por Nubor Orlando Facure.
Com o passar dos anos percebi que a maior parte das minhas memórias ficaram de fora do meu cérebro.
De tudo que aprendi percebi ainda hoje, que, as que guardei no próprio cérebro, estão pouco a pouco me abandonando.
Parece que todas as coisas do mundo estão perdendo seu vigor, seu colorido e seu significado.
O pior é que estão levando minhas memórias com elas.
Achei oportuno fazer uma revisão das memórias que deixei para trás marcadas pelas coisas que vi.
Precisava reencontrá-las.
Marcel Proust as descreveu (Em busca do tempo perdido) no cheiro das Madeleines que saboreava ao tomar o chá da tarde com sua tia Léonie quando era criança.
Eu ainda as vejo nos vitrais das Igrejas que descrevem as estações do martírio de Jesus.
Nos meus medos da pintura do demônio que dizem espreitar meus pecados.
No frio do meu corpo junto aos barulhos das cachoeiras que me refrescavam.
No trinado agitado dos pássaros que me acordavam começando a madrugada.
No ruído de passos chegando quando roubei o primeiro beijo sem perceber a mãe dela que estava tão perto.
No milho assado na brasa do fogão a lenha que aquecia o canto da nossa cozinha.
Na escuridão da noite que se aproximava encerrando as brincadeiras de pega-pega.
No primeiro livro que li, deixando apenas o título como lembrança – Dois corações.
Percebi amargurado que:
Não foram embora as minhas memórias, o que me deixou foi o valor que deixei de dar às coisas que me afetaram tanto.