Aula 14 – A idade da razão

por Maurício Junior


O Iluminismo: Movimento Ideológico do séc. XVIII

O Nascimento da Ciência Moderna
O Crescimento da Ciência no séc. XVIII
A Religião na Era da Razão

 

1 – O ILUMINISMO: MOVIMENTO IDEOLÓGICO DO SÉC. XVIII

    Em momento algum entre o princípio do séc. XVI e a última metade do séc. XVIII, houve qualquer interrupção real no fluxo do desenvolvimento intelectual que caracterizara a Renascença. Os mesmos rios de secularismo, de humanismo e de individualismo continuaram a fluir, cada vez mais ampla e profundamente, fornecendo preparo intelectual ao triunfo da nova fé na razão humana que devia assinalar as chamadas “Luzes” do séc. XVIII. Durante esses séculos, entretanto, duas novas correntes tornaram-se crescentemente importantes nesses rios. A primeira foi a moderna ciência experimental; a outra foi a corrente intelectual posta em movimento pelas explorações geográficas que marcaram o começo do sentido moderno de uma comunidade intelectual que abrange o mundo inteiro.

    Os intelectuais da época acusavam de antiquada e ignorante a sociedade, o governo, a economia, a educação, a religião e afirmavam que os homens se aperfeiçoavam graças à razão e que, iluminados por ela, poderiam alcançar a prosperidade e a felicidade. Por isso, insistiam na necessidade de ilustrar-se, educar-se racionalmente e empregar a razão para descobrir as leis que regem a sociedade e assim poder solucionar os seus problemas.

    Algumas das ideias que dirigem o pensamento “iluminista”, que são o conhecimento racional e científico da natureza, ajudaria a encontrar as leis naturais da sociedade, que as ciências devem ser desenvolvidas mediante a aplicação de métodos experimentais e que, segundo as leis naturais da sociedade, o homem deveria desfrutar de maiores liberdades e não estar submetido ao controle da monarquia absoluta; reduzir as desigualdades sociais, terminando com a servidão e a escravidão e educando o povo para dar-lhe maior mobilidade social.

    Outro dos princípios que sustentavam os iluministas era que a moral e a educação não podiam ser dirigidas pela Igreja Católica ou Protestante, porque seus ensinamentos estavam baseados na fé e não na razão.

    Este movimento intelectual desenvolveu-se nos salões da nobreza e burguesia francesas e também nas academias e museus. Nas universidades, que estavam mais apegadas ao tradicionalismo, estas ideias não foram facilmente aceitas.

    A França foi o centro de irradiação desta nova ideologia, mas as raízes deste movimento não somente se encontram no século anterior, na filosofia racionalista de Descartes, mas também nos descobrimentos astronômicos e físicos de Isaac Newton e outros pensadores.

    Muitas das ideias políticas e sociais dos iluministas a favor de certas liberdades, inspiravam-se no filósofo inglês John Locke, liberal do séc. XVII e ideólogo da Revolução Gloriosa, que terminou com o absolutismo na Inglaterra. Para Locke, os súditos tinham um direito inalienável à vida, à liberdade e à propriedade, que os monarcas não podiam violar e, quando o faziam, o povo estava legitimamente autorizado a destituí-los. Entretanto, as ideias de maior alcance nos acontecimentos imediatos, e que seguem ainda vigentes, são as de Montesquieu, Voltaire e Rousseau.

    Charles de Secondant, barão de Montesquieu, criticou o absolutismo e propôs que o poder monárquico fosse dividido em três: Executivo, Legislativo e Judiciário. O Poder Executivo ficaria nas mãos do rei; o Poder Legislativo estaria a cargo de um Parlamento ou Assembleia Representativa e o Judiciário seria exercido pelos juízes e magistrados. Essa teoria política, conhecida como a teoria da separação dos poderes, foi exposta em sua obra “O Espírito das Leis”.

    François Marie Arouet, mais conhecido pelo pseudônimo de Voltaire, foi um grande escritor, novelista e dramaturgo que ridicularizou, com seu estilo satírico, tanto a monarquia quanto a sociedade, mas sobretudo a Igreja. Seus ataques demolidores ajudaram a desacreditar as instituições políticas, religiosas e sociais de sua época, forçando-o a abandonar a França em várias oportunidades.

    Jean-Jacques Rousseau, por sua vez, afirmou que o homem é bom por natureza e a sociedade o corrompe. Para evitar isso, o homem deve voltar ao estado puro em contato com a natureza, para que ela guie a sua moral. Em sua obra “O Contrato Social”, expôs que a sociedade e o estado surgiram de atos voluntários e livres do homem e estes, mediante um contrato, delegaram seus direitos a um governo. Desta afirmação, é possível deduzir que o soberano não é monarca, mas sim a vontade geral do povo. Anos mais tarde esta teoria seria um dos fundamentos das constituições democráticas.

    As ideias de muitos desses pensadores, escritores e cientistas foram publicadas na Enciclopédia ou Dicionário Racional das Ciências, Artes e Ofícios, que circulou por toda a Europa durante mais de vinte anos. Esta publicação foi dirigida pelos escritores Diderot e D”Alembert, e seu ataque às estruturas políticas, econômicas e sociais vigentes na Idade Moderna contribuiu decisivamente para provocar a Revolução Francesa no final do séc. XVIII.

2 – O NASCIMENTO DA CIÊNCIA MODERNA

    A ciência moderna teve nascimento em meio à chamada Renascença. Seus começos podem ser datados, muito adequadamente, da publicação de três grandes livros científicos, com dois anos de diferença entre si. O primeiro deles foi o livro de Copérnico, Das Revoluções dos Corpos Celestes; o segundo foi Da Estrutura do Corpo Humano, de Vesálio, no mesmo ano; o terceiro foi A Grande Arte, de Cardano – título com que ele se referia à álgebra.

    Antes da Renascença, a teoria aceita sobre o universo era a de que a Terra permanecia imóvel em seu centro (geocentrismo), enquanto os planetas e estrelas se moviam à volta dela. Nicolau Copérnico, filósofo polonês, médico e matemático, em 1543, provou-a fora de qualquer dúvida razoável. No ramo da Astronomia, adentrando-se nos séculos seguintes, presenciamos cientistas de renome como Tycho Brahe, João Kepler e Galileu Galilei, que esposou a teoria de Copérnico ampliando-a e tornando-a pública em seu livro O Mensageiro Sideral. Os cientistas o saudaram, mas os líderes religiosos ficaram aborrecidos, pois as consequências de seus achados pareciam lançar dúvidas sobre a tradicional explicação religiosa do universo. A oposição religiosa ao sistema de Copérnico já fizera alguns mártires da causa da ciência, o mais notável dos quais foi Giordano Bruno, que, em 1600, foi queimado na fogueira em razão de suas heresias científicas. Também Galileu foi levado ante a Inquisição, recebeu ordem de retratar-se, foi aprisionado por algum tempo e forçado a viver em retiro fora de Florença.

    A culminância do estudo da Astronomia veio com a obra de Isaac Newton (1642-1727), na Inglaterra. Newton era tanto físico como astrônomo, mas sua fama principal decorre de sua definitiva exposição da lei de gravidade e da aplicação desta ao movimento dos corpos celestes. De modo geral, a obra de Newton mostrou que o universo inteiro, incluindo a Terra, é governado por leis naturais, que podem ser expressas em termos matemáticos.

    Isso marcou a culminação da Revolução Copérnica-Newtoniana no pensamento humano. O mundo, em vez de ser o centro do universo, em vez de obedecer à vontade de um Deus caprichoso, tornou-se uma máquina, governada por leis que nunca variam. E o homem, não mais a figura mais importante do universo – o personagem principal do drama épico da criação, do pecado e da salvação – passou a ser apenas um transeunte num pequeno planeta a girar em torno de uma estrela de quarta grandeza.

    Na Inglaterra, William Gilbert (aprox. 1540-1603) estudara o magnetismo e a bússola dos marinheiros. Daí concluíra ser a Terra um grande magneto e, a gravitação, uma espécie de força magnética.

    Mais tarde, Robert Boyle (1627-1691), um inglês,  começou seus estudos sobre o ar, que o levaram a refutar certos dogmas antigos a respeito da atmosfera e a adotar a teoria da composição da matéria, que prefigurava a teoria atômica. Pode-se dizer que Boyle iniciou o estudo moderno da química.

    Poucos desses avanços teriam sido possíveis, não fosse o desenvolvimento obtido na matemática, com René Descartes (1596-1650), que conseguiu reunir a geometria e a álgebra, para criar a geometria analítica. Isso colocou outro magnífico e novo instrumento intelectual nas mãos dos cientistas. A ele logo se acrescentou o cálculo, que Gottfried Wilhelm von Leibniz (1646-1716) e Isaac Newton, trabalhando, independentemente um do outro, levaram à perfeição.

    Outro desenvolvimento significativo do crescimento da ciência foi a definição do método científico. A principal figura desse trabalho foi Francis Bacon (1561-1626). Bacon, em sua época, foi o primeiro grande teórico moderno da ciência. Em seu Novum Organum (1620), proclamou que o verdadeiro método da ciência era o método indutivo, que envolve a reunião de fatos e a generalização a partir deles.

    De crucial importância para o avanço da ciência foi a invenção de instrumentos de observação e medida. Dos mais importantes foram o microscópio, inventado em 1590, e o telescópio, por volta de 1608, ambos por holandeses fabricantes de óculos. Mais ou menos ao mesmo tempo, vieram o barômetro, o termômetro e o relógio de pêndulo, que possibilitou mais exata medição do tempo.

3 – O CRESCIMENTO DA CIÊNCIA NO SÉC. XVIII

    O apogeu da ciência do séc. XVIII foi alcançado por uma elaboração dos princípios que Newton descobriu. O principal problema da astronomia era a acurada medição das forças da gravidade no sistema solar. A resposta a esse problema resumiu-se na Mecânica Celeste de Pierre Simon Laplace (1749-1827). Edmundo Halley (1656-1742) fez surpreendentes descobertas relativas aos cometas.

    Também a eletricidade deu motivo a muitos estudos. F.C. du Fay (1698-1739) descobriu a existência de duas espécies de eletricidade, que Benjamin Franklin denominou “positiva” e “negativa”. Franklin também mostrou que o raio é uma gigantesca centelha elétrica.

    Na química, certo número de cientistas aceitou a teoria atômica de Boyle sobre a estrutura da matéria, sustentando que todos os elementos são apenas diferentes compostos de átomos. Antoine Laurent Lavoisier (1742-1794), para o fim do século, mostrou que oxidação e combustão, na essência, são o mesmo processo, e quando Joseph Priestley (1783-1804) isolou o oxigênio, a natureza da combustão tornou-se melhor conhecida.

    Nas ciências biológicas, a obra mais significativa foi o aperfeiçoamento dos sistemas de classificação e nomenclatura. Era uma tarefa que devia ser feita antes que pudesse vir o grande desenvolvimento da era darwiniana. Karl von Linné (1707-1778), da Suécia, o maior dos botânicos do séc. XVIII, dividiu toda essa matéria em elementos simples e objetos naturais, que são combinações de elementos. Classificou os objetos naturais em três grupos: rochas, vegetais e animais, e subdividiu cada grupo em classes, ordens, gêneros e espécies. Continuou concebendo um método sistemático de dar nome às plantas e animais de acordo com o gênero e a espécie.

    Na medicina, um dos mais dramáticos adiantamentos foi a introdução da prática de inoculação contra a varíola, prática aprendida dos turcos.

    Não somente as ciências naturais tiveram avanço mas também as ciências sociais que ensaiavam os primeiros passos, em virtude da abertura da Ásia, África e América que deu incentivo a muita discussão sobre os povos e culturas não europeus e a certo número de esforços para chegar a determinadas generalizações novas com relação à natureza do homem e à solução de seus problemas. No curso desse pensamento, o conceito predominante sobre a natureza humana mudou-se da antiga concepção cristã do homem como vil, pecador e vicioso, para uma que o via como dignificado, racional e capaz de escolher entre o bem e o mal. Assim, o ideal renascentista do indivíduo esclarecido floresceu na crença humanitário-racionalista do séc. XVIII, segundo a qual cada indivíduo é, por natureza,  dotado de certos “direitos inalienáveis”, e na fé em que os homens são capazes de pensar e de governar sua conduta, individual e coletivamente, de acordo com os ditames da inteligência, ou razão. Esse senso da dignidade do homem, por sua vez, foi responsável por uma nova atitude para com os infratores da lei, os privados da razão e os pobres. O resultado prático disso foi uma onda de reforma legal nas prisões.

4 – A RELIGIÃO NA ERA DA RAZÃO

    Numa época em que as descobertas da ciência iam revendo drasticamente os conceitos adotados do universo, inevitavelmente os velhos princípios religiosos, como os postulados da filosofia, teriam também de ser revistos.

    Prova dessa revisão do pensamento religioso foi o surgimento do deísmo. Os que aceitavam esse novo conceito religioso continuavam a acreditar em Deus, mas, para eles, Deus era a impessoal “causa primeira” do universo. Uma vez criado o universo e decretadas as “leis naturais” que o governam, permitira ele que esta funcionasse sem ulterior intervenção sua. Nesse esquema de coisas, o homem era filho da natureza, mas possuía um cérebro capaz de entender as leis naturais que o regiam. E, pelo exercício de sua razão, podia escolher entre o bem e o mal.

    Essa nova ética racionalista expelia a velha concepção religiosa de não ser o homem capaz de escolher o bem e fazê-lo sem ajuda exterior de Deus. E também negava a antiga crença de que Deus constantemente interfere no universo realizando milagres. Era uma concepção paralela aos achados e às implicações da ciência.

 

TEXTOS EXTRAÍDOS DE:

Dicionário Prático Ilustrado. Lello & Irmãos. Porto.
Atlas Histórico e Geográfico.
SAVELLE, Max. História da Civilização Mundial, vol. II.
Enciclopédia Barsa.
Enciclop;edia Britânica.

 

ANEXO

 

 TODA FÉ NA RAZÃO

    O título acima é de uma matéria publicada na revista “Veja”, de 16/06/99, no qual o Papa elogia Copérnico, outrora banido pela Igreja, e diz que a religião precisa da ciência. Transcrevemos abaixo, a matéria em seu inteiro teor.

 *               *               *

    O astrônomo polonês Nicolau Copérnico enviou a Roma uma cópia de sua tese sobre o movimento dos planetas no mesmo ano de sua morte, 1543. Em carta anexa, pedia ao papa Paulo III, tolerância para a teoria que o ajudaria a revolucionar o conhecimento do mundo físico: a de que o sol é o centro do universo, e não a Terra, como era sustentado pela Igreja Católica na época.

    Longe de ser saudado como uma contribuição científica, o livro despertou furor e esteve no índex das obras proscritas pela Santa Sé até o séc. XIX. Tornou-se ainda mais notável como pivô do julgamento de Galileu Galilei, a mais famosa vítima da intolerância religiosa.

    O que levou o físico e astrônomo italiano às mãos da Inquisição, em 1633, foi ter tentado provar que a teoria heliocêntrica de Copérnico estava correta.

    Na segunda-feira passada, mais de 400 anos depois, a história deu a volta completa, e Copérnico encontrou um defensor de peso no seio da Igreja Católica – o próprio papa. Em essência, o que João Paulo II disse na universidade que leva o nome do astrônomo em Torun, sua cidade natal na Polônia, é que não há contradição entre fé e razão.

    A defesa de Copérnico nada tem de casual. Pode ser melhor entendida no contexto do exame de consciência com o qual João Paulo II pretende preparar a Igreja Católica para o terceiro milênio. A tarefa inclui uma varredura em regra do entulho sombrio acumulado por séculos nos porões da Santa Sé. Logo depois de assumir o trono de São Pedro, em 1978, ele nomeou uma comissão mista internacional para estudar a reabilitação de Galileu. Para escapar da fogueira, o astrônomo precisou abjurar suas teses e viveu os últimos oito anos de vida em regime de semi-reclusão, obrigado a uma penitência de recitação de salmos.

    É por envolver Copérnico que a danação do italiano toca pessoalmente o papa. Karol Wojtyla, o atual João Paulo II, foi cardeal em Cracóvia, a cidade polonesa onde Copérnico estudou.

    Galileu Galilei foi oficialmente reabilitado em 1992. O livro de Copérnico deixou o índex em 1822. A ironia é que, apesar da inegável contribuição à ciência moderna, Copérnico e Galileu tropeçaram num erro fundamental. Isso porque o sol é o centro de um sistema planetário, não do universo, como imaginavam. O papa da época, por sua vez, apegou-se a uma interpretação literal da Bíblia e temeu não haver lugar para Deus em um mundo cujo funcionamento pudesse ser comprovado por método científico.

    Para João Paulo II, ao contrário, a verdade científica é irmã da verdade religiosa. Três anos atrás, chegou a declarar a teoria da evolução e a fé em Deus como assuntos compatíveis. Exposta pela primeira vez em 1859, pelo naturalista inglês Charles Darwin, a teoria de que os seres vivos evoluem até hoje é contestada por cristãos radicais porque contradiz a explicação literal da Bíblia para a criação da vida na Terra.

    João Paulo II é o papa que mais tem se esforçado para estabelecer um relacionamento amistoso entre a ciência e a fé – a reabilitação de Copérnico deve ser vista também como parte desse empenho.

    Em Torun, o papa defendeu o astrônomo citando sua última encíclica, Fides et Ratio (Fé e Razão), divulgada em outubro do ano passado. Falando a estudantes e professores, muitos deles ex-colegas de seu tempo como professor de filosofia na Polônia, João Paulo II advertiu que desprovida de razão a fé se arrisca a deixar de ser “uma proposição universal”.  “O que o papa está dizendo é que a fé sem razão descamba para a superstição e para o misticismo”, interpreta o teólogo Oscar Beozzo, de São Paulo.  “Ao mesmo tempo, ele pede uma razão aberta ao mistério.” A lua-de-mel entre a ciência e a fé não é perfeita. Pisa-se em ovos quando o assunto envolve bioética, como a fertilização in vitro. “O que é preciso”, disse João Paulo II na Polônia, “é estabelecer limites para a intervenção da tecnologia humana na natureza.”

    Sempre se considerou escandaloso que a fé se tivesse colocado contra a ciência. A novidade com João Paulo II é a disposição para reconhecer que houve algo de errado no comportamento dos doutores da Igreja. Ele remoeu a consciência católica ao se desculpar, ainda que muitas vezes indiretamente, pelos horrores da escravidão africana, pelo massacre dos indígenas na América e também pelo próprio silêncio durante o extermínio dos judeus na II Guerra. Em todos os casos, a Igreja preferiu pedir desculpas pelos erros individuais dos católicos, mesmo quando eram membros importantes da hierarquia, sem admitir responsabilidade como instituição. Há quem torça o nariz ao fato de o mea-culpa poupar a Santa Sé. Muito mais surpreendente, contudo, é a coragem de ir tão fundo no reconhecimento dos pecados do passado. “Que outra instituição tem julgado a si mesma e reconhecido que cometeu falhas?”, pondera o padre João Batista Libânio, professor de teologia em Belo Horizonte.

    O exame de consciência a que está sendo submetida a Igreja nada tem a ver com a doutrina.  João Paulo II é conservador em todos os assuntos que digam respeito a fé, moral e ritual. Em seus pronunciamentos, o papa enfatiza a indissolubilidade do casamento, condena o aborto e os métodos artificiais de contracepção. Não quer ouvir falar em sacerdócio feminino nem no fim do celibato. É bem provável que a Igreja chegue ao ano 2000 de consciência mais leve – mas com certeza não terá nada de pós-moderna.


 Fonte: BOLETIM GEAE | ANO 09 | NÚMERO 421 | JULHO DE 2001

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