Nascido 20 ou 21 de fevereiro de 1813, em Saumur (Maine-et-Loire), morreu 01 novembro de 1893, em Louerre (Maine-et-Loire).
Neto de um deputado da assembléia legislativa de Maine-et-Loire, filho de um conselheiro geral e prefeito de Saumur, Eugène Bonnemère iniciou seus estudos no Colégio de Saumur, seguindo para o Liceu Henri IV, em Paris. Ingressou na Escola Central, em 1831, mas uma doença grave interrompeu seus estudos.
Depois, ele fez direito e tornou-se advogado. No entanto, não exerceu esta profissão porque, muito rapidamente, dedicou-se à literatura e ao teatro.
Em 1841, interpretou uma comédia, As primeiras charretes, e a espetacular Micromegas. Em 1843, mudou-se para Angers, onde trabalhou no Precursor do Ocidente, liderado por seu amigo Edmond Adam. Em 1844, foi admitido na Sociedade Industrial de Angers, uma sociedade intelectual local onde seu pai já possuía cadeira.
Ele continua a escrever peças e também a representar no cenário local uma comédia, uma revista e uma ópera cômica. Desde essa época, interessava-se particularmente pela situação do campo. Em 1846, a Sociedade Acadêmica de Nantes e da Loire-Inférieur investem na seguinte questão: “Causas que geram o movimento das populações agrícolas para os principais centros de produção e formas remediá-lo”.
O memorial Bonnemère é premiado, publicado em 1847 sob o título Os camponeses no século XIX. O autor propõe como solução ao êxodo rural o ensino agrícola, a associação e a organização do trabalho, mas bastante vago e sem referência explícita a Fourier.
Ele critica o comportamento de alguns proprietários em relação a seus agricultores e arrendatários, provocando fortes reações dentro da Sociedade Industrial de Angers, o que leva Bonnemère a deixar a associação na qual havia sido vice-secretário. Regressando a Paris em 1848, ele continuou sua obra literária e também de publicista, com, além de peças de teatro e romances, obras de história que concerniam frequentemente ao mundo rural e às revoltas camponesas.
Também se interessou pelas associações agrícolas e recebeu um prêmio da Academia de Ciências, Letras e Artes de Besançon pelo memorial sobre “A fragmentação agrícola e a associação”; contribuiu com vários jornais (O Século) e revistas (A Revista Moderna), publicada em 1857-1858 por alguns membros da Escola Societária; O Amigo das Ciências, fundada pelo fourierista Arsène Meunier; O Jornal da Agricultura Prática, por um dado momento dirigido por Jean-Augustin Barral, também discípulo de Fourier). Bonnemère participou da reconstrução do movimento falansteriano na década de 1860, em torno de Barrier.
Ele assista aos banquetes que reuniam os discípulos de Fourier, cada 7 de abril, a partir de 1865. Acionista da União do Sig, ele fazia parte do conselho de administração da sociedade, mas renunciou em 1869 devido a seu distanciamento de Paris.
Em 1872, fez parte do “Comitê de Execução”, responsável pela execução das decisões do Congresso falansteriano a fim de reorganizar a Escola Societária. Colaborou com o novo órgão fourierista, o Boletim do Movimento Social, para o qual escreveu notadamente uma série de artigos sobre a “deserção dos campos”, de 1873 a 1875.
Com alguns outros fourieristas, debateu sobre a próxima realização da associação agrícola. Continuou a frequentar as reuniões gerais de acionistas do Sig (é novamente eleito administrador, em 1880, mas abandona a função no ano seguinte), assim como os banquetes de 7 de abril.
Durante a década de 1870, engajou-se claramente no campo republicano, esforçando-se em difundir a ideia republicana nos campos: foi um dos dirigentes da Sociedade de Instrução Republicana, para a qual escreveu vários cadernos (Os agricultores antes de 1789; Os camponeses depois de 1789; O Mestre-escola) sempre colaborando com seu órgão, O Patriota. Também publicou alguns textos na “Biblioteca democrática” de Victor Poupin; aderiu à Liga de Ensino, em 1877, e fez parte do comitê do círculo parisiense da Liga, onde atuou até sua morte. Além disso, foi membro dos Amigos da Paz.
Obras Publicadas
Paysans au dix-neuvième siècle, Nantes, Vve C. Mellinet, 1845; Histoire de l’association agricole, Paris, Dusacq, 1849; Histoire des Paysans, Paris, F. Chamerot, 1856; La Vendée en 1793, Paris, [S.n.], 1866; Le Roman de l’avenir, Paris, A. Lacroix, 1867; La France sous Louis XIV, Paris, A. Lacroix Verboeckhoven & Cie, 1864-1865; Louis Hubert, curé vendéen, Paris, A. Lacroix Verboeckhoven & Cie, 1868; Histoire des Camisards, Paris, Décembre-Alonnier, 1869; Études historiques saumuroises, Saumur, Roland, 1868; Les Paysans avant 1789, Paris, Le Chevalier, 1872; Histoire de la Jacquerie, Paris, Bellaire, 1873; Histoire populaire de la France, 3 vols., Paris, Bellaire, 1874-79; L’Âme et ses manifestations à travers l’histoire, Paris, Dentu, 1881; Histoire de quatre paysans, Paris, Librairie centrale des publications populaires, 1881; La Prise de la Bastille, Paris, H.-E. Martin, 1881; Les Guerres de la Vendée, Paris, Librairie d’éducation de la jeunesse, 1884; Hier et aujourd’hui, Paris, Librairie centrale des publications populaires, 1886; Histoire des guerres de religion, xvie siècle, Paris, Librairie Centrale des Publications Populaires, 1886.
Bernard Desmars
(Tradutora da Biografia Fabiana Rangel)
No Campo do Espiritismo:
Eugène Bonnemère e Allan Kardec
Eugène Bonnemère como contemporâneo de Allan Kardec participou ativamente do Movimento Espírita de sua época com muitos artigos e de obras que foram publicadas nas Revistas Espíritas dirigida por Allan Kardec…
Em 1867, publicou “O romance do amanhã”, obra que foi escrita “por um médium inconsciente”, filósofo e romancista e que delegou [a Bonnemère] apenas o cuidado de dar a ela uma forma mais literária.
Bonnemère argumenta, relativamente à origem mediúnica do livro: “Se um indivíduo que jamais abriu um livro de Medicina prescreve, sem ter consciência disso, remédios que podem curar, em muitos casos, a maioria dos males hoje declarados incuráveis, parece-me incontestável que tais coisas lhe são reveladas por uma força desconhecida e misteriosa. Em presença de semelhante fato, a questão me parece resolvida.
Deve-se aceitar como demonstrado que existem sensitivos aos quais é concedido servir de intermediários aos amigos desaparecidos que, não mais tendo órgãos ao serviço de sua vontade, vêm utilizar a voz ou a mão desses seres privilegiados, quando querem curar o nosso corpo, ou fortalecer a nossa alma, esclarecendo-a sobre coisas que lhes é permitido nos dar a conhecer.”.
Pouco importa que riam de mim durante alguns dias; mas importa muito que esses segredos, que o acaso me fez depositário, não morram comigo, se contiverem algo de sério, e que se saiba que existem relações possíveis entre as inteligências superiores do outro lado da vida e as inteligências dóceis do lado de cá. Creio que seria muito importante para nós travarmos relações cada vez mais seguidas com esses mortos de boa vontade que parecem dispostos a nos prestar semelhantes serviços.
Um único reparo é feito por Allan Kardec à carta do sr. Bonnemère: quando ele se felicita pelo acaso que lhe pôs em mãos os documentos fornecidos pelo médium bretão. O Espiritismo não admite o acaso nem o sobrenatural nos acontecimentos da vida. Foi, pois, intencionalmente que aqueles documentos lhe haviam chegado, porque nas mãos do jovem bretão teriam, com certeza, ficado perdidos. Era preciso que alguém se encarregasse de os tirar da obscuridade. Ao sr. Bonnemère, sugere o Codificador, coube essa missão.
Eugène Bonnemère publica ainda mais um trecho de uma obra que foi comentado por Allan Kardec intitulado “História dos Calvinistas das Cevenas”, que relata como foi a guerra empreendida sob o reinado de Luís XIV contra os calvinistas, um dos mais tristes episódios da História da França.
Na obra há referências aos inumeráveis casos de sonambulismo, êxtase, dupla vista, previsões e fenômenos semelhantes que se produziram durante todo o curso dessa infeliz cruzada e que sustentaram a coragem dos calvinistas.
Os fenômenos referidos pelo sr. Bonnemère não buscavam, para se produzir, nem a sombra nem o mistério, e manifestavam-se ante os intendentes, os generais e os bispos, como ante os ignorantes e as pessoas mais simples. Em setembro de 1704, segundo Villars e Chamillard, as mulheres de uma cidade inteira pareciam possuídas do “diabo”. É que elas tremiam e profetizavam publicamente nas ruas, fato tido então como sobrenatural.
Allan Kardec que esteve à frente da Revista Espírita durante 10 anos interruptos foi um balão de ensaio de comprovações de verdades imortais do espírito humano.
Finalizando sua análise, Allan Kardec lembra que o objetivo providencial da manifestação dos Espíritos é atestar a sua existência, provar ao homem que nem tudo acaba para ele com a vida corporal e instruí-lo sobre sua condição futura.
Irmãos W. e Jorge Hessen