Por Nubor Orlando Facure.
Em 1976, junto com meia dúzia de pessoas, conversávamos com Chico Xavier, na sua casa.
— Chico, como vão as dores no peito?
— Ontem doía muito e procurei deitar mais cedo. De repente, vi entrarem dois homens no meu quarto. Percebi que me faziam virar. As dores, que já eram terríveis, me martirizavam. Reclamei. Pedi para saírem do meu quarto, com visível mau humor. Não me dispunha a atender nenhum Espírito. Nisso, percebo Emmanuel me dizendo:
“Comporte-se. Esses senhores que te incomodam vieram operar suas coronárias. Seja educado e reconhecido ao trabalho atencioso deles.”
Depois, ele conta sobre uma mulher muito aflita que veio lhe procurar, porque sua vida, depois de várias cirurgias, estava por um fio.
— Minha irmã, trabalhe que o fio engrossa.
Ali, na sala, sobre a mesa, vejo pacotes de impressos com mensagens psicografadas. Chico chama o Sr. Benedito, de Mirassol, e pede que ele despache um dos pacotes para a Polônia.
Duas senhoras, de São Paulo, descrevem a saudade do filho, morto poucos meses atrás. Chico leva a mãe do jovem até seu quarto, onde demoram alguns poucos minutos. A senhora sai, procura a amiga e, em lágrimas, ouvi ela contar: conversou com o filho, incorporado no Chico. Ele pediu para ela se comprometer com um projeto de ajuda aos necessitados.
Um senhor de sessenta anos, mais ou menos, diz ao Chico, bem ali, na minha frente:
— Chico, minha vista vem piorando. Estou lendo cada vez mais devagar.
Chico, então, diz:
— Mas, Silva, lendo devagar você vai aproveitar melhor as lições.
Alguém ao meu lado, aproveitando o riso farto do Chico, se anima a perguntar:
— Chico, do outro lado tem sanatório psiquiátrico, hospício?
Todos rimos com gosto.
— Tem, sim. E está cheio de espíritas. Os espíritas estão morrendo cheios de culpa.
— Você nos assusta, Chico.
— Não estou falando de vocês, mas de todos nós. Já cometemos, muitas vezes, os diversos tipos de erros humanos. Apenas um é impossível de ser solucionado. E é esse que atormenta, por anos, os espíritas: a culpa de ter perdido tempo.
— Chico, o que você vai fazer quando desencarnar?
— Vou fundar um centro espírita. Vai se chamar CÉU: Centro Espírita Umbralino.
— Chico, sou neurologista. Posso desligar os aparelhos de respiração dos doentes irreversíveis na UTI?
— Não, não pode. Ali, ele estará protegido de seus obsessores.
Eu perguntei, na cozinha, às três horas da manhã, enquanto ele me oferecia um pedaço de queijo tostadinho no fogão a gás:
— Chico, você não dorme?
— Durmo quatro horas. Quero baixar para três horas. Preciso aproveitar ao máximo minha encarnação.

