A pesquisa qualitativa entre a fenomenologia e o empirismo-formal

por Jáder dos Reis Sampaio.

 

Resumo

Metodologia e epistemologia são duas áreas relacionadas, mas independentes entre si. É muito comum na pesquisa administrativa brasileira entender-se a pesquisa chamada de qualitativa a partir de um referencial epistemológico empirista-formal. Realizou-se uma análise das contribuições teóricas ao tema por autores clássicos e contemporâneos. A proposta do presente trabalho teórico é distinguir a orientação epistemológica baseada no empirismo-formal da que se fundamenta na fenomenologia. Aceita esta distinção e o “status” científico destas duas matrizes de conhecimento, mostra-se que há implicações metodológicas distintas para a pesquisa qualitativa, seja com relação ao objetivo, seja com relação à abordagem do objeto, seja com relação à construção de construtos e indicadores. Desta forma, a pesquisa qualitativa não é uma pesquisa para a qual não se teve fôlego para estudar um número suficiente de eventos que permitam generalização, nem está às voltas com um tipo de objeto que permite apenas uma mensuração não métrica e muito menos é uma abordagem menor da ciência porque não consegue estabelecer com fundamento leis que estabelecem relações determinantes ou probabilísticas entre eventos. Trata-se de um tipo de pesquisa própria para a análise em profundidade de fenômenos onde se pressupõe, ou se busca entender melhor, a singularidade ou a subjetividade.

Palavras-Chave: Pesquisa Qualitativa, Metodologia de Pesquisa, Epistemologia

Introdução

Sempre que se discute uma pesquisa científica, está se optando por uma certa produção de conhecimento que atende a determinados parâmetros ou exigências propostos por um determinado grupo de pesquisadores. Um equívoco que geralmente se comete é pressupor a existência de uma teoria epistemológica única que fundamentaria a escolha dos métodos de investigação. 

Em meio ao pensamento administrativo, a noção de ciência mais difundida filia-se às escolas derivadas do empirismo. Mesmo nesta tradição, há muitas escolas epistemológicas concorrentes, como o empirismo lógico, o empirismo probabilista, o empirismo crítico e o evolucionista. Em ruptura à tradição empirista, temos inúmeras escolas de teoria do conhecimento, como a fenomenológica (e seus desdobramentos) e a pragmática.

A idéia que o conhecimento científico é um tipo de conhecimento verdadeiro, e que a aplicação da metodologia científica conduz à obtenção da verdade, é um mito de difícil sustentação se o leitor se dispuser a analisar atentamente os pressupostos sobre os quais se constrói uma dada teoria epistemológica.

O Que é Ciência?

Francis Bacon (1561-1626), ao redigir sua obra “Novum Organum” lançou algumas das bases da ciência moderna. Propôs que o estudo se voltasse à análise da natureza, cujos resultados pudessem permitir uma acumulação sistemática do conhecimento. Propôs o método indutivo como o caminho para atingir este objetivo, através da experiência escriturada, que compreendia a observação sistemática e a realização de experimentos. O filósofo natural deveria observar as condições em que um determinado fenômeno ocorria (tábua de presença), as condições em que ele não ocorria (tábua de ausência) e registrar os diferentes graus de variação do fenômeno a fim de descobrir possíveis correlações entre as variações (tábua das graduações). Feitas as observações o pesquisador procuraria estabelecer induções amplificadoras (generalizações) extraindo o que existe de geral em uma coleção de fenômenos e estendendo por analogia aos demais nas mesmas condições. Em Bacon já temos uma distinção entre ciência (fruto da experiência humana) e especulação ou metafísica (fruto do raciocínio calcado na “lógica vulgar” ou mesmo da revelação divina).

Isaac Newton (1642-1727) abriu mão da análise teórica calcada em uma autoridade (pelo menos formalmente) para analisar as regularidades físicas, tendo por parâmetros comparativos os modelos da álgebra. Uma frase famosa onde ele expõe sua crítica ao emprego de hipóteses foi: “hypotheses non fingo” Ele possibilitou uma certa forma de se fazer ciência, onde se procura o avanço do conhecimento através da identificação de regularidades constatadas matematicamente e por indução, ou, simplesmente, “leis naturais”. Newton, portanto, adiciona as matemáticas ao método de Bacon.

Uma das dificuldades que este procedimento gerava envolvia a sucessiva complexificação das teorias explicativas dos fatos estudados, o que poderia fazer com que os cientistas se perdessem no “perigo da especulação” a partir das mesmas. Um filósofo que deu uma contribuição histórica a este problema foi David Hume (1711-1776), com sua famosa “investigação acerca do conhecimento humano”. Ele defende a identificação de nexos de causalidade dos fenômenos naturais (entendidos como sucessões temporais entre dois fenômenos percebidos em bases de uma vinculação necessária, ou seja, para que o segundo aconteça é necessário que o primeiro o anteceda) e toma como critério de verdade a possibilidade de retorno das teorias às bases empíricas que as geraram (fenômenos sensíveis), ou seja, às percepções originais. Criticando o pensamento cartesiano, ele admite a lógica dedutiva apenas para a matemática (porque consiste em relações entre símbolos), considerando-a criadora de sofismas e ilusões quando aplicada ao mundo natural, que necessariamente não se comporta segundo a lógica.

Seu projeto de construção do conhecimento foi muito bem sucedido no mundo das ocorrências físicas, e marcou uma distinção entre as Físicas e as Metafísicas, que gerou um certo desprezo nos meios acadêmicos por estas últimas. Ele foi extremamente influente até o final do século XIX e início do século XX, quando físicos como Albert Einstein propuseram teorias que invalidavam a aplicação das leis de Newton a territórios pouco conhecidos da Física, como as
partículas subatômicas, o que gerou uma desconfiança na capacidade de generalização das conclusões obtidas por estes métodos.

Grosso modo, temos então uma noção de ciência, que seria um método de produção de conhecimento verificável e acumulável, que estabelece nexos de causalidade entre fenômenos, a partir da observação sistemática e experimentação de fenômenos naturais com a finalidade de identificarem-se, por generalização, regularidades (leis) passíveis de descrição matemática.

Esta definição será quase que totalmente criticada no século XX. Bachelard e Kuhn criticariam a cumulatividade do conhecimento científico introduzindo conceitos como corte epistemológico e mudança de paradigma, respectivamente. Carnap abriu mão do conceito de verificabilidade, substituindo-o pelo de confirmabilidade. Popper estenderia as críticas à indução e à generalização, questionaria os fundamentos epistemológicos do probabilismo e proporia a falseabilidade e a falsificação, assim como a transitoriedade das teorias científicas aceitas. Todos os autores citados tratam das chamadas ciências naturais. Evitaremos o desenvolvimento destas contribuições porque elas nos fazem perder a linha mestra do presente trabalho.

Vimos desenvolvendo o presente raciocínio mostrando que por detrás de um conceito aparentemente aceito de ciência, entre seus próprios expoentes, há inúmeras discussões que estão longe de poderem ser consideradas acessórias, posto que se referem a elementos essenciais da noção empírico-formal de ciência.


Podemos dizer que há diferentes métodos do conhecimento científico? Apesar de a grande maioria dos autores acima defenderem a teoria da ciência unificada, cada um buscando trazer para a sua proposta as diretrizes “verdadeiras” do método científico, podemos dizer que há uma variação ainda mais acentuada em torno do conceito de ciência, especialmente das ciências humanas e sociais, cuja questão discutirei posteriormente.

Em meio aos livros de teoria do conhecimento e metodologia de pesquisa científica, há diferentes classificações de métodos concorrentes, que surgiram de bases de pensamento epistemológico diversas (ou matrizes epistemológicas) e que, mais que um exercício especulativo, passaram a orientar pesquisadores e cientistas, consolidando-se em orientações concorrentes de escolas, linhas de pesquisa e disciplinas.

Para fins de ilustração deste ponto de vista, passamos a apresentar o referencial de ZILLES, que adotaremos neste trabalho por sua simplicidade, mas há diversos outros como o de DE BRUYNE ET AL. (1991).

ZILLES (1994) divide o conhecimento científico em três grupos: o das ciências formais, o das ciências empírico-formais e o das ciências hermenêuticas.

As ciências formais têm “relações entre signos” como seu objeto de pesquisa, compreendem a matemática e a lógica, são racionais e sistemáticas, são verificáveis, no sentido da possibilidade do emprego da dedução.
    
As ciências empírico-formais foram descritas no item anterior e têm por objeto a realidade empiricamente apreensível (natureza), podendo usar as ciências formais como seu instrumental.

As ciências hermenêuticas, por sua vez “são ciências da interpretação. (…) A interpretação procura evidenciar uma significação não imediatamente aparente. A significação é uma relação entre um signo e uma entidade pertencente ao mundo real ou ao mundo ideal. Em resumo, as ciências hermenêuticas visam a realidade humana enquanto apreensível, enquanto perceptível na natureza transformada pela cultura. (…) visa à subjetividade, suas intencionalidades. (…) trabalham essencialmente com a categoria do sentido”. (ZILLES, 1994. p. 164)

A Fenomenologia de Edmund Husserl é uma das teorias que procura fundamentar epistemologicamente este último conceito. Trataremos dela de forma mais detida, mas antes passamos a discutir os pontos de conflito entre as ciências naturais e as ciências humanas e sociais.

O Problema do Método nas Ciências Humanas e Sociais

Uma discussão também histórica em meio aos epistemologistas, repousa na possibilidade de adoção dos métodos do empirismo formal às chamadas ciências humanas e sociais. Independente dos argumentos pró ou contra este projeto, qualquer leitor desapaixonado considera razoável que a aplicação destes métodos às ciências do homem pressupõe a aceitação apriorística de que o ser humano é explicável à partir de “leis” que desvendam a sua “natureza”. Caso contrário, tratando-se o homem como um ser portador de uma condição humana, ou seja, dotado de livre arbítrio, capaz de construir sua própria cultura e resignificar o mundo ao seu redor, não faz sentido empregar-se um método que busca explicá-lo destituindo-o de suas capacidades. Esta condição humana (termo que emprego no sentido de delimitar o homem produtor de cultura e produzido por ela, em distinção à natureza humana) seria incognoscível por uma matriz epistemológica calcada no empirismo, não sendo objeto passível do emprego dos métodos das ciências naturais.

Após quase um século e meio de Psicologia concebida como ciência humana, podemos acompanhar o desdobramento da aplicação dos métodos das ciências naturais e sugerir que eles são mais bem sucedidos quando o homem é visto como (ou reduzido a) um ser orgânico. A pesquisa médica é um exemplo de sucesso do emprego dos métodos naturais, mas nenhum médico acreditaria, por exemplo, na existência de diferenças estruturais e funcionais significativas entre
dois corações humanos, a menos que estivéssemos estudando patologias, ou seja, eles trabalham com uma natureza do organismo humano.

As conclusões da Psicologia empírica, entretanto, se tornam polêmicas e duvidosas quando se analisa o homem como um ser psíquico, tendo algum poder explicativo quando descritivas, mas sendo incertas quando preditivas. Parece-me que o ser psíquico é apenas parcialmente determinado, ou seja, as regularidades que podemos identificar a partir de sua pesquisa não seriam suficientes para uma compreensão de sua dinâmica singular e são raramente passíveis de generalização para pessoas educadas em culturas muito diferentes entre si.

Um psiquiatra de renome parece ter chegado a conclusão semelhante e talvez um pouco menos pessimista quando desenvolveu o seguinte pensamento:

“Uma das antinomias fundamentais é a proposição: A psique depende do corpo, e o corpo depende da psique. (…) Chegamos assim à formulação dialética, que no fundo significa que a interação psíquica nada mais é do que a relação de troca entre dois sistemas psíquicos. Uma vez que a individualidade do sistema é infinitamente variável, o resultado é uma variabilidade infinita de afirmações de validade relativa. No entanto, se individualidade fosse singularidade, isto é, se o indivíduo fosse totalmente diferente de qualquer outro indivíduo, a psicologia seria impossível enquanto ciência, isto é, ela consistiria num caos inextricável de opiniões subjetivas. Mas como a individualidade é apenas relativa, isto é, apenas complementa a conformidade ou a semelhança entre os homens, as afirmações de validade universal, ou seja, as constatações científicas, tornam-se possíveis. Consequentemente, estas afirmações podem referir-se unicamente às partes do sistema psíquico conformes, isto é, às que podem ser comparadas e, portanto apanhadas estatisticamente, e não ao individual, ao único dentro do sistema. A segunda antinomia fundamental da psicologia é a seguinte: O individual não importa perante o genérico, e o genérico não importa perante o individual. ” (JUNG, 1985. p. 2-3)

 Muitos autores consagrados na literatura aceitam as diferenças epistemológicas entre as ciências humanas e sociais. Kirk e Miller apontam o seguinte:

“… “Objetividade,” também, é um conceito ambíguo. Em um sentido, ele se refere ao pressuposto heurístico, comum nas ciências naturais, que tudo no universo pode, em princípio, ser explicado em termos de causalidade. Nas ciências sociais, este pressuposto frequentemente parece perder o sentido, em razão do que, aquilo os cientistas sociais tentam explicar é a consequência das escolhas existenciais internas feitas pelas pessoas.” (KIRK e MILLER, 1988. p. 10)

Este problema não é diferente nas ciências administrativas, posto que têm por objeto as organizações de trabalho constituídas por seres humanos. Se por um lado é possível estabelecer regularidades que parecem ser universais às relações de troca (lei de oferta e procura nas ciências econômicas), da mesma forma temos as organizações com suas singularidades (os transplantes de modelos administrativos, por exemplo), gerando outputs diferentes daqueles que seriam esperados por um certo modelo administrativo.

Podemos ver por que determinadas metodologias qualitativas são tão difundidas nesta área do conhecimento, como os estudos de caso, a despeito do desenvolvimento dos métodos quantitativos e dos aparelhos de auxílio ao processamento de informações. Quanto mais próximos dos fenômenos culturais humanos, mais singulares se tornam os fenômenos em Administração e, portanto, mais importante a compreensão das unidades. Quanto maiores as possibilidades de tomada de decisões e as mudanças no ambiente, menos preditivos se tornam os modelos administrativos, que parecem ter validade circunscrita a determinados cenários.

Ao gerente, em um cenário turbulento, pode ser mais valioso deter um repertório de construções compreensivas e capacidade analítica (de preferência criativa) que conhecer prescrições calcadas em modelos universais de funcionamento das organizações. O emprego de ferramentas de finalidade prospectiva e situacional parece ter se desenvolvido bastante na administração, com a finalidade de dar suporte à tomada de decisões.

Como lidar com o conhecimento tendo em vista objetos possivelmente dotados de singularidade? É aceitável renunciar ao desejo de conhecê-los taxando-os de incognoscíveis, ou há formas de desenvolver algum tipo de entendimento?

Dilthey (1833/1911) foi um dos filósofos alemães que defendeu a ideia que as ciências humanas e sociais têm por objeto uma realidade humana, histórica e social, criticando o emprego isolado dos métodos das ciências naturais nesta área. Ele considera fundamental a análise da compreensão da experiência pessoal e da expressão do espírito humano nesta área do conhecimento.

Dentre as escolas de pensamento epistemológico, passo a apresentar uma das mais influentes e prolíficas para com este problema: a Fenomenologia de Edmund Husserl.

ZILLES (1994) fez uma síntese da evolução dos conceitos de fenômeno em Filosofia, onde mostra haverem pelo menos dois sentidos marcantes: o primeiro, mais amplo, significaria “tudo o que aparece, se manifesta ou se revela” e está conectado a tudo o que existe exteriormente, ou seja, os fenômenos físicos. Kant, entretanto, notabilizou-se ao distinguir o fenômeno da coisa em si (que denominou “noumenon”). Para eles os fenômenos seriam os objetos da experiência, e as

“coisas em si” seriam “incognoscíveis e transcendentes à experiência”.

Edmund Husserl (1859-1938) irá construir a Fenomenologia como uma vertente crítica ao naturalismo vigente à sua época, que insistia em negar a subjetividade para estudar os fatos naturais como se fossem uma realidade única. Volta-se, portanto, ao mundo interior dos homens, chamado transcendental¹, onde ser fará a conexão possível entre as coisas em si e as ideias. Husserl privilegia, portanto, o estudo da consciência que define como uma instância psíquica que constitui

significações, seja ao apreender ou ao constituir os significados dos acontecimentos naturais ou psíquicos.

A consciência é entendida pela Fenomenologia de Husserl como sendo um “fluxo temporal de vivências”, peculiar, porque é imanente, ou seja, capaz de dar sentido às coisas e de apreender através da intuição aquilo que é universal, já que ela capta a multiplicidade de fatos e a sua essência comum. Outro aspecto importante da consciência diz respeito à sua “intencionalidade”. Chauí (1988) descreve a intencionalidade como “dirigir-se para, visar alguma coisa”, o que a torna uma atividade constituída de atos que visam a algo. “Toda consciência é uma consciência de algo.” Husserl denomina a estes atos, que podem ser perceptivos, imaginativos, especulativos, volitivos, etc., com o termo noesis, e aquilo a que visam com o termo noema. Os noemas estão presentes na consciência sem serem partes dela.

Husserl distingue ainda dois níveis de noesis; o nível empírico onde se identificam atos psicológicos e individuais para conhecer um significado independente deles, e o nível transcendental onde as noesis são atos do sujeito constituinte que cria os noemas enquanto idealidades puras ou significações.

“A fenomenologia husserliana pretende estudar, pois, não puramente o ser, nem puramente a representação ou aparência do ser, mas o ser tal como se apresenta no próprio fenômeno. E fenômeno é tudo aquilo de que podemos ter consciência, de qualquer modo que seja.” (ZILLES, 1994. p. 125)

Outro conceito importante para o entendimento da fenomenologia reside na dinâmica da relação entre o fato e a consciência. Como já afirmamos acima, Husserl trabalha com as intuições da consciência como sendo os elementos constituintes do conhecimento. Elas, entretanto, só constroem conhecimento à medida que são capazes de perceber as essências, distinguindo diferentes possibilidades de representação dos objetos.

“Dizemos que dois atos intuitivos possuem a mesma essência quando as suas intuições puras têm a mesma matéria. …Todas as intuições objetivamente completas de uma mesma matéria têm a mesma essência.” (HUSSERL, 1988. p. 78)

Uma vez aceita a premissa husserliana se pergunta como fazer ciência, ou ainda, o que é ciência para a fenomenologia. O critério de verdade em Husserl (1988, p. 94) é definido como “a plena concordância entre o visado e o dado como tal”, ou, como interpreta Chauí, entre “o ato de conhecer e o seu correlato”. Isto não significa que a verdade seja apenas uma verdade subjetiva, no sentido de ser considerada apenas no recesso do pensamento de seu criador, mas reflete a ordem das coisas.

A questão a que esta afirmação nos remete é: como pode o agente do conhecimento distinguir as essências das coisas e não ser iludido pelas aparências da realidade exterior ou pelos conteúdos pré-existentes da sua consciência?


ZILLES e CHAUÍ identificam três condições propostas por Husserl para a fundamentação de uma ciência de rigor:

a) ausência de pressupostos: ou seja, o pesquisador evitaria considerar o que já foi dito por pensadores ou pela teoria, indo diretamente às coisas mesmas, buscar suas essências. A epoqué consiste “em nos abstermos por completo de julgar acerca das doutrinas de qualquer filosofia anterior e em levar a cabo todas as nossas descrições no âmbito desta abstenção”. (Husserl apud Zilles, 1994. p. 128)

b) o caráter a priori: que significa desconfiar dos dados empíricos para fundamentar-se em idealidades (“as coisas mesmas”) da consciência transcendental, a única capaz de captar as essências. Entende Husserl que a intuição da essência é diferente da percepção do fato. É fácil ilustrar este tipo de postulado quando se observam ações de pessoas, que estão revestidas de intencionalidades. A mera observação do resultado da ação ou da ação em curso não revela a intencionalidade do sujeito. O trabalhador que opera em ritmo lento pode estar protestando contra a fábrica, estar estressado, despido de conhecimento necessário para a realização de sua atividade, disperso, preocupado com problemas de casa, ou por uma infinidade de motivos.

c) evidência apodítica: seriam as bases das construções dos juízos (aos moldes do pensamento cartesiano). Seriam evidências “com ausência total de dúvida”, cuja obtenção se dá a partir das reduções fenomenológicas que Zilles descreve da seguinte forma:

“Para chegar ao fenômeno puro, Husserl suspende o juízo em relação à existência do mundo exterior (transcendente). Descreve apenas o mundo como se apresenta na consciência, ou seja, reduzido à consciência. Tal suspensão ou colocação entre parênteses chamou epoqué. Portanto, não duvida da existência do mundo, mas simplesmente o põe “entre parênteses” ou o idealiza ou o reduz ao fenômeno: a redução fenomenológica. No fenômeno, por sua vez, procede a sucessivas reduções em busca da essência: a redução eidética. Assim entende a fenomenologia como análise descritiva das vivências da consciência depuradas de seus elementos empíricos para descobrir e apreender as essências diretamente na intuição.” (ZILLES, 1994. p. 130-131)

Não é de fácil entendimento a delimitação da redução eidética como método. De Bruyne (1991) entende, a partir de Merleau Ponty, que se o pesquisador imaginar todas as relações implicadas por um fenômeno e o fizermos variar, pela imaginação, tudo o que não puder ser variado sem que o objeto desapareça é uma essência.

A Fenomenologia, apesar de se situar como uma ciência rigorosa, não se acha descrita metodologicamente de forma prescritiva, o que levou Martin Heiddegger, discípulo de Husserl a escrever uma frase que ficou famosa: “compreender a Fenomenologia é apreender suas possibilidades”. Como a fenomenologia fez escola, alguns dos seus pesquisadores realizaram esforços de apresentação compreensiva do método. Bruyn, por exemplo, fez uma releitura do trabalho de Spigelberg, onde se identificam sete “passos” do método fenomenológico, a saber:

                                        “1. Investigar fenômenos particulares

2. Investigar essências gerais
3. Apreender as relações essenciais entre as essências
4. Observar os modos de aparecimento
5. Observar a constituição dos fenômenos na consciência
6. Suspender a crença na existência do fenômeno
7. Interpretar o significado do fenômeno. (BRUYN, 1970. p. 284)

Miles e Huberman (1994) tecem outra consideração metodológica sobre o trabalho dos fenomenologistas. Eles afirmam que os pesquisadores desta orientação freqüentemente trabalham com transcrições de entrevistas e que são cuidadosos na condensação deste material. Evitar-se-ia o uso de codificação, mas trabalhar-se-ia fazendo releituras continuadas nas fontes primárias com cuidados para com suas próprias pressuposições para capturar-se a essência (o lebenswelt do informante). Podemos adicionar que os discípulos da fenomenologia empregam outros métodos que não a leitura de entrevistas transcritas, utilizando também a observação participante.

Parece-nos que a fenomenologia tem seu lugar nas ciências humanas e sociais e que a tentativa de empregá-la como método de análise de objetos próprios das ciências naturais é infrutífero, posto que eles se acham despidos de intencionalidade ou de consciência de si. Neste campo a aparência estaria mais “próxima” das essências; os determinismos são mais patentes e, por tal, os métodos empírico-formais são mais produtivos, já que se focalizam na identificação de regularidades e conseqüente construção teórica, seja pela via da indução, seja pela do método hipotético-dedutivo.

Miles e Huberman situam a fenomenologia, a semiótica, o desconstrutivismo estético, a etnometodologia e a hermenêutica em uma única categoria de linhas de metodologia de pesquisa, denominada interpretativismo. Eles consideram que apesar de suas diferentes ênfases e variações, há uma linha comum de ação e compreensão.


O Que é Pesquisa Qualitativa?

Um bom número de autores entende a pesquisa qualitativa como sendo uma pesquisa cujas variáveis não podem ser mensuradas a nível intervalar ou de razão. PARASURAMAN (1986), por exemplo, define-se nesta linha:

“Pesquisa qualitativa envolve coletar, analisar e interpretar dados que não podem ser significativamente quantificados, isto é, sumarizados em forma de números. Por esta razão a pesquisa qualitativa é algumas vezes considerada como uma pesquisa soft.” (PARASURAMAN, 1986. p. 240)

Sampson leva esta concepção às suas conseqüências:

“A pesquisa qualitativa é usualmente exploratória ou diagnóstica. Ela envolve um número pequeno de pessoas que não estão amostradas em uma base probabilística. Elas podem, contudo, serem selecionadas para representar diferentes categorias de pessoas de um mercado-alvo ou segmento da comunidade. Em pesquisa qualitativa nenhuma tentativa é feita para obter conclusões rápidas e sólidas (hard)” (SAMPSON, 1991. p. 29)


Estas visões estão associadas à concepção empírico-formal de ciência. Outros autores defendem uma definição um tanto diferente de pesquisa qualitativa.

Kirk e Miller ampliam o conceito de pesquisa qualitativa dizendo que ele pode ser visto a partir de duas óticas: a ótica da “oposição à quantidade” e a da tradição das ciências sociais que “fundamentalmente dependem da observação de pessoas em seu próprio território e interagindo com elas em sua própria linguagem, em seus próprios termos”. Eles consideram a primeira definição limitada e se posicionam da seguinte forma:

“A partir da nossa visão pragmática, a pesquisa qualitativa implica em um comprometimento com atividades de campo. Não implica em um comprometimento com a “inumeração”. A pesquisa qualitativa é um fenômeno empírico, socialmente localizado, definido pela sua própria história, não apenas um “saco de gatos” que compreende todas as coisas que não são quantitativas.” (KIRK e MILLER, 1988. p. 10)

Eles adotam uma posição epistemológica interessante. Se por um lado não crêem que o mundo externo determina absolutamente a única e correta forma visão que se pode ter dele (positivismo) pelo outro lado criticam a posição oposta e extrema de que é possível encontrar explicações alternativas para tudo e com isto desistir de fazer qualquer esforço de escolha entre elas (relativismo). Recordam-nos de que há um outro lado da objetividade: a de que o mundo externo existe, apesar de tudo (realismo).

Posição semelhante é a de Miles e Huberman (1994) que se definem como “realistas transcendentais” por acreditarem que o fenômeno social não existe apenas na mente, mas também no mundo objetivo e que algumas relações estáveis podem ser encontradas entre eles.

Glazer e Strauss (1970) criticam a concepção empirista-formal da teoria científica, como a concepção de Sampson apresentada acima, e defendem que a pesquisa qualitativa não é uma preliminar da pesquisa quantitativa, mas que pode ser a base da formulação e descoberta de “teoria substantiva”. Os métodos clínicos têm sido a base de inúmeras teorias em Psicologia. A psicanálise e a epistemologia genética de Jean Piaget são exemplos de teorias que se tornaram globalmente difundidas. Nas ciências sociais, a etnometodologia e o interacionismo simbólico têm sido construídos a partir dos métodos qualitativos, quase que exclusivamente.

Em um outro extremo temos a definição de um cientista social, Cicourel (1969), que seria considerado relativista por Miles e Huberman, já que ele considera semelhantes o dogma religioso e a ciência, considerando-os ao mesmo tempo como corpos de conhecimento e ideologias, já que ambos possuem “seus próprios pressupostos teóricos, métodos e regras para admitir proposições para o seu respectivo corpo de conhecimento”. Ele entende que “o mundo dos “observáveis” não está simplesmente “lá fora” para ser descrito e medido com os sistemas de mensuração da ciência moderna, mas o curso dos eventos históricos e das ideologias de uma dada era pode influenciar o que está “lá fora” e como estes objetos e eventos devem ser percebidos, avaliados, descritos e medidos”. (CICOUREL, 1969. p. 38). Com base nesta perspectiva, ele evita a análise de métodos pela via da distinção entre sistemas científicos e metafísicos, ou se representam ideologias particulares, mas considera-os todos como meios de obter conhecimento sobre o mundo social.

Ely et al. (1996) também definem a pesquisa qualitativa de uma perspectiva diferente, que não pode ser considerada relativista como a de Cicourel, mas fenomenológica. Estas autoras consideram pouco compreensivo definir o termo “pesquisa qualitativa”, sendo melhor analisar características comuns de seus métodos. Elas identificam cinco características que consideram comuns a todo tipo de pesquisa qualitativa:

“1. Os eventos só podem ser entendidos adequadamente se eles são vistos no contexto. Por isto, o pesquisador qualitativo imerge-se no “setting”.
2. Os contextos de questionamento não são planejados, eles são naturais. Nada é predefinido ou suposto.
3. Os pesquisadores qualitativos querem que aqueles que são estudados falem por si mesmos, para que forneçam suas perspectivas em palavras e outras ações.  Conseqüentemente, a pesquisa qualitativa é um processo interativo no qual as pessoas estudadas ensinam ao pesquisador sobre suas vidas.
4. Os pesquisadores qualitativos presenciam a experiência como um todo, não como variáveis separadas. O objetivo da pesquisa qualitativa é compreender a experiência de forma global².
5. Os métodos qualitativos são apropriados às afirmações acima. Não há um método geral.
6. Para muitos pesquisadores qualitativos, o processo em seu curso fornece uma avaliação do que foi estudado”. (ELY et al., 1996. p. 4)

As autoras sintetizam bem em seu texto as diretrizes interpretacionistas para a pesquisa qualitativa, mas certamente não compreendem com elas o tipo de investigação realizado por cientistas como Parasuraman. Isto nos conduz às considerações finais deste despretensioso trabalho.

¹ ZILLES (1994) mostra a distinção que o pensador austríaco faz entre o transcendental e o transcendente. Enquanto o primeiro é fruto da consciência, o último termo é empregado referindo-se ao mundo exterior.

² “..to understand experience as unified.”

Não foi difícil mostrar que em meio aos chamados cientistas humanos e sociais, incluindo-se aí os que laboram no campo da administração, há uma multiplicidade de concepções de ciência. Selecionamos duas orientações, seguindo a proposta de Zilles, que designamos como “matrizes”, posto que não se trata de aplicar um método para uma disciplina (como a física) e outro para outra (como a medicina). Trata-se de entender que mesmo dentro de uma dada disciplina, especialmente aquelas cujo objeto se acha em clara interação com o homem e sua cultura, é-se passível de aplicar métodos de pesquisa qualitativa com bases fenomenológico-hermenêuticas ou com bases empírico-formais.

Geralmente, quando se usa o conceito “pesquisa qualitativa” está se dizendo “pesquisa não-quantitativa”, ou seja, que por algum motivo não construiu suas conclusões a partir da análise matemática das suas variáveis, que por sua vez não foram mensuradas a nível intervalar ou de razão. Sempre que se define assim, está se dizendo que se aceita a matriz empírico-formal como referência epistemológica (única) para a construção do conhecimento, que se está procedendo segundo as suas prescrições metodológicas mas que se reconhece uma limitação da pesquisa: seja o desconhecimento teórico do fenômeno específico (ausência de variáveis conhecidas) que demanda uma pesquisa exploratória, seja a desconfiança da capacidade de um modelo teórico aceito explicar corretamente um fenômeno, seja a impossibilidade de se mensurar um número significativo de variáveis a nível nominal, tudo isto justificaria o emprego da pesquisa qualitativa como uma préetapa ou uma etapa confirmatória do desenvolvimento teórico (uma teoria de regularidades).

Considerando-se a matriz hermenêutico-fenomenológica, entretanto, o termo pesquisa qualitativa assume uma dimensão totalmente diferente diante da construção teórica. Aqui se parte da crítica da metodologia empírico-formal como incapaz de construir teorias válidas, especialmente com relação a fenômenos que pressupõe a subjetividade ou ação subjetiva e intencional dos atores sociais. Neste cenário, não se buscam regularidades, mas sim a compreensão das opções dos agentes, daquilo que os levou singularmente a agir como agiram. Só é possível esta empreitada ouvindo os sujeitos a partir de sua lógica e exposição de razões. Quando muito, pode-se identificar crenças compartilhadas mais ou menos por grupos sociais, ou seja, cultura, sem pressupor que ela seja uma categoria estática no tempo e no espaço, mas uma categoria analítica em permanente transformação. Desta forma, a análise da linguagem (ou análise do discurso) parece ser mais produtiva que a análise matemática.

Na matriz empírico-formal, tem-se a análise a partir de objetos, mesmo que estes sejam produções ideológicas de uma pessoa ou grupo social. Isto leva seus críticos a atentarem para o fenômeno da reificação, que neste sentido seria a transformação em objeto daquilo que não o é.

Na matriz fenomenológico-hermenêutica tem-se a análise a partir da percepção do sentido das produções do sujeito, em busca de essências e de compreensão, através da intersubjetividade, o que leva seus críticos a atentarem para o fenômeno da subjetividade, no sentido de uma certa arbitrariedade do pesquisador na construção de suas teorias, assim como de uma dificuldade de verificação ou falsificação destas.

Entendemos que os dois métodos produzem conhecimento, mas cabe ao pesquisador senso crítico e clareza sobre seus objetos e objetivos, assim como a explicitação suficiente das matrizes epistemológicas que estão em uso a fim de não se perder em sua pesquisa e se fazer compreendido por seus pares. Concluímos também que a medida em que objetividade e subjetividade se entrecruzam no objeto de pesquisa, torna-se mais complexo fazer escolhas metodológicas.

Fontes Bibliográficas

BACON, Francis. Novum organum ou verdadeiras indicações acerca da interpretação da natureza. São Paulo: Nova Cultural, 1988. [Coleção “Os Pensadores”]
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Destaques


“…a pesquisa qualitativa não é uma pesquisa para a qual não se teve fôlego para estudar um número suficiente de eventos que permitam generalização, nem está às voltas com um tipo de objeto que permite apenas uma mensuração não-métrica e muito menos é uma abordagem menor da ciência porque não consegue estabelecer com fundamento leis que estabelecem relações determinantes ou probabilísticas entre eventos. Trata-se de um tipo de pesquisa própria para a análise em profundidade de fenômenos onde se pressupõe, ou se busca entender melhor, a singularidade ou a subjetividade.”

A idéia que o conhecimento científico é um tipo de conhecimento verdadeiro, e que a aplicação da metodologia científica conduz à obtenção da verdade, é um mito de difícil sustentação se o leitor se dispuser a analisar atentamente os pressupostos sobre os quais se constrói uma dada teoria epistemológica.

Grosso modo, temos então uma noção de ciência, que seria um método de produção de conhecimento verificável e acumulável, que estabelece nexos de causalidade entre fenômenos, a partir da observação sistemática e experimentação de fenômenos naturais com a finalidade de identificarem-se, por generalização, regularidades (leis) passíveis de descrição matemática.

Este problema não é diferente nas ciências administrativas, posto que têm por objeto as organizações de trabalho constituídas por seres humanos. Se por um lado é possível estabelecer regularidades que parecem ser universais às relações de troca (lei de oferta e procura nas ciências econômicas), da mesma forma temos as organizações com suas singularidades (os transplantes de modelos administrativos, por exemplo), gerando outputs diferentes daqueles que seriam esperados por um certo modelo administrativo.

Neste cenário, não se buscam regularidades, mas sim a compreensão das opções dos agentes, daquilo que os levou singularmente a agir como agiram. Só é possível esta empreitada ouvindo os sujeitos a partir de sua lógica e exposição de razões. Quando muito, pode-se identificar crenças compartilhadas mais ou menos por grupos sociais, ou seja, cultura, sem pressupor que ela seja uma categoria estática no tempo e no espaço, mas uma categoria analítica em permanente transformação.

A Pesquisa Qualitativa Entre a Fenomenologia e o Empirismo-Formal

Jáder dos Reis Sampaio

Professor assistente da Universidade Federal de Minas Gerais. Psicólogo formado pela UFMG, Especialista em Psicologia do Trabalho pela Universidade de Brasília – UnB, Mestre em Administração pela UFMG e Doutorando em Administração pela Universidade de São Paulo – USP.

Artigo publicado originalmente na Revista de Administração da Universidade de São Paulo

[SAMPAIO, Jáder dos Reis. A pesquisa qualitativa entre a fenomenologia e o empirismo formal.  Revista de Administração. São Paulo, v. 36, n. 2, p.16-24, abr/jun 2001.]

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