por Joel Matias
CAPITULO VI
URANOGRAFIA GERAL
(Capítulo extraído das comunicações do espírito de Galileu através do médium Camile Flamarion- 1.862/3.)
O espaço e o tempo
‘O espaço é infinito’. Nossa razão se recusaria a aceitar um limite no espaço além do qual nada existisse. Mais lógico se nos afigura avançar em pensamento eternamente pelo espaço. Entretanto, mesmo que o fizéssemos por séculos a fio, em qualquer direção, na realidade nem um passo estaríamos avançando.
‘O tempo é apenas uma medida relativa da sucessão das coisas transitórias; a ETERNIDADE não é suscetível de medida alguma, do ponto de vista da duração; para ela, não há começo nem fim: tudo lhe é presente.’ Imaginemos, no início da Gênese da Terra, a primeira hora, a primeira tarde e manhã; Depois, o último dia do mundo. Neste período ocorreu a sucessão dos eventos; Com a última hora cessam os movimentos terrestres que mediam o tempo e este acaba com eles. Cada mundo na vasta amplidão conta seu tempo próprio, incompatível com os outros mundos. Fora deles, somente a Eternidade enche tranquilamente com sua luz imóvel a imensidade sem limite dos céus.
A matéria
A matéria se nos apresenta em diversas formas e propriedades. A Química demonstrou que os elementos terrestres são compostos de variadas substâncias, combinadas ao infinito, que podem ser decompostos atingindo os princípios denominados corpos simples como o oxigênio, hidrogênio, azoto, cloro, carbono, fósforo, enxofre, iodo (não metálicos), e ouro, prata, platina, mercúrio, chumbo, estanho, zinco, ferro, cobre, sódio, potássio, etc. entre os metálicos.
Sendo ilimitado o número de forças que agem sobre a transformação da matéria, também variadas e ilimitadas são suas combinações. Entretanto, todos os corpos ponderáveis assim como os fluídos (imponderáveis) originam-se de uma única substância primitiva: o COSMO (fluído cósmico universal).
As leis e as forças
O fluído etéreo primitivo enche o espaço, penetra todos os corpos, sendo-lhe inerentes as múltiplas forças, eternas e universais, que agem sobre a matéria por ele gerada, como a gravidade, coesão, afinidade, atração, magnetismo, eletricidade ativa. Seus movimentos vibratórios manifestam-se como som, calor, luz, etc. que variam seus efeitos de conformidade com o meio em que agem.
Todas estas forças, modificando suas ações com a finalidade de gerenciar os ciclos do mundo e da Natureza, dependem de uma lei universal – também diversificada em seus efeitos – destinada a imprimir harmonia e estabilidade à criação. O universo se caracteriza pela unidade-variedade. Em todos os mundos encontra-se a unidade de harmonia e de criação, junto a uma variedade infinita. Observa-se a Lei de continuidade em toda a escala da criação. A lei universal é a resultante e a geratriz de todas as forças que agem sobre o universo. A gravitação e a eletricidade são exemplos de aplicação da lei primordial, que impera por todo o cosmo.
A criação primária
DEUS existe desde toda a eternidade. Como não se pode imaginá-lo inativo ou infecundo em qualquer momento, deduz-se que criou desde toda a eternidade. O começo absoluto de todas as coisas remonta ao Criador. O Universo nasceu criança. Inicialmente o fluído cósmico fez nascer aglomerações, turbilhões de matéria nebulosa, que modificadas ao infinito, deram origem, em todas as regiões do cosmo, aos diversos centros de criações simultâneas ou sucessivas. Destes centros, alguns em menor número e mais ricos em princípios e forças atuantes, logo iniciaram sua vida astral própria. Outros, cresceram lentamente ou se subdividiram.
Devemos nos conscientizar de que atrás de nós como à nossa frente está a Eternidade. O espaço ‘é teatro de inimaginável sucessão e simultaneidade de criações’. As nebulosas podem ser aglomerados de astros em via de formação, vias-lácteas de mundos habitados ou sedes de catástrofes e destruição.
A criação universal
A matéria cósmica primitiva, além de estar revestida das leis que asseguram a estabilidade dos mundos, contém também o fluído vital que forma as gerações espontâneas nos mundos, tão logo desenvolvam as condições necessárias ao surgimento da vida.
Faz parte da criação o mundo espiritual. Quanto à criação dos espíritos revela-nos Galileu: ‘O espírito não chega a receber a iluminação divina, que lhe dá, simultaneamente com o livre-arbítrio e a consciência, a noção de seus altos destinos, sem haver passado pela série divinamente fatal dos seres inferiores, entre os quais se elabora lentamente a obra da sua individualização’.
Os sóis e os planetas
Condensando-se a matéria cósmica em forma de nebulosa, animada das leis universais que regem a matéria, adquiriu a forma de esferoide. A gravitação de todas as zonas moleculares em direção ao centro produziu o movimento circular, modificando a esfera até atingir a forma lenticular. Surgiram as forças centrípeta e centrífuga. Predominando a força centrífuga, ocorreu desligamento de parte da massa da nebulosa, formando um anel do qual resultou nova massa esferoide que passou a executar movimento de translação em torno da massa central, além de rotação em torno do próprio centro.
Condensando-se paulatinamente a massa geratriz, retomou a forma esférica. Devido ao extremo calor desenvolvido por seus movimentos, muitas massas tornaram a se destacar, formando centenas de sóis, que pelo mesmo processo geraram os planetas que gravitam ao seu redor. Cada planeta recebeu uma vida particular, embora dependente do astro que o gerou.
Os satélites
Da região equatorial (onde maior é a força centrífuga) de algumas das massas planetárias, antes destas solidificarem-se por efeito do resfriamento, ocorreu o desprendimento de massas menores, passando a girar em torno de seu planeta de origem. No caso específico da Lua, as leis e a força que presidiram seu nascimento lhe imprimiram a forma ovoide, fazendo com que as partes mais densas se concentrassem no lado voltado para a Terra; o centro de gravidade, deslocado para a parte inferior, faz com que a Lua apresente sempre a mesma face à Terra. Quanto a Saturno, desprenderam-se-lhe moléculas homogêneas, com igual densidade, o que resultou em seu anel.
Os cometas
São astros errantes resultantes da aplicação pela Natureza da Lei de Variedade, destinados a explorar os impérios solares. Durante seu caminho enriquecem-se, às vezes, de fragmentos planetários reduzidos ao estado de vapor, absorvendo assim ‘os princípios vivificantes e renovadores que derramam sobre os mundos terrestres’. Possuem movimentos combinados, percorrendo órbita elíptica de muitos milhares de km. em seu perigeu, passando a parabólica em seu apogeu, quando em tempo igual, percorrem apenas alguns metros.
A Via-Láctea
De aparência leitosa, esbranquiçada a olho nu, que atravessa o céu de uma extremidade a outra, quando observada através do telescópio demonstra tratar-se, em lugar de fraca luminosidade, de milhões de sóis, mais luminosos do que o sol de nosso sistema planetário. São também mais importantes, pois servem como habitação de seres em maior grau de inteligência e elevação moral relativamente ao nosso sistema.
A Via-Láctea se nos parece mais vasta e rica que as outras, é porque, fazendo parte dela, nos cerca e se desenvolve sob nossos olhares. Representa, porém, nada mais do que ‘um ponto insensível e inapreciável, vista de longe, porquanto ela não é mais do que uma nebulosa estelar, entre os milhões das que existem no espaço’. Neste contexto pode-se compreender a insignificância de nosso globo terrestre.
As estrelas fixas
Assim como nosso sol avança pelo espaço em companhia de outros sóis da mesma ordem, arrastando consigo seu vasto sistema de planetas, satélites e cometas, todos gravitando em torno de um sol central, também as estrelas chamadas ?fixas? estão sujeitas às leis universais de gravitação; movem-se segundo órbitas fechadas cujo centro um astro superior ocupa. A distância em que se situam da Terra e a perspectiva sob a qual são observadas, causam a ilusão de que estão fixas no firmamento.
Todos os sóis que compõem a Via-Láctea são solidários e obedecem a uma hierarquia, subordinados uns aos outros, ‘como rodas gigantescas de uma engrenagem imensa’.
Cada sol está em sua maioria cercado de muitos planetas, iluminados e fecundados segundo as mesmas leis que comandam nosso sistema. Alguns tem dimensões e importância milhares de vezes superiores ao nosso. Outros formam sistemas binários ou ternários, iluminando os seus mundos com fachos duplos ou triplos, criando condições de existência acima de nossa imaginação. Outros ainda são privados de planetas, porém com condições privilegiadas de habitabilidade. ‘Na sua imensidade, as leis da Natureza se diversificam e, se a unidade é a grande expressão do Universo, a variedade infinita é igualmente seu eterno atributo’.
Os desertos do espaço
A nebulosa de que fazemos parte é como uma ?ilha no arquipélago do infinito?. Cada nebulosa encontra-se afastada das outras, todas envolvidas por um deserto sideral de extensão inimaginável. Tal é a distância que as separa que receberam o nome de nebulosas irresolúveis, por parecerem nuvens de poeira cósmica. ‘Lá se revelam e desdobram novos mundos, cujas condições variadas e diversas das que são peculiares ao vosso globo lhes dão uma vida que as vossas concepções não podem imaginar nem vossos estudos comprovar’.
Eterna sucessão dos mundos
Uma única lei, primordial e geral foi outorgada ao Universo e lhe assegura a harmonia, estabilidade e eternidade. Manifesta-se pelas diversas forças que impulsionam a escala da criação, primeiramente como centro fluídico dos movimentos, como geradora dos mundos e depois como ‘núcleo central de atração das esferas que lhe nasceram do seio’. As mesmas leis geradoras dos mundos presidem sua destruição quando neles se extingue a vida. Desagregados, os elementos constitutivos serão assimilados por outros corpos, renovando ainda outras criações de diferente natureza, garantindo assim a ‘eternidade real e efetiva do Universo’. Muitas das estrelas que contemplamos poderão não mais existir atualmente, pois, em virtude da imensa distância relativa à Terra, poderemos estar recebendo raios de luz emitidos há milhares de anos após sua destruição.
Não temos condições, mesmo em pensamento, de avaliar a imensidade e eternidade do universo. Após havermos percorrido os diversos degraus da hierarquia cosmológica, por incontáveis séculos, ‘teremos diante de nós a sucessão ilimitada dos mundos e por perspectiva a eternidade imóvel’.
A vida universal
A universalidade de astros que circulam no cosmos serve de base a uma mesma família humana e solidária, sujeita à lei da Fraternidade Universal. ‘Se os astros que se harmonizam em seus vastos sistemas são habitados por inteligências, não o são por seres desconhecidos uns dos outros, mas, ao contrário, por seres que trazem marcado na fronte o mesmo destino, que se hão de encontrar temporariamente, segundo suas funções de vida, e encontrar de novo, segundo suas mútuas simpatias’.
Diversidade dos mundos
Observando a Natureza terrestre podemos constatar a infinita variedade de produções, muito embora a unicidade em sua harmonia geral. Assim como nenhum rosto humano é igual a outro, também uma infinita diversidade ocorre pela imensidão de mundos que vogam pelo espaço, de acordo com as variadas condições e finalidades específicas que a cada um coube no cenário cósmico.
Não nos iludamos, pensando que os sistemas planetários sejam todos iguais ao nosso.
Fonte: BOLETIM GEAE | ANO 10 | NÚMERO 429 | FEVEREIRO DE 2002