Perdoe-nos a longa demora em responder à sua questão. Na
verdade, não sabemos muito sobre o assunto. Eu vou aqui expor o
que eu, particularmente, penso sobre isso, com base nas poucas leituras
que fiz.
Não conheço outras referências sobre o assunto
exceto as que vou apresentar a seguir contidas na
codificação.
Não precisamos ir muito longe para percebermos que a
questão da alimentação é mesmo bem
séria, ao mesmo tempo que não constitue um grave
empecilho ao progresso espiritual e para os trabalhos espirituais como
voce pergunta.
A questão sobre alimentação foi abordada na
Doutrina Espírita em diversos momentos pelos Espíritos.
Voce pode encontrar nas questões 723, 724 e 734,
comentários muito úteis sobre o assunto. Os
Espíritos não condenaram a alimentação
carnívora o que já é uma informação
muito importante. A questão 724,
reproduzida aqui, é
muito esclarecedora para nós:
724.
Será meritória abster-se o homem da
alimentação animal, ou de outra qualquer, por
expiação?
“Sim, se praticar essa
privação em benefício dos outros. Aos olhos de
Deus, porém, só há mortificação,
havendo privação séria e útil. Por isso
é que qualificamos de hipócritas os que apenas
aparentemente se privam de alguma coisa.”
Então, vejamos bem, a abstenção da
alimentação animal por parte de quem ainda sente
necessidade dela, só deve ser feita se isso ocorrer em
"benefício de outrem". Senão, é uma
auto-punição que não serve para nada e, pior, pode
até atrapalhar a pessoa em suas atividades. Amigos aqui de
Brotas me disseram que Raul Teixeira havia expressado a seguinte
opinião sobre a alimentação carnívora antes
de um trabalho espiritual: "se uma pessoa gosta muito de, por exemplo,
bife acebolado, não comer o bife acebolado no dia da
reunião mediúnica pode ter um efeito pior do que
comê-lo pois a pessoa pode ir para a reunião e não
conseguir tirar da mente o bife acebolado. Nesse caso, é
preferível comer o bife e ir em paz para a reunião
mediúnica já que assim seu concurso será mais
eficiente." (usei minhas palavras, mas a idéia é a mesma).
Vejamos o que diz o Espírito de Lamennais, na Revista
Espírita de Dezembro de 1863, p. 387 da edição
produzida pela Edicel:
"Sobre
a alimentação do Homem (Sociedade
de Paris, 4 de Julho de 1863. Médium: Sr. A. Didier)
O sacrifício da carne foi
severamente condenado pelos grandes filósofos da antiguidade. O
Espírito elevado revolta-se à idéia de sangue e,
sobretudo, à idéia de que o sangue é
agradável à Divindade. E notai bem, que aqui não
se trata de sacrifícios humanos, mas unicamente de animais
oferecidos em holocausto. Quando o Cristo veio anunciar a Boa-Nova,
não ordenou sacrifícios de sangue: ocupou-se unicamente
do Espírito. Os grandes sábios da antiguidade igualmente
tinham horror a estas espécies de sacrifícios e eles
próprios só se alimentavam de frutos e raízes. Na
terra os incarnados têm uma missão a cumprir: têm o
Espírito que deve ser nutrido pelo Espírito, o corpo com
a matéria; mas a natureza da matéria influi -
compreende-se facilmente - sobre a espessura do corpo e, em
consequência, sobre as manifestações do
Espírito. Os temperamentos naturalmente muito fortes para viver
como os anacoretas* fazem bem, porque
o esquecimento da carne leva mais facilmente à
meditação e à prece. Mas para viver assim,
geralmente seria necessária de uma natureza mais espiritualizada
que a vossa, o que é impossível com as
condições terrestres. E como, antes de tudo, a natureza jamais age contra o bom senso,
é impossível ao homem submeter-se impunemente a essas
privações. Pode ser-se bom cristão e bom
espírita e comer a seu gosto, desde que seja razoável.
É uma questão algo leviana para os nossos estudos, mas
não menos útil e proveitosa." (os grifos
são nossos).
Essa mensagem de Lamennais publicada por Kardec no finalzinho do
número de Dezembro de 1863 da Revista Espírita, é
muito interessante. Ela diz com todas as letras que se pudermos evitar
a carne melhor pois isso "leva mais facilmente à
meditação e à prece." Mas Lamennais, de modo muito
responsável, deixou claro que isso ainda não é
fácil para a Humanidade terrestre. Por isso, ele disse "Pode
ser-se bom cristão e bom espírita e comer a seu gosto".
Portanto, a alimentação carnívora não
é um empecilho que impede que um trabalho espiritual possa bem
ocorrer. Tanto melhor se as pessoas puderem se abster dela, mas melhor
ainda se o esforço maior for o da reforma íntima.
Por fim, lembremos Jesus em Mateus, Cap. 15 e vers. 11: "Não é o que entra pela boca
que contamina o homem; mas o que sai da boca, isso é o
que o contamina." (Grifos nossos).
Um abraço fraterno,
Alexandre