O sonambulismo do ponto de vista clínico é espiritual

por Nubor Orlando Facure.

 

A visão neurológica hoje

O termo sonambulismo é usado nos dias de hoje para descrever um dos distúrbios do sono.

É mais comum em crianças, mas pode perdurar ao longo da vida.

Geralmente ocorre no início da noite quando a criança se levanta da cama com sonolência e anda pelo quarto desconexa.

As vezes fala coisas sem sentido.

Pode ir até a cozinha e mexer na geladeira sem saber o que está fazendo.

Depois volta para cama sem se lembrar do que fez.

Os pais sabem que essa criança não deve ser acordada durante a crise.

O despertar deve ser espontâneo para evitar um trauma emocional nessa criança.

O sonambulismo em suas origens na Medicina

Esse termo significa deambular dormindo.

Foi criado por um médico alemão Johann Berger em 1737 e utilizado largamente no meio médico depois disso.

Sonambulismo magnético

Esse termo foi usado por Mesmer (1734 – 1815), que o aplicou no indivíduo que era “adormecido” por efeito do magnetismo animal, produzindo um estado de “transe magnético”. É o sonambulismo provocado (induzido) da literatura espírita.

Precede à época da Revolução Francesa os trabalhos de Franz Anton Mesmer que desfrutou dos recursos da Imperatriz Maria Antonieta quando implantou sua famosa clínica em Paris.

Ela financiava os seus cursos para os médicos da Corte.

Mesmer, na sua Tese de graduação em Medicina, na Áustria, em 1766, defendeu “a atuação dos planetas nos nossos corpos” através de um fluido que, em consonância com os estudos da ciência da época (principalmente Paracelsus), denominou “fluido magnético” e mais tarde, aceitando que ele existe em nós, denominou “fluido animal”, criando o magnetismo animal.

Por atuação desse fluido, ele conseguia induzir uma pessoa a um estado de sonolência que, aprofundado, produzia a “crise sonambúlica”, que sob sugestão do magnetizador, alcançava a cura.

Mesmer usou pela primeira vez o termo sonambulismo magnético para descrever esse estado de sono superficial, aparente com preservação de parte da consciência e da atividade motora.

O sonambulismo induzido é um dos procedimentos mais eficazes para produzir uma alteração da consciência no qual as suas propriedades ficam ampliadas.

Ocorre uma “expansão” da consciência para fora do cérebro.

A consciência passa a tomar para si o que há no mundo em sua volta sem as restrições anatômicas do cérebro.

Na crise sonambúlica o sujeito vê e sente onde a visão e as sensações físicas não alcançam.

O ápice desse fenômeno é denominado “transe sonambúlico”.

Ocorre um “desprendimento” do vínculo que encarcera a consciência no cérebro.

O “transe” permite-nos atingir uma percepção que ultrapassa os sentidos físicos.

Uma “emancipação” da Alma no dizer espírita.

Nas memórias de Mesmer ele descreve os inúmeros casos de “cura” de cegueira, de epilepsia e paralisias que conseguia.

Infelizmente são fatos rejeitados pelos “sábios” da época.

A ciência acadêmica daquela época e até hoje, não admite a existência desse “fluido magnético” e considera os efeitos que Mesmer o atribuía como resultado da sugestão e da imaginação.

O Sonambulismo e o Magnetismo na doutrina Espírita

Allan Kardec estudou o sonambulismo por 36 anos com dois médicos: Alexandre Bertrand e Joseph Deleuze.

Vendo a semelhança e proximidade do “transe sonambúlico” com o “transe mediúnico” eu sempre me pergunto por que, nessas experiências com o sonambulismo, por tantos anos, Kardec não se defrontou com médiuns que, seguramente, faziam parte dessa clientela?

Nenhum desses indivíduos manifestou a presença de um Espírito se expressando através do transe?

Ensina Kardec que durante o “transe” é o Perispírito que se afasta provisoriamente do corpo.

As propriedades do cérebro são, assim, expandidas para além do ambiente físico.

A consciência se revela por um outro “modus operandi”.

Não sofre as limitações do espaço e do tempo, do aqui e do agora que o cérebro lhe impõe; esse limite é superado.

A matéria física não lhe opõe obstáculo.

A alma transita conscientemente pelo mundo espiritual, o ambiente extrafísico, de onde recolhe informações para além das sensações físicas.

O sonambulismo torna-se, portanto, uma ferramenta extraordinária para o estudo da psicopatologia humana já que nos permite acesso ilimitado ao nosso psiquismo.

Revendo lições importantes

A Psicanálise

Na psicanálise dispomos de uma técnica preciosa para investigação do inconsciente; através da fala livre e espontânea e a associação de ideias.

Toda teoria freudiana tem como propósito penetrar no inconsciente, supondo estar aí represados desejos censurados que buscam portas de saída de maneira sadia ou doentia.

A Hipnose

Hipnose que significa sono, foi um termo criado por James Brad – médico escocês – em 1843. Ele percebeu que não era o estado sonambúlico de Mesmer e que sob efeito da sugestão a mente se prende a um foco de atenção; nesse estado o indivíduo fica responsável pelas sugestões do hipnotizador.

Na hipnose a atuação do magnetizador ocorre nas áreas de tomada de decisões. O indivíduo hipnotizado fica quase prisioneiro das sugestões impostas por esse agente indutor da hipnose.

Existem pessoas mais ou menos susceptíveis a serem hipnotizadas.

Aqui, também, abrem-se revelações do passado e a mente se expande com novos recursos, superando as limitações do tempo e do espaço.

O Sonambulismo na atualidade

O sonambulismo pode ocorrer de modo espontâneo ou natural e provocado ou induzido por um magnetizador.

Aqui é a alma que se liberta e transita pela dimensão espiritual.

Pode o médium sonambúlico ter ou não consciência da ocorrência e das informações que revela.

Mediunidade

No fenômeno mediúnico acrescenta-se a participação de um outro ser inteligente que nos revela uma personalidade e uma cultura diferente do médium.

Interessante ver na mediunidade que à ela se acomodam três fenômenos importantes da Psiquê: as pulsões do inconsciente, a emancipação da alma e a expansão da consciência.

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