Gabriel Dellane

Gabriel Delanne (1857 – 1926): pesquisador de espiritismo

Introdução

 O presente trabalho se originou de um interesse muito próximo à teimosia, de melhor conhecer a obra e o pensamento dos contemporâneos e sucessores de Kardec. Após uma procura com poucos frutos nos livros de Gabriel Delanne publicados em português (também mantidos à venda por causa de uma dedicação, também quase próxima da teimosia por parte da FEB), constatamos que infelizmente vêm desacompanhados de um prefácio ou uma introdução aos moldes da que encontramos em “A Nova Revelação” de Arthur Conan Doyle e que beneficiam o leitor, que mais que apenas ler, deseja conhecer melhor quem escreveu e o contexto onde produziu a obra. Este tipo de apresentação é, na nossa quase desconhecida opinião, fundamental às obras clássicas do Espiritismo. 

Após muito procurar em livrarias espíritas e não espíritas, em lojas especializadas de livros usados, fomos encontrar na célebre livraria da FEB, situada na avenida Passos o livro de Regnault e Bodier que nos serviu de espinha dorsal deste trabalho. O livreiro que nos atendeu, preocupado talvez com o volume de vendas dos livros, comentou com seu cliente exigente, que desejava uma edição em melhor estado: “Este livro quase não vende…”

Não somos capazes de avaliar se sua informação é precisa, já que se tratava de uma segunda edição, impressa, pelas datas, em menos de dois anos, mas talvez ela venha a espelhar o papel ocupado por Gabriel Delanne no esforço de divulgação da grande maioria dos expositores dos dias de hoje.

Conhecer o trabalho e a luta dos estudiosos das primeiras horas é, mais do que ontem, necessidade urgente dos espíritas que militam no movimento brasileiro, é questão de identidade, tão importante nos encargos do presente.
Com este espírito é que trazemos o presente trabalho, um trabalho que não tem a pretensão de profundidade, principalmente se colocado de lado com o livro de Regnault e Bodier, nossa fonte principal, mas, sim, de instigar a curiosidade do leitor, visando à divulgação.

 Os pais e a infância

 Muitas das biografias que temos lido apresentam, quando muito, os nomes e profissão dos pais da pessoa em questão, revelando alguma importância que a família pode ter tido para, em seguida, não mais voltar a tratar deles em seu trabalho.
No caso de Gabriel Delanne, este procedimento seria imperdoável, já que seus pais tem uma relevância central na sua história pessoal e espírita.

Alexandre Delanne, pai de Gabriel, era um representante comercial que possuía uma loja de artigos de higiene na França. Seu interesse pelo Espiritismo foi despertado em uma de suas viagens à cidade de Caen, no “Cafe de Grand Balcon”, quando ouviu uma conversa entre dois homens e zombou do que assumia posições espíritas. Este, ao invés de se zangar, deu-lhe uma explicação geral do trabalho de Kardec e recomendou-lhe a leitura de livros publicados pelo codificador. Intrigado, Delanne pai comentou o acontecido com sua esposa, Marie Alexandrine Didelot, que o incentivou a adquirir os livros.

Em pouco tempo estavam lidos “O Livro dos Espíritos” e “O Livro dos Médiuns”, marcado um encontro com o Sr. Allan Kardec e a Sra. Delanne psicografara sua primeira mensagem, no grupo do codificador, onde se liam três palavras: “Crede, Orai e Aguardai”.

Fundou-se um grupo na casa dos Delanne, que o dirigiam com austeridade e jamais aceitaram nenhum tipo de remuneração, apesar de sua condição humilde. Muitos foram os fenômenos e encontros que se deram entre os habitantes de dois planos da realidade.

Um episódio que Delanne pai trouxe ao público posteriormente foi a comunicação do Cardeal Lambrusquini, obtida através da Sra. Potet, redigida em idioma Piemontês, desconhecido dos membros do grupo e reconhecido por dois visitantes. No dia seguinte a Sra. Delanne serviria de intermediária entre os visitantes e seu ilustre conhecido. O cardeal respondeu a perguntas formuladas mentalmente pelos compatriotas, registradas em um pedaço de papel para que se pudesse apurar o conteúdo das comunicações.

Neste ambiente viveu François-Marie Gabriel Delanne (1857-1926) a sua segunda infância e adolescência. Ele conviveu intimamente com faculdades mediúnicas diversificadas de sua própria mãe e dos médiuns que frequentavam sua casa. Uma mostra da sua ligação com o Espiritismo desde a infância foi um episódio onde substituiu o pai em sua reunião, com apenas oito anos, explicando o que fosse necessário às pessoas que participaram dela. (WANTUIL, 1980. p. 315)

Sua ligação com os membros de sua família foi intensa. Dedicou posteriormente seu “A Evolução Anímica” à sua tia Anette Delanne “como prova de reconhecimento da ternura que povoou a minha infância”. Sua ligação com Allan Kardec também foi significativa. Wantuil (1980, p. 316) afirma que em uma oportunidade Kardec dispensou a ele mimos que um avô dispensa a seu neto. Gabriel Delanne dedicou-lhe o livro “O Fenômeno Espírita” com as seguintes palavras: “À alma imortal de meu venerando mestre Allan Kardec eu dedico este livro, obra de um de seus mais obscuros mas de seus mais sinceros admiradores.”

Delanne não se casou durante sua vida, embora houvesse mantido os laços com sua família. Em 1905 ele adotou a menina Suzanne Rabotin, com sete meses, que lhe fez companhia até a morte. 

 A história profissional 

Delanne iniciou seus estudos no Colégio de Cluny, passando a seguir para o Colégio de Gray e sendo admitido, em 1876 na Escola Central de Artes e Manufaturas, que abandonou no ano seguinte. Regnault afirma que o abandono dos estudos se deveu à situação financeira da família de Gabriel.

Foi admitido como engenheiro na Companhia de Ar Comprimido e Eletricidade Popp, onde trabalhou até 1892. Possivelmente se deve a este emprego o fato de alguns autores se referirem a Gabriel Delanne como engenheiro. Posteriormente Delanne trabalharia alguns anos como representante comercial, até 1896. Após esta data ele dedicou-se integralmente ao Espiritismo.

Delanne possuía problemas de saúde que foram agravados com o tempo. Na infância ele ficaria cego de um olho em decorrência de um abcesso. Nos anos 90 sua ataxia já se fazia notada no andar e o agravamento da doença de base o faria, a partir de 1906, andar com duas muletas.

 Homem Público do Movimento Espírita

Nas comemorações de 1880 da desencarnação de Kardec, Delanne fez um discurso no túmulo em Père Lachaise, onde expôs, entre outras ideias, a posição de que Allan Kardec não viera trazer nenhum culto, que ele adotara a moral cristã e que havia ainda um campo inexplorado para estudos, que são as relações entre o mundo dos espíritos e o nosso.

Dois anos depois seria criada, com sua participação a União Espírita Francesa. Em um episódio curioso, Delanne recebe da Sra. Elisabeth D”Esperance, médium cujas faculdades lhe dão notoriedade até os dias de hoje, cerca de 5000 francos para editar um jornal espírita. Surge o periódico bimestral “Le Spiritisme” onde Delanne assume o papel de redator geral, o primeiro volume foi publicado no mês de Março. Lantier afirma que Delanne era um redator criterioso e rejeitava artigos dos amigos que não apresentassem os rigores exigidos pela ciência.

Regnault citou um fragmento de um discurso que expressa bem as diretrizes que Delanne tomou para a sua prática: demonstrar que o Espiritismo não é incompatível com a Ciência e divulgá-lo amplamente, para que não ficasse reduzido a uma elite de cientistas e intelectuais. Mesmo o cáustico Dumas (1980) reconhece os seus esforços em desenvolver as bases científicas do Espiritismo.

Em 1883 Delanne se vê envolvido com um debate público com Guérin, onde o tema central é a encarnação de Jesus Cristo. A posição de Delanne é a de que Jesus não possuía nenhuma natureza especial, embora tivesse notáveis inteligência e evolução.

Dois anos depois ele publicaria o primeiro de uma série de livros que comentaremos posteriormente.

Em 1885 foi eleito vice-presidente da União Espírita Francesa, e nos cinco anos que se seguiram proferiu inúmeras conferências.

A década de 90 foi marcada pelo regresso de muitos dos seus entes queridos para a pátria espiritual. Em 92 desencarnou-lhe o irmão, Ernesto; dois anos depois foi a mãe e em 1901 seria a vez de Alexandre Delanne, o pai e companheiro de trabalhos no meio espírita.

Uma nova revista seria fundada com o suporte financeiro de Jean Meyer, a Revista Científica e Moral do Espiritismo (1896). 

Em 1898 foram feitas comemorações do cinquentenário do Espiritismo, que, portanto, era considerado a partir dos fenômenos de Hydesville, com duas conferências públicas e gratuitas: Léon Denis e Gabriel Delanne. 

No ano seguinte temos a transformação de mais um órgão central do Espiritismo Francês: a fundação da Sociedade Francesa de Estudo dos Fenômenos Psíquicos. Nota-se a falta do termo Espírita nesta nova sociedade. A despeito deste comentário, Regnault e Bodier afirmam que seu trabalho nesta sociedade foi amplamente marcado pela obra de Kardec e formou inúmeros espíritas e experimentadores. Delanne aceitou o cargo de vice-presidente.

Ele passou a fazer conferências públicas gratuitas nas noites de terça-feira na sede da Sociedade sobre os fenômenos do Espiritismo. A esta época ele já aceitava convites para fazer palestras gratuitas em Paris e no interior da França.

A participação de Gabriel Delanne nos congressos internacionais foi ativa. Participou da comissão de organização do Congresso Espírita e Espiritualista de 1900 onde fez a conferência de abertura. Em 1905 compareceu ao Congresso de Liège onde fez uma conferência sobre a exteriorização do pensamento.

Delanne foi a Alger auxiliar o prof. Richet (prêmio nobel de medicina) em suas pesquisas com a médium Marthe Béraud na casa do general Noël. O episódio passou à história com o nome de “o fantasma de Bien Boa”. Nele Richet testemunharia fenômenos de materialização de espíritos de corpo inteiro, após preparar o ambiente com os cuidados que a Metapsíquica sugeria, evitando-se fraudes. O leitor interessado poderá ler o episódio, com um certo ar literário, no livro de Lantier (1971).

Delanne participou de pesquisas com o médium Miller, que posteriormente Denis desmascarou, no ano de 1906.

A Revista Científica e Moral do Espiritismo foi interrompida em 1914, em função da guerra, voltando a ser editada em 1917.

Em 1919, com a participação de Jean Meyer, foi fundada a Federação Nacional dos Espíritas da França, que incorporou a Sociedade. Delanne tornou-se presidente deste  órgão. Meyer fundou também, neste mesmo ano, o Instituto Metapsíquico Internacional, que teve como presidente Gustave Geley, indicado por Delanne.

Sua desencarnação se deu em 1926, um ano depois da desencarnação da prima que lhe auxiliava com a doença que praticamente lhe impedia de andar. Bodier e Regnault narram o episódio acontecido no dia do seu falecimento, quando Delanne aceitou receber um anarquista que discutiu Espiritismo durante duas horas e meia, saindo claramente abalado com as colocações de Delanne por volta das 18:00 h. Próximo das 20:00 h Delanne teve um ataque, e avisou aos presentes que iria desencarnar. Andre Bourgeois o socorre e diz-lhe que se recuperaria, ao que ele redarguiu: “- Sim, no Além”. Às 7:00 h da manhã do dia seguinte desencarnou Delanne.

 Delanne – Escritor

Até o presente momento evitou-se tratar dos livros escritos por Delanne, apresentando-se apenas as revistas com que colaborou ou editou.

Seu primeiro livro foi publicado em 1885 com o título “O Espiritismo perante a Ciência.” Dividido em cinco partes, trata inicialmente das diversas teorias relacionadas à existência da alma, da história e teoria do magnetismo, sonambulismo e hipnotismo, dos experimentos que provam a imortalidade da alma, do perispírito, provas de sua existência, sua composição e seu papel na desencarnação, concluindo com uma parte que trata da mediunidade. Lantier (1971, p. 77) faz um comentário a respeito deste livro que nos faz crer que ele não o tenha lido. 

“O autor, dando prova de sua grande erudição, combate nele o materialismo com argumentos que se apoiam mais nas realidades do eletromagnetismo do que nos postulados do kardecismo.”

Ao se referir ao eletromagnetismo, Lantier deve estar querendo falar do magnetismo animal de Mesmer e seus sucessores, dos quais Delanne trata na segunda parte. Como atribuir a teoria do perispírito a alguém que não seja Kardec? Como atribuir o tratamento dos tipos de mediunidade ao eletromagnetismo? Falando francamente, Jacques Lantier parece não ter lido o livro que comenta, ou desconhecer a obra de Allan Kardec.

A edição brasileira deste livro foi traduzida por Carlos Imbassahy e revista por Lauro S. Thiago para a segunda edição de 1993. A edição que serviu de base a este artigo, de 1993, indica que foram impressos até então dez mil livros, mas é necessário comentar que ele ficou décadas sem ser publicado.

A segunda publicação de Delanne foi “O Fenômeno Espírita”, que veio a público em 1896. Espécie de curso introdutório ao Espiritismo, este livro apresenta a comunicação com os mortos desde a antiguidade, dedicando um capítulo para os tempos modernos, onde apresenta com propriedade o desenvolvimento do “new spiritualism” anglo-americano desde as irmãs Fox, o trabalho de Kardec e seus contemporâneos e as pesquisas alemãs de Justinus Kerner aos seus contemporâneos. Segue-se a apresentação de fenômenos de efeitos físicos e uma discussão das teses alternativas à mediunidade, com a apresentação de fatos diversos que comprovam as quatro faculdades básicas da mediunidade. A segunda parte termina com um capítulo sobre o “Espiritismo Transcendental”, termo que se refere aos fenômenos de materialização, desmaterialização, transporte e outras faculdades de efeitos físicos. A terceira parte do livro é destinada aos grupos espíritas, apresentando sugestões para o seu funcionamento. A quarta e última parte se destina a discutir a tese materialista e a apresentar argumentos em favor da reencarnação.

Esta é uma obra que merece ser indicada aos iniciantes em Espiritismo que já possuam hábito de leitura, de leitura quase obrigatória aos que se dediquem à prática da doutrina dos espíritos. Sua tradução foi realizada por Ewerton Quadros, e a edição consultada indicava a publicação de 29.000 livros pela FEB em 1992.

A próxima contribuição do discípulo de Kardec à literatura espírita, foi publicada em 1897 e está traduzido em português com o título “A Evolução Anímica”. Esta obra é uma análise comparativa dos postulados espíritas frente à Psicologia Fisiológica da época. Desdobram-se temas como a vida (entendida organicamente), a memória, as personalidades múltiplas, a loucura, a hereditariedade e o universo, onde se discute a evolução cósmica e a evolução terrestre.

Traduzido para o português por Manuel Quintão, em 1992 a FEB já havia impresso 34.000 volumes.

Seu quarto livro, cuja primeira edição veio a público em 1898 ainda não está traduzido para o português e seu título poderia ser traduzido como “Pesquisas Sobre a Mediunidade”. Sobre este livro silenciam Regnault e Bodier, e o suspeito Lantier indica, lacônico, a sua publicação. Hermínio Miranda, entretanto, conseguiu a edição francesa de 1902, que cita em seu “Diversidade dos Carismas”.

Neste mesmo ano, Delanne prefaciou o livro “Katie King: histoire de ses aparitions”, cujo autor não é indicado por Lantier. 

Em 1899 Delanne publicou “A Alma é Imortal”, quinto livro consecutivo em cinco anos de trabalhos. Nele se trata da imortalidade da alma, do perispírito, do desdobramento do ser humano, do corpo fluídico após a morte, as experiências de De Rochas sobre a exteriorização da sensibilidade, as fotografias de espíritos desencarnados, as criações fluídicas da vontade, e as teorias científicas do tempo, espaço, conservação da energia e ponderabilidade.

Traduzido para o português por Guillon Ribeiro, a obra consultada já estava em sua quarta edição, em 1978.

Após um jejum de dez anos Delanne traz a público a obra que todos os seus biógrafos consideram sua obra prima. Em língua portuguesa ela poderia ser traduzida “As Aparições Materializadas dos Vivos e dos Mortos”. Seu primeiro volume foi publicado em 1909 e seu segundo volume em 1911. Regnault e Bodier (1990, p. 61) afirmam que no primeiro volume “Gabriel Delanne não deixa sem resposta, nenhuma das objeções que são feitas à existência da alma dos vivos. Para prová-lo, fornece uma documentação extraordinária, baseada em múltiplas experiências científicas.” Eles continuam tratando do segundo tomo, o que se transcreve abaixo:

“No segundo tomo mostra a analogia que existe entre o que se passa durante a vida dos seres e o que existe quando, não tendo mais o corpo físico, podem, todavia, manifestar sua sobrevivência através de comunicações “post mortem”. 

Daqui a alguns séculos, quando os historiadores desejarem tornar conhecido o que havia na época da barbárie, quando existiam materialistas, os humanos dessa época ficarão muito espantados ao constatarem que os metapsiquistas nada tinham inventado.”

Oitenta e cinco anos se passaram sem que os espíritas brasileiros possam ter o prazer de ler em sua língua a presente obra. Uma vez que alguns privilegiados ainda a possuem, o que se pode fazer é esperar que um dos estudiosos dedicados que o movimento espírita brasileiro possui se prontifique a traduzi-la, com a certeza de que não será um “best seller”, mas que certamente contribuirá com uma melhor compreensão da alma humana e da história do Espiritismo. 

Em 1922 Delanne prefaciou “A Granja do Silêncio” de Paul Bodier, publicado em português pela FEB e de excelente aceitação pelo público francês, quando lançado.

O “canto do cisne” do pesquisador dos espíritos foi ditado em 1924 e parece ter tido publicação póstuma em 1927. Regnault e Bodier se referem a ele como “Documentos para Servir ao Estudo da Reencarnação”, e está publicado em português com o título “A Reencarnação”. Tese polêmica junto aos espiritualistas ingleses, Delanne trata da reencarnação em outras culturas e se esmera em documentar evidências da reencarnação com o auxílio da tese da memória integral. A casuística é extensa e o que os pesquisadores contemporâneos denominariam como métodos de memória espontânea e provocada têm seus lugar neste livro, com apresentação de procedimentos e resultados.

Traduzido por Carlos Imbassahy, a edição consultada data de 1992 e já está em sua oitava edição, tendo sido impressos cerca de quarenta mil livros.

 Últimas Palavras

Por que acreditamos nos espíritos? Possivelmente alguns adeptos do Espiritismo dos dias de hoje responderiam esta pergunta se referindo a algum médium cujas faculdades lhes trouxe alguma evidência na vida além da matéria. Outros se lembrarão de obras que leem como se fosse uma ficção mas que são respeitadas devido à autoridade de um expositor vibrante que lhes confere o caráter de verdade.

Hermínio Miranda, ao contrário, relatou que no início dos seus estudos sobre o Espiritismo e a mediunidade, o seu introdutor no Espiritismo lhe recomendou a leitura de Kardec, Denis e Delanne.

Certamente, o espírita que tiver estudado a obra deste gigante do pensamento espiritista terá uma convicção diferente, quanto aos espíritos e a mediunidade. Convicção embasada em fatos e em reflexão. Convicção filosófico-científica. Gema tão preciosa quanto rara nos dias em que os “novidadeiros” se enfileram em busca das notícias, tão diferentes quanto improváveis, do suposto “mundo dos espíritos”, mesclado do “mundo da imaginação dos pseudo-médiuns”.

Observemos detidamente os tradutores da obra de Delanne. Aqueles que conhecem a história do movimento espírita brasileiro reconhecem o porte dos que se dispuseram a traduzi-lo. Quintão, Imbassahy, Guillon Ribeiro, Ewerton Quadros… Ninguém mais, ninguém menos. 

O número de edições, que é bem tímido se comparado às centenas de milhares de “Nosso Lar” ou às cifras bem superiores a um milhão de “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, que apontam o potencial do mercado editorial espírita em nosso país. Sem dúvida que este quadro será diferente, quando os estudiosos e expositores espíritas atentarem para a relevância da obra de Gabriel Delanne e seguirem seu conselho, divulgando-a.

Agradecemos de coração, para finalizar, os esforços do Centro Espírita Léon Denis, que vem realizando esforços editoriais na contramão do mercado, mas na direção de um Espiritismo melhor conhecido e divulgado. Certamente não teríamos acesso ao trabalho cuidadoso de Regnault e Bodier se não fosse a pena paciente do professor José Jorge e o trabalho em equipe deste núcleo de estudantes e trabalhadores da causa espírita.

Fontes bibliográficas

BODIER, Paul, REGNAULT, Henri. Gabriel Delanne: vida e obra. Rio de Janeiro: CELD, 1990.

DUMAS, André. História do Espiritismo. in: História do ocultismo Porto: Nova Crítica, 1980

LANTIER, Jacques. O Espiritismo. Lisboa: Edições 70, 1971. p. 74-83.

MIRANDA, Hermínio. Diversidade dos carismas. Niterói: Arte e Cultura, 1991.

WANTUIL, Zêus; THIESEN, Francisco. Allan Kardec (vol. III). Rio de Janeiro: FEB, 1980. p. 120-122, 314-316, 373-379


Texto de Jáder dos Reis Sampaio

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