por Raul Franzolin
A história espírita deve ser preservada como marco do advindo da nova era espiritual do planeta.
No período de 11 a 18 de agosto de 2024, visitei a Biblioteca de Obras Raras da Federação Espírita Brasileira com sede em Brasília-DF. Ela mantém um grande acervo de obras – ao redor de 12 mil – de ampla diversidade de temas, envolvendo as áreas de espiritismo, espiritualismo, filosofia, religião, história e outras afins.
Muitos livros foram doados por espíritas do mundo todo. Escavando em suas prateleiras, identificamos obras espíritas raras como as primeiras edições de vários livros psicografados por Francisco Candido Xavier, simplesmente aclamado com simplicidade de “Chico Xavier” como ele sempre foi; exemplo de humildade, bondade e dedicação ao trabalho no bem comum, trilhando pelo caminho da caridade para com todos.
A sua primeira obra psicografada — Parnaso de Além-túmulo — foi publicada em 1932, como um pequeno livro 13 x 18 cm, fininho com 156 páginas, com capa dura em verde. A publicação foi feita pela Livraria da Federação Espírita Brasileira, com sede no Rio de Janeiro.
A abertura vem com “A Guisa de Prefácio” escrito por Manoel Quintão, o qual foi presidente da FEB em 1915, 1918-1920 e 1929. Na página 11, Quintão faz uma abordagem sobre o impressionante médium, demonstrando a surpresa do impacto que o livro iria despertar no meio acadêmico literário.
“… Mas, perguntarão: – quem é Francisco Candido Xavier? Será um rapaz culto, um bacharel formado, um acadêmico, um rotulado desses que por aí vão felicitando a Família, a Pátria e a Humanidade?
Nada disso.
O médium polígrafo Xavier é um rapaz de 21 anos, um quase adolescente, nascido ali assim em Pedro Leopoldo, pequenino rincão do Estado de Minas. Filho de pais pobres, não pode ir além do curso primário dessa pedagogia incipiente e rotineira, que faz do mestre-escola, em tese, um galopim eleitoral e não vai, também em tese, muito além das quatro operações e de leitura corrida, com borrifos de catecismo católico, de contrapeso…”
Ao prefácio, segue-se uma autobiografia do médium: “Palavras Minhas”. Ele descreve as dificuldades e sofrimentos que passou na vida em ambiente pobre ao se tornar órfão de mãe aos cinco anos. Demonstra um Espírito aguçado para o estudo, incluindo a literatura. Entretanto ele diz: — Mas, estudar como? Faltou-lhe oportunidades desejáveis naquele tempo. O ambiente vivido era o puro catolicismo. Tudo mudou quando em 1927 sua irmã foi acometida por uma terrível obsessão. A ajuda do eminente espírita Sr. José Herminio Peracio foi decisiva para o seu apostolado espírita. Funda-se um grupo de estudos, e nas reuniões, sua mediunidade psicográfica aflorou. No entanto, mensagens fúteis desestimularam os participantes e, depois de dois anos, apenas um grupo de quatro a cinco pessoas persistiu.
Ao longo da obra expõem-se vários poetas brasileiros e portugueses desencarnados que ditam poemas de magistral literatura aclamada por especialistas acadêmicos. Mas chico diz: — Serão das personalidades que as assinam? Ele diz não poder confirmar, entretanto, o que pode ser definitivamente afirmado, segundo ele, é que, em consciência, os poemas não são dele, pois não desprendeu qualquer esforço intelectual para grafá-los no papel. Em outro trecho ressalta outro ponto interessante: — Nunca evoquei ninguém.
A obra se encerra com um poema de João de Deus, cujo título nada mais é do que o próprio título do livro: Parnaso D’Alem Tumulo.
O mundo espiritual que acompanha a evolução da Terra é ávido em sabedoria. Não poderia ter sido melhor iniciar uma jornada de intercâmbio altamente produtiva e relevante do que como uma exposição literária de tão alta expressividade repleta de diversidade de forma e de fundo pelas mãos de um jovem pobre, sem estudos estando numa posição e época rudimentares de meios tecnológicos.
A partir de Parnaso de Além-túmulo seguiu-se uma coleção de obras e literatura geral (cartas, mensagens etc.) jamais produzida por meio da psicografia. Foram mais de 450 livros publicados durante sua vida de mais de 70 anos de mediunidade.
Vamos conhecer as capas e a primeira página da primeiras edições de alguns livros de Chico Xavier publicados pela Federação Espírita Brasileira (FEB) em ordem cronológica de publicação.
Gratificante e emocionante foi deparar com várias obras contendo dedicatórias com a assinatura de Chico Xavier ao seu amigo Wantuil.
Deixo aqui meus agradecimentos à Federação Espírita Brasileira em nome do seu presidente Jorge Godinho e da amiga Marta Antunes e demais membros da diretoria pela carinhosa acolhida durante minha visita deixando a casa aberta para a visitação e meu trabalho de pesquisa na Biblioteca de Obras Raras enquanto estive hospedado nos apartamentos sociais da sua sede. Estendo meus agradecimentos sinceros aos funcionários de vários setores, especialmente ao Valter Dias (livraria) e Maria do Carmo (Biblioteca) que me auxiliaram nesse trabalho. Que Deus possa sempre guiar nossos passos na causa do bem maior!
Brasil coração do mundo pátria do evangelho
Espírito: Humberto de Campos
1ª edição: 1938
A caminho da luz
Espírito: Emmanuel
1ª edição: 1939
Boa nova
Espírito: Humberto de Campos
1ª edição: 1941
Cartilha da natureza
Espírito: Casimiro Cunha
1ª edição: 1944
Os mensageiros
Espírito: André Luiz
1ª edição: 1944
Missionários da luz
Espírito: André Luiz
1ª edição: 1945
No mundo maior
Espírito: André Luiz
1ª edição: 1947
Tiragem: 15.000
Roteiro
Espírito: Emmanuel
1ª edição: 1952
Tiragem: 10.128
Nos domínios da mediunidade
Espírito: André Luiz
1ª edição: 1955
Tiragem: 15.000
Fonte viva
Espírito: Emmanuel
1ª edição: 1956
Tiragem: 11.000
Instruções psicofônicas
Espírito: vários espíritos – grupo “Meimei”
1ª edição: 1956
Tiragem: 15.000
Ação e reação
Espírito: André Luiz
1ª edição: 1957
Tiragem: 15.044
Contos e apólogos
Espírito: Irmão X
1ª edição: 1958
Tiragem: 10.000
Religião dos espíritos
Espírito: Emmanuel
1ª edição: 1960
Tiragem: 10.074
Seara dos médiuns
Espírito: Emmanuel
1ª edição: 1961
Tiragem: 20.000
Espírito da verdade
Espírito: Autores diversos
1ª edição: 1961
Almas em desfile
Espírito: Hilário Silva
1ª edição: 1961
Tiragem: 15.000
Antologia dos imortais
Espírito: Poetas diversos
1ª edição: 1963
Tiragem: 10.000
Sexo e destino
Espírito: André Luiz
1ª edição: 1963
Tiragem: 15.000
Palavras de vida eterna
Espírito: Emmanuel
1ª edição: 1964
Tiragem: 15.000
Contos desta e doutra vida
Espírito: Irmão X
1ª edição: 1964
Tiragem:
Trovadores do além
Antologia
1ª edição: 1965
Tiragem: 5.000
Cartas e crônicas
Espírito: Irmão X
1ª edição: 1966
Encontro marcado
Espírito: Emmanuel
1ª edição: 1967
Tiragem: 5.028
Trovas do outro mundo
Espírito: Trovadores diversos
1ª edição: 1968
Tiragem: 5.028
Misioneros de la luz
Espírito: André Luiz
1ª edição Argentina: 1969
Augusto vive
Augusto Cezar Netto
1ª edição: 1981
Tiragem: 30.000
Gratificante e emocionante foi deparar com várias obras contendo dedicatórias com a assinatura de Chico Xavier ao seu amigo Wantuil.
Antônio Wantuil de Freitas foi o 11º presidente da Federação Espírita Brasileira, cumprindo mandatos de 1943 a 1970.