O desenvolvimento do cérebro e da mente

por Nubor Orlando Facure

 

Por que somos tão complexos?

Simplesmente porque somos flexíveis.
E isso amplia, e muito, nossa capacidade de adaptação.
Conseguimos sobreviver nos mais diversos ambientes da Terra.
Nos habituamos às mais variadas dietas.
Nossa inteligência nos permitiu criar os mais valiosos recursos para a produção e sustentação da vida.

Somos capazes de fazer escolhas, recusar ou aceitar propostas, expressar comportamentos variados, crer ou descrer de determinados fenômenos, sentir medo, raiva, ciúmes, agredir ou abraçar, esconjurar ou agradecer.

Muitas de nossas atividades são puramente instintivas — isso é vital para nossa sobrevivência, pois aprendemos a torná-las rápidas e eficazes:
Respirar, chorar, movimentar-se, alimentar-se, selecionar alimentos, fugir do perigo, cuidar dos filhos, construir amizades são partes importantes desses instintos.

Mas nosso cérebro evoluiu, acumulando a capacidade de julgar.
Isso nos permite fazer escolhas conscientes e, principalmente, analisar previamente o que é certo e o que é errado.

Foram nossas experiências dentro de um meio ambiente mais ou menos hostil e desconhecido que criaram múltiplos sistemas de funcionamento, permitindo aos seres vivos enfrentarem constantes desafios.

E foi do cérebro a maior e mais decisiva participação nesse processo.
É ele que atende aos anseios da alma.


Nosso desempenho funcional

Nosso funcionamento como um todo é organizado em sistemas e aptidões, que favorecem o desenvolvimento das nossas múltiplas atividades.

Os sistemas

São de várias categorias:

  • Biológicos: sobrevivência, comportamento sexual, altruísmo

  • Psicológicos: humor, racionalidade, vida em grupo, superstições

  • Culturais: crenças, tradições, religiosidade

As aptidões

São nossos talentos ou competências.
Usando a metáfora do computador, são nossos processadores e aplicativos.

Exemplos:
Aptidão social, musical, manual, intelectual, esportiva, utilitária.

Os sistemas são mais ou menos permanentes, com forte origem genética.
As aptidões são mais flexíveis: podem ser instaladas ou removidas.
Seu uso constante reforça a competência; o desuso deteriora a capacidade e a performance.

Essa maneira de ver o ser humano é didática, e sua aplicação experimental a torna de fácil uso prático.


Vamos estudar clinicamente o que mais nos interessa: os sistemas

1 – Sistema de funcionamento biológico

O comportamento dos animais tem sido estudado exaustivamente, e os resultados confirmam que cada espécie age dentro de um modelo padrão de funcionamento.

Alguns exemplos do mundo animal:

  • A leoa, ou um grupo de leoas, se organizam para a caça, tornando-se extremamente eficientes.

  • O gatinho doméstico, com suas manhas para “domesticar” seu dono.

  • O cachorro, que obedece fielmente ao cuidador, mas entra em agitação diante de uma fêmea no cio.

  • O chimpanzé alfa, que impõe suas preferências sexuais no grupo.

  • O suricata, que finge de morto para afastar o gavião.

Chamamos isso de comportamentos instintivos, padronizados, mas aqui os usamos como modelos de sistemas de funcionamento sedimentados geneticamente — universais, visíveis em cada espécie, fixados no tempo e no espaço.
Onde houver um gatinho, ele repetirá seus caprichos, como fazia nos tempos dos Faraós.

Entre os seres humanos, há também exemplos de sistemas de funcionamento fixados:

  • A “mamma” italiana, que exige que todos comam o máximo do macarrão no almoço.

  • O pai japonês, o homem árabe, o norueguês frio — todos com distanciamento afetivo em relação a filhos e esposas.

  • O adolescente americano rebelde, que não aceita regras ou imposições.

Todos eles têm uma modelagem específica para:
Buscar alimento, escolher parceiro ou parceira, e sobreviver.


2 – Sistema de funcionamento psicológico

Quase toda família pode identificar parentes com comportamentos marcantes:

  • Os impulsivos

  • Os que gastam sem medida

  • Os mal-humorados

  • Os tímidos

  • Os sedutores

  • Os briguentos

  • Os espertalhões

  • Os chamados “mão de vaca”

Somos todos supersticiosos.
Atribuímos eventos favoráveis a rituais ou objetos simbólicos:

A colheita foi boa porque fiz a novena.
O parto deu certo porque acendi uma vela.
O time venceu porque usei a mesma camisa do jogo anterior.

Essas coincidências são interpretadas como verdades causais.


3 – Sistema de funcionamento cultural

  • O menino da roça, que mal fala com visitas, se esconde e só fala se for chamado.

  • O velhinho que guarda tudo: parafusos velhos, pregos tortos, dobradiças enferrujadas — tudo pode ser útil no futuro.

  • A crença de que tudo é determinado por Deus:
    Se morreu, foi porque Deus quis.
    Se abortou, foi vontade divina.
    Se não chove, é preciso pedir a Deus para mandar chuva.


Lição de casa

Os sistemas de funcionamento, as aptidões e as crenças aliviam nossa angústia.
Eles nos fazem acreditar que estamos no comando da nossa vida —
pelo menos, é assim que nos parece… enquanto dure a vida.

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