Aula 16. O Estudo e a Orientação no trabalho de pesquisa espírita

por Alexandre Fontes da Fonseca

 

1. ESTUDO E ORIENTAÇÃO

Um dos fatores importantíssimos no progresso da Ciência é aquilo que chamamos de colaboração onde dois ou mais cientistas se juntam para estudar e resolver um problema. Esse processo não envolve apenas cientistas já formados e experientes. Ele envolve o processo de formação de novos pesquisadores onde os mais experientes orientam os jovens estudantes no estudo e prática científicas.

O Movimento Espírita desenvolve seus estudos de várias formas. Muitos centros espíritas possuem cursos introdutórios de Espiritismo e sobre a Mediunidade. Esses cursos, em geral, objetivam esclarecer os iniciantes sobre os principais conceitos da Doutrina Espírita e oferecem a oportunidade da realização de atividades mediúnicas sob orientação dos companheiros mais experientes, e de acordo com a Doutrina Espírita. Nesses cursos, os aspectos doutrinários (filosófico, científico e religioso) são ensinados de modo que o iniciante tenha uma visão mais ampla do Espiritismo. Muitas casas espíritas oferecem diversos cursos adicionais de modo que o trabalhador espírita que já conhece os conceitos básicos do Espiritismo, permaneça em constante aprendizado.

Outro veículo de divulgação e estudo é o livro espírita. A literatura espírita, hoje, é muito extensa e os diversos gêneros de leitura oferecem aprendizado em linguagem acessível a todas as pessoas.

Além disso, o Movimento Espírita conta com muitos periódicos (jornais, boletins e revistas) que trazem aos leitores muitas informações espíritas, divulgam eventos, apresentam estudos específicos a luz do Espiritismo, e muito mais. O detalhe que desejamos ressaltar na aula de hoje é que a grande maioria do que é divulgado nesses periódicos é assinado por um único autor.

Como vamos falar de colaboração, gostaríamos de deixar claro que o conteúdo desta aula deve ser entendido no sentido da realização da atividade de pesquisa espírita, onde ideias e conhecimentos novos são obtidos como frutos do trabalho de pesquisa. Portanto, não estamos falando das matérias espíritas tão importantes quanto necessárias no processo de divulgação da Doutrina Espírita. Também não estamos questionando a publicação de opiniões pessoais sobre qualquer assunto espírita. Estamos falando da divulgação dos trabalhos de pesquisa de interesse espírita que precisam satisfazer muitos critérios de seriedade para que seus resultados possam ser usados com confiança em futuros estudos e pesquisas.

Ao falar em colaboração, não estamos querendo dizer que uma pesquisa não pode ser realizada por uma única pessoa. Esta aula objetiva orientar tantos os mais experientes quanto os iniciantes em estudos espíritas, a canalizar o potencial de ambos no desenvolvimento dos conhecimentos espíritas.

Ninguém inicia o aprendizado científico sem conhecer a disciplina básica com a qual pretende trabalhar. Um pesquisador físico, por exemplo, precisa ter o conhecimento básico da Física, enquanto um pesquisador médico precisa ter o conhecimento básico da Medicina. Não é de se esperar, portanto, que o pesquisador espírita precisa ter um bom conhecimento do Espiritismo e isso não ocorre do dia para a noite. Isso requer não somente a participação em cursos onde o indivíduo pode trocar ideias com outros companheiros, mas também a leitura das obras básicas da codificação e de outras obras espíritas para além de formar uma visão ampla do Espiritismo, ter boa noção do que já existe em matéria de estudos espíritas.

Uma vez que uma pessoa já possui, com segurança, o conhecimento básico do Espiritismo e tem vontade de trabalhar no desenvolvimento dos conhecimentos espíritas, o momento é de escolha por algum tópico. A leitura de vários livros espíritas tem um papel fundamental neste momento pois para escolher é preciso conhecer as opções. Existem muitos tópicos de estudo e pesquisa de interesse espírita. Existem assuntos multidisciplinares (aula 4, Boletim 486) em que tópicos de interesse espírita são analisados sob a luz da Doutrina Espírita e sob alguma outra ciência ou área do conhecimento. Existem também assuntos puramente espíritas (aula 3, Boletim 485) onde usa-se apenas o paradigma espírita no trabalho de pesquisa.

Após a escolha de um assunto de seu interesse, o jovem iniciante em trabalhos de pesquisa tem, de uma forma geral, dois caminhos possíveis a seguir: 1) realizar todo o trabalho sozinho ou 2) realizar o trabalho de pesquisa sob orientação.

1) No primeiro caminho, o iniciante em atividades de pesquisa deve buscar relacionar toda a bibliografia disponível sobre o assunto. Por exemplo, se o assunto escolhido é Perispirito, todos (ou o máximo possível) os livros e artigos espíritas sobre o perispirito devem ser reunidos para o inicio do estudo. O iniciante, então, deve lê-los de modo a ficar ciente do que já foi feito e estudado (em Ciência jamais repete-se o trabalho já feito para não prejudicar o progresso).

Várias ideias podem surgir com a leitura e, por isso, o iniciante deve ir anotando todas elas de modo a analisá-las posteriormente. Pode acontecer da leitura apresentar algum conceito ou afirmativa estranha, diferente ou nova, sem a devida explicação. O iniciante pode, então, desejar demonstrá-la a luz do Espiritismo e de acordo com o tópico científico associado ao mesmo. O importante da leitura é não somente obter os conhecimentos básicos sobre o assunto, mas também se certificar de que a ideia que veio à mente não foi trabalhada em nenhum outro livro ou artigo e, portanto, é algo inédito que trará alguma contribuição no progresso do conhecimento. Se a ideia já foi abordada por outro(a) pesquisador(a), o iniciante pode, se desejar, dar prosseguimento à ideia inicial imaginando algum aspecto do assunto que ainda não foi analisado.

Uma vez escolhida a ideia (ou as ideias) que deseja trabalhar, é importante escrever um projeto de pesquisa ou algo similar (aulas 14 e 15, Boletins 496 e 497, respectivamente). Isso é importante para organizar as atividades que serão realizadas, bem como fornecer uma visão global da ideia, das motivações ligadas a ela, que benefícios o trabalho de pesquisa trará, etc. O projeto de pesquisa também serve como referência das ideias imaginadas, métodos empregados e objetivos propostos, para futuras consultas.

Esse caminho possui algumas desvantagens. Em geral, todo trabalho de pesquisa possui critérios gerais e específicos que garantem que os resultados possam ser considerados válidos. Se o iniciante na atividade de pesquisa espírita não tiver experiência ou conhecimento sobre o processo de trabalho de pesquisa, ele pode perder tempo realizando análises sem o rigor necessário. Nossas aulas sobre Ciência e Espiritismo podem ajudar um pouco nesse esclarecimento, mas elas não possuem todas as informações possíveis. Outra desvantagem é a falta de experiência com relação a divulgação dos resultados de pesquisa. Questões como “qual a linguagem deve ser empregada?” e “em que periódico (ou livro) divulgar os resultados da pesquisa?” são fundamentais e, nesse caso, o item 2) a seguir é de grande ajuda.

A vantagem principal desse caminho é o fato de não ter que depender da disponibilidade de ninguém para desenvolver o projeto de pesquisa. Muitas vezes, as pessoas que possuem experiência são geralmente muito ocupadas. Em geral, pesquisadores mais experientes são mais capazes de realizar trabalhos de modo mais independente. Porém, muitos possuem colaboração com outros pesquisadores não somente porque duas ou mais cabeças sempre pensam melhor que uma, mas também porque o conhecimento tem progredido tanto que se tornou impossível a uma única pessoa ter base sólida em muitas áreas do conhecimento ao mesmo tempo.

Qualquer pessoa pode pedir orientação sobre qualquer assunto. Acesse nosso Fale conosco do GeaE. Os Editores farão todo o esforço possível para encontrar o esclarecimento das dúvidas.

2) No segundo caminho, através da leitura prévia dos livros espíritas mencionada nos parágrafos anteriores, o iniciante deve juntar as ideias que o interessam. Porém, aqui, ele pode procurar entrar em contato com algum autor ou estudioso do tema escolhido para pedir sugestões e orientação.

Nesse caminho, o iniciante pode aproveitar a experiência do estudioso para perguntar se as suas ideias são interessantes, se ele conhece outras bibliografias que já trataram do assunto, se existem outras ideias, etc.

Da mesma forma, um projeto de pesquisa deve ser preparado. A ajuda do estudioso será importante pois além da experiência no tópico de pesquisa, ele possui uma visão mais ampla das relações entre o Espiritismo e o assunto a ser pesquisado.

A principal vantagem é aproveitar a experiência do estudioso para não perder tempo com tópicos de menor interesse ou que já foram trabalhados exaustivamente. O estudioso certamente ajudará o iniciante nos critérios a serem seguidos para validar as suas pesquisas além de orientar sobre as melhores formas de divulgação do trabalho.

Uma grande vantagem que existe nesse caminho é a orientação sobre a confiabilidade das referências (livros ou artigos). Muitos autores escrevem suas opiniões e pensamentos particulares sobre assuntos ainda pouco desenvolvidos e se basear em opiniões é algo muito perigoso para a validade dos resultados da pesquisa (ver aulas 6 e 7, Boletins 488 e 489, respectivamente). É muito difícil para o iniciante em atividades de pesquisa discernir a validade ou confiabilidade das fontes de pesquisa e a ajuda de um estudioso mais experiente é muito importante.

A principal desvantagem é a disponibilidade de tempo do orientador para as discussões sobre as atividades do projeto. Porém, essa desvantagem não é tão importante tendo em mente que nós buscamos, antes de mais nada, a qualidade do trabalho de pesquisa. Não importa se um estudo demorar um tempo maior. O importante é que ele seja concluído de modo completo e satisfatório.

Nesta aula, objetivamos ressaltar o valor do estudo e da orientação na realização de trabalhos de pesquisa e na ajuda aos iniciantes. O estudo é importante para nos informar tudo o que foi desenvolvido até o momento sobre determinados assuntos. A orientação é importante pois permite a troca de experiência e o aproveitamento do tempo tanto no trabalho de pesquisa quanto no aprimoramento dos pesquisadores. Aqui vale lembrar a recomendação do Espírito de Verdade no item 5 do capítulo VI de O Evangelho Segundo o Espiritismo: “Espíritas! Amai-vos, este o primeiro ensinamento; instrui-vos, este o segundo”. A colaboração e orientação no trabalho de pesquisa espírita satisfazem ao mesmo tempo as duas recomendações acima. 


Fonte: Boletim GEAE 13(498), 30/08/2005

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