por Joel Matias
Capítulo XVII
PREDIÇÕES DO EVANGELHO
Ninguém é profeta em sua terra
Quando ensinava nas sinagogas de sua terra natal, diante do espanto e incredulidade de seus concidadãos, disse-lhes Jesus: “Um profeta só não é honrado em sua terra e na sua casa”. Com efeito, tanto os sacerdotes e fariseus e mesmo seus parentes próximos não o entendiam, tachando-o de louco. Tal fato é consequência das fraquezas humanas, pois, o ciúme e a inveja próprios de seus “espíritos acanhados e vulgares” criam preconceito que impedem aos homens reconhecer em alguém de seu próprio meio a superioridade do saber e da inteligência. Por outro lado, é comum aos homens reconhecerem o valor do “homem espiritual” somente após sua morte, à medida que “mais longínqua se torna a lembrança do homem corporal”. “A posteridade é juiz desinteressado no apreciar a obra do espírito” abstraindo-a da individualidade que a produziu.
Morte e paixão de Jesus – Perseguição aos apóstolos – Cidades impenitentes – Ruína do Templo e de Jerusalém.
Jesus possuía em alto grau a “faculdade de pressentir as coisas porvindouras”, que é um dos atributos da alma (teoria da presciência). Através de sua visão espiritual, previu, assim, as circunstâncias e a época de sua morte, os acontecimentos seguintes à sua paixão e morte, a ruína do Templo e da cidade de Jerusalém, “as desgraças que se iam abater sobre seus habitantes e a dispersão dos judeus”.
Maldição contra os fariseus – Minhas palavras não passarão.
Após dirigir duras palavras aos fariseus e saduceus, sabendo que se escandalizaram, disse Jesus a seus apóstolos: “Toda planta que meu Pai celestial não plantou será arrancada. – Deixai-os; são cegos a conduzir cegos; se um cego guia outro cego, cairão ambos no barranco”. As palavras de Jesus aplicam-se até nossos tempos, quando ainda algumas seitas cristãs se degladiam disputando a posse da Verdade e quando outras servem a ambições e interesses materiais. Disse ainda o Mestre: “O Céu e a Terra passarão, mas as minhas palavras não passarão”. Passarão as construções com sentido falso às palavras de Jesus; “o que não passará é o verdadeiro sentido” de suas palavras.
A pedra angular
A doutrina de Jesus tornou-se a “pedra de consolidação do novo edifício da fé, erguido sobre as ruínas do antigo”, pedra que esmagou os judeus, sacerdotes e fariseus como também, depois, todos os que “a desconheceram, ou lhe desfiguraram o sentido em prol de suas ambições”.
Parábola dos vinhateiros homicidas
Nesta parábola “o pai de família é Deus; a vinha que ele plantou é a lei que estabeleceu; os vinhateiros a quem arrendou a vinha são os homens que devem ensinar e praticar a lei; os servos que enviou aos arrendatários são os profetas que estes últimos massacraram; seu filho, enviado por último, é Jesus, a quem eles igualmente eliminaram”. Constata-se que até nossos tempos o resultado alcançado pelos responsáveis pela educação religiosa da Humanidade foi a indiferença e incredulidade “espalhados em todas as classes da sociedade”. Fizeram do “Deus infinitamente justo, bom e misericordioso” que Cristo revelou, “um Deus cioso, cruel, vingativo e parcial”. Cultuam “as riquezas, o poder e o fausto dos príncipes do mundo”. Entretanto, presente em Espírito, “virá pedir contas aos seus vinhateiros do produto da sua vinha, quando chegar o tempo da colheita”.
Um só rebanho e um só pastor
Tal declaração de Jesus significa que “os homens um dia se unirão por uma crença única”. Assim como no aspecto social, político e comercial tendem a cair as barreiras, havendo já confraternização entre os povos, terão as religiões que fazer concessões mútuas a fim de atingir a unidade, pois, sendo Deus único, é o mesmo que todas adoram não importa sob que nome. Para tanto deverão encontrar-se em um “terreno neutro, se bem que comum a todas”. Sendo mantidos imutáveis seus dogmas, a iniciativa deverá partir do indivíduo. Para congregar todos os homens em uma mesma religião, esta deverá: satisfazer a razão, “às legítimas aspirações do coração e do espírito”, ser confirmada pela ciência positiva, acompanhar o progresso da humanidade, não seja exclusivista, intolerante, admitir somente a fé racional, ter como código moral a prática da caridade e fraternidade universais.
Advento de Elias
Quando Jesus afirmou que Elias já viera e os homens não o haviam reconhecido, seus discípulos compreenderam que se tratava de João Batista, o qual havia sido decapitado. Ficou assim consagrado o “princípio da pluralidade das existências”.
Anunciação do Consolador
Ao anunciar a vinda do Consolador, o Espírito de Verdade, que haveria de “ensinar todas as coisas e de lembrar o que ele dissera”, havendo ainda muitas coisas por dizer, porque “presentemente não as podeis suportar”, claro ficou que “Jesus não disse tudo o que tinha a dizer” Dizendo que o Consolador ficaria eternamente conosco e estaria em nós, não poderia evidentemente tratar-se de uma personalidade, mas sim “uma doutrina soberanamente consoladora, cujo inspirador há de ser o Espírito de Verdade”.
Sendo o Espiritismo uma doutrina resultante do “ensino coletivo dos Espíritos”, completando e elucidando o Evangelho, revelando leis conjugadas às da Ciência que tornam compreensíveis os fenômenos tidos como maravilhosos, realiza “todas as condições do Consolador que Jesus prometeu”. A doutrina de Moisés restringiu-se ao povo judeu; a de Jesus – o Cristianismo – espalhou-se por toda a Terra, “mas não converteu a todos”. “O Espiritismo, ainda mais completo, com raízes em todas as crenças, converterá a Humanidade”.
Mais uma vez Jesus referia-se à reencarnação, quando anunciou a vinda do Consolador por não poder dizer tudo àquela época, pois, seria ilusória tal promessa se os homens não pudessem viver novamente, quando então teriam condições de compreender todo o seu ensino.
Segundo advento de Cristo
Anunciando seu retorno à Terra, terá Jesus se referido a volta em Espírito e não com um corpo carnal, para “julgar o mérito e o demérito e dar a cada um segundo as suas obras”. As palavras: “Alguns há dos que aqui estão que não sofrerão a morte sem terem visto vir o Filho do homem no seu reinado” parecem contraditórias, pois, não se realizaram naquela época. Demonstram falha de registro ou por ocasião das traduções sucessivas. O princípio da reencarnação, assentado por Jesus, explica racionalmente tais palavras, pois somente assim “alguns dos ali presentes”, reencarnados, poderiam ver o que ele anunciava.
Sinais precursores
A alegoria do fim dos tempos, composta de fortes imagens destinadas a impressionar e “tocar fortemente aquelas imaginações pouco sutis”, oculta grandes verdades, como a predição das “calamidades decorrentes da luta suprema entre o bem e o mal”, fé e incredulidade, a difusão do Evangelho por toda a Terra, “restaurado na sua pureza primitiva”, e depois o reinado do bem, “que será o da paz e fraternidade universais”. “Depois dos dias de aflição, virão os de alegria”. Falando de coisas futuras como que possíveis de presenciar, dando sinais de advertência que, se pode deduzir, “mostrar-se-ão no estado social e nos fenômenos mais de ordem moral do que físico”, só poderia se referir à presença, quando houver as transformações, como Espíritos reencarnados, podendo mesmo “colaborar na sua efetivação”.
Não sendo racional que Deus destruísse o mundo logo após entrasse “no caminho do progresso moral”, há que se entender que Jesus se refere ao fim do mundo velho, governado pelos “preconceitos, pelo orgulho, pelo egoísmo, pelo fanatismo” e todas as paixões pecaminosas.
Vossos filhos e vossas filhas profetizarão
Tais palavras de Jesus referindo-se aos “últimos tempos”, coincidem com o período do advento do Espiritismo, onde a mediunidade espalhou-se por toda a Terra, revelando-se “em indivíduos de todas as idades, de ambos os sexos e de todas as condições”. Intensificou-se a “manifestação universal dos Espíritos”, iniciando-se período de regeneração e, por conseguinte, o fim do mundo velho.
Juízo final
Não há juízo final, mas juízos gerais cada vez em que um planeta deve “ascender na hierarquia dos mundos”. Aqueles que se mantêm endurecidos no mal, não tendo acompanhado o progresso moral dos demais habitantes, quando por ocasião da ascensão da Terra a um grau mais elevado serão “exilados para mundos inferiores, como o foram outrora para a Terra os da raça adâmica, vindo substituí-los Espíritos melhores”. Jesus adiou a complementação de seus ensinamentos para uma época posterior, em virtude de não possuírem os homens ao seu tempo “conhecimentos astronômicos, geológicos, físicos, químicos, fisiológicos e psicológicos”, explicando-se assim o estabelecimento por seus apóstolos de dogmas que contrariam tais conhecimentos. O juízo final “não se concilia com a bondade infinita do Criador”, enquanto que o processo de emigração é racional, justo e não privilegia ninguém. “Tais as consequências da pluralidade dos mundos e da pluralidade das existências”.
Fonte: BOLETIM GEAE | ANO 10 | NÚMERO 438 | MAIO DE 2002