Deus nos criou simples e ignorantes. Nada sabíamos. Existir e viver pareciam a mesma coisa. Por isto Deus nos apontou dois caminhos.
Num deles estamos destinados a existir por toda a eternidade. Somos imortais e existiremos sempre. O fardo que carregamos ao longo da viagem, encarnação após encarnação, pesa cada vez mais com nossas mágoas, nossas revoltas, nosso egoísmo, nossa intolerância, nossa aversão ao perdão, nossa descrença no futuro, nossa arrogância e com várias outras pedras que vamos ajuntando ao longo do caminho. É bobagem querer abreviar ou pular a condição existencial de uma encarnação, com o suicídio ou com morte de um inimigo. O arrependimento e a decepção pelo engano só farão aumentar o peso do nosso fardo e o número de encarnações pelas quais teremos que carregá-lo.
Mas Deus também nos mostrou um outro caminho. Nesse outro caminho seríamos agraciados com a vida eterna. Somos espíritos imortais e viveremos sempre. O fardo que carregamos fica cada vez mais leve conforme formos nos livrando das pedras de nossas mágoas, nossas revoltas, nosso egoísmo e nossa intolerância. E cada vez que colhermos pelo caminho as pérolas do perdão, as sementes da fé no futuro, as flores da humildade e outras amenidades que formos encontrando, nossa felicidade e a alegria de viver vão crescendo indefinidamente.
Esses dois caminhos estão sempre se cruzando. A cada nova encarnação pode-se mudar de rumo. Nossa documentação nos permite embarcar em outro voo. A bagagem que carregamos temos que levar em frente, não sendo possível simplesmente deixá-la no aeroporto. Isso não é permitido. Mas seu peso futuro depende de nossas escolhas.
Há cerca de 2000 anos fomos interpelados em uma dessas estações. Ainda não havia aviões, apenas camelos, jumentos e carroças. Precisávamos de uma canga para carregar nossa bagagem nas costas. A viagem era difícil por estradas difíceis cheias de perigos. Quem nos interpelou nos alertou que podíamos trocar nossa canga por um jugo mais leve e fácil de se carregar. Mostrou-nos um outro caminho. Um caminho de vida plena de oportunidades gratificantes como alternativa ao da existência pobre e pesada. Jesus disse-nos “Vinde a mim todos vós que estais fatigados, que eu vos aliviarei”. Achamos que era um louco e por isso o crucificamos.
Com o avanço tecnológico, nossas viagens são cada vez mais rápidas, mas a velha canga continua em nossas costas cada vez mais pesada com nossas mazelas ridículas e estúpidas. A situação não é exatamente a mesma, mas as palavras de Jesus se encaixam perfeitamente: “Ó raça incrédula e depravada, até quando estarei convosco? Até quando vos sofrerei?” Até hoje não entendemos que Jesus não quer continuar nos carregando no colo como se fôssemos criancinhas de pernas fracas. Já deveríamos caminhar com nossas próprias pernas de forma firme e segura para um futuro melhor. Recebemos tudo o que precisávamos para isto. Quando é que vamos nos tornar adultos emancipados? Quando é que vamos parar de juntar nossas duas mãos só para pedir aos céus, em lugar de juntá-las com as do próximo para nos irmanarmos e caminharmos todos juntos para um futuro melhor, com mais amor, mais igualdade e mais felicidade para todos? O Cristo Consolador já está cansado de nos consolar. Quer que nos transformemos. A mensagem do Cristo pede transformação antes da consolação. Ó raça estúpida e hipócrita!