Crônica: quem realmente somos?

Sempre admirei a humildade. Considero um dos mais belos comportamentos humanos. A gente se sente bem ao lado de uma pessoa verdadeiramente humilde e seu exemplo de vida nos fortalece. Mas a humildade é difícil de ser analisada e entendida. Humildade não se avalia aparentemente pelo sentido visual. Vai muito mais além. Nem a sensação de derrotado, comodista. Humildade tem como princípio o respeito ao próximo.

Estava andando com meu Jeep e me preparava para estacioná-lo numa calçada. Era início de noite e a rua estava um pouco escura. Na calçada oposta notei uma pessoa caminhando. Um homem aparentemente com meio século de vida terrena, magro com roupa muito simples e um boné na cabeça. O andar não era normal. As pernas se alternavam e logo percebi nitidamente que se tratava de uma pessoa bem alcoolizada.

Fiz a manobra, desliguei o motor, desci e caminhei atravessando a rua. Ao chegar à outra calçada quando me encontrava já à frente do homem, fui surpreendido, assim que ele me alcançou. Imaginei que fosse solicitar algo. Ele me fez um sinal e em seguida uma pergunta: – Que marca é o Jeep? Respondi: – Motor Willis, Ano 1963. E continuou: – Bonito o Jeep. Eu disse: – Sim comprei há pouco tempo e estou gostando. -Você o reformou? – Não, o comprei assim. Achei normal o seu interesse e então ele me disse: – Eu tenho um também todo original ano 1951, mas está em Goiás. Perguntei-lhe: – Então você não é daqui? – Não. Minha mãe mora aqui perto. Passo um tempo aqui algumas vezes e volto para lá. Muito longe, cerca de 1700 km. Tenho uma fazenda lá e uso o Jeep.

Com isso a conversa se prolongou e perguntei-lhe mais sobre sua vida. Ele me disse que comprou a propriedade há certo tempo e trabalhou duro para desbravar e transformá-la em propriedade rural com criação de gado. – Minhas filhas se formaram em Medicina Veterinária na Universidade Federal. Disse-lhe que eu também era veterinário. Ele ficou surpreso e apertou minha mão. Uma delas está agora fazendo especialização no exterior em transferência de embriões. Técnica essa utilizada na sua fazenda.

Por ter uma propriedade em local muito bonito e acessível ao rio Araguaia firmou uma parceria com um grande empresário do ramo de ecoturismo em sua fazenda. Essa visão lhe foi dada em conversa que teve com uma senadora.
E após algumas risadas juntos, me despedi: – Boa noite meu amigo e felicidades. Ele se despediu: – Boa noite e espero que você vá me visitar um dia! Obrigado pelo convite, quem sabe um dia! E continuou seguindo pela rua escura e só; entrei em casa, alegre por ter tido um novo e feliz aprendizado de vida. Muitas vezes ignoramos as pessoas simplesmente pela aparência.

Quem realmente somos?

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