6. Questões 15 a 17 Espírito

15) Para um físico, o que é “espírito”?

[Ademir] Para um físico que é espírita, “Espírito” é idealizado tal como a noção exposta no “Livro dos Espíritos”. Para um físico que não é espírita, “Espírito” tem o sentido particular que o físico, como indivíduo – se religioso ou não, se espiritualista ou não – aprendeu a pensar ao longo de sua formação e vida. 

[Alexandre] Para um físico o espírito é um “epifenômeno”, isto é, um efeito da complexa rede de neurônios que compõe o cérebro. Notem que Kardec também pensava de forma semelhante quando disse algo do tipo “até que me provem que uma mesa tem cérebro eu não posso aceitar que ela possa responder questões”. Mas ao ver que as mesas respondiam, de fato, a algumas questões ele percebeu que tinha muita coisa por detrás daquele fenômeno “divertido”. 

Não penso que a gente tenha que se preocupar em fazer com que os “físicos” pensem diferente. Quem quer que “sonhe” em contribuir de forma científica seguindo um caminho de usar teorias da física deve se esforçar muito porque isso é muito difícil. A gente precisa saber muito bem não só qualitativamente os conceitos da física mas quantitativamente pois a matemática muitas vezes expressa melhor um conceito físico do que as palavras. 



16) Algum dos conhecimentos da física atual extrapola o estudo da matéria/energia e atinge fenômenos que possam ser ligados ao espírito?

[Ademir] Tanto quanto tenho acompanhado na literatura isso não acontece. É claro que se formos considerar as enormes gamas de fenômenos psíquicos (como as materializações e outros efeitos físicos) teríamos campo de sobra para alguma relação. Mas esses fenômenos não fazem parte do território de interesse da comunidade dos físicos. Isso acredito não por preconceito mas por questão de escopo e diferença de paradigma de pesquisa. 

[Alexandre] Tudo é uma questão de interpretação o que torna essa questão subjetiva. Se eu interpreto um “mundo de energias” como o mundo espiritual isso é particular. Eu não posso provar que o mundo espiritual seja o que eu penso que é. Eu preciso buscar algum tipo de comprovação dentro dos paradigmas com os quais eu estiver trabalhando. Se eu uso somente o paradigma espírita, eu não preciso me preocupar com “mundo de energias” porque eu posso perfeitamente definir e trabalhar com o conceito de “plano ou mundo espiritual” dentro dos limites do paradigma espírita. Porém, isso será aceito somente pela comunidade espírita. Mas se eu quero fazer alguma ponte entre o que a física chama de “mundo de energias” com o que o espiritismo chama de “mundo espiritual” aí a coisa é mais complicada e não é com simples “extrapolação” que tornaremos nossa ideia válida cientificamente. Ela será apenas uma opinião. 

Acho que a física contribuiu positivamente em não contradizer, de forma geral, os conhecimentos espíritas. Mas ela ainda não pode ser extrapolada para um mundo espiritual ou assuntos espiritas. Em ciência, não se faz extrapolações a menos que os fatos a confirmem. No máximo, se pode especular dizendo explicitamente que uma extrapolação está sendo feita mas que precisa ser confirmada no futuro. 



17) Como saberíamos que alguma nova descoberta da física tem implicações para o espírito?

[Ademir] Isso pode acontecer se essa descoberta revelar a existência de alguma anomalia no paradigma específico. Por causa da maneira de fazer ciência particular de cada um, a primeira reação será tentar modificar o paradigma tentando incorporar algum princípio ou lei já conhecida. Na medida em que essa correção se mostrar insatisfatória, novos princípios deverão ser procurados que expliquem as anomalias dando conta dos fenômenos já bem conhecidos. Vejo com muita dificuldade em que área da física isso possa ocorrer. Meu palpite é que ocorra algo talvez em biofísica dos neurônios em conexão com a biologia.

[Alexandre] Não é difícil analisar se uma nova descoberta está em acordo ou não com algum ponto espírita. Mas se a questão foi formulada querendo falar em “comprovação” do espírito ou em alguma descoberta que “comprovaria” direta ou indiretamente o espírito, aí a questão é um pouco difícil de responder. Como não temos ideia de como isso ocorreria fica difícil imaginar como saberíamos. Concordo com o palpite do Ademir sobre a biofísica, especialmente o problema do sistema de neurônios, ser um possível caminho onde poderíamos “encontrar” o espírito ou o perispírito. 

Por outro lado, nesta questão, mais uma vez, temos o fator subjetividade. Se nós espíritas quisermos, encontraremos as “verdades divinas” em cada entrelinha das leis da natureza. Aliás, isso é o que diferencia o sábio do intelectual. 

Mas, a grande questão é o que nós espíritas estamos querendo fazer afinal: estamos querendo “convencer” os cientistas de que o espiritismo é correto? Ou estamos querendo obter “segurança” para a nossa fé na doutrina espírita? Ambos os objetivos demonstram falta de conhecimento da doutrina espírita. Ela não veio para convencer ninguém e muito menos Kardec recomenda isso. Nem precisamos do aval das outras ciências para verificar as verdades espíritas o que Kardec sempre deixou muito claro. Resta saber o que desejamos fazer afinal. Penso que existe uma alternativa nobre para buscarmos pontes entre o espiritismo e outras ciências: a tentativa de divulgar junto aos que não conhecem o espiritismo a importância do estudo da doutrina espírita. Em outras palavras, buscar transmitir à parte da humanidade que não crê nas verdades espíritas o que o espiritismo e muitas outras doutrinas ensinam. Mas, para isso, não basta fazer afirmativas porque qualquer pessoa pode dizer qualquer coisa e quando um irmão de outra crença se aproxima de nós tentando nos convencer, somos rápidos em agradecer e dizer que não estamos interessados. Assim, se nossa intenção é divulgar o espiritismo usando ferramentas e conceitos das várias ciências ordinárias, precisamos usar todo o rigor da ciência para demonstrar o que queremos. 

Como cientista, eu digo que produzir conhecimento válido usando os rigores da ciência não é tarefa fácil mesmo com os assuntos puramente materiais. Imaginem então o que é adentrar um assunto cujos instrumentos materiais ainda são grosseiros para perceber, que é o espírito.

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Fonte: Boletim GEAE 12(481), 14/09/2004

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