Zé Arigó

José Pedro de Freitas (18/10/1921 – 11/01/1971)

 

Zé Arigó era uma mistura de trabalhador rural com caminhoneiro. Seria difícil imaginá-lo como cirurgião. 

Arigó, um dos oito filhos de um sitiante, nasceu em 18 de outubro de 1921. Embora tenha tido uma infância normal, afirma ter sido perseguido por uma luz muito brilhante, que quase o cegava. Depois começou a ouvir uma voz que falava uma língua estrangeira. 

Com 25 anos, casou-se com Arlete Andre, sua prima de 4º grau, e deixou a casa paterna, indo trabalhar numa mina de ferro. 

Enquanto os filhos chegavam, um atrás do outro, Arigó começou a ter muitos pesadelos dores de cabeça muito fortes. Nos sonhos, sempre ouvia a mesma voz gutural, num idioma que não entendia. Certa noite, teve um sonho nítido. Estava numa sala de cirurgia, entre médicos e enfermeiras, usando trajes antigos, reunidos em torno de um paciente. Quem dirigia a operação era um homem robusto e calvo, cuja voz era muito familiar a Arigó. 

Noite após noite, repetiu-se o mesmo sonho, e, depois de algum tempo, a figura central do pesadelo se apresentou como o Dr. Adolpho Fritz, médico alemão desencarnado durante a 1ª Guerra Mundial, sem completar sua obra na Terra. E ele disse a Arigó que o escolhera como médium que deveria levar a cabo sua obra. Outros espíritos, que tinham sido médicos encarnados, também o ajudariam. Arigó deveria dedicar-se a tarefa de curar os enfermos e aflitos. 

Acordando assustado, Arigó pulou da cama e saiu correndo para a rua, aos gritos, nu em pelo. Os parentes e vizinhos o levaram para casa, com muito cuidado, vendo-o chorar copiosamente. Os médicos solicitaram exames clínicos e psicológicos, cujos resultados apontaram para uma situação de plena normalidade, mas os pesadelos e as dores de cabeça continuavam. O pároco da cidade tentou ajudá-lo com sessões de exorcismo (achava o padre que Arigó estivesse endemoninhado), mas não obteve nenhum resultado. 

Pressionado pela desagradável situação, Arigó resolveu atender, para experiência, aos pedidos feitos em sonho pelo médico alemão. Tendo encontrado um amigo aleijado, que era obrigado a usar muletas para andar, Arigó se viu de repente gritando: 

– Já é tempo de você largar estas muletas! 


E arrancando-as, ordenou ao homem que caminhasse, o que ele fez, e continuou a andar perfeitamente deste dia em diante. 

Aconteceu que, naquela ocasião, um senador brasileiro, Lúcio Bittencourt, estava fazendo campanha naquele distrito eleitoral, para tentar a reeleição, e também para a eleição de Getúlio Vargas, candidato a Presidente da República, pelo partido trabalhista do Brasil. Os médicos haviam diagnosticado que Lúcio Bittencourt sofria de câncer pulmonar, aconselharam-no a operar-se imediatamente, de preferência nos Estados Unidos. Tinham, na verdade, pouca esperança de êxito na operação. 

Resolveu adiar a cirurgia para depois da campanha eleitoral e quando foi a Congonhas do Campo, ficou conhecendo Arigó, que já fora dirigente sindical, e, impressionado com o seu magnetismo convidou-o para participar de um comício em Belo Horizonte, onde ficaram hospedados no mesmo hotel. 

Mais tarde, estando Lúcio Bittencourt estendido na cama, pensativo, preocupado com sua moléstia, viu a porta do quarto abrir-se vagarosamente. Um vulto escuro, que lhe parecia ser de Arigó, entrou no quarto a acendeu a luz. Era realmente Arigó, de pé, imóvel, com uma navalha aberta na mão. Estarrecido, o senador tentou sentar-sem mas uma estranha fraqueza dominou-o e ele caiu deitado de costas. Tudo se tornou confuso e afinal escureceu de todo. Na manhã seguinte, ao acordar, verificou que o paletó de seu pijama estava rasgado nas costas e coberto de sangue já coagulado. O câncer fora removido, e, como se confirmou mais tarde, o senador ficou completamente curado. 

Apesar da perseguição da Igreja e das autoridades, Arigó fundou uma clínica, onde tratava gratuitamente até duzentas pessoas por dia. 

Dois cientistas norte-americanos (Dr. Puahrich e Dr. Belk) vieram especialmente para estudar e testar os fenômenos com Arigó, acompanhados de dois intérpretes da Universidade do Rio de Janeiro. 

Jorge Rizzini, conhecido pesquisador espírita brasileiro se ofereceu para filmar qualquer coisa que os americanos julgassem ser uma prova conclusiva. Como, porém, encontrar algo de imediatamente verossímil, que convencesse mesmo os espectadores mais céticos? 

O Dr. Puahrich era portador de um tumor, sem caráter maligno, um lipoma, há mais de sete anos, dentro do cotovelo esquerdo, que, apesar de indolor, incomodava um tanto. Uma cirurgia normal levaria cerca de 20 minutos para removê-lo. Depois de angustiosa indecisão, o Dr. Puahrich resolveu pedir a Arigó para extirpar o lipoma. Foram feitos todos os preparativos para a filmagem do evento. 

Quando Puahrich chegou a clínica, na manhã seguinte, Arigó virou-se para os pacientes, que já enchiam a sala e perguntou: 

– Alguém aí tem um bom canivete brasileiro para usar neste americano? 
Embora horrorizado, Puahrich não podia mais recuar. De todos os lados apareceram canivetes. Arigó escolheu um e voltou-se para o paciente: 
– Arregace a manga, doutor. 
Nervosamente, o americano verificou a colocação da câmera. Rizzini posicionou-se para a filmagem. 
– Olhe para lá! – recomendou Arigó. 
Alguns segundos depois, Puahrich sentiu na palma da mão algo macio, juntamente com o canivete. Era o lipoma. Olhou para seu braço e notou a parte onde ficava o tumor totalmente desinchada. Havia apenas uma pequena incisão, de menos de cinco centimetros de comprimento e uma pequena quantidade de sangue. O americano experimentou apenas uma vaga sensação e declarou mais tarde: 
– Nada senti. Não podia acreditar no que aconteceu e, entretanto, acontecera pois, quanto a isso, não pode haver mais dúvida. 

A cirurgia não foi seguida de qualquer infecção e o ferimento cicatrizou completamemte. O filme de Rizzini ficou muito nítido e mostrou que a operação durara apenas cinco segundos. Os americanos não tiveram mais dúvidas e ficaram totalmente convencidos da veracidade dos fenômenos. 

Arigó continuou a exercer a medicina, sem jamais aceitar pagamento pelos seus serviços. 

Muitas pessoas famosas tiveram contato com Arigó, entre elas, a filha de Juscelino Kubitschek. Apesar de todos os benefícios que Arigó levou aos seus semelhantes, foi preso duas vezes acusado de charlatanismo, mas prosseguiu em sua missão. 

Arigó teve um sonho em que previa para breve a sua passagem para o plano espiritual, através de uma morte violenta. No dia 11 de junho de 1971, ele esteve na clínica, como de costume, mas avisou aos seus pacientes que teria que ir a uma cidade vizinha, a fim de apanhar um carro de segunda mão, que acabava de comprar. 

E, às 12h23 do dia 11 de janeiro de 1971, o médium Zé Arigó, ao voltar de um sítio perto de Congonhas do Campo – MG, foi acometido por um mal súbito que o fez perder repentinamente o controle de seu carro Opala que, passando a contramão, bateu de frente num veículo do DNER. Na violência do choque, perdeu a vida por traumatismo cerebral. O valoroso Arigó que, durante duas décadas curou ou amenizou enfermidades e males de milhares de pacientes, passava assim para o mundo dos espíritos.


Fonte: Médiuns, Espíritas e Videntes de Frank Renault – Ed. Ediouro.

Texto de José Basílio

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