18) Há algo na física quântica ou na cosmologia que aponte para a existência de planos diferentes de existência?
[Ademir] Na física quântica não, pelo menos se a intepretação usual for adotada. Na cosmologia podem existir modelos de universo multidimensionais que impliquem na existência de planos materiais “perpendiculares” (ortogonais) ao de nossa existência. Mas um cosmólogo pode ser levado a postular tal plano para adequar melhor o que se observa (desde que se dê devida atenção ao universo observável) ou por divertimento teórico, mas não porque acredite sinceramente que tais planos existam fora do escopo de sua atividade profissional.
[Alexandre] Nós espíritas acreditamos na existência do mundo espiritual coexistindo com o mundo material e interagindo com este constantemente. Mas quando a gente busca na física moderna alguma ideia que “favoreça” esse entendimento, as pessoas estão se esquecendo de que as propostas dos cientistas para os ditos “universos paralelos” trazem com elas detalhes que são estranhos e acabam por dar munição aos contraditores do Espiritismo prejudicando a sua divulgação. Por exemplo, na proposta de universos paralelos de Stephen Hawking, cada universo representaria um possível universo real contendo tudo o que o nosso Universo contém mas com alguma pequena alteração. Existiria o universo onde o Alexandre é um motorista de ônibus (um dos meus sonhos de criança) e onde o Alexandre é adepto de outra religião. Existe um outro universo que o Alexandre é mais alto ou mais gordo e por aí vai. Existem universos em que o Alexandre é físico e espírita mas optou por brigar com seu vizinho por causa de um problema enquanto que em nosso Universo o Alexandre não brigou. O que significam esses multiplos “Alexandres”? Com certeza o meu espírito anima o “Alexandre” deste Universo, mas existiriam outros espíritos animando os outros “Alexandres”? Como eu posso pensar que o que determina o que vai acontecer comigo (no exemplo anterior: brigar ou não com o vizinho) é regido por leis probabilísticas? Onde está o meu livre-arbítrio se a função de onda pode se manifestar de forma diferente a cada instante? Sinto falta de ver explicações detalhadas e consistentes para essas e outras questões.
19) O que são as tão propaladas “dimensões”?
[Ademir] Em matemática e na física uma dimensão é definida como um grau de liberdade de uma determinada coisa. Pode-se livremente falar, por exemplo, num espaço de 6 dimensões como descrevendo o espaço de fases de uma partícula ou “ensemble” de partículas em física estatística. Nesse caso, não se quer dizer que existam 6 “planos de existência” mas que a descrição do estado completo é feito apropriadamente com um vetor de 6 dimensões. Parece que o uso da palavra “dimensão” (assim como no caso de energia) pode evocar um significado diferente do específico dependendo do indivíduo que ouve. E isso pode levar a se pensar que muitos planos de existência existam a partir de reinterpretações das teorias da física. Insisto que esse não é o caso. Para a física terrena só existe um universo que é o nosso observável com três dimensões geométricas bem determinadas. O tempo é as vezes tratado como uma outra dimensão (como no caso das teorias relativísticas) mas isso por uma razão de “formalismo”.
20) Tenho até receio de perguntar, mas vamos lá, o que é “espaço-tempo”?
[Ademir] Por uma razão de formalismo da relatividade, é conveniente tratar as três dimensões espaciais em conjunto com o tempo formando um vetor de quatro dimensões. Com isso as equações adquirem uma forma “bonitinha”, isto é, ficam numa forma fechada como se, de fato, só existisse um espaço onde se aplicam as equações, o “espaço-tempo”. O “espaço-tempo” é assim uma invenção do formalismo que simplifica as equações. Na hora de se “resolver” as equações – encontrar uma solução numérica – o tempo adquire um status especial, de parâmetro independente e ai o “continuum” se quebra.
[Alexandre] Como o Ademir disse, “espaço-tempo” é um esquema criado para simplificar e visualizar as propriedades das equações básicas da relatividade. Esse diagrama é bastante útil para compreender-se que tipos de eventos podem ocorrer e quais são os seus limites.
21) Existe alguma teoria física atual que postule a existência de múltiplas realidades dentro do espaço-tempo?
[Ademir] Essa questão é semelhante à questão 18 aplicada ao “continuum” do espaço-tempo.
22) As teorias de Hernani Guimarães Andrade sobre o “Psi Quântico” e o “Modelo Organizador Biológico” encontram paralelos na física?
[Ademir] Não.
[Alexandre] O trabalho do prof. Hernani G. Andrade é muito interessante e constitui numa ampla fonte de informações. Porém as propostas dele não constituem uma teoria no sentido mais rigoroso desta palavra. Suas propostas são muito qualitativas e são passíveis de questionamento. Existe um artigo do prof. Dr. Carlos R. Appoloni em (http://www.neudelondrina.org.br/ , clicar no link para art. científico) onde ele faz uma crítica muito construtiva sobre o livro Psi Quântico. Inclusive o Dr. Hernani G. Andrade ficou muito satisfeito com esse artigo sobre o modelo que ele propôs. Em comunicação particular, poucos meses antes de desencarnar, o Dr. Hernani me disse que dois pesquisadores no Paraná, se não me engano, estão trabalhando com culturas de bactérias aplicando-se campos magnéticos compensados/anulados de acordo com o modelo que o Dr. Hernani propôs. Até agora nenhum resultado foi encontrado ou pelo menos ainda não tive ciência deles.
Eu fiz uma análise de alguns pontos (detalhes) da proposta do Dr. Hernani que me pareceram inconsistentes. Eu estou preparando um trabalho a ser publicado em breve comentando o assunto.
Mas isso não invalida o trabalho nem é falta de respeito com o Dr. Hernani. Os livros dele constituem leitura básica de extrema importância para quem deseja trabalhar nessas pesquisas.
Como mencionei na questão 12, antes de se propor uma teoria para a estrutura da matéria Psi, devemos estudar e conhecer bem suas propriedades macroscópicas. Daí então, buscarmos teorias que expliquem essas propriedades em termos da estrutura. Senão, uma teoria destas ficará muito “no ar” sem ponto de apoio sólido onde se sustentar.
A maioria das perguntas tem girado em torno das relações entre física e espiritismo. Uma coisa importante que o físico desenvolve na sua vida acadêmica é um forte senso crítico de seu trabalho. Nenhum trabalho científico foi “pra frente” sem análises extremamente críticas. Que fique claro que isso não é desrespeito com ninguém. Mesmo essas palavras que estão sendo lidas agora devem ser meditadas e não, simplesmente, aceitas só porque os autores delas são cientistas.
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Fonte: Boletim GEAE 12(482), 28/09/2004