por Nubor Orlando Facure.
Qualquer um de nós que sair por aí dizendo que está “vendo vultos”.
Vai ouvir seus amigos dizerem que está ficando louco e, se consultar um médico, vai conhecer o que eles chamam de alucinações. São esses os dois diagnósticos que os pobres médiuns recebem quando desconhecem a Doutrina Espírita.
Vez por outra, estou acudindo alguém em desespero que vem me contar que está “vendo Espíritos”. Com frequência, estão desesperados para encontrar alguém que acredite com sinceridade nas visões que eles relatam ter.
Numa certa ocasião, atendi uma jovem que, nas vésperas do seu vestibular, começou a ser perturbada por visões de rapazes que a perturbavam na escola ou no clube e que chegaram até a provocar hostilidade na hora das suas provas para a faculdade. Mesmo assim, ela conseguiu passar nos exames e, algumas semanas depois, embora já estivesse mais tranquila, sem as expectativas e tensões do vestibular, as “visões” aumentaram muito.
Certa vez, ela percebeu que dois deles entraram no banheiro quando ela se dirigia para o banho. O susto foi tão grande que a fez gritar, pedindo socorro para sua mãe que veio com a moça ouvir minha opinião sobre o quadro.
Uma outra menina, que a mãe também me trouxe para consulta, estava tremendamente atormentada pela presença de vários Espíritos que ela passara a enxergar. As visões ocorriam dia e noite, num número grande e variado de entidades. Havia crianças que conversavam amigavelmente com ela e outras que choravam procurando pela mãe. Ela via, também, um ou outro jovem com sinais de ferimentos no corpo, sugerindo terem sido vítimas de acidente. Apareciam “figuras” amedrontadoras que a ameaçavam agressivamente. Ela dizia que, quando menos esperava, estava percebendo a respiração e o batimento do coração dessas “pessoas” que se aproximavam muito dela. À noite, a situação piorava, porque ela, em sonho, passava a viver junto dos Espíritos que via durante o dia. O tormento de ver tantas entidades passou a perturbar sua atenção na escola, onde ela era excelente aluna. A capacidade de relacionar-se com as amigas tornou-se impossível. Quando sua mãe insistia com ela para estudar, chegavam a se atritarem e ela achava que os gestos e a voz da mãe, quando discutiam, eram modificados pelos Espíritos que pareciam ocupar o corpo da mãe.
Essa menina já havia recebido o diagnóstico de esquizofrenia, tinha passado por duas internações e tomava doses altas de medicamentos. Seu raciocínio era absolutamente lúcido e coerente. Mesmo dopada pelos remédios, nunca deixou de se cuidar e, uma ou outra vez, ela chorou, falando da sua desesperança, perguntando se eu seria mais um médico que não iria acreditar nela.
O que é alucinação?
A alucinação é um fenômeno tão comum na mente humana quanto são aquelas lembranças que nos assaltam sem qualquer evocação. Nós costumamos dizer aos amigos: “não sei porque esse pensamento me veio à mente”. Nos esquizofrênicos, esses pensamentos tornam-se mais ou menos constantes e carregados de um conteúdo persecutório. O esquizofrênico ouve “seu próprio pensamento” e. as vozes que o acusam.
Uma situação comum de alucinações frequentes ocorre na abstinência do álcool. Nesses quadros, o paciente é atormentado desesperadamente por visões de bichos. São aranhas, insetos e cobrinhas que sobem e descem pelas paredes.
Estou revendo essas alucinações que se apresentam uniformemente nas patologias aqui descritas para chamar a atenção para o fenômeno mediúnico, rico em visões e diálogos audíveis pelos médiuns. As diferenças são gritantes e, mesmo assim, as “academias de medicina” insistem em classificá-las com o mesmo rótulo dos esquizofrênicos ou das “patologias atípicas”. Dizem que as visões e as mensagens traduzidas pelos médiuns seriam produto da autossugestão ou desejos ardentes do público presente, ansioso para ouvir uma mensagem muito aguardada.
Qualquer um de nós que fizer um estudo sério das obras de Kardec ou dos textos de André Luiz que Chico Xavier psicografou, pode deter-se apenas em colher as informações inéditas que a Ciência nem sequer cogitou em suas pesquisas. Para perceber as novidades, a variedade de assuntos, a lucidez e a importância das informações ali contidas descobrindo que isso não tem nada a ver com os “Napoleões”, as “Joana D’Arc” ou os “demônios” que os esquizofrênicos do mundo todo fixaram no painel das suas visões.
Alucinação e Mediunidade
Em O Livro dos Médiuns, Allan Kardec, ao estudar as hipóteses que contrariam o fenômeno mediúnico, faz comentários sobre as alucinações. Estariam os médiuns sob o domínio de alucinações?
O Livro dos Médiuns, 2a parte, capo 6, Teoria da Alucinação:
item 111 “Os que não admitem o mundo incorpóreo e invisível julgam tudo explicar com a palavra alucinação. Ela exprime o erro, a ilusão de uma pessoa que julga ter percepções que realmente não tem”.
Item 112 A causa dos sonhos nunca a ciência revelou, atribuindo-os a um efeito da imaginação; mas, não nos diz o que é a imaginação, nem como esta produz as imagens tão claras e tão nítidas que às vezes nos aparecem. Consiste em explicar uma coisa, que não é conhecida, por outra que o é menos ainda.
Item 113 Ora, em certos estados de emancipação, a alma vê o que está no cérebro, onde torna a encontrar aquelas imagens, sobretudo as que mais o chocaram, segundo a natureza das preocupações ou as disposições do Espírito.
De sorte que a alma vê realmente; mas vê, apenas, uma imagem fotografada no cérebro. No estado normal, essas imagens são fugidias, efêmeras ao passo que, no estado de moléstia, o cérebro está mais ou menos enfraquecido, o equilíbrio entre todos os órgãos deixa de existir, conservando somente em alguns a sua atividade, enquanto outros se acham, de certa forma, paralisados. Daí, a permanência de determinadas imagens que as preocupações da vida exterior não mais conseguem apagar, como se dá em estado normal. Essa é a verdadeira alucinação e causa primária das ideias fixas.
Conclusão
Os quadros de alucinações que descrevemos na esquizofrenia, na doença de Alzheimer e no delírio tremens, ainda não têm, na ciência, uma explicação para a fisiologia do fenômeno. Os Espíritos apontaram uma hipótese extremamente interessante ao registrarem para Kardec que, quando o cérebro está enfraquecido, portanto, com uma doença que afeta seu bom funcionamento, a alma, ao emancipar-se parcialmente, pode ver imagens registradas no cérebro físico que estão, de certa forma, distorcidas pela doença.
Contudo, o que não se pode confundir são essas alucinações que ocorrem nas doenças do cérebro com uma outra ordem de manifestações que ocorrem nas comunicações mediúnicas.