O reverendo inglês William Stainton Moses, nascido a 05/11/1839, foi redator da revista Light, pastor da igreja Anglicana, erudito e venerado pensador. Tornou-se médium escrevente mecânico ou inconsciente. Enquanto sua mão obedecia ao impulso dos espíritos, lia obras gregas no próprio texto, tudo para manter a isenção.[1]
Começou a escrever mediunicamente em 30/03/1873. Nas sessões em que se encontrava ocorriam pancadas variadas e inteligentes que respondiam a questões formuladas verbalmente ou mesmo apenas mentalmente. Também ocorriam fenômenos de voz direta ou pneumatofonia. Note-se que inicialmente nem ele acreditava na existência de espíritos. [2]
O autor de “Ensinos Espiritualistas”, obra escrita pela psicografia durante sete anos, com conteúdo de instruções mais pessoais, segundo ele próprio, tinha como instrutores as entidades Imperator, Rector e Prudens. Havia uma tal divergência de opiniões entre os três que é verdadeiramente impossível atribuir essas personalidades distintas a desdobramentos inconscientes do médium. Essas informações podem ser encontradas no livro “No Invisível”, de Léon Denis [1].
O próprio Moses descreveu os fenômenos que ocorriam consigo. Zalmino Zimermann[3] é que extrai o relato do livro “Fenômenos de Bilocação – Desdobramento”, de Ernesto Bozzano. Ele desdobrava-se perispiritualmente e via o fenômeno. Um espírito colocava uma das mãos sobre sua cabeça enquanto a outra ficava superposta à sua, mas esta servia só de apoio porque a pena era tirada e continuava a escrever sozinha, embora fosse “muito difícil e com erros ortográficos”. Um raio de luz azul mantinha a pena em pé.
Aliás, é também Bozzano, em “Fenômenos de Transportes” [4] que inclui uma interessante explicação de Rector, espírito-guia de Moses, sobre as pancadas estrondosas presentes quase sempre nestes fenômenos e também de efeitos luminosos: “grande quantidade de ‘forças físicas exteriorizadas’ que precisam ser logo dissipadas para que espíritos inferiores não as usem”.
Na mesma obra, Bozzano relata que certa vez uma campainha tilintando foi trazida da sala de jantar, entrou, deu uma volta na sala, pairou sob o nariz de Moses e depois próximo às cabeças de todos, sempre tilintando. Mas não teria havido desmaterialização da porta porque a outra sala estava iluminada e a saleta às escuras, então entraria luz que seria percebida pelos presentes.
Sobre isso, Bozzano cita a desmaterialização inversa (buraco em paredes, p. ex.) e que já observara que pedras e metais, às vezes, estavam quentes e em outras normais. O espírito Cristo D’Angelo, 25 anos depois, confirmou que objetos pequenos são desmaterializados e os grandes passam por aberturas das paredes ou portas. Também o espírito Yolanda à D’ Esperance, e Rector a Moses, forneceram mais ou menos a mesma explicação e contrária à hipótese de uma quarta dimensão.
Com Moses eram materializadas gemas preciosas como safiras, esmeraldas, rubis e pérolas que assim permaneciam. Um rubi foi colocado em um anel dele e o joalheiro o definiu como de “beleza e pureza excepcionais”.
Além da psicografia, materializações e transportes ou telecinesia, Stainton Moses produzia autolevitação, luzes, sons, aromas. Arthur Conan Doyle,[5] narra que com ele uma mesa imensa de mogno teve muitos e variados movimentos na casa de um amigo. Também houve fenômenos em sequência num quarto fechado com objetos formando uma cruz. Em outro momento, Doyle descreve uma levitação do reverendo. Entre outros detalhes, “movimento suave, imperceptível e sem qualquer compressão do seu corpo”.
Stainton Moses, em livro, escreveu sobre uma médium em que foram retratados 110 espíritos, todos bem diferentes uns dos outros, sendo que alguns deles foram identificados. Com o Dr. Speer e esposa, em sessão em Shanklin, Moses recebeu uma comunicação do espírito de Abraham Florentine, falecido a 05 do mesmo mês e falou “um mês e 17 dias”. Verificou-se que tinha 83 anos, um mês e 17 dias quando morreu. Descobriram-se os registros e a viúva confirmou a data da morte e outros detalhes.[6]
Mas Stainton Moses atuou, também, digamos, do outro lado da fenomenologia espírita, pois investigou, acompanhou e procedeu experiências pessoais com outros vários médiuns, além de divulgar os resultados das mesmas.
Dirigiu, por exemplo, a revista inglesa Light, onde certa vez afirmou: “as ideias que aparecem nas mensagens, às vezes, são totalmente diversas das do médium e opostas à suas convicções e coisas ignoradas dele são reveladas, claras, precisas, definidas, fáceis de verificar e sempre exatas.
Stainton Moses foi obrigado pelo professor Newbold a se retratar sobre a permanência de antigos vícios nos desencarnados; ele o fez, mas depois os espíritos de Imperator, Rector, Doctor e Prudeus que o ajudaram a escrever “Ensinos Espiritualistas”, acabaram com as contradições.
Stainton Moses experimentou o médium Henry Slade o qual obtinha mensagens escritas em chinês, grego, holandês, sueco, russo, português, espanhol, árabe, alemão. Ele em Londres, o Cap. Volpi, na Itália, Istrati e Hasden, na Romênia e Durville, em Paris, obtiveram fotos de duplos (espírito desdobrado).
Arthur Conan Doyle afirmava que o mais importante não eram os fenômenos físicos, mas “os escritos” como os de Andrew Jackson Davis, Staiton Moses e Dale Owen. Ainda que Moses, depois de desencarnado, tenha se comunicado através da Sra. Piper e confessado que nem tudo o que ele havia recebido pela sua mediunidade era verdadeiro.
Outro episódio interessante envolvendo o reverendo é narrado por Doyle. Um certo médium Monck, um clérigo que também misturou fenômenos verdadeiros com fraudes, teve os fenômenos atestados por Alfred Russel Wallace, o codescobridor, com Darwin, da evolução das espécies.
Numa ocasião, com outro observador, materializou, cada vez melhor, um espírito, cinco vezes, em plena luz de gás. Wallace, com duas lousas limpas, amarradas com suas mãos e de outra pessoa sobre elas, pediu a palavra ‘Deus” no sentido longitudinal e foi atendido.
Monck chegou a ser preso e condenado a três meses. Quando saiu, fez sessões com Stainton Moses. Nas vezes anteriores, um dos experimentadores era Henslegh Wedgwood, cunhado de Charles Darwin, que autenticou, mas William Barret, outro estudioso dos fenômenos psíquicos, testemunhou o outro lado, as fraudes.
William Stainton Moses desencarnou em 05/09/1892.
[1] Revista Internacional de Espiritismo. Matão-SP: Clarim, junho/2010.
[2] O Imortal. Cambé-PR, maio/2006.
[3] ZIMERMANN, Zalmino. Perispírito. 2ª ed. Campinas-SP: Centro Espírita Allan Kardec, 2002.
[4] BOZZANO, Ernesto. Fenômenos de Transportes. São Paulo-SP: FEESP, 1972.
[5] DOYLE, Arthur Conan. História do Espiritismo. 2ª ed. São Paulo-SP: Pensamento-Cutrix, 1960.
[6] Revista Internacional de Espiritismo. Matão-SP: Clarim, setembro/2001.
Fonte: Jornal Comunica Ação Espírita | 139ª edição | 05 de 2020.