Crônica: Vida após a morte – uma série fora de seu tempo (Parte II)

por Raul Franzolin Neto

 

O episódio quatro da primeira temporada traz como tema “Recados dos mortos” (Signs from the dead). O foco foi mostrar que existem possibilidades de os mortos enviarem sinais para provarem que estão vivos. Mike Anthony continua sua jornada para receber uma comunicação com seu pai. Num teatro em Nova York ele vê uma borboleta como um sinal. O episódio mostra que sinais, tais como, moedas, lâmpadas piscando numa casa, pássaros como cardeais, beija-flores e outros animais podem aparecer como indicativos da vida após a morte. Relata ainda casos de pessoas ouvirem vozes, veem formas de espíritos em espelhos, sentirem cheiros de flores, perfumes etc.

A jornalista e autora da série dá um depoimento de sua experiência com seu irmão morto enviando sinais por uma médium. Passou por semanas pedindo ao seu irmão que enviasse algum sinal físico, dizendo “preciso de algo físico para saber que você está aí”.

Um sinal de que continua vivo? Com conhecimentos primários, ainda engatinhando nessa vasta área já percorrida pelo Espiritismo, o depoimento torna-se importante pelo fato de ser da autora da série, demonstrando os problemas do documentário para quem esperava informações inovadoras ou mesmo históricas sobre os conhecimentos que já estão consolidados sobre a vida após a morte.

Todos esses fenômenos simples de interferência dos Espíritos ocorrem na tentativa de despertar a atenção daqueles que são incrédulos quanto a vida após a morte. Determinado Espírito deseja dizer em sua angústia da separação dos entes queridos: -“Mãe, eu continuo vivo”.

No “O Livro dos Médiuns”, Kardec trata do assunto, na segunda parte “Das Manifestações Espíritas”. O Capítulo I, esclarece todas essas obscuridades levantadas. Ao ler a “Ação dos Espíritos sobre a matéria”, pode-se entender a natureza do homem com seus três componentes: 1º) a alma ou Espírito, princípio inteligente eterno em que se encontra o senso moral. 2º) o corpo, invólucro material e grosseiro de que é revestido temporariamente para o cumprimento de alguns desígnios providenciais. 3º) o perispírito, invólucro fluídico, semimaterial, que serve de liame entre a alma e o corpo. Aí está a chave de todas as relações entre os dois planos. Um ser individual que continua eternamente, capaz de manter sua conexão com o plano Terreno após a morte. Mas há regras a serem seguidas, por isso a manifestação espiritual que se procura e se quer obter não é uma tarefa fácil e, muitas vezes, inoportuna.

O quinto episódio, “Vendo gente morta” (Seeing dead people) inicia-se com uma investigadora paranormal que diz que sempre acreditou em fantasmas (ghosts). Um simples gravador digital é o preferido dentre vários equipamentos para gravar vozes do além. E assim sua investigação se faz em lugares conhecidos como mal assombrados, tentando interagir com “ghosts”. “Você gostaria de ver um fantasma? Não, diz um depoimento, realmente espero nunca ver um fantasma”. Assim, o Espírito desencarnado é visto como algo repugnante, pavoroso e preconceituoso. Certamente, não é assim para o Espírita.

Segue-se com a experiência de pessoas que visualizam espíritos no leito de morte. Fotografias de espíritos são obtidas por um fotografo amador, John Huckert, apenas com uma câmera polaroid, não sendo possível obter o fenômeno com outros tipos de câmeras. Ele acumulou cerca de 11 a 12 mil fotos com imagens estranhas, até mesmo com comunicação escrita nas fotografias.

Novamente, nada que desperte interesse. Fenômenos com médiuns de efeitos físicos são relatados na literatura há séculos com pinturas, gravações de vozes, fotografias e outros. No Brasil, a pintura mediúnica (psicopictografia) foi muito explorada com grande habilidade pelo médium Luiz Gaspareto nas décadas de 1970 e 1980 com a produção de inúmeras excelentes pinturas de artistas famosos (Aleijadinho, Boticelli, Cézanne, Corot, Cottet, Da Vince, Debret, Degas, Delacrois, Di Cavalcante, Dubois, Dumont, Gauguin, Giotto, Goya, Hals, Lasar Segall, Malfatti, Manet, Mark , Matisse, Michelangelo, Modigliani, Monet, Morisot, Pablo Picasso, Pizarro, Cândido Portinari, Raphael, Redon, Rembrandt, Renoir, Reynolds, Rivera, Sargent, Seurat, Tarsila do Amaral, Tissot, Tissou, Toulouse-Lautrec, Turner, Utrillo, Van Gogh , e alguns que não se identificaram) (Pinturas mediúnicas Luiz Gasparetto).

Fenômenos da comunicabilidade com os Espíritos sem o uso de médiuns através de gravação de vozes ou vídeos (videocom) também têm sido explorados com a técnica conhecida de Transcomunicação instrumental (TCI) por pesquisadores espíritas, parapsicólogos e outros em universidades em várias partes do mundo. No Brasil esse tema desperta interesse de longa data (Reportagem Tv Globo).

As fotografias com espíritos inclusive já foram casos de polícia na época de Kardec com fraudes históricas, mas também devidamente comprovadas em processos trabalhados com seriedade. Os casos de pessoas que viram parentes mortos no leito da morte foram bem documentados no vídeo “Death is a but dream (2016)”.

O último episódio da série foi o mais atraente de todos com o tema “Reencarnação”. Os relatos de casos de pessoas que são capaz de relembrar vidas passadas foram descritos e acompanhados por pesquisadores competentes, como Jim Tucker, Doutor em Medicina da Universidade de Virginia. Essa interessante linha de pesquisa foi iniciada e intensamente trabalhada durante mais de 50 anos pela maior autoridade nessa área, Prof. Ian Stevenson (1918-2007), como psiquiatra e diretor dos Departamentos de Parapsicologia e Psiquiatria Comportamental, também da Universidade de Virginia.

Seu trabalho resultou, no início dos anos 1960, em mais de 600 estudos de pessoas que afirmaram ter recordações de uma vida anterior. O prof. Stevenson selecionou então 20 casos e os publicou no clássico livro “Twenty cases suggestive of reincarnation” . Quando da preparação da segunda edição do livro em 1973, ele já contava com cerca de 1200 casos estudados. O livro traz dois relatos de casos brasileiros ocorridos na família do maior poliglota mundial e médium espírita, o Prof. Francisco Valdorimo Lorenz . Com a aposentadoria do Prof. Stevenson na Universidade em 2002, o Prof. Jim Tucker assumiu a continuidade desse relevante projeto. No Brasil, essa área foi pesquisada pelo Prof. Hernani Guimarães Andrade .

Um dos pontos fortes do episódio surge quando Dr Tucker entrevista o menino Atlas de 5 anos de Indiana. É impressionante a naturalidade e a segurança de Atlas em suas respostas das questões estrategicamente definidas diante de imagens de pessoas e lugares de sua vida pregressa. O documentário mostra também o quanto é difícil a convivência daqueles que passaram por esse processo. O efeito emocional é grande envolvendo familiares, crenças, preconceitos etc.

O caso ocorrido em Louisiana das lembranças de James Leininger que viveu como o piloto de caça, James Huston, cujo avião foi abatido pelos japoneses durante a II Guerra Mundial é o ponto mais marcante de toda a série. Notem que os dois apresentam o mesmo nome, James.

Esse estudo de caso é muito marcante na literatura e foi detalhado no artigo “The past life memories of James Leininger” publicado no Boletim GEAE em inglês. Agora, o episódio mostra o emocionante desdobramento dessa história com o James adulto que ainda convive com suas lembranças passadas e, com os depoimentos de seus pais. Não há como não aceitar a continuidade da vida do Espírito em sucessivas reencarnações. As cenas das filmagens do dia 4 de setembro de 2006 no mar do Japão na ilha de Chichi Jima, local da morte de James Huston, ocorrida em 3 de março de 1945, são marcantes. Sua mãe diz para ele: – É hora de você dizer adeus para James Huston. Emoções foram liberadas naquele momento. Será? Como é possível dizer adeus para você mesmo? James Leininger termina confessando que o medo e o pânico da queda do avião ainda persistem. Isso demonstra a importância do esquecimento do passado ao reencarnar, conforme esclarece o Espiritismo.

Considerações Finais

A temática sobre a vida após a morte sempre esteve presente na humanidade. O maior mistério do homem é enfrentar a tão temerosa hora da morte, ou como se diz: quando chegar a minha hora de partir. Esse será sempre o maior interesse de conhecimento na face da Terra, quer queiramos ou não.

Deus coloca em cada ser ao ser criado, a chama do amor para que ele possa enfrentar a escuridão do medo da morte. A sobrevivência da espécie humana depende dessa obscuridade inerente de cada ser dentro da Lei de Deus. Daí surge a luta pela existência, mas nada escapa ao sentimento de se desaparecer; de não mais existir. Nos mundos mais evoluídos não é assim.

Somente o amor livra o homem do medo da morte e o fortalece na certeza da continuidade da vida eterna, cada dia mais feliz.

Duas certezas estão aos olhos de todos. Nascer e morrer. A expectativa do nascimento é bem-vinda. Alegria, felicidade, festa, confraternização, sorrisos e esperança estão presentes durante o processo de nascimento. E a morte? Muitos dizem: essa barreira não pode ser explorada racionalmente. Mas a felicidade eterna depende da busca da Verdade além da morte. Então, se se deseja ser mais feliz, por que não começar agora?

Referências

Andrade, Hernani Guimarães. Reencarnação No Brasil. Matão: Casa Editora O Clarim, 2016.

Lorenz, Waldomiro. Fatos Mediúnicos Da Vida De Francisco Waldomiro Lorenz. 1ª Ed. ed. Rio de Janeiro: Sociedade Editora Espírita F. V. Lorenz, 1998.

Milligar, Wes. “The Past Life Memories of James Leininger.” The Spiritist Messenger 16, no. 93 (2008).

Stevenson, Ian. Reencarnação: Vinte Casos [Twenty cases suggestive of reincarnation]. São Paulo: Centro de Estudos Vida & Consciência Editora, 2010.

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