Fundado em 15 de outubro de 1992
Boletim Quinzenal de Distribuição
Eletrônica
"Fé inabalável é somente aquela que pode encarar a razão, face a face, em todas as épocas da humanidade", Allan Kardec
Ano 12 -
Número 482 - 2004
28 de setembro
de 2004
Editorial |
Artigos |
História & Pesquisa |
(Continuação do Artigo iniciado no Boletim 480)
¹ ZILLES (1994) mostra a distinção que o pensador austríaco faz entre o transcendental e o transcendente. Enquanto o primeiro é fruto da consciência, o último termo é empregado referindo-se ao mundo exterior.
² “..to
understand experience as unified.”
Questões e Comentários |
6) Se alguém nasce pobre, isso pode ser uma desvantagem, mas dentro da justiça de Deus essa pessoa não poderia ter alguma vantagem que compensasse esse problema? E o mesmo não poderia acontecer com o rico? O próprio Jesus não disse que é mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico alcançar o reino dos céus? Se o ser humano pudesse avaliar um ser humano por completo, ele não enxergaria a justiça divina, sem precisar recorrer a explicações passadas?
Parece que você não está sendo coerente, pois acabou de dizer que não somos capazes de avaliar a justiça de Deus e agora vem estabelecendo parâmetro dentro da justiça de Deus. Mas, como já dissemos, a simples observação da vida das pessoas não nos permite saber se estão neste ou naquele momento em prova ou expiação. As dificuldades podem nos fazer agradecer a Deus ou imprecar contra Ele, dependendo de nosso estágio evolutivo. Voltamos a afirmar que não sabemos de explicação melhor e mais completa que a que nos fornece a Reencarnação, a Evolução e a Causalidade. Essas três leis precisam ser entendidas com profundidade. Não se trata apenas de aceitar existências passadas.
A Psiquiatria identifica indivíduos com idiotia, cujo significado é: “atraso intelectual profundo, caracterizado por ausência de linguagem e nível mental inferior ao da idade normal de três anos, e muitas vezes acompanhado de malformações físicas”. Daí lhe perguntamos: se a vida é única, qual a utilidade da vida para um Espírito com um nível mental inferior? Ele, ao morrer, não poderá ir para o “Céu” porque não fez o bem para o merecê-lo, mas também o “Inferno” não pode ser o seu destino, já que nenhum mal praticou? E aí, como explicar esse paradoxo? Estarão, todos os “desafortunados” que nascem com idiotia, destinados ao “purgatório” para toda a eternidade?
A
interpretação que você propõe está em
desacordo com a Justiça humana, quanto mais com a Divina. A
Justiça manda que todos tenham chances iguais e oportunidades
iguais. Dar vantagens a quem sofre mais e desvantagens a quem sofre
menos parece ser justo mas não é. Há ricos que
desejariam ter nascido pobres e vice-versa. Como avaliar os
méritos de alguém se as condições
são diferentes. Se é difícil a um rico entrar no
reino dos céus, então devemos concluir que Deus criou uma
armadilha para aqueles que nascessem ricos? O rico que conseguisse
entrar no reino dos céus teria muito mais mérito do que o
pobre que também foi para o reino dos céus, pois para o
rico isso foi mais difícil. Portanto, sua
interpretação está em contradição
com a razão.
A
interpretação espírita para essas palavras de
Jesus é muito mais racional e demonstra a grande sabedoria e a
bondade do Criador. Jesus quis dizer que o rico possui mais
dificuldades de praticar o bem ao próximo porque a riqueza
excita vícios e paixões que desviam as pessoas do
objetivo maior da vida. A riqueza é, portanto, uma
provação das mais difíceis. Mas se um
Espírito falhar, ele poderá nascer de novo para reparar
seus erros, aprender a dar valor passando por dificuldades financeiras,
etc.
Painel |
Jáder Sampaio (Professor da UFMG, Psicólogo, Doutor em Administração) chamou a atenção para o fato de os livros espíritas agora estarem sendo repassados às livrarias por distribuidoras, e que, mais que há trinta anos atrás, a lógica de mercado tem chegado ao centro espírita. Ele sugere que os centros espíritas tenham especial atenção sobre os títulos que comercializam, para que não se tornem meras livrarias de mercado, vendendo apenas lançamentos e romances procurados pelo público e se esquecendo que têm um papel importante na divulgação do Espiritismo.
Ele tratou de bibliotecas espíritas e destacou o cuidado que este órgão deve ter com seu acervo. Seu papel não se resume a emprestar livros muito procurados pelo público, mas ser um centro de referência, onde o estudioso possa fazer pesquisas e se possa ter um acervo compreensivo das obras espíritas.
Alexandre Rocha (editor das Publicações Lachâtre, bacharel em letras e especialista em administração) complementou a questão das bibliotecas dizendo ser prática comum o pedido de doação livros para editoras espíritas. Ele sugere que as bibliotecas possuam uma política de aquisição de acervo, buscando recursos para tal, o que viabilizaria a publicação de inúmeras obras importantes para o Espiritismo que não saem a público pela falta de interesse. Em frase de efeito, Alexandre informou ao público que a única biblioteca que adquire os livros históricos da Lachâtre sistematicamente é a biblioteca de Washington.
Alexandre Fonseca (Doutor em Física) e Jáder Sampaio responderam a um bloco de perguntas sobre o conhecimento científico, que mostraram que existem diferentes metodologias de pesquisa para as ciências humanas e naturais. O conhecimento científico não se fundamenta apenas em experimentos cruciais, mas na aceitação das teorias e idéias pela comunidade de cientistas de uma determinada área. Isso coloca à pesquisa de temas de interesse do Espiritismo a obrigação de buscar interlocução com a comunidade científica.
Os dois expositores afirmaram que muitos conceitos de suas áreas de atuação, Física e Psicologia respectivamente, vêm sendo utilizada de forma equivocada e sem fundamentação em textos publicados por autores espíritas. Essa situação demanda uma interlocução maior com os especialistas das diversas áreas que atuam no movimento espírita e um cuidado maior dos órgãos de divulgação e dos autores com a redação e publicação dos textos.
Foram apresentados os conteúdos de muitas teses e dissertações publicadas recentemente e que são do interesse do movimento espírita, mas as áreas de conhecimento predominantes ainda são as ciências humanas e sociais e os estudos se referem, em sua maioria, ao Espiritismo como um movimento religioso.
Foram propostas muitas idéias para o fomento da pesquisa de temas espíritas no ambiente universitário, como a construção de redes de pesquisadores espíritas das diversas áreas já atuantes nas universidades, o fomento da pesquisa através de bolsas de pós-graduação a serem oferecidas por instituições espíritas, aos moldes do que faz a Society for Psychical Research inglesa, o intercâmbio com pesquisadores de parapsicologia que estejam desenvolvendo temas de interesse do Espiritismo no Brasil e no exterior, a criação de bancos de teses e dissertações nos órgãos de cultura e memória espírita, a criação de espaços especializados na mídia espírita e o compromisso dos dirigentes das casas espíritas em inserir temas de divulgação desses trabalhos em uma linguagem compreensível ao grande público.
Alexandre Rocha mostrou-nos em seu trabalho que Clóvis Ramos, cuja desencarnação passou quase em branco pelo movimento espírita, nos deixou um acervo de quase 400 livros escritos, a grande maioria deles não publicados. Ele está levantando esse acervo e já localizou cerca de 200 títulos (153 inéditos e 47 publicados). Alexandre também tratou da vida de L. Palhano Jr., escritor e pesquisador espírita.
Com base na informação acima, ele propôs que os centros de documentação e as bibliotecas espíritas criassem um espaço para o depósito de originais que ainda não tiveram publicações, com fornecimento de um registro para assegurar os direitos autorais, aos moldes do escritório de direitos autorais da Biblioteca Nacional.
Paulo Henrique (editor da revista Universo Espírita) apresentou um trabalho no qual denuncia que a grande maioria de fontes e informações que temos disponíveis sobre Mesmer está incorreta ou imprecisa e que se fundamentaram nas obras de seus críticos. Ele realizou um trabalho de fôlego de obtenção e tradução dos livros desse autor e em breve o movimento espírita poderá ter acesso a eles. A imagem difundida do homem da casaca lilás (dourada em outras versões) com uma varinha nas mãos, tocando aos pacientes para transmitir o magnetismo animal é, portanto, uma criação de seus inimigos.
Milton Piedade (coordenador da LIHPE) apresentou um trabalho no qual ele discute o conteúdo das mensagens atribuídas a Allan Kardec, ditadas a Zilda Gama, que foram publicadas no livro Diário dos Invisíveis, publicado em 1920. No seu trabalho ele faz uma biografia da médium e descreve os diversos cuidados e preocupações de Zilda na identificação do espírito. Este trabalho faz parte de um projeto maior no qual o autor vem estudando as mensagens atribuídas a Kardec obtidas por diversos médiuns conhecidos pelo movimento espírita. Esse trabalho suscitou uma viva discussão sobre a necessidade de se conhecer mais o processo de construção do texto mediúnico, sobre a análise comparativa da linguagem do texto mediúnico de autores conhecidos e sobre os processos psiconeurológicos da psicografia.
Eduardo Carvalho Monteiro (escritor, coordenador da LIHPE, assessor pró-memória da USE-SP) apresentou suas pesquisas e as próximas publicações que estão em andamento.
Jomar T Gontijo (engenheiro eletrônico e especialista em Ética) membro do Grupo de Estudos de Ética apresentou um trabalho sobre ética espírita, no qual ele distingue ética de moral, apresenta as diversas influências que a ética recebeu no ocidente: Aristóteles, Jesus da Galiléia, Immanuel Kant, Jeremy Bentham e Jurgën Habermas. Ele propõe que se reavalie o jargão que diz que “a ética espírita é a ética cristã”, para que não se venha a confundir o cristianismo histórico com o Espiritismo. Ele defende que a ética espírita é cognitivista, empírico-racionalista, deôntica-teleológica, transdiscursiva, naturalista-evolucionária e universal.
Gil Restani de Andrade (administrador, diretor do Instituto de Cultura Espírita de Minas Gerais) recuperou com detalhes o episódio em que aconteceram raps no escritório do Sr. Allan Kardec, fazendo-o rever conceitos que estavam sendo desenvolvidos.
O Dr. Alexandre Fontes da Fonseca apresentou o trabalho controle do caos e influência dos espíritos na natureza no qual mostra, com base na teoria do caos, como a ação dos espíritos nos fenômenos naturais, especialmente em um fenômeno de grande porte como uma tempestade, poderia ser explicada.
Thelma Virgínia Rodrigues (engenheira elétrica e mestre em engenharia) mostrou as consistências entre idéias de “O Livro dos Espíritos” e as concepções contemporâneas dos estudos de “Ciência, Tecnologia e Sociedade - CTS”.
Alexandre Zaghetto (representante da Federação Espírita Brasileira) apresentou os principais cuidados que estão em curso para a preservação e digitalização da biblioteca de obras raras. Ele respondeu a muitas perguntas do público.
Paulo Sérgio Manhães Peixoto (representante do Conselho Espírita de Unificação de Niterói) apresentou com detalhes as diversas atividades do Primeiro Mês de Cultura Espírita de Niterói. Inauguração da praça Professor Rivail em Piratininga, instituição e comemoração do Dia do Livro Espírita a partir de lei na Câmara Municipal de Niterói, monumento, placas comemorativas, lançamento de selos comemorativo, realização da exposição de “banners” das fotografias de “Allan Kardec” feitas por Edson Audi, peças teatrais, conferências, feira de livro espírita, lançamento do livro “Para Entender Allan Kardec” e cine-debates foram algumas das principais realizadas junto à população da antiga capital do estado do Rio de Janeiro.
Felipe Estabile Moraes (historiador, especialista em História e Diretor do Departamento de Assuntos de Unificação da União Espírita Mineira) apresentou as ações realizadas por essa instituição na preservação da memória, o que inclui a publicação de livros e a recuperação dos seus arquivos. Ele apontou a necessidade do desenvolvimento de um projeto mais substancial, recordando a todos que essa instituição se tornará centenária em 2008.
Eduardo Carvalho Monteiro e Paulo Henrique apresentaram com detalhes o seu projeto de um Centro Cultural e de Documentação do Espiritismo. Ele prevê a construção de três tipos de bibliotecas: uma biblioteca especializada espírita, uma biblioteca de obras raras e uma biblioteca de monografias. Prevê também um centro de documentação histórica, um museu da imagem e do som, um centro de mídia e um centro de cultura, pesquisa e projetos, no qual se fará, entre outras coisas, exposições de obras e ambientes culturais. Já foi doado um pequeno prédio na cidade de São Paulo no qual funcionará este Centro. Os autores estão viajando pelos estados buscando a adesão de companheiros espíritas para se criar uma rede articulada de Centros de Documentação. Sua ida ao estado do Rio de Janeiro já deu frutos positivos.
A Companhia
Espírita
Laboro (http://www.arteespirita.com.br)
apresentou sua bem humorada peça “As mesas girantes”. A
trama focaliza cinco situações: a família Fox, o
quacker norte-americano Issac Post, a Sra. Hayden, o episódio
de Kardec com Fortier e o drama fictício da Madame Gerard. Os
esquetes combinaram precisão de dados e
informações
históricas com uma linguagem corporal de “arte clown”,
canções com arranjos vocais e instrumentos musicais. O
resultado é um espetáculo leve, emocionante, que
instrui e diverte e que arrancou minutos de aplausos dos
participantes, que se puseram de pé. A peça encantou a
todos, que saíram refeitos após um dia de trabalhos
intelectuais pesados. A companhia ofereceu o seu espetáculo ao
evento gratuitamente, mostrando que é possível realizar
divulgação do pensamento espírita através
da arte e da criatividade.
O movimento espírita necessita se perceber como tendo uma identidade cultural própria e não apenas como um movimento religioso.
O movimento espírita deveria elaborar e encaminhar projetos culturais, viabilizando-os com fundos públicos e incentivos fiscais.
Os órgãos federativos devem formar grupos de trabalho em suas respectivas esferas (municipal, estadual e federal) para identificar e orientar centros espíritas sobre a legislação e a utilização incentivos próprios à cultura.
O movimento espírita deve construir Centros de Cultura e Documentação regionais, a serem articulados entre si, com a finalidade de colecionar, preservar e divulgar fontes históricas (documentos, livros, imagens, jornais, etc.) regionais. Estes centros viabilizarão a pesquisa histórica do movimento espírita brasileiro no futuro.
Devemos empreender esforços no sentido de recuperar e preservar a obra de autores e personalidades consideradas importantes para o movimento espírita, sob a pena das gerações futuras terem dificuldades ou não terem como consultar esses livros e documentos e passarem a entender o passado a partir de narrativas ou lendas.
As sociedades espíritas devem ter uma política clara para que suas livrarias sejam efetivamente espaços de divulgação da doutrina espírita e suas bibliotecas venham a construir um acervo de obras para a realização de estudos por parte dos interessados.
Dever-se-ia empreender um esforço para o fomento, intercâmbio e divulgação da pesquisa científica de temas do interesse do movimento espírita e da articulação dos pesquisadores espíritas ou simpatizantes já atuantes nas universidades em linhas de pesquisa ou redes de intercâmbio.
GRUPO DE ESTUDOS
AVANÇADOS ESPÍRITAS
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