Sobre as Sociedades Espíritas

Fonte: Kardec, A. Livro dos Médiuns, 1861

XXI

Meus amigos, quereis formar um grupo espírita e eu vos aprovo, pois os Espíritos não podem ver com satisfação os médiuns que se conservam isolados. Deus não lhes concedeu essa faculdade sublime para eles somente, mas para o benefício geral. Na relação com os outros eles têm mil ocasiões de se esclarecerem quanto ao mérito das comunicações que recebem, enquanto sozinhos estão mais sujeitos ao domínio dos Espíritos mentirosos, encantados de verem o médium sem controle. Eis o que vos deixo, e se não estiverdes dominados pelo orgulho, compreendereis e aproveitareis. Eis agora para os outros.

Sabeis realmente o que é uma reunião espírita? Não, porque no vosso zelo pensais que o melhor a fazer é reunir o maior número de pessoas, a fim de as convencer. Desenganai-vos disso. Quanto menos pessoas, mais obtereis. É sobretudo pela ascendência moral que encaminhareis os incrédulos, muito mais que pelos fenômenos. Se apenas os atrairdes por meio de fenômenos, eles irão vê-los por curiosidade e encontrareis curiosos que não acreditarão e rirão dos vossos esforços; se entre vós só existirem pessoas dignas, talvez não creiam imediatamente, mas vos respeitarão e o respeito inspira sempre confiança. Estais convencidos de que o Espiritismo deve produzir uma reforma moral. Que o vosso grupo seja o primeiro a dar exemplo das virtudes cristãs, porque neste tempo de egoísmo é nas sociedades espíritas que a verdadeira caridade deve encontrar refúgio.(3) Assim deve ser, meus amigos, um grupo de verdadeiros espíritas. De outra vez vos darei outros conselhos.

Fénelon

XXII


Perguntastes se a multiplicidade dos grupos numa mesma localidade não poderia provocar rivalidades prejudiciais para a doutrina. A isso responderei que se estiverem imbuídos dos verdadeiros princípios dessa doutrina, verão irmãos em todos os espíritas e não rivais.

Os que vissem outras reuniões com ciúmes provariam estar com segunda intenção, por interesse ou amor-próprio, não sendo guiados pelo amor da verdade. Garanto-vos que se pessoas assim estivessem entre vós provocariam logo a perturbação e a desunião.

O verdadeiro Espiritismo tem por divisa benevolência e caridade. Dele se exclui toda rivalidade que não seja a do bem que se pode fazer. Todos os grupos que inscreverem essa divisa em sua bandeira poderão dar-se as mãos como bons vizinhos, que não são menos amigos por não morarem na mesma casa.

Os que pretendessem ter por guia os melhores Espíritos deveriam prová-lo mostrando melhores sentimentos. Que haja luta, pois, entre eles, mas uma luta de grandeza de alma, de abnegação, de bondade e humildade.

Aquele que atirasse uma pedra no outro provaria estar influenciado por Espíritos maus. A natureza dos sentimentos que dois homens manifestem um pelo outro é a pedra de toque pela qual podemos conhecer a natureza dos Espíritos que os assistem.

Fénelon

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *