O cérebro e seus “esquemas”

por Nubor Orlando Facure.

1 – O esquema das recordações

Recordações – como fazemos o resgate?
Domingo, nossa família sai para almoçarmos juntos — quase sempre no mesmo restaurante do shopping. Somos conservadores e pouco exigentes no paladar.

O que nos fica dessas lembranças? Como recordar desses encontros?

Tanto para um episódio de nossas vidas quanto para uma história que nos contam, nossa mente cria um “script” e uma “moldura”.

  • O script é o roteiro: contém informações sobre a sequência habitual dos eventos. Lida com o conhecimento prévio que temos sobre esses eventos e suas consequências — é a data do encontro, o nome do restaurante que já nos é familiar, e as pessoas presentes.
  • A moldura é preenchida por aspectos do mundo — o prédio do shopping, o salão do restaurante, seu piso, a mesa onde estão os pratos.

O que fica desses encontros?
A mente é estruturada para guardar tudo que sou, tudo que vi, tudo que fiz e tudo que vivi intensamente.


2 – Esquemas da Mente

O mundo precisa ser visto dentro de um sistema organizado. Seus elementos precisam ser reconhecidos dentro de categorias específicas, que identificamos por suas qualidades:

Vegetais, animais, seres humanos, amigos e parentes, comida saborosa, ambiente perigoso, lugar longe, pedra valiosa, roupa bonita etc.

Fora disso, é confusão e loucura.
Não posso “misturar estação” — quando falo “amigo”, o louco entende “inimigo”; quando ofereço água, ele foge ou agride.


3 – Os esquemas da memória

A memória é uma coleção de esquemas.
Na verdade, é um arquivo de “telas mentais” com script e molduras.
Quando digitamos a tecla do “expandir”, a tela memorizada adquire a dinâmica das recordações.


4 – Esquemas da linguagem

diferenças individuais nos processos usados na compreensão da linguagem:

A. Memória de trabalho – sistema usado no armazenamento e no processamento de informações para uso imediato.
B. Span (alcance) de leitura – capacidade de reter a última palavra de uma sentença.
C. Span de operações matemáticas.
D. Capacidade sintática e semântica.
E. Atenção mais eficiente.
F. Capacidade de suprimir informações indesejáveis ou irrelevantes.


5 – Os esquemas das lembranças

Invente uma história sobre uma casa:
Onde ela fica? Quem mora lá? Quantos funcionários trabalham? Quais são seus cômodos? Qual seria seu possível valor de venda? Quando foi construída?

Conte essa mesma história para um assaltante e depois para um possível comprador.
Cada um construirá, mentalmente, uma simulação perceptual da situação descrita em cada sentença.
As lembranças de cada um corresponderão a essa simulação.


6 – Os esquemas da comunicação

Lidamos com algumas propriedades da linguagem para nos comunicar — isso é tão rotineiro que nem nos damos conta do processo que utilizamos. Usamos:

  • Metáforas
  • Linguagem figurada
  • Ambiguidades
  • Inferências

Exemplos:

Metáforas:

  • “Meu emprego é uma prisão”
  • “David abotoou o paletó”
  • “A proposta dele não colou”

Linguagem figurada:

  • “Essa sogra é fogo”
  • “Lavando a roupa suja”
  • “Essa prova é café pequeno”

Ambiguidades:

  • “Os dois advogados são casados” (um com o outro?)
  • “O dentista extraiu um dente” (dele ou do cliente?)

Inferências:

  • “Ele dirigiu até São Paulo ontem. O carro continua esquentando muito.”
    → A inferência é de que ele foi a São Paulo de carro.
  • “Enquanto conversávamos, ele mexia seu café.”
    → A inferência é de que ele conversava comigo e mexia o café com uma colher.
  • “O marido zangado atirou o vaso contra a parede.”
    → Inferimos que ele brigava com a mulher e que o vaso quebrou.

As inferências são informações contidas na memória de trabalho — conhecimento prévio mobilizado por ela.

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