, muito pelo contrário, revela a confiança e a fé na Paternidade divina e na certeza da vida futura.

Comunicarmo-nos com nossos parentes mais amados é uma maneira de conseguirmos consolo. Para o Espírita sincero (ou qualquer indivíduo) que aceite naturalmente a imposição da morte, não há realmente necessidade de procurar a conversa com os desencarnados. Mas essa conversa se revelou altamente iluminativa, uma vez que dela se originou uma nova doutrina capaz de trazer novas luzes na maneira como nos relacionamos com Deus, reafirmando a doutrina moral de Jesus e, mais recentemente, noções não religiosas da necessidade de nos bem relacionarmos socialmente, de que a felicidade nossa liga-se diretamente à felicidade que pudermos proporcionar aos que nos cercam.
*

Os Espíritas não tem nenhum privilégio em relação à comunicação com os Espíritos. A mediunidade é a faculdade que torna possível a comunicação, não sendo ela privilégio de nenhuma religião, cultura, sociedade ou grupo. A Doutrina Espírita chamou a atenção para a importância dessas comunicações, compilando e expondo algumas faces do mundo espiritual que sempre existiu muito antes de a Terra ter existido. Essa é a principal contribuição do Espiritismo, o de fornecer evidências práticas - chamando a atenção para certos fenômenos - a favor da sobrevivência da alma.

Não existe, ademais, qualquer tipo de privilégio diante de Deus, já que “Deus não faz acepção de pessoas” (Atos 10, 34), nem mesmo o da salvação por pertencer a determinada igreja, daí a comunicação com os mortos é dada a qualquer um. O que normalmente acontece é que nas igrejas tradicionais cristãs o Espírito manifestante é denominado de “Espírito Santo”, na tradição Judaica, diziam ser o próprio Deus que se manifestava, em outras tradições as comunicações vinham de anjos, santos ou de outras entidades em que acreditavam. A sua pergunta ”...porque aos espíritas caberia o privilégio de se comunicar com amigos e parentes?” demonstra que você, caro amigo, não só tem pouco estudo da Doutrina Espírita como da Bíblia e da literatura religiosa e mística em geral.

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Painel

 

GEPE - Grupo de Estudo e Pesquisa Espirita

Seminário sobre Ciência Espírita

O GEPE promove, em parceria com o Centro Espírita Caminhemos com Humildade, o 1º Seminário sobre Ciência Espírita, no dia 24 de outubro de 2004, domingo, das 09h às 13h, com o tema central Espiritismo e Psicologia Transpessoal: Desvendando o Espírito - Aproximações e Consequências. Será expositor o psicólogo e escritor Milton Menezes. O Seminário faz parte do "Projeto Estudo e Pesquisa" desenvolvido pelo GEPE. Desde já você é o nosso convidado. São objetivos do seminário destacar as bases científicas do Espiritismo, enfocar as pesquisas que apontam para a sobrevivência da alma e esclarecer sobre a pesquisa espírita de caráter científico. O Seminário ocorre nas dependências do Centro Espírita Caminhemos com Humildade na Rua Rodrigues Alves, 1544, Centro, Nilópolis, RJ.

Encontro com a Boa Nova

Continuando o desenvolvimento do " Projeto Humanizar", o GEPE inaugurou a reunião Encontro com a Boa Nova. Ela ocorre todos os sábados, das 17h às 18h30. Para participar basta comparecer no endereço Rua Alice Tibiriçá, 100, fundos, ap.102, bairro Vila da Penha, na cidade do Rio de Janeiro, ou telefonar para (21)3381-1429.

Encontro do Livro Espírita Infanto-Juvenil

GEPE e Grêmio Espírita de Beneficência convidam para o 2º Encontro do Livro Espírita Infanto-Juvenil, nos dias 06 e 07 de novembro de 2004, na Praça Nilo Peçanha, centro da cidade de Barra do Piraí, estado do Rio de Janeiro. O lançamento oficial do evento ocorrerá no dia 05, sexta-feira, às 20h, com palestra de Marcus De Mario sobre o tema "O Livro Espírita Infanto-Juvenil e a Educação", no salão doutrinário do Grêmio Espírita de Beneficência (Rua Paulo de Frontin, 193, Centro, Barra do Piraí). Após a palestra haverá sessão de autógrafos. A inauguração do 2º Encontro será às 10h da manhã do sábado, dia 06. Ampla programação com contadores de história, oficinas de artesanato, teatro infantil, palestras e shows musicais abrilhantará o evento, que ainda contará com ampla exposição de livros espíritas e praça de alimentação com a participação dos Centros Espíritas da região. Este ano o tema central é "Educação, Um Ato de Amor".

Projeto Humanizar

Acesse www.gepenet.hpg.ig.com.br e faça o download do "Projeto Humanizar" e do documento "A Humanização do Centro Espírita"., aproveitando para conhecer amplo material oferecido pelo GEPE às instituições espíritas.

Para entrar em contato com o GEPE utilize o e-mail: gepenet@ig.com.br

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GRUPO DE ESTUDOS AVANÇADOS ESPÍRITAS

O Boletim GEAE é distribuido por e-mail aos participantes do Grupo de Estudos Avançados Espíritas
Inscrição/Cancelamento - inscricao-pt@geae.inf.br
Informações Gerais - http://www.geae.inf.br/pt/faq
Conselho Editorial - editor@geae.inf.br

Coleção dos Boletins em Português - http://www.geae.inf.br/pt/boletins
Coleção do "The Spiritist Messenger" - http://www.geae.inf.br/en/boletins
Coleção do "Mensajero Espírita" - http://www.geae.inf.br/el/boletins