por Nubor Orlando Facure.
Em 1962, fui fazer o famoso curso de gastro no HC de São Paulo com a equipe do Professor Edmundo Vasconcelos, uma das estrelas mais brilhantes da nossa medicina numa época que tínhamos Zerbini na cirurgia cardíaca.
Luiz Decourt da cardiologia, Tancresi que nos ensinava EKG, Pontes da vascular, Bernardo da endócrino e tantos outros no Pronto Socorro.
Para a aula inaugural do Prof. Vasconcelos, seus assistentes perfilados nas cadeiras da frente, ele entra majestosamente solene.
Desenha com as duas mãos com giz de cor um estômago, e logo abaixo escreve o título da aula: Medicina Somatopsíquica
Estava na moda o estudo das dores fictícias, das gastrites emocionais, da constipação intestinal decorrentes das raivas internas. Era tudo “psicossomatico”.
Professor Vasconcelos nos disse que o inverso também é verdadeiro.
O corpo produz sofrimento psíquico as vezes grave e intenso.
Desde então, aprendi a importância de uma leitura no que o meu corpo tem a dizer sobre as minhas aflições.
Onde nascem meus desejos.
Minha impulsividade.
Aquela inquietude da adolescência.
A perda da sintonia com as coisas do mundo.
O sentimento de impotência.
As dores de sonhos agitados.
Ainda bem que não preciso me condenar por inteiro, pois o meu corpo tem uma parcela de culpa nos meus desacertos.