Presidente do “Gruppen för Spiritistiska Studier Allan Kardec – Sverige”
GEAE: Gostaria inicialmente de agradecer-lhe, em nome de todos os colegas do GEAE, pela gentileza em nos dar esta entrevista sobre a divulgação do Espiritismo na Suécia e pedir-lhe que nos dissesse algumas palavras sobre sua história pessoal. Como foi seu primeiro contato com a Doutrina Espírita e quais os eventos que a levaram a participar do movimento espírita na Suécia?
Maria Aparecida: Meu nome é Maria Aparecida Bergman, nascida Velloso de Aguiar, neta de um dos pioneiros espíritas do Estado de S.Paulo, jornalista e conferencista espírita, Francisco Velloso, que foi companheiro de Cairbar S. Schutel na região de Matão, no início do século XX, que mais tarde militou na região do Vale do Paraiba: Taubaté, São José dos Campos, Piquete e Lorena, onde desencarnou em 1962.
Desde minha mais tenra infância frequentei as escolas de moral cristã de vários centros espíritas de São José dos Campos e de Lorena, continuando depois nos movimentos de Mocidades Espíritas do Vale do Paraíba e da região de Araraquara.
Cheguei na Suécia em maio de 1970, onde me casei com um cidadão sueco, Olof Bergman.
GEAE: Qual era a situação da Suécia com relação a Doutrina Espírita, ela era conhecida ou existiam traduções de livros espíritas? E quanto a outros grupos espiritualistas?
Maria Aparecida: Na época em que cheguei na Suécia há muito já não se conhecia mais nada sobre o Espiritismo, conforme codificado por Allan Kardec, muito embora saibamos agora que vários intelectuais da Suécia, da Noruega e da Dinamarca à época de Kardec traduziram as obras básicas, e um deles, o jurista norueguês, Bernt Torstenson, participou ativamente do Movimento Espírita da época, tomando parte nos Congressos europeus, tendo editado durante 40 anos uma revista espírita denominada: MORGENDEMRINGEN, iniciada por ele em 1889, quando a capital da Noruega, Oslo, ainda se chamava Christiania.
O Evangelho Segundo o Espiritismo foi traduzido por um ilustre professor sueco, de escolas militares, em 1880, e já em 1862 um outro intelectual sueco traduzira um opúsculo de Allan Kardec, e realizara obras sociais dignas de um espírita convicto.
Mas, na década de 1970, quando aqui cheguei, só existiam os chamados espiritualistas, cujas atividades diferem bastante das diretrizes da Codificacão Kardequiana. A própria palavra Espiritismo não era aceita pelos espiritualistas, que, como a maioria das pessoas, confundiam e muitos ainda confundem com Magia Negra ou Bruxaria.
GEAE: Como ocorreu a criação do Grupo de Estudos Espíritas Allan Kardec (GEEAK) ? Ele foi o primeiro grupo espírita formado na Suécia? Há outros grupos espíritas no país?
Maria Aparecida: Logo após meu casamento com Olof dei início ao Culto do Evangelho no Lar, e Estudos Doutrinários num outro dia da semana, à princípio sozinha com os Espíritos amigos e os assistentes. O marido ainda não conhecia o Espiritismo e minha fluência no idioma sueco era ainda insuficiente. Três anos depois conheci a senhora Irma Hilonen, hoje Irma Fördös, finlandeza espiritualista, que interessou-se pelo estudo da Doutrina Espírita, pelo estudo dos livros básicos de Allan Kardec. Foi então que, com ela e mais outros finlandezes e suecos fundamos, em minha casa, o primeiro “Grupo de Estudos Espíritas Allan Kardec-Suécia. Sempre sob a custódia de Cairbar Schutel (Espírito) e amigos como Wallace Leal V. Rodrigues e muitos outros companheiros, até mesmo Francisco Cândido Xavier, que orientavam-me por carta, enviando material, endereços e informacão sobre o Movimento Espírita no Brasil e no mundo. Passei a traduzir o que me era possível de O Livro dos Espíritos, do Evangelho segundo o Espiritismo, e outras obras, para nossos estudos do grupo, pois ainda não havíamos encontrado as traduções antigas, e mesmo se o tivéssemos seria difícil compreender o idioma antigo, gótico.
Só vinte anos mais tarde viemos a saber que o mesmo ocorreu com outras brasileiras espíritas que também chegaram à Europa naquela época, umas não sabendo da existência das outras, mas num trabalho bem semelhante, o que prova um labor organizado pelo Plano Espiritual, e pré-estabelecido.
GEAE: Na formação do GEEAK e na divulgação do Espiritismo na Suécia qual tem sido o papel dos visitantes de outros países? Ocorreram palestras e eventos abertos ao público em geral?
Maria Aparecida: Sem nenhum demérito dos demais, os visitantes que mais tem contribuindo para a divulgação da Doutrina Espírita, na sua beleza, na amplitude do seu conteúdo baseados nos três aspectos: científico, filosófico e religioso, sem dúvida alguma, tem sido Divaldo Pereira Franco e Nilson de Souza Pereira. Contribuição esta calcada no exemplo de verdadeiros missionários cristãos, cuja conduta ética e moral, nas suas vidas imoladas ao bem geral, no trabalho abnegado e sacrificial, tem sido o farol a nos guiar a todos, deixando pegadas luminosas por onde passam.
Neste ano de 2003, comemoramos os 10 anos do GEEAK.-Suécia com Divaldo Pereira Franco e Nilson de Souza Pereira. O GEEAK-Suécia orgulha-se de ter tido a honrosa iniciativa de levar Divaldo para conferências públicas em 5 cidades suecas e duas capitais da Escandinávia.
GEAE: Como o povo sueco reage a divulgação da mensagem espírita? A formação protestante influencia sua percepção do Espiritismo? Há diferenças de receptividade com relação as implicações cientificas, filosóficas e religiosas da Doutrina Espírita?
Maria Aparecida: Alguns suecos, que já tenham alguma noção sobre os princípios espíritas, recebem muito bem as informações sobre a Doutrina Espírita e embora não tenham ainda se manifestado publicamente dizendo-se espíritas convictos, estão certamente à caminho.
A maioria, porém, tem se interessado mais como uma curiosidade, um conhecimento a mais, sem maiores compromissos.
Há também os brasileiros, sul americanos, latinos e europeus aqui radicados, que naturalmente, assumem as posturas, segundo a consciência de cada um, de acordo com aquilo que nós já conhecemos aí mesmo no Brasil.
GEAE: Tem sido feitas traduções das obras espíritas para o sueco? Quais editoras as publicam? Como são recebidas pelo publico?
Maria Aparecida: O grupo de tradutores do GEEAK-Suécia traduziu ao sueco: “O Espiritismo em Sua Mais Simples Expressão“, “O Evangelho Segundo o Espiritismo“, “O Livro dos Espíritos“, de Allan Kardec, e alguns opúsculos, documentos, artigos, mensagens, etc. Solveig Nordström traduziu algumas obras da psicografia de Divaldo Franco. As editoras são as brasileiras: LEAL e O Clarim. Os livros foram recém lançados e ainda não temos uma documentação sobre como estão sendo recebidos pelo público em geral, pois a maioria das pessoas que estão conosco nos programas de estudos, ainda são o pessoal que sabe português e já conhecia, uns mais, outros menos, a literatura espírita.
GEAE: Como o GEEAK é estruturado e quais são as atividades a que se dedica? Há reuniões dedicadas à prática mediunica? Como é feita a formação dos médiuns?
Maria Aparecida: Outros pequenos grupos espíritas foram formados na Suécia, permitindo-nos assim, no ano 2000 fundarmos a ‘União Espírita Sueca’, tendo meu marido, Olof Bergman, como Presidente, e Nils Hansson, como Vice-presidente.
O GEEAK tem uma reunião de estudos em português, nas segundas-feiras, que objetiva estudar a valiosa obra de Yvonne do Amaral Pereira, e uma parte dedicada a preces e vibrações pelos Espíritos dos suicidas e sofredores em geral.
Tem uma reunião de estudos em sueco, nas quartas-feiras, que estuda O Evangelho Segundo o Espiritismo e O Livro dos Espíritos.
E tem uma reunião pública, aos domingos, que estuda os temas do Evangelho Segundo o Espiritismo, em dois horários distintos, um em português, um em sueco.
Com um intervalo para Passes Espíritas, preces e vibrações.
Há o grupo dos jovens da MEAK que às quintas-feiras tem reunião de preces e vibrações e às sextas-feiras estuda O Livro dos Espíritos e outras obras básicas e complementares.
Durante vários anos o GEEAK estudou as apostilas dos Estudos Sistematizados da Doutrina Espírita, da FEB, tendo depois, diversificado seu programa algumas vezes.
Tivemos dois Cursos de Educação Mediúnica – Projeto Manoel Philomeno de Miranda, com um treinamento mediúnico, que no momento não está tendo prosseguimento, por falta de espaço físico conveniente. Há necessidade de se encontrar um local próprio e apropriado, o que está sendo providenciado.
Todos os grupos ainda se encontram em fase de adaptação. O que ocorre muito nos grupos da Europa é uma participação periódica, provisória das pessoas, que muitas vezes, só se encontram no país por pouco tempo, participando das atividades, e depois se vão para outros ou voltam ao seu país de origem, restando sempre apenas os poucos que encabeçam o trabalho.
GEAE: E como foi a participação dos Espíritos no processo de formação do grupo e nas suas atividades atuais? Há espíritos que tenham vivido sua última encarnação na Suécia participando das sessões mediúnicas?
Maria Aparecida: Somente através de informações de Divaldo e alguns outros médiuns temos sabido sobre as presenças dos Espíritos. Os Mentores dos trabalhos são aqueles mesmos abnegados Espíritos que conhecemos, se encontram trabalhando na difusão da Doutrina Espírita pelo mundo: Léon Denis, como dirigente do Movimento na Europa; Emmanuel Swedenborg, Selma Lagerlöf, Bernt Torstenson, e outros, aqui do Norte; Bezerra de Meneses, Cairbar Schutel, Sheilla, Joanna de Ângelis, Amália Domingos Soler, Fernando Lacerda, Yvonne do Amaral Pereira, Ivon Costa, e muitos outros.
GEAE: E com relação aos outros países escandinavos, qual é a situação do Espiritismo neles? A introdução do Espiritismo na Suécia teve repercussões nestes países?
Maria Aparecida: Nos outros países o movimento também se encontra semelhante, as vezes mais, as vezes menos. Graças a Deus o trabalho na Suécia tem sim, conseguido inspirar os demais países vizinhos.
GEAE: O GEEAK participa do Conselho Espírita Internacional? Qual o papel do CEI junto aos grupos espíritas europeus? Como é o relacionamento entre os diversos grupos europeus?
Maria Aparecida: O GEEAK foi membro do C.E.I. quase desde o início do Conselho, até o ano 2000, quando a ‘União Espírita Sueca’ passou a sê-lo em lugar do GEEAK.
O papel do C.E.I. é o de unificar em bases de fraternidade, isto é: “promover a união solidária e fraterna das Instituições Espíritas de todos os países e a unificação do Movimento Espírita Mundial”. Nas reuniões do C.E.I. coordenadoria da Europa, temos tido muita oportunidade de nos relacionarmos com os diversos grupos europeus.
GEAE: Como é o relacionamento do GEEAK com o movimento espírita brasileiro?
Maria Aparecida: O GEEAK veio ao longo desses últimos trinta anos sempre em contato com o movimento espírita brasileiro, como não poderia deixar de ser. Porém, com o aparecimento do C.E.I. tem se relacionado com os movimentos de todos os países que compõem o Conselho.
GEAE: A Internet tem contribuído de alguma forma para as atividades do GEEAK? Como o GEEAK vê a divulgação espírita pela Internet, ela pode contribuir para a difusão da mensagem espírita nos países escandinavos? Sites e periódicos em inglês seriam viáveis ou é necessário o uso das línguas locais? E a divulgação em Esperanto?
Maria Aparecida: Sem dúvida, a internet, sobretudo nos últimos anos, tem sido um caminho cada vez mais amplo, para a divulgação espírita no mundo. É ainda muito recente a sua utilização; seus recursos ainda não são para as possibilidades de todos. Infelizmente a maioria dos trabalhadores espíritas sinceros e abnegados, são de parcos recursos econômicos, embora a grande boa-vontade. Mas, muitos já estão podendo utilizá-la. Claro que os sites em inglês ajudam, mas é necessário o uso das línguas locais, pois a Doutrina do Consolador, precisa atingir o povo sofredor, e grande parte desse povo só conhece seus idiomas locais.
O Esperanto é a grande ESPERANÇA do futuro. Dentro do C.E.I. já estamos fazendo tentativas para utilizá-lo, mas ainda demora um pouco para que todos o possamos aprender e utilizar.
GEAE: Encerrando a entrevista, gostaria de solicitar-lhe algumas palavras dirigidas aos amigos que vivem em locais onde ainda não existem grupos espíritas, é difícil o estabelecimento de um grupo pioneiro? Como estes amigos poderiam iniciar o trabalho de divulgação local do espiritismo? Há grupos ou instituições dedicadas ao auxílio na formação de novos grupos?
Maria Aparecida: Gostaria de agradecer pela oportunidade desta entrevista e dizer aos amigos espíritas que vivem em locais onde ainda não existam grupos espíritas, que ele ou ela podem e devem iniciar um Culto do Evangelho no Lar, comentando em voz alta as leituras evangélicas e doutrinárias que façam em dia e horário pré-estabelecidos. Aos poucos irão se aglutinando os Espíritos necessitados e os Mentores, que trarão consigo encarnados para que se possa formar um grupinho de estudos. Só assim conseguiremos transformar nossa Terra de Provas e Expiação em planeta de Regeneração, solidariedade e amor.
Entrem em contato com o C.E.I., se na Europa, com a Coordenadoria da Europa, e receberão todo o apoio de que necessitem.
Peço aos amigos do GEAE que divulguem os endereços do C.E.I. e suas Coordenadorias.
Muito obrigada!
Cidinha Bergman, pelo GEEAK-Suécia.
Endereços dos grupos citados na entrevista
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- GRUPPEN FÖR SPIRITISTISKA STUDIER ALLAN KARDEC
GEEAK – Grupo de Estudos Espíritas Allan Kardec – Suécia
Address: Asplövsgränd, 44 – 165 77 – Hässelby
Tel: + 46 (0)8 894105
e-mail: geeak.se@telia.com
homepage: http://www.allankardec.org.se/
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- SVENSKA SPIRITISTISKA FÖRBUNDET
UNIÃO ESPÍRITA SUECA – UES
Address: Asplövsgränd, 44 – 165 77 – Hässelby
Tel/ Fax: + 46 (0)8 894105
e-mail: spiritistiska.forbundet-se@telia.com
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- MEAK – Mocidade Espírita Allan Kardec – Suécia
Address: Stamgatan, 75 – 125 74 – Älvsjö
Tel: + 46 (0) 08 722 36 25
e-mail: meak.se@telia.com
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- CONSELHO ESPÍRITA INTERNACIONAL
Comissão Executiva – Secretaria Geral
SGAN – Quadra 603 – Conj. F – Asa Norte
70830-030 – BRASÍLIA – DF – BRASIL
Tel (55)(61) 322-3024 – Fax (55)(61) 322-0523
homepage: https://cei-spiritistcouncil.com/
Fonte: Boletim GeaE, n. 457, junho de 2003