V Congresso Espírita Nacional da Espanha

por Carlos Alberto Iglesia Bernardo

 

Realizou-se nos dias 6 a 8 de dezembro de 1997 o V Congresso Espírita Nacional da Espanha. Desde o primeiro congresso na cidade de Madrid (1992) os grupos espíritas espanhóis, sob os auspícios da Federação Espírita Espanhola, têm realizado anualmente o seu encontro.

O V Congresso foi organizado pelo “Centro de Estúdio Espírita Allan Kardec” de Málaga, e sediado no Hotel Cervantes em Torremolinos, cidade turística da Costa del Sol a cerca de 15 minutos de carro de Málaga. Nas dependências desse hotel foram hospedados os participantes do encontro e realizados os debates e palestras do evento.

Como participante estrangeiro do congresso – como espectador e na intenção de conhecer melhor o movimento espírita em terras espanholas – não pude deixar de ficar surpreendido com a organização do evento. Participaram grupos de quase todo o país, faltando somente representantes de algumas regiões do norte, provavelmente devido as nevascas que interromperam diversas estradas no dia 5.

As cerca de 200 pessoas que assistiram ao evento representavam em sua maioria grupos pequenos, muitos de origem recente, porem com grande entusiasmo e dedicação no estudo da doutrina. Fato esse facil de constatar pelo nível das palestras apresentadas, que esperamos sejam publicadas na homepage da FEE, e pelos debates que tivemos oportunidade de assistir.

Também assistimos a uma assembleia geral da FEE, aberta ao público e realizada na noite do dia 5, pela qual pudemos perceber que a Federação vem tendo bons resultados no seu esforço de unir os grupos espíritas nacionais em torno dos objetivos maiores da doutrina, em sintonia com o trabalho que a nível internacional tem sido realizado pelo Conselho Espírita Internacional. Vimos a adesão de novos grupos na Federação e nos temas levantados acompanhamos com grande interesse a liberdade com que os diversos grupos debateram suas posições e como foram ouvidos pela diretoria, que inclusive foi reeleita em votação realizada durante a reunião. Para que os amigos tenham uma ideia do interesse geral, basta dizer que a assembleia se estendeu até as 2:00 horas da madrugada e só foi interrompida porque o congresso se iniciava as 9:00 horas do mesmo dia.

Durante os dias 6 e 7, o Congresso se estendeu das 9:00 horas da manhã até a meia-noite, com as palestras terminando às 21:00 horas e os debates com os palestrantes das 22:00 horas em diante. No dia 8 o congresso foi das 9:00 horas até às 13:00 horas. As palestras de abertura e de encerramento foram proferidas por Divaldo Pereira Franco. Não é possível descrever o impacto que essas palestras causaram nos ouvintes, em especial a de encerramento – que girou em torno do tema “As sete razoes por que creio em Deus” – me pareceu não haver ninguém no salão que não estivesse disfarçadamente enxugando os olhos.

Como não seria viável resumir em poucas linhas as palestras apresentadas pelos conferencistas, pois cada uma delas mereceria diversos parágrafos, limito-me a reproduzir-lhes os temas:

 “Justicia Divina” – Juan José Torres, Centro E. A. Camino de La Luz, Manzanares

 “Espiritismo e Sanacion” – José Manuel Garcoa Moscoso C.E.M.E.L, Madrid

 “El Mensaje Cristico de Jesus” – Juan Antonio Torrijo Associacion Espírita de Valencia

 “La Vida en el Mundo Espiritual” – Miguel de Jesus Sardano, Brasil

 “Fuera de La Caridad no hay Salvacion” – Jose Aniorte, Centro Camino de Luz, Orihuela

 “Caminando Hacia Dios” – Isabel Horta Mun~oz, Centro Amor Fraterno, Alcazar de San Juan

 “Evangelio y Espiritismo” – Rogerio Coelho, Brasil

 “La Obsesion entre encarnados” – Centro Joanna de Angelis, Reus

 “Pruebas de la Providencia Divina, Leonardo da Vinci” – Teresa Vazques

 “Los Obreros de la Ultima Hora” – Mercedes Garcia de la Torre Fraternidade E. José Grosso, Cordoba

 “La Divina Justicia de la Reencarnacion” – Juan Miguel Fernandez, Asociacion de Estudios Espíritas de Madrid

 “Dios y la Creacion” – Esteban Zaragoza, Centro de Estudio Espírita Allan Kardec, Malaga

 “Consolidacion del Espiritismo en el Mundo” – Rafael Gonzalez Molina CE Y DE, Madrid

 “Los trabajos mediumnicos en el Centro Espírita” – Santiago Gene Mateu, Centro Joanna de Angelis, Reus.

Também foram apresentadas poesias do “Centro de Estúdio Espírita Allan Kardec” de Málaga e uma homenagem a Allan Kardec recitada por crianças desse mesmo grupo; homenagem singela que deve ter agradado sobremaneira ao grande educador – que dedicou grande parte de sua vida ao ensino das crianças e sempre pautou-se pela simplicidade pessoal.

Com referência a Internet, pude constatar o interesse demonstrado pelas pessoas em conhecer maiores detalhes a respeito. Nosso colega internauta Johnny M.Moix, responsável pela página da FEE, não só fez várias demonstrações de uso – tarefa para a qual ele preparou um computador no salão – como também empenhou-se em explicar os benefícios resultantes do novo meio de comunicação. Creio que a médio prazo, como resultado desse interesse e da divulgação feita durante o congresso, veremos um aumento no número de páginas espíritas espanholas e no de espíritas espanhóis conectados na rede.

Um outro assunto abordado no congresso, e que merece ser mencionado, é o apoio que vem sendo dado ao movimento espírita cubano. O Espiritismo ressurgiu a pouco tempo em Cuba, e apesar das enormes dificuldades materiais que a ilha vem enfrentando, tem tido um crescimento surpreendente. Grupos estão se organizando por toda ilha e estão sendo feitos esforços imensos para o estudo da doutrina. Curiosamente uma das dificuldades encontradas é a prática mediúnica desorganizada, resultado do sincretismo religioso com os cultos trazidos pelos escravos africanos, bastante comum em Cuba e que gera distorções no modo como o povo vê a comunicação entre o plano material e o espiritual. A vice-presidenta da FEE e presidenta do “Centro de Estúdio Espírita Allan Kardec”, Isabel P. Gonzalez, está se preparando para voltar a Cuba no início de 1998 com ajuda material e livros.

Na visão da Federação, atualmente presidida por Santiago G. Mateu, a regularidade anual dos congressos é fator importante para o movimento espírita nacional. E realmente a aproximação entre as pessoas, a oportunidade para a troca de experiencias e ideias, me pareceu exercer influência considerável sobre as características do movimento, fortalecendo-lhe a união, não somente no sentido de laços formais, mas no sentido que verdadeiramente importa, no de uma grande família. Meus votos sinceros de que os encontros anuais continuem sem interrupção, superando as dificuldades que possam aparecer, pois não pudemos deixar de notar que o esforço exigido para organizar um evento desse porte, principalmente em relação ao tamanho efetivo dos grupos responsáveis pela organização, é imenso.

Não saberia traduzir em palavras a impressão que me causaram as pessoas que participaram desse evento, e mais difícil ainda nomeá-las a todas, assim gostaria apenas de relatar aos amigos o sentimento profundo de amizade e acolhimento que todas demostraram, que mesmo sendo estrangeiro e pela primeira vez tendo tido contado com todas elas, senti-me como se estivesse em casa, como se estivesse participando de uma reunião no grupo que frequento a anos.

Creio que para o Espírita que não conheça a história da doutrina – que desconheça como o Espiritismo chegou ao solo espanhol na época mesmo de Allan Kardec e ali encontrou divulgadores do porte de Amalia Domingos Soler, de Miguel Vives y Vives e outros inumeráveis nomes ilustres, que não saiba que o movimento espírita espanhol praticamente desapareceu, não por falta de empenho de seus adeptos, mas por causa de uma sangrenta guerra civil e da repressão de um regime ditatorial – será difícil entender a responsabilidade da geração atual. A responsabilidade de reascender e manter viva uma luz que iluminou não só sua terra natal, como também os grupos nascentes na América Latina.

Eis a responsabilidade desses grupos que vimos reunidos nesse V Congresso e para a qual parecem estar preparados, tenho certeza de que no VI Congresso em Manzanares (Ciudad Real) serão em número maior e ainda assim tão unidos quanto agora.

 


 Fonte: Boletim GeaE Ano 06, Número 270, 09/12/1997

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *