por Nubor Orlando Facure.
Os automatismos que todo mundo reconhece são predominantemente de ordem motora.
Nós mastigamos e corremos automaticamente.
O componente psíquico notamos na produção da fala.
Ela sai automaticamente com o enredo psíquico que construímos conscientemente. Mas, nem sempre seguimos a etiqueta.
É verdade aquela afirmação famosa:
“falei sem pensar”.
Por outro lado, alguns gestos automáticos são mais exigentes.
Andar de bicicleta, dedilhar o violão, dirigir o automóvel, digitar no computador, escrever um texto que nos é ditado.
Não são tão simples quanto possa parecer, tanto é que nem todo mundo os aprende, mas depois de repetido várias vezes e automatizado o desempenho fica fluente, transcorre sem muito esforço.
Todos eles, a partir da repetição do treinamento e seu aprendizado confirmado, serão fixados em definitivo no cérebro, nas regiões dos núcleos da base (Putamem, Globo Pálidum e Núcleo Caudado).
O sequenciamento dos gestos aprendidos passa a ocorrer automaticamente sem necessidade da vigilância da consciência; as redes de conexões saem dos núcleos da base, tronco cerebral e medula espinhal até atingirem os músculos.
Na leitura e na escrita o automatismo é de natureza mista, motora e psíquica, ou seja, são chamados automatismos psicomotores.
Incluem vastas áreas da fisiologia cerebral que estudaremos aqui.
Inicialmente podemos resgatar para nosso estudo dois fenômenos psíquicos bem conhecidos: O inconsciente e o subconsciente.
Vou tomar a liberdade de os representar por dois neurologistas do final do Século XIX: Sigismund Freud e Pierre Janet.
O Inconsciente
Simplificadamente Freud sugere que o inconsciente reúne desejos e memórias que permanecem como conteúdos reprimidos.
Ele revela sua dinâmica indiretamente através de atos falhos, quando se vai dizer uma coisa e diz outra que disfarçadamente expressa sua opção verdadeira; lapsos de memória parecendo esquecer exatamente aquilo que discorda; lapsos de linguagem trocando o nome de objetos ou pessoas sugerindo preferências; sintomas neuróticos de vários feitios e, principalmente, por sonhos recorrentes que tem muito ou quase tudo a dizer sobre nós.
Os sonhos e as associações livres através da fala livre e espontânea foram onde Freud mais nos ensinou sobre o acesso ao inconsciente.
O inconsciente forma o conteúdo estrutural da mente juntamente com o Pré-consciente que pode ter acesso livre à consciência e me atrevo a dizer que na superfície da mente está a consciência.
O Subconsciente
Pierre Janet antecede a Freud resgatando o conceito de subconsciente formulado em 1834 na Inglaterra.
O subconsciente contém memórias e experiências que acumulamos com o tempo. Ele tem o propósito de dirigir nossos estados emocionais.
Numa determinada viagem ou no calor de uma festa em família nosso subconsciente traz à tona momentos bons ou maus que se parecem com situações já sentidas e vividas como aquelas. O prazer da viagem ou da festa terá as dimensões dessas lembranças.
Freud inicialmente admitia o subconsciente para depois o substituir por Pré-consciente.
Imagens mentais
Em todos os modelos mentais a informação se constrói com imagens.
Na consciência elas se formam a partir das percepções e das crenças.
No inconsciente pela escolha de um prazer que depois pode se revelar numa grande frustração.
No subconsciente elas correspondem ao acúmulo de conhecimento e a construção das memórias.
Freud e Pierre Janet, assentaram-se nos bancos do anfiteatro da Salpêtrière onde assistiam as aulas magistrais do Professor Jean Martin Charcot fundador da Neurologia francesa.
Nessas ocasiões, a hipnose e a histeria eram temas de estudo constante.
Estavam reunidos sob orientação do professor francês um grupo seleto de neurologistas que vieram cada um deles, por sua vez, se notabilizarem por descobertas e descrições de quadros clínicos importantíssimos da neurologia.
Babinsky, Pierre Martie, Dejerrine, Gille de Lá Tourrete, Sigmund Freud, Pierre Janet, Alfredo Binet.
Charcot promovia demonstrações ao vivo com as pacientes histéricas da enfermaria feminina de neuropsiquiatria da Salpêtrière.
Balance Wittmann a mais conhecida é a que aparece retratada na famosa fotografia do anfiteatro de Charcot com seus assistentes.
Augustine Gleizes, Marie Jane e Eneviere Legrand aguardavam tranquilamente na enfermaria e quando recebiam o chamado do professor Charcot elas prontamente exibiam as posturas histéricas peculiares, que foram retratadas e desenhadas nos seus trejeitos típicos.
Eu então pergunto: – haveria ali, entre elas, médiuns em transe?
A mediunidade
Médiuns famosos como Eusápia Paladino nessa mesma época se prestavam a demonstrações de fenômenos de efeitos físicos; as mesas se erguiam dando respostas às questões formuladas ou efeitos intelectuais pela escrita e pela fala.
Pierre Janet conheceu de perto o relato dos fenômenos mediúnicos, mas não consta que os tenha aceitado como decorrentes da atuação de uma inteligência desencarnada.
Pierre Janet, defendeu na Sorbone uma tese magistral sobre o que denominou de “automatismos psíquicos” (1889).
Em alguns capítulos ele fez comentários sobre o espiritismo e os fenômenos mediúnicos em que tinha muito interesse em estudar.
Nessa tese ele atribui as manifestações tidas como mediúnicas ao material contido no subconsciente do médium.
Seriam, geralmente, ideias fixas que aí se acumulam por traumas psíquicos vivenciados anteriormente.
Existiria no médium uma segunda consciência, mas não uma segunda personalidade.
Seguramente, Pierre Janet, apenas ouviu relatos sobre os médiuns da época, já que os exemplos de sua tese são de pacientes tipicamente histéricos.
Ele considerava os médiuns como portadores de uma possível nevropatia e uma dissociação do psiquismo.
Seu trabalho deve ser relido hoje para nos esclarecer sobre as diferenças entre três fenômenos do psiquismo humano: A histeria (transtornos somáticos funcionais, hoje chamado de transtornos dissociativos), a mediunidade, onde registra-se a presença de um Espírito atuando com o concurso de um médium e o animismo, onde o fenômeno ocorre por atuação exclusiva da Alma do próprio médium.
Fui colega na Faculdade de Medicina de Uberaba do Dr Adroaldo Modesto Gil, que mais tarde, tornou-se professor na Psiquiatria.
Certa ocasião, numa conversa particular ele me contou que Bezerra de Menezes (Espírito) havia conduzido Pierre Janet (Espírito) que faleceu em 1947 até Uberaba para ver de perto a mediunidade de Dona Maria Modesto Cravo.