por Nubor Orlando Facure.
Quando reencarnamos, o Espírito traz para essa nova vida compromissos firmados com sua redenção.
Haverá o resgate de prejuízos que seus enganos e ilusões lhe permitiram causar ao próximo ou a si mesmo.
Esse Espírito que reencarna não disporá de total liberdade para agir e usufruir.
É como um barco lançado ao mar: ele será submetido às diversas forças da Natureza, desafiando a resistência da sua engenharia.
Seus débitos anteriores restringirão provisoriamente seu patrimônio intelectual e físico.
Encarnado, usufruindo de um novo corpo, esse Espírito estará prisioneiro de vários fatores que cerceiam sua liberdade, restringem sua vontade, reduzem suas ações e impõem comportamentos imprevistos.
Podemos analisar, de passagem, alguns fatores que, dentro da fisiologia do nosso corpo, direcionam os nossos comportamentos, impondo ao Espírito disciplina e vigilância.
É como um peão que, cavalgando um corcel bravo, não pode afrouxar as rédeas. O animal tem vontade própria, é voluntarioso e rebelde.
Assim é nosso cérebro.
A título de estudo, podemos rever alguns fenômenos físicos e orgânicos que atuam de maneira autônoma em nossos comportamentos.
1 – A organização das redes neurais
Primeiro conceito importante:
Existem áreas de localização funcional.
Inicialmente, descobriu-se que existem no cérebro áreas regionais que localizam determinadas funções.
A primeira delas foi a expressão da fala, na região frontal esquerda.
A seguir, multiplicaram-se as regiões comprometidas com inúmeras funções:
a compreensão da linguagem, a visão, a audição, os movimentos voluntários, as sensações de tato, dor e temperatura, os gestos automáticos, o planejamento executivo, a percepção do erro, a sensação de nojo e, com enorme repercussão comportamental, o sistema límbico, que controla nossas emoções.
Segundo conceito:
As diversas áreas funcionais são interligadas por vias de associação, criando os sistemas funcionais.
Esses sistemas permitem que o cérebro, ao perder determinada área, comprometendo uma função, possa redirecionar áreas associadas para suprir essa deficiência.
Um bom exemplo para compreendermos a atuação dos sistemas funcionais pode ser visto num jogador de tênis que vai rebater uma bola jogada pelo adversário.
Seu cérebro mobiliza de pronto, e de maneira inconsciente, as seguintes regiões:
Córtex visual: identifica o tamanho, a direção e a velocidade da bola.
Córtex pré-motor: desenvolve um programa motor para rebater a bola.
Amígdala: ajusta a frequência cardíaca e a respiração.
Hipotálamo: cria motivação para o jogador rebater a bola.
Córtex motor: envia sinais pela medula espinhal que ativam os músculos responsáveis pela resposta.
Núcleos da base: constroem padrões motores, evocam gestos já aprendidos e produzem movimentos automáticos adequados ao golpe.
Cerebelo: faz o ajuste fino dos movimentos a partir de informações proprioceptivas dos membros e do tronco.
Córtex parietal posterior: fornece ao jogador a percepção de onde seu corpo e seu braço estão posicionados no espaço.
Tronco cerebral: mantém frequência cardíaca, respiração e estado de alerta com a atenção fixa no objetivo.
Hipocampo: memoriza a jogada para depois registrar os detalhes da vitória.
Terceiro conceito:
Os processos mentais são produtos de interações entre as unidades elementares (redes neurais), unidas pelas fibras de associação, realizando o processamento do encéfalo.
A simples visão da aproximação de um amigo ou de um desafeto provoca um turbilhão de pensamentos, reações emocionais e comportamentos de aproximação ou aversão.
2 – Os genes e suas expressões comportamentais
A relação entre genética e comportamentos ficou demonstrada de maneira graciosa na sala das moscas, estudando a drosófila.
Foram relacionados a genes os ritmos circadianos, a dança do macho e até mesmo o som que ele emite para conquistar a fêmea.
O exemplo do arganaz do campo e dos montes é ainda mais didático.
Por uma simples variação genética, enquanto um é monogâmico e participa dos cuidados familiares, o outro é promíscuo e displicente com os filhotes.
No ser humano, diversas doenças genéticas — como o autismo, o TDAH, a síndrome de Williams e a doença de Huntington — apresentam variações na linguagem, na atividade motora, na inteligência e na memória, confirmando nítida relação com o padrão dos genes.
3 – A glândula pineal
Até a adolescência, a pineal exerce um bloqueio na sexualidade, mantendo a produção hormonal e a libido adormecidas.
Depois, ela recapitula a experiência sexual acumulada na evolução humana e traz de volta ao presente o “inventário de paixões” que escrevemos em outras vidas.
Somos altamente comprometidos com os desequilíbrios libidinosos e desvios passionais, nos quais nos iludimos postulando nossa inocência:
— o crime do aborto, eliminando Almas que buscavam reconciliação conosco;
— a fuga da responsabilidade pelo filho que ajudamos a gerar, agravando o mundo com mães solteiras.
Todo esse texto é trazido de volta quando a pineal retoma suas funções psíquicas/espirituais.
4 – O subconsciente ou nosso psiquismo inconsciente
A neurologia tem mostrado que a maior parcela das nossas decisões — profissionais, alimentares, de vestuário, de leitura, de trajeto e muitas outras — se processa no nível inconsciente.
Está documentado que o cérebro faz suas escolhas um pouco antes de nossa consciência as detectar, confirmando sua atuação no nível subconsciente.
5 – A química do cérebro
O número de neurotransmissores reconhecidos hoje já chega a centenas.
Mas alguns deles são muito conhecidos pelos comportamentos que desencadeiam:
Dopamina — prazer
Serotonina — felicidade
Ocitocina — vínculo afetivo
Noradrenalina — estado de alerta
Melatonina — sono e ritmo circadiano
GABA — inibição dos impulsos neurais
Glutamato — excitação da transmissão neural
Lição de casa
A sobrevivência humana esteve ligada diretamente à sua capacidade de dominar as forças da Natureza que o cercam.
O meio em que estamos inseridos atua fortemente em nossa organização física e psíquica.
Hoje está muito claro que a evolução humana depende muito da capacidade do homem de lidar com desafios das forças internas que programam sua submissão.
Nesse sentido, o Espírito aprenderá a distinguir o custo e o benefício de cada escolha que faz.

