por Nubor Orlando Facure.
Dona Rosa me avisa que o filho, de 19 anos, vem consultar.
No telefone, percebi seu estado de preocupação.
Leandro está sem emprego, gasta sua mesada com tatuagens e drogas, pedindo insistentemente para que a mãe o deixe morar sozinho.
Há meses não toma mais sua medicação.
Dona Rosa foi abandonada pelo esposo quando Leandro entrou na adolescência.
Quase sempre é a mulher, a mãe, que assume sozinha esse nível de envolvimento no cuidado com o filho.
Hoje, ainda sozinha, corre atrás de faxinas para seu sustento.
Não tem forças mais para controlar esse filho.
Veio, então, nos pedir ajuda.
×××××××××××××××××××
Pelo Messenger, dona Cármen posta o retrato da filha na cadeira de rodas.
Está há algum tempo sem fazer fisioterapia, por dificuldades com o convênio.
As retrações musculares pioraram muito.
A Medicina tem os recursos terapêuticos, mas são muitas as dificuldades burocráticas para o acesso a eles.
×××××××××××××××××××
O pai de Diogo descobriu, entre seus cadernos, um pacotinho de maconha.
O menino, com 16 anos, está piorando muito suas notas na escola.
Ele está irritado, não frequenta mais os aniversários dos priminhos, afastou-se de todos.
Levanta à noite para comer o que achar na geladeira e chama a atenção pela quantidade abusiva de água que está tomando.
Sem dúvida, está abusando dessa droga — prática que está longe de ser inocente.
×××××××××××××××××××
A avó do Tiago acorda assustada com um telefonema.
O menino, de 17 anos, tem demorado para chegar à noite em casa.
Os pais são separados, e dona Consuelo, a avó dedicada, vem criando o moço a duras penas.
O telefonema dessa noite foi o pior que podia ter acontecido para a velha senhora:
Tiago foi preso com traficantes, quando foi comprar drogas.
×××××××××××××××××××
Marcela tem 9 anos e nunca se conseguiu controlar suas convulsões.
Agora está na UTI, já pela quinta vez.
O remédio novo, que foi iniciado com tanta esperança, provocou uma alergia quase mortal, fazendo o tratamento voltar à estaca zero.
A epilepsia infantil é uma patologia complexa, relacionada com graves desarranjos no cérebro.
E uma boa parte dessas crianças nunca consegue o controle das crises.
A evolução da medicina, com certeza, trará a solução.
×××××××××××××××××××
Seu Arnaldo cuida, dia e noite, da esposa que está com Alzheimer.
Ele conta que, apesar dos seus esforços em estimular a esposa, ela, no dia seguinte — segundo ele — parece que não amanhece.
Não sabe mais quem é.
Conta com as auxiliares, que se revezam nos plantões.
São mil e uma necessidades:
Os horários dos remédios seguidos à risca,
As dificuldades com o banho,
A troca de fraldas,
A dieta que tem de ser pastosa.
Qualquer descuido com a alimentação acarreta vômitos ou prende o intestino.
Bastou infeccionar a urina, ela reagudiza os delírios, falando impropérios e fazendo acusações.
O maior drama nesses quadros é que ele não tem prazo de validade.
Pode perdurar por anos a fio.
×××××××××××××××××××
Ricardinho, com 9 anos, já foi expulso de três escolas.
Dona Leda escuta pacientemente a opinião dos familiares:
— Esse menino precisa de couro.
— A mãe não sabe impor limites.
— É preciso tirar dele o celular.
Nas consultas, os médicos falam em TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade) e TOD (Transtorno Opositor Desafiante).
Dona Leda tem de se virar com essas siglas.
E o pior é que o pai vive criticando a quantidade de remédio que esses médicos prescrevem.
×××××××××××××××××××××
Lição de casa:
Há enorme rede de aflições à nossa volta.
Geralmente, não nos damos conta da sua existência.
Agradeça a Deus quando, no seu mundo pessoal, houver saúde, momentos de felicidade e uma família acolhedora.
A gente não se dá conta de que a vida é feita de trilhos — e precisamos nos cuidar para não descarrilar.