O que não é Espiritismo

A correta compreensão da filosofia espírita e suas consequências morais requer leitura e estudo continuado. Muitos, com base apenas em informações superficiais, em geral, obtidas de forma apressada em fontes secundárias, emitem juízo e críticas completamente infundados e distorcidos a respeito do espiritismo.

O próprio movimento espírita brasileiro, conta em suas fileiras, muitos adeptos mal informados. Em geral se dedicam apenas ao estudo do Evangelho Segundo o Espiritismo, relegando a base filosófica a segundo plano.

Acreditamos que alguns pontos importantes que, normalmente, são relegados a segundo plano, podem e devem ser melhor esclarecidos.

Vamos apontar alguns aspectos importantes que não correspondem à proposta Kardequiana. Não são próprios de uma fé raciocinada e costumam causar confusões e interpretações equivocadas.

 O espiritismo não é religião na acepção usual do termo. Não cultua imagens, não possui hierarquia sacerdotal, não usa paramentos e não adota a prática de ritos cerimoniais ou sacramentais como casamento e batismo, por exemplo.

 Espiritismo não é Umbanda. Não é Candomblé. Não é religião afro-brasileira, muito embora respeite todas essas formas de crença. Também não existe espiritismo de mesa branca ou espiritismo Kardecista. O espiritismo é um só. O termo foi criado pelo codificador Allan Kardec que deixou bem claro a necessidade e proposta do termo, “espiritismo”, na introdução do Livro dos Espíritos. Espiritismo Kardecista é um pleonasmo ou redundância totalmente desnecessário e até inapropriado.

O espiritismo não vê Jesus como Deus nem como filho preferido de Deus. Jesus foi um espírito encarnado, muito à frente do seu tempo, cujo, caráter, sabedoria e amor incondicional pela natureza e pelo ser humano são sublimes exemplos a serem perseguidos.

O espiritismo não é uma fé irrefletida em dogmas ou no sobrenatural, não é uma revelação miraculosa e não compactua nem pratica milagres.

O espiritismo não adota práticas medicinais alternativas e, portanto, não substitui de forma alguma os recursos da medicina tradicional.

O espiritismo não faz previsões do futuro, não tem receitas de prosperidade nem de sucesso profissional.

O espiritismo não propõe a prece como instrumento de mendigagem espiritual. A prece é uma reflexão íntima para encontro do ser consigo mesmo, conquista da paz e crescimento interior.

O espiritismo não é proselitista. Não busca a conversão de ninguém. Não salva ninguém e não faz ninguém melhor ou pior. Não muda o indivíduo, apenas oferece instrumentos para que o indivíduo se modifique a si próprio.

O espiritismo não fala em pecados, nem em céu nem inferno e também não se apresenta como dono da verdade.

O espiritismo não garante a infalibilidade de ninguém. Adeptos, estudiosos, divulgadores, médiuns e espíritos desencarnados, são todos espíritos em evolução sujeitos a falha.

O espiritismo não concede indultos, não julga nem condena ninguém por seus erros. Não acolhe nenhum tipo de intolerância ou preconceito, seja de etnia, seja de crença, seja de ideologia ou seja de orientação afetiva. Somos todos iguais em potencialidade para nos tornarmos melhores.

O espiritismo não é ciência na acepção materialista do termo.

O espiritismo não é refratário à crítica séria, honesta e racional.

O espiritismo não se opõe à Ciência ou à Filosofia. Ao contrário, prestigia e acata a ambos. O codificador deixou claro seu apreço pelo progresso da ciência como se pode ver no item 55 do capítulo I da Gênese:

“As descobertas da Ciência glorificam Deus em lugar de rebaixá-lo; elas apenas destroem o que os homens edificaram sobre as falsas ideias que fizeram de Deus”.

Ainda no mesmo item 55 temos:

“Caminhando com o progresso, o Espiritismo jamais será ultrapassado, porque, se novas descobertas lhe demonstrassem que está errado em um determinado ponto, ele se modificaria sobre esse ponto; se uma nova verdade se revela, ele a aceita.”

O espiritismo não se opõe à teoria da evolução das espécies de Charles Darwin.

O espírito não é um ser sobrenatural. É incorpóreo mas não imaterial. Sua constituição ainda escapa à nossa atual e limitada compreensão da natureza. Alegar que domínios naturais ainda não descobertos ou ainda não compreendidos, sejam domínios sobrenaturais contrários às leis naturais é alegação tendenciosa e anticientífica.

 O espiritismo não acredita por acreditar ou por mero conforto emocional na vida após a vida. Manifestações que evidenciam esse fato existem desde tempos imemoriais. A sobrevivência da consciência humana após a falência completa do corpo carnal é fato passível de verificação observacional paciente e criteriosa. Ainda não está acessível à verificação pelos métodos convencionais da ciência materialista. O espírito é uma inteligência independente e livre, não é uma cobaia de laboratório sob controle do experimentador.

O espiritismo não tem controle dos espíritos desencarnados nem possui disponível um canal totalmente confiável de comunicação permanente com esses espíritos.

O espiritismo não compactua com o maniqueísmo, isto é, o dualismo do bem e do mal. Bem e mal são conceitos humanos relativos. Não é conivente com o que se convencionou chamar de maldade, busca mitigar seus efeitos do melhor modo possível, mas compreende sua essência como efeito e não como causa.

O espiritismo não enxerga crises e destruição, apenas vê processos de transformação. É o que se chama de impermanência de tudo no Universo.

O espiritismo não é indiferente ao sofrimento humano, busca ampará-lo da melhor forma possível, mas o vê sob outra perspectiva.

O espiritismo não veio para combater as religiões ou sistemas. Apenas oferece meios alternativos para que os indivíduos encontrem significados e propósitos em suas vidas.

O espiritismo não é contra o materialismo filosófico, oferece ideias opostas, mas em caráter alternativo não em caráter de combate ideológico.

O espiritismo não advoga a adoração de Deus. Deus é uma ideia inefável alinhada com os significados e propósitos próprios da busca de cada indivíduo.

O espiritismo não possui um tríplice aspecto, Religião, Ciência e Filosofia no sentido ordinário. Kardec jamais usou esse rótulo. Pelo que já colocamos anteriormente sobre ciência e religião, a referência multidisciplinar ao espiritismo requer algum estudo e compreensão aprofundada. A posição descuidada, fazendo parecer mais uma mera pretensão de firmar um diferencial em relação a outras doutrinas, que uma real proposta de esclarecimento doutrinário, traz mais males que benefícios. Pode até acarretar efeitos opostos ao pretendido.

Lembramos que os conceitos de Ciência da época de Kardec não são os mesmos da atualidade. Muita coisa que hoje é ciência, nem existia na época de Kardec, como neurociência e sociologia, só para dar dois exemplos. Os pontos acima ressaltados visam estimular os espíritas a se debruçarem um pouco mais sobre as obras da codificação.

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