por Raul Franzolin Neto.
Em 1854, o Prof. Rivail ouviu falar pela primeira vez dos fenômenos das mesas girantes que estavam ocorrendo em vários locais de Paris. De imediato comentou com o amigo que a movimentação de corpos inertes poderia ocorrer por uma ação magnética devidamente aplicada por um magnetizador. A conversa evoluiu para a possibilidade de a mesa também responder a perguntas e mesmo de uma questão formulada em pensamento.
O prof. Rivail não se interessou diante dos entusiasmos dos amigos, pois como homem de educação e ciência, isso seria impossível, dado que uma mesa não tem cérebro para pensar. Entretanto, no ano seguinte em nova oportunidade, ele aceitou um convite feito pelos seus amigos Carlotti e Pâtier para participar de uma dessas reuniões na casa da Sra. Plainemaison. A partir daí, tornou-se um novo homem, ao identificar a seriedade do grupo, excluindo qualquer possibilidade de fraude. Sentiu um impulso fulminante em observar, estudar e pesquisar a comunicabilidade entre os mundos visível e invisível dos Espíritos.
Foram cerca de quinze meses de intenso trabalho que o levava a permanecer acordado até altas horas da madrugada. Todo material que ele obteve em diversas reuniões através da psicografia com médiuns sérios, era separado e ordenado em tópicos com títulos e subtítulos. Assim, também com relatos de manifestações espíritas recebidos pessoalmente e de correspondências, novos assuntos eram levados às reuniões para explicações, esclarecimentos e aconselhamentos dos Espíritos.
Com a vasta documentação obtida sobre a relevante relação da vida antes e após a morte, o Prof. Rivail se viu diante de uma nova fase da humanidade. A do conhecimento da Verdade com significativo efeito para a melhoria da vida na Terra e sua implicação na eternidade. Não teve dúvida de que iria publicar um livro que seria um novo marco na Terra. Adotou a forma de escrita como diálogo, usando o método de aprendizagem em que um professor força o aluno a raciocinar a cada abordagem realizada. Assim, o manuscrito ganhou corpo com perguntas criteriosamente elaboradas e respostas obtidas dos Espíritos, servindo-se de vários médiuns diferentes. O manuscrito foi concluído, mantendo um encadeamento sequencial de assuntos de interesse geral até a conclusão final (epílogo). Mas, qual seria o nome indicado para toda essa filosofia de vida, ciência com aspectos morais e implicações religiosas? Um livro do desconhecido? Um livro do novo? Um livro de outro mundo? Não! Um livro escrito pelos Espíritos, definido como “O Livro dos Espíritos”. De fato, o Prof. Rivail coordenou todo o trabalho de compilação das informações vindas do plano espiritual e, mesmo as suas considerações, passaram pelo crivo da autoridade espiritual superior.
Com o lançamento da primeira edição do “O Livro dos Espíritos” em Paris, França à 18 de abril de 1857, nasce Allan Kardec, pseudônimo adotado pelo prof. Rivail. Inicialmente o livro foi estruturado em três partes contendo 501 perguntas. O livro tem sua abertura com uma Introdução, Prolegômenos, seguido do Livro Primeiro – Doutrina Espírita; Livro Segundo – Leis Morais; Livro Terceiro – Esperanças e Consolações, e Epílogo. Entretanto, a ampliação do material com estudos e pesquisas constantes ao longo do tempo e o esgotamento da primeira edição, levou Kardec a rever pontos com duplicidade de informação, adicionar novos tópicos e reestruturar o o livro, sempre sob orientação da equipe espiritual, coordenada pelo Espírito da Verdade. Surge então, a segunda edição também editada em Paris em março de 1860, anunciada na Revista Espírita como inteiramente refundida e consideravelmente aumentada, tornando-se a edição definitiva. De fato, o número de perguntas mais que dobrou passando a ter 1019, além de apartes complementares em muitas delas.
O livro ganhou uma relevante introdução geral abordando tópicos essenciais ao entendimento preliminar do espiritismo, intitulado de “Introdução ao estudo da doutrina espírita”. Com isso, prepara o leitor para adentrar em assuntos obscuros ao seu conhecimento despertando e aguçando o seu interesse numa atmosfera de reflexão que se forma lentamente, principalmente, naqueles livres de preconceitos atuando com a mente aberta na busca do conhecimento da vida. Segue-se os Prolegômenos com breve esclarecimento sobre a confecção do livro, finalizado com a nomeação de alguns Espíritos da equipe, renomados conhecidos da história mundial. Dentro do tema central surgem: o Livro Primeiro – As causas primárias (quatro capítulos); o Livro Segundo – O mundo Espírita ou dos Espíritos (onze capítulos); o Livro Terceiro – As Leis Morais (doze capítulos); o Livro Quarto – Esperanças e consolações (dois capítulos) e a Conclusão.
José Herculano Pires, quando da tradução do Livro dos Espíritos (Edicel, 3ª ed., 1982) enfatizou as suas características diante do mundo fragilizado pelo desconhecido, dizendo:
Este livro restabelece a unidade do conhecimento em plano mais alto. Fé e razão se harmonizam em suas páginas dando-nos a tríplice estrutura da doutrina espírita como ciência, filosofia e religião. A antropologia espírita, que se funda na mediunidade, mostra-nos a evolução cultural a partir das religiões primitivas e a desenvolver-se através da Mitologia e da Mística como um processo natural regido pela lei de adoração. A dicotomia mítico-teológica que nos apresentava um mundo dividido entre o sobrenatural e o natural foi dialeticamente superada. A concepção espírita é monista. O sobrenatural é apenas o natural não conhecido, não explicado. As leis de Deus não são somente as leis morais, mas também as leis físicas, e aquelas não são mais do que a sequência evolutiva destas. “Tudo se encadeia no universo”, repete constantemente este livro.
Antes de se designar com um nome próprio qualquer na Terra em função dos aspectos culturais diversificados, o Homem é um Espírito. Na pergunta de número 76 aparece esse questionamento: “Como podemos definir os Espíritos?” Resposta: “Podemos dizer que os Espíritos são os seres inteligentes da criação. Eles povoam o universo, além do mundo material”. Essa informação permite levar a uma reflexão de que o Espírito vive eternamente em mundos físicos e em mundos espirituais em todo o Universo. Aqui a ciência caminha para a desvendar a matéria escura, invisível compondo a grande maioria do universo.
Assim, este não é um livro para ser apenas lido, é para ser estudado. No caminho da evolução espiritual, o Espírito segue sua jornada abrindo novas fronteiras à medida que amplia a sua compreensão do moral e do intelectual. A prática das ações promove melhores dias, já que a evolução é eterna. Daí se diz: “Espíritas amai-vos primeiramente e instruí-vos”. Isso significa que a reforma íntima da moralidade, seguindo os passos do Mestre Jesus é o primeiro mandamento para atingir uma evolução mais rápida engrandecendo a razão, mas a evolução intelectual acende a luz nesse caminho, guiando para fortalecer a Fé tornando-a inabalável.
Seguir a lei de Deus é manter-se dentro dos propósitos de equilíbrio e harmonia universal. E como seguir dentro da lei de Deus? A pergunta 621 do livro é fundamental: “Onde está escrita a lei de Deus?” A resposta concisa é a chave adequada: “Na consciência”. Isso ensina o Homem de que não há como fugir do erro, do egoísmo, da vaidade e todos os meios de inferioridade pois ele, agindo assim estará quebrando a lei de Deus, que está dentro da sua própria consciência. Da mesma forma, a beleza e a felicidade de um agradecimento sincero, a gratidão eterna pela ajuda ao próximo sempre estarão contempladas na lei de Deus na sua consciência, promovendo a felicidade desejada.
Que Deus em sua bondade suprema permita que os ensinamentos desse maravilhoso livro, que são os mesmos do Mestre Jesus, porém ampliados conforme a necessidade em cada período de tempo, sejam acessíveis a toda a humanidade para a regeneração do planeta com uma convivência mais harmoniosa no bem comum e mais feliz.