Este
é um tema muito envolvente e instigante, porque trata de nossa
própria origem e trajetória evolutiva, induzindo-nos
refletir profundamente em nossa
pequenez ante as grandiosas e perfeitas leis que regem o micro e o
macrocosmo.
Para
introduzir este tema, trazemos à baila as
considerações do Espírito EMMANUEL,
que ilustram o prefácio da obra do também Espírito
ANDRÉ LUIZ, no livro “Nos Domínios da
Mediunidade”, sob o
título “Raios, Ondas, Médiuns, Mentes...”:
“O veículo carnal
agora não é mais que um turbilhão eletrônico, regido pela consciência.
Cada
corpo tangível é um feixe de energia
concentrada. A matéria é transformada em energia, e esta desaparece para
dar lugar à matéria.
Químicos
e físicos, geômetras e matemáticos, erguidos
à condição de investigadores da verdade,
são hoje, sem o desejarem, sacerdotes do Espírito,
porque, como
conseqüência de seus porfiados estudos, o materialismo
e o ateísmo serão compelidos a desaparecer, POR FALTA DE
MATÉRIA, a base que lhes assegurava as
especulações negativistas.
Os
laboratórios são templos em que a inteligência é concitada ao serviço de Deus,
e, ainda mesmo quando a cerebração se perverte, transitoriamente subornada pela
hegemonia política, geradora de guerras, o progresso da Ciência, como conquista divina, permanece na
exaltação do bem, rumo a glorioso porvir.” (XAVIER,
Francisco C. Ob. cit. 21ª ed. Rio: FEB, 1993, p. 10-11).
GONZÁLES
SORIANO – mencionado no "Dicionário
Técnico e Crítico da Filosofia", de ANDRÉ LALANDE,
reportado no livro Introdução à Filosofia
Espírita, de
autoria do eminente filósofo, escritor e jornalista
espírita Herculano Pires
(1914-1979) – define a Filosofia Espírita como a
“síntese essencial dos
conhecimentos humanos aplicada à investigação da
Verdade” (2000, p. 22).
Ainda
na obra supracitada (p. 11 e 41-42), Herculano Pires elucida:
“A
História da Filosofia é um continuum, que nasce da
primeira indagação do homem sobre a
Natureza e depois sobre a vida e sobre ele mesmo. [...] Na mesma
época em que surgiam
os dois últimos grandes sistemas filosóficos: o
Positivismo – de AUGUSTO
COMTE [1798-1857], – e o Marxismo, os Espíritos diziam a
KARDEC [1804-1869], que era necessário apresentar ao mundo uma
Filosofia racional, ‘livre dos prejuízos
do espírito de sistema’. E lhe davam as linhas mestras do
novo pensamento,
através do processo dinâmico do diálogo,
que hoje está consagrado em todo o mundo. A forma de perguntas e
respostas de O Livro dos
Espíritos... é hoje a forma preferida para a busca de
soluções em todos os
setores das atividades humanas.
O diálogo é a maiêutica [ver abaixo]
de SÓCRATES [470-399aC] e a dialética de PLATÃO
[427-347aC] e de HEGEL [1770-1831] ressuscitadas em nosso tempo.
É o instrumento mais prático
de conhecimento no plano social. E foi através dele que surgiu a
Filosofia
Espírita, no diálogo mediúnico de KARDEC com os
Espíritos. (...) O diálogo mediúnico que fez a
Donzela de Orléans [JOANNA D’ARC]
a empunhar a espada e salvar a França, que levou SÓCRATES
a impulsionar o conhecimento,
que fez LINCOLN (1809-1865]
assinar a lei de libertação dos escravos nos Estados
Unidos (...), e assim por diante, levou KARDEC a formular a Doutrina
Espírita
e oferecer ao mundo a maior síntese
filosófica de todos os tempos, que é a Filosofia
Espírita.” (Destacamos).
MAIÊUTICA
é a denominação dada pelo filósofo
SÓCRATES à sua dialética (arte do diálogo)
como “a arte de partejar Espíritos”,
isto é, levar o interlocutor a descobrir a verdade por
si mesmo, fazendo-lhe numerosas perguntas.
Feita
esta breve, mas indispensável introdução, em virtude da magnitude e da envergadura
da temática, passamos à questão nº 37, em que o Mestre de Lion inicia
conceituando o Universo.
Nota inicial
do Codificador:
“O Universo abrange a infinidade dos mundos
que vemos e dos que não vemos, todos os seres animados e inanimados, todos os
astros que se movem no espaço, assim como os fluidos que o enchem.”
37 - O Universo foi criado, ou existe de toda a eternidade, como Deus?
É fora de dúvida que ele não pode ter-se feito a si mesmo. Se
existisse, como Deus, de toda a eternidade, não seria obra de Deus.
“Diz-nos a razão não ser possível que o
Universo se tenha feito a si mesmo e que, não podendo também ser obra do acaso,
há de ser obra de Deus.” (nota de Kardec)
38
- Como criou Deus o Universo?
Para me servir de uma expressão corrente, direi: pela
sua Vontade. Nada caracteriza melhor essa vontade
onipotente do que estas belas palavras da Gênese – “Deus disse: Faça-se
a luz e a luz foi feita.”
As
três primeiras estrofes abaixo reproduzidas, de um total de
dezesseis, do poema
atribuído ao Espírito CASTRO ALVES, sob o título
“A Criação Divina”,
psicografado pelo médium Jorge Rizzini, e encontrado no livro
“Antologia do Mais Além”, fornece a idéia
central do ensino dos Espíritos que vamos estudar:
“E
disse Deus no Infinito:
– ‘Que se faça o firmamento!...’
E
o Pai condensou, aos poucos, O Seu próprio pensamento.
E
a Santa Sabedoria
Deu
início à sinfonia!
Fez
o Espaço e a Energia,
A
Matéria e o Movimento!
E
disse Deus, satisfeito:
–
‘Que nos espaços profundos surjam
infinitos mundos!’
E
os contínuos turbilhões,
A
explodir no Espaço infindo,
Geraram
astros fulgentes
De
cores surpreendentes,
Galáxias!
Constelações!
Estava
feito o Universo
– Condensação da Vontade!
Infinito,
eterno e puro,
Como
o é a Divindade!
E
nele estava presente
O
Princípio
Inteligente,
–
E a Vida, em fase latente,
Esperava
a atividade!” (...)
É
óbvio que, em nosso atual estágio evolutivo, ainda estamos muito longe, mas
muito longe mesmo, de sondar, com precisão, os arcanos da criação do Universo.
Há
muitas teorias pertinentes, no meio científico, que têm sido formuladas por
denodados especialistas humanos.
Do
ponto de vista espírita, porém, todos concordamos que
“o começo absoluto das coisas remonta a Deus” e que
“o mundo, no nascedouro, não se apresentou
assente na sua virilidade e na plenitude da sua vida”,
pois, “como todas as coisas, o Universo nasceu
criança”
(“A Gênese”, cap. VI, item 15, 34ª ed., 1991,
FEB, p. 114).
Conforme
vimos na questão n. 27, o FCU é a matéria elementar primitiva, da qual
derivam todos os demais tipos de fluidos, seja
em que estado for, constituindo, por isso, a origem de todos os corpos
orgânicos e não-orgânicos.
Tendo
criado o FCU,
a Suprema Inteligência utiliza este poderoso fluido para plasmar o universo, de
acordo com sua vontade, utilizando como “co-criadores” os próprios
Espíritos.
Nunca
é demais recordar o ensino dos Espíritos:
“A matéria cósmica primitiva [FCU] continha os elementos
materiais, fluídicos e vitais de todos os universos que estadeiam suas
magnificências diante da eternidade. Ela
é a mãe fecunda de todas as coisas, a primeira avó e, sobretudo, a eterna
geratriz. Absolutamente não desapareceu essa substância donde provêm as
esferas siderais; não morreu essa potência,
pois que ainda, incessantemente, dá à
luz novas criações e incessantemente recebe, reconstituídos, os princípios
dos mundos que se apagam do livro eterno.” (Idem, item 17, p. 115).
Complementando
esses ensinos, o Espírito ANDRÉ LUIZ, em parceria com uma plêiade de
Engenheiros Siderais, no livro “Evolução
em Dois Mundos”, cap. I, primeira parte, psicografado pelo médium Francisco
Cândido Xavier, revela:
"O
fluido cósmico é o plasma divino,
hausto do Criador ou força nervosa do Todo-Sábio. Nesse elemento
primordial, vibram e vivem constelações e sóis, mundo e seres, como peixes no
oceano."
"Nessa
substância original, ao influxo do próprio Senhor Supremo,
operam as Inteligências Divinas a Ele agregadas [co-criadores],
em processo de comunhão
indescritível..."
"Essas
Inteligências Gloriosas tomam o plasma divino e convertem-no em
habitações cósmicas, de múltiplas
expressões, radiantes ou obscuras, gaseificadas ou
sólidas, obedecendo a leis
predeterminadas, quais moradias que perduram por milênios e
milênios,
mas que se desgastam e se transformam, por fim, de vez que o
Espírito Criado
pode FORMAR ou CO-CRIAR, mas só
Deus é o Criador de Toda a Eternidade."
"Em
análogo alicerce, as Inteligências humanas que ombreiam
conosco utilizam o mesmo fluido cósmico,
em permanente circulação no Universo, para a
Co-Criação em plano menor, assimilando os
corpúsculos da matéria
com a energia
espiritual que lhes é própria, formando assim o
veículo
fisiopsicossomático em que se exprimem ou cunhando
as civilizações que abrangem no mundo a Humanidade
Encarnada e a Humanidade
Desencarnada."
E
arremata Kardec, em “A
Gênese”: “Efetua-se assim a criação universal.”
(Ob. Cit., item 18, p.117). Sugerimos a leitura
atenta dos itens 20 a 23 (os sóis e os planetas), cap. VI (Uranografia Geral),
de “A Gênese”.
A
próxima questão é uma seqüência da anterior, na qual se perguntou “como” Deus
criou o Universo, ao que os Espíritos Superiores responderam: "pela vontade do Criador".
Naturalmente, o Codificador não se deu por satisfeito, pois já havia
inferido que a Criação, como visto na questão n. 01, obedece aos desígnios de
um Comando Supremo, causa primeira de todas as coisas. Visto isso, insistiu,
formulando a questão seguinte:
39
- Poderemos conhecer o modo de formação dos mundos?
“Tudo o que a esse respeito se pode dizer e podeis compreender é
que os mundos se formam pela CONDENSAÇÃO da
matéria disseminada no Espaço.”
Alguns
aspectos da presente questão já foram abordados nos comentários à resposta da
pergunta anterior, mas nunca é demais reforçá-los, à luz dos ensinos dos
Espíritos Superiores, desenvolvidos na quinta obra básica, denominada “A
Gênese”, a saber:
“15.
O começo absoluto das coisas remonta,
pois, a Deus. As sucessivas aparições delas no domínio da existência
constituem a ordem
da criação perpétua.
(...) O mundo,
no nascedouro, não se apresentou assente na sua virilidade e na
plenitude da
sua vida, não. O poder criador nunca se contradiz e, como todas
as coisas, o Universo nasceu
criança. Revestido das leis
mencionadas acima e da impulsão inicial inerente à sua
formação mesma, a matéria Cósmica primitiva
fez que sucessivamente
nascessem turbilhões, AGLOMERAÇÕES DESSE FLUIDO
DIFUSO, amontoados de MATÉRIA NEBULOSA
que se cindiram por si próprios e se modificaram ao infinito
para gerar, nas
regiões incomensuráveis da amplidão, diversos
centros de criações simultâneas
ou sucessivas.” (FEB: 37ª, cap. VI, item 15, p. 114).
(...)“4.
O Universo é, ao mesmo tempo, um mecanismo
incomensurável, acionado por um número incontável de inteligências,
e um imenso governo em o qual cada ser inteligente tem a sua parte de
ação sob as
vistas do soberano Senhor, cuja vontade única mantém por toda parte a UNIDADE.
Sob o império dessa vasta
potência reguladora, tudo se move, tudo funciona em perfeita ordem.
Onde nos parece haver perturbações, o
que há são movimentos parciais e isolados, que se nos afiguram irregulares
apenas porque circunscrita é a nossa visão. Se lhes pudéssemos abarcar o
conjunto, veríamos que tais irregularidades são apenas aparentes e
que se harmonizam com o todo.” (Idem, cap.
XVIII, item 4, p. 403).
Na questão n.
21, do livro “O Consolador”, psicografado pelo médium Francisco Cândido Xavier,
o autor espiritual Emmanuel diz-nos:
“Ao
sopro inteligente da vontade divina,
CONDENSA-SE a
matéria cósmica no organismo do Universo. Surgem as
grandes massas das NEBULOSAS e, em seguida, a família dos
mundos, regendo-se em
seus movimentos pelas leis do equilíbrio, dentro da
atração,
no corpo infinito do cosmo.
O
ciclo da evolução apresenta aí um dos seus
aspectos mais belos. Sob a diretriz divina, a matéria produz
a força, a força gera o movimento, o movimento faz surgir
o equilíbrio da atração e a atração
se transforma em AMOR,
identificando-se todos os planos da vida na MESMA LEI DE UNIDADE
estabelecida no Universo pela sabedoria
divina.”
(FEB:15ª ed., p. 32).
Léon Denis
(1846-1927), eminente filósofo francês espírita, na obra “Depois da Morte”,
adiciona:
“Uma poderosa unidade rege o mundo. Uma só substância,
o éter
ou fluido universal, constitui em suas transformações infinitas a inumerável
variedade dos corpos. Este elemento vibra sob a ação das forças cósmicas. Conforme a velocidade
e o número dessas vibrações, assim se produz o calor, a luz, a eletricidade,
ou o fluido magnético. CONDENSEM-SE
tais vibrações, e logo os corpos aparecerão.
E
todas essas formas se ligam, todas essas forças se equilibram,
consorciam-se em perpétuas trocas, numa estreita
solidariedade. Do mineral à planta, da planta ao animal e ao homem, do homem
aos seres superiores, a apuração da matéria, a ascensão da força e do
pensamento produzem-se em RITMO HARMONIOSO. Uma lei soberana regula
num PLANO UNIFORME as manifestações da vida, enquanto um laço invisível une todos os Universos e
todas as almas.” (...)
O
estudo da Natureza mostra-nos,
em todos os lugares, a ação de uma
VONTADE OCULTA. Por toda a parte a matéria obedece a uma
força que a domina, organiza e dirige. Todas as forças
cósmicas reduzem-se
ao movimento,
e o movimento é o Ser, é a Vida. O materialismo explica a
formação do mundo
pela dança cega e aproximação fortuita dos
átomos. Mas viu-se alguma vez o
arremesso ao acaso das letras do alfabeto produzir um poema? E que
poema o da vida universal! (...)
Entregue a si mesma, nada pode a matéria. Inconscientes e cegos,
os átomos não
poderiam tender a um fim. Só se explica
a harmonia do mundo pela intervenção de uma VONTADE.
É pela ação das forças sobre a
matéria, pela
existência de leis sábias e profundas, que tal VONTADE se
manifesta na ordem do
Universo.” (FEB: 16ª ed., parte segunda, cap. IX,
O Universo e Deus,
p. 116).
Como vimos, a
condensação da matéria disseminada no espaço torna visível o universo aos
nossos olhos, sob a regência de sábias e eternas leis, cujo funcionamento
profundo ainda escapa à nossa acanhada compreensão de seres perfectíveis, de
inteligência limitada e percepções condicionadas ao plano sensorial.
Arrebatado
pela beleza do Universo e imensamente agradecido ao Criador, hoje paro por
aqui!
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