50 anos depois

por Nubor Orlando Facure.

 

A idade nos permite alguns privilégios.
Acompanhar a linha do tempo de uns poucos pacientes.
Revi essa semana uma senhora que conheci há quase 50 anos.
É portadora de esquizofrenia e pude constatar que apesar da medicação o seu quadro seguiu o curso natural de demência que os antigos psiquiatras descreviam antes do recurso heróico dos medicamentos antipsicóticos.
É um grande ônus para toda família.
Os problemas não param.
Mas, com certeza, é um Espírito em processo de resgate e redenção.

Ela hoje está francamente perturbada.
Períodos graves e demorados de agitação e agressividade.
O quadro se agravou recentemente com um AVC que limitou sua movimentação do lado direito.
Comprometeu sua fala.
Afetou sua mastigação e deglutição exigindo alimentação por sondas.
Mas, diminuiu muito seus surtos psicóticos, como se o AVC tivesse feito uma cirurgia no seu cérebro.
Já acompanhei casos semelhantes.
Parece que essa psicose pressupõe uma certa integridade na anatomia do cérebro.
Ao perder certas áreas a psicose não se manifesta.

A sua filha é velha conhecida dos tempos que eu circulava pelo hospital.
Ela colhia exames para o laboratório.
Essa filha, entre outras, é a única que dá suporte ao tratamento da mãe.
Quase todas as famílias têm um Sirineu que ajuda a carregar a cruz aliviando os pesados encargos.

Essa filha se vê obrigada a dormir no mesmo leito com a mãe para prevenir quedas.
É preciso preparar as dietas nos vários horários.
Cuidar para que não desenvolva escaras.
Dissolve a medicação para encaminhar pela sonda.

E o tempo de uso dos remédios antipsicóticos fez aparecer uma movimentação contínua na cabeça e nos braços típicas das discinesias medicamentosas que mais cedo ou mais tarde aparecem.

Lição de casa
Já aprendemos que na escola da vida o sacrifício, a abnegação e o testemunho terão sempre o endereço certo.
Tome da sua cruz e siga-me. Lucas 9:23

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