por Nubor Orlando Facure.
Um grito me chega aos ouvidos, nem saio da cadeira. É o Said, meu gatinho de novo, se implicando. Ele não suporta que o Petruco, nosso gato pretinho que vive no quintal, entre dentro de casa.
Outro ruído que incomoda: caiu uma panela na cozinha, fazendo um barulhão. É a nossa cozinheira: faz tudo muito gostoso, mas sempre com pressa.
Agora, é um clarão que faísca na sala – mais uma daquelas lâmpadas modernas que se queimam.
De repente, outra notícia na televisão: novas e terríveis imagens de um tsunami. É triste, mas já não emocionam mais.
Minha esposa está de bolsa nova e, seguramente, vai me perguntar se percebi. Esse tipo de percepção não roda no PC dos maridos – elas traduzem PC de marido como: “porcaria de cérebro”.
Continuamente, meu cérebro é atingido por sons e imagens. Há um trânsito neural que tem de percorrer, do ouvido ou do olho até informar o córtex cerebral.
Nesse trajeto, uma estação obrigatória é a Amígdala. Ela junta, nas informações sonoras ou visuais, a sua etiquetagem, classificando a relevância emocional: se no barulho há perigo, tenho de correr; se na imagem há a surpresa agradável de rever um amigo, tenho de expandir esse prazer com um abraço; se o barulho é familiar, não me afeto; se a imagem é chocante, às vezes prefiro nem ver; se é um objeto que perdi, explodo de contentamento; se é mais uma conta de luz, prefiro olhar depois do almoço.
Todo esse conteúdo comportamental não passou despercebido pela neurofisiologia. Dessa maneira, já estão mapeadas as regiões cerebrais envolvidas em cada resposta que damos aos medos. A Amígdala reparte as informações que recebe, orquestrando a resposta final:
1 – No Hipotálamo lateral – ocorre a resposta simpática: o coração dispara, a pressão sobe e a temperatura se eleva.
2 – Núcleo motor do nervo Vago – resposta parassimpática: expulsão de fezes e urina.
3 – Núcleo parabraquial no bulbo – a respiração fica difícil.
4 – Núcleos monoaminérgicos da Ponte – entramos em vigilância, atenção concentrada.
5 – Núcleo Reticular da Ponte – resposta do sobressalto: a gente pula quando leva um baita susto.
6 – Substância cinzenta periaquedutal – comportamento de inibição: as pernas paralisam de medo, o animal fica “estatelado” no chão, de cara para a cobra, sem poder piscar.
7 – Núcleo motor do nervo Facial – expressão facial típica: fazemos cara de medo, de assustado, de pânico. Dá para ver na cara de qualquer criança.
8 – Núcleo paraventricular do Hipotálamo – onde ocorre a resposta química ao estresse: liberação de corticóides.
9 – Hipocampo – aqui guardamos a memória das experiências de medo: acostumamo-nos com o estampido dos fogos, com o latido do cachorro bravo, com a voz grossa do pai violento, com o bombardear dos trovões, o bater de asas da barata assustada, o corisco cortando os céus, a buzinada do caminhão, o ruído estranho no quintal do vizinho, a ameaça do louco.
Lição de casa
Lidar com as emoções exige mobilização de múltiplas áreas do cérebro.
Ninguém merece ser incriminado de culpa quando o inesperado lhe tira do controle.