O esposo de dona Adelaide

POr Nubor Orlando Facure.

 

Dona Adelaide trabalha na biblioteca há anos, sempre indicando bons livros para os alunos.

Por isso me surpreendi quando ela e a filha aparecem no consultório trazendo o esposo para avaliação.

Ele vem desenvolvendo a Demência de Alzheimer agravando a cada dia seu comportamento.

Não se alimenta, troca o dia pela noite, quer ir embora de casa, não reconhece nem ela nem a filha, é sempre uma luta para tomar banho e outra maior para se vestir.

Ela me pergunta por que em certos dias ele parece resgatar as suas memórias.

É como se não estivesse doente.

Fala normalmente.

Faz perguntas com nexo nos surpreendendo.

Chega a revelar suas preocupações com as roupas que usa.

Eu lhe disse que nessa doença o que a gente perde são os neurônios e que muitas de nossas memórias permanecem preservadas e, vez por outra, eles conseguem retomar seu controle.

Os anos passam.

Fui atendendo as necessidades mais urgentes de dona Adelaide.

Certa ocasião cruzo com ela no banco.

Cauteloso pedi notícias.

Ela disse que o esposo falecera dois anos antes e que se manifestou na Casa de Jesus.

Disse que durante a doença o que mais o fazia sofrer é que ele podia sentir todo trabalho que dava as duas, esposa e filha e que não podia consolá-las por falta de condições para falar.

Anos antes eu conversei sobre um caso semelhante com dona Alzira.

O esposo era muito culto, mas o Alzheimer não lhe poupou nem a dignidade mais básica o fazendo se despir e agredir as visitas.

Mas, sendo ela médium, ela percebia o sofrimento do Espírito com quem as vezes conversava.

E para sua surpresa ele acompanhou seu próprio enterro perfeitamente lúcido.

Allan Kardec ensina que no processo de evocação pode-se perceber que o Espírito não está louco.

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