1858 - A 1o de janeiro Kardec lança o primeiro
número da
Revista Espírita (Revue Spirite), jornal de
estudos psicológicos. Contendo o relato das manifestações
materiais ou inteligentes dos Espíritos, aparições,
evocações, etc., assim como todas as notícias relativas
ao Espiritismo. O ensino dos Espíritos sobre as coisas do mundo visível
e do mundo invisível; sobre as ciências, a moral, a imortalidade
da alma, a natureza do homem e seu porvir. A história do Espiritismo
na Antigüidade; suas relações com o magnetismo e o sonambulismo;
a explicação das lendas e crenças populares, da mitologia
de todos os povos, etc. Paris; bureau à Rue des Martyrs, 8.
O primeiro número, com 36 páginas, foi impresso na Imprimerie
de Beau, em Saint-Germain-en-Laye, a mesma que já imprimira
O
Livro dos Espíritos; as despesas, como no caso desse livro, também
ficaram por conta e risco de Kardec (AK III 21-33; II 76). A Revista era
de periodicidade mensal e durante a vida de Kardec funcionou em sua própria
residência, ou seja:
*1º /1/1858 - Rue des Martyrs,
8.
*15/7/1860 - Passage Ste.-Anne
(Rue Ste.-Anne, 59).
*1/4/1869 - Nessa data estava
programada a transferência dos Escritórios e do Expediente
para a Librairie Spirite,* Rue de Lille, 7, que também sediaria provisoriamente
a Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas; a Redação
iria para a Villa Ségur (Av. de Ségur, 39), casa de propriedade
de Kardec pelo menos desde 1860, para a qual se mudaria com a dedicada esposa.
(AK III 21-24, 35-37, 118-19; II, pp. 24-25)
Era Kardec quem redigia integralmente a revista e cuidava de toda sua
correspondência e expedição, trabalho hercúleo
suficiente para consumir todo o tempo de uma pessoa ordinária. E isso
era apenas uma parte de seus trabalhos, havendo ainda os livros, a Sociedade
Parisiense de Estudos Espíritas, as centenas de visitantes anuais,
as viagens...{nota 4}
A
Revue Spirite constitui rico manancial doutrinário, pouco
explorado pelos espíritas. Os originais franceses, ainda necessários
para pesquisas cuidadosas, são raríssimos em todo o mundo.
Kardec discorre sobre a idéia da criação da Revista
em
OP 293-94. Em suas própria palavras, ela tornou-se-lhe "poderoso
auxiliar" na elaboração da doutrina e na implantação
do movimento espírita (
AK III 22; OP 294). Seus objetivos
principais eram (
AK III 21-33; II 24-25):
1. Veicular relatos e análises espíritas
de fenômenos espíritas, psicológicos, sociológicos
etc.;
2. Publicar produções mediúnicas selecionadas,
obtidas na SPES ou enviadas por correspondentes;
3. Sondar a opinião dos homens e dos Espíritos
sobre princípios em elaboração;
4. Comentar, à luz do Espiritismo, artigos de jornais,
obras literárias, filosóficas e científicas.
Kardec editou a
Revue até o número de abril de 1869,
inclusive. Após a morte de Kardec (31/3/69) ela continuou sendo publicada,
graças ao idealismo da Senhora Allan Kardec, de Pierre-Gaëtan
Leymarie e de Jean Meyer, principalmente (
AK III 153-57;
Reformador,
09/1990, p. 286). A partir de 1913, aditou-se ao título da revista
o artigo 'la' ('a'), que ficou, desde então '
La Revue Spirite'
(
AK III 32 e 47). Em lamentável decisão, foi extinta
em 1976 por André Dumas, junto com a Union Spirite Française,{nota
5} para dar lugar a
Renaître 2000 e a Union des Sociétés
Francophones pour l'Investigation Psychique et l'Étude de la Survivance
(USFIPES), ambas de cunho não-espírita. Sob a lúcida
e firme direção de Francisco Thiesen, a FEB envidou esforços
para salvá-la em 1977, não obtendo sucesso (
AK III 45-57).
Felizmente, em 11 de maio de 1989 a Union Spirite Française et Francophone,
com sede em Tours, conseguiu judicialmente recuperar o título, retomando
a publicação da Revue, com periodicidade trimestral.{nota 6}
5. A Société Parisienne des Études Spirites
(SPES)
1857 - Por volta de
outubro desse ano iniciaram-se reuniões
espíritas na residência do casal Allan Kardec, à Rue
des Martyrs, 8. Aconteciam às terças-feiras à noite,
e o médium principal era a Srta. Ermance Dufaux. Com o número
crescente de freqüentadores, fez-se indispensável encontrar um
local mais amplo. A solução encontrada foi alugar uma sala,
cotizando-se as despesas entre as pessoas. (
OP 294-95;
AK III
34)
1858 - A
1º de abril é fundada legalmente a
Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, ou, em francês, Société
Parisienne des Études Spirites, cujo título Kardec freqüentemente
abreviava para 'Societé Spirite de Paris', 'Societé des Études
Spirites', ou mesmo 'Societé de Paris'.
Foi nas reuniões semanais da Société que boa parte
das atividades mediúnicas e de estudo supervisionadas por Kardec se
desenvolveram. As portas da SPES não eram abertas ao público,
conquanto houvesse "reuniões gerais" em que visitantes apresentados
por membros da Société podiam ser admitidos; essas reuniões
se alternavam, semanalmente, com as "reuniões particulares", às
quais somente os sócios tinham acesso. Isso se compreende perfeitamente,
dados os objetivos das reuniões, ligados essencialmente à pesquisa
teórica e experimental dos fenômenos. A Société
era, assim como a Revue, um terreno de elaboração da doutrina
espírita. (
OP 294-95;
AK III 34-44; II 36-37)
Durante a vida de Kardec, a Sociedade Espírita de Paris ocupou
três endereços (OP 295; AK III 35-37 e 118):
* 1º /4/1858 - Galerie de Valois, 35,
no Palais Royal. As reuniões eram às terças-feiras.
O Palais Royal é importante edifício histórico situado
ao lado do Louvre. Foi construído pelo Cardeal Richelieu no século
XVII. Suas elegantes galerias externas, que circundam o jardim (Montpensier,
de Beujolais e de Valois), foram mandadas construir por Louis-Philippe d'Orléans,
na segunda metade do século seguinte. Na Galerie d'Orléans
(do séc. XIX) ficavam as livrarias de Dentu (no 13) e Ledoyen (no 31),
que editaram várias das obras espíritas de Kardec (ver adiante).
* 1º /4/1859 - Galerie Montpensier,
12, no Palais Royal (num salão do restaurante Douix). Nesse local
SPES reunia-se às sextas-feiras.
* 20/4/1860 - Passage Ste.-Anne (Rue Ste.-Anne,
59). Nesse mesmo endereço, a partir de 15 de julho, passa a residir
Kardec, que levou consigo a Revue Spirite. Embora por essa época já
possuísse a casa da tranqüila Villa Ségur, Allan Kardec
viu-se na contingência de se alojar nesse apartamento com a abnegada
esposa, dividindo espaço com a Revue e a SPES, para economizar seu
minguado tempo.
* 1/4/1869 - Estava programada
para essa data a transferência provisória da Société
para a Librairie Spirite, Rue de Lille, 7.
6. As outras obras importantes de Allan Kardec
Fornecemos a seguir alguns dados sobre as principais obras de Allan Kardec
(além de
O Livro dos Espíritos, de que já tratamos;
para uma lista possivelmente completa, ver
AK III 15, 18 e 19).
Algumas das informações referentes a dias e meses das publicações
foram colhidas nas edições da FEB. Quanto às edições
em francês atuais, indicamos as que pessoalmente possuímos;
em alguns casos, há nas livrarias outras edições. Abreviaremos
os dados referentes aos editores originais segundo estas convenções
(note-se que várias das obras saíram por mais de um editor):
° Dentu E.
Dentu, Libraire. Palais Royal, Galerie d'Orléans, 13.
° Ledoyen Ledoyen, Libraire. Palais Royal,
Galerie d'Orléans, 31.
° Didier Didier et Cie., Libraires-Éditeurs.
Quai des Augustins, 17.{nota 7}
1858 -
Instrução Prática sobre as Manifestações
Espíritas (
Instruction pratique sur les manifestations spirites).
Contendo a exposição completa das condições
necessárias para se comunicar com os Espíritos, e os meios
de se desenvolver a faculdade mediadora nos médiuns. Bureau de la
Revue Spirite, Rue des Martyrs, 8; Dentu; Ledoyen.
Com a publicação de
O Livro dos Médiuns,
em 1861, Kardec não mais fez imprimir a
Instruction (152 pp.),
à época já esgotada, considerando-a superada, quanto
à abrangência, pela nova obra. É, porém, de significativo
valor histórico; hoje está novamente disponível em francês
(Paris, La Diffusion Scientifique) e em português, em tradução
de Cairbar Schutel (in:
Iniciação Espírita,
6a ed., São Paulo, Edicel, 1977; também publicado pela Casa
Editora O Clarim, de Matão, em 1987).
1859 -
O que é o Espiritismo (
Qu'est-ce que le
Spiritisme). Introdução ao conhecimento do mundo invisível
pelas manifestações dos Espíritos, contendo o resumo
dos princípios da doutrina espírita e respostas às
principais objeções. Ledoyen. [100 pp.]{nota 8}
Edição francesa corrente: Paris, Dervy-Livres. Tradução
brasileira recomendada: Rio, FEB (não se indica o tradutor).
1860 - (março) - Segunda edição de
O Livro
dos Espíritos. Contendo os princípios da doutrina Espírita
sobre a imortalidade da alma, a natureza dos Espíritos e suas relações
com os homens; as leis morais, a vida presente, a vida futura e o porvir
da humanidade. Segundo o ensino dado pelos Espíritos Superiores com
o auxílio de diversos médiuns, recolhidos e ordenados por Allan
Kardec. Segunda edição, inteiramente refundida e consideravelmente
aumentada. Didier; Ledoyen.
Acima do título, aparece agora a frase "Filosofia espiritualista".
Essa nova edição, que se tornou definitiva, tem 1019 questões,
distribuídas em quatro partes. São acrescentadas as Conclusões;
não há mais índice alfabético, infelizmente.
A forma de exposição dupla não aparece em nenhuma das
partes. As notas vêm agora logo após as respostas dos Espíritos,
sendo muitíssimo mais numerosas; é fácil ver que muitas
delas provêm do texto corrido da primeira parte da primeira edição.{nota
9}
1861 - (15 de janeiro) -
O Livro dos Médiuns (
Le
livre des médiums), ou guia dos médiuns e dos evocadores.
Contendo o ensino especial dos Espíritos sobre a teoria de todos os
gêneros de manifestações, os meios de se comunicar com
o mundo invisível, o desenvolvimento da mediunidade, as dificuldades
e os escolhos com que se pode deparar na prática do Espiritismo. Para
fazer seqüência ao Livro dos Espíritos. Didier; Ledoyen.
[498 + iv pp.;
AK III 173]
1861 - Segunda edição de O Livro dos Médiuns. Revista
e corrigida com o concurso dos Espíritos, e acrescida de grande
número de instruções novas. Didier; Ledoyen. [510
+ viii pp.]
Edição francesa corrente: Paris, Dervy-Livres. Edição
brasileira recomendada: FEB, tradução de Guillon Ribeiro,
inteiramente revista a partir da 59ª edição.
1862 - (fevereiro) -
O Espiritismo na sua Expressão
mais simples (
Le Spiritisme à sa plus simple expression).
Exposição sumária do ensino dos Espíritos e
de suas manifestações. Ledoyen. [36 pp.]
Em 1994 esse opúsculo foi reeditado pelo Centre d'Études
Spirites Allan Kardec, de Paris. Existem várias traduções
para o vernáculo, sendo hoje disponíveis as de Dafne R. Nascimento,
publicada pela Federação Espírita do Estado de São
Paulo em 1984, e a de Joaquim da Silva Sampaio Lobo (in: Iniciação
Espírita, 6a ed., São Paulo, Edicel, 1977).{nota 10}
1862 -
Viagem Espírita em 1862 (
Voyage spirite
en 1862). Contendo: 1. As observações sobre o estado do
Espiritismo; 2. As instruções dadas por Allan Kardec nos diferentes
grupos; 3. As instruções sobre a formação dos
grupos e das sociedades, e um modelo de regulamento para o uso deles e delas.
Ledoyen. [64 pp.]
Esse livro é atualmente publicado em Paris pela Éditions
Vermet; no Brasil, em Matão, pela Casa Editora O Clarim, em tradução
de Wallace Leal Rodrigues. Em nenhuma dessas edições constam
dizeres após o título; tomamo-los de
AK III 18, onde
não se esclarece se estavam nas edições originais. Afora
as mencionadas instruções e regulamento, o corpo da obra consiste
de três discursos proferidos por Kardec aos espíritas de Lyon
e Bordeaux em sua famosa viagem.
1864 - (abril) -
Imitação do Evangelho segundo
o Espiritismo (
Imitation de l'Évangile selon le Spiritisme).
Contendo a explicação das máximas morais do Cristo,
sua concordância com o Espiritismo e sua aplicação às
diversas posições da vida. Por Allan Kardec, autor do
Livro
dos Espíritos. Fé inabalável só o é
a que pode encarar frente a frente a razão, em todas as épocas
da Humanidade. Paris, os editores do
Livro dos Espíritos; Ledoyen,
Dentu, Fréd. Henri, livreiros, no Palais Royal, e no escritório
da
Revue Spirite, Rue e Passage Sainte-Anne, 59.
Essa obra, impressa na Imprimerie de P.-A. Bourdier et Cie, Rue Mazarine,
30, possui 444 + xxxvi páginas. É precursora de
O Evangelho
segundo o Espiritismo, e não mais seria impressa por Kardec
após a publicação deste, em 1866. No entanto, é
de grande valor histórico, sendo essa a razão pela qual em
1979 a FEB reeditou-a em reprodução fotográfica. Não
temos notícia de outras edições recentes, nem de traduções.
Naturalmente, 'imitação' aqui não se deve entender
no sentido hoje popular, de 'cópia', mas no de 'prática' (ver
a introdução de Hermínio Miranda à edição
febiana para esclarecimentos adicionais).
1865 - (1° de agosto) -
O Céu e o Inferno, ou a
Justiça Divina segundo o Espiritismo (
Le ciel et l'enfer,
ou la justice divine selon le Spiritisme). Contendo o exame comparado
das doutrinas sobre a passagem da vida corporal à vida espiritual,
as penas e recompensas futuras, os anjos e os demônios, as penas eternas,
etc.; seguido de numerosos exemplos acerca da situação real
da alma durante e depois da morte. "Por mim mesmo juro, disse o Senhor Deus,
que não quero a morte do ímpio, senão que ele se converta,
que deixe o mau caminho e que viva." (Ezequiel, 33:11). Paris; os editores
de
O Livro dos Espíritos, Librairie Spirite.
Em nossos dias, está disponível edição belga
da Éditions de l'Union Spirite. A tradução da FEB
é, neste caso, de Manuel Quintão. (AK III 108 faz menção
à "21a edição, revista, 1974.)
1866 -
O Evangelho segundo o Espiritismo (
L'Évangile
selon le Spiritisme).
Os dizeres da página de rosto são idênticos aos de
L'Imitation, exceto pela data e pela frase "Terceira edição,
revista, corrigida e modificada". Vê-se, portanto, que Kardec considerava
esta obra uma nova edição da anterior, apesar da simplificação
do título. Segundo se lê no prefácio de Thiesen à
edição da FEB de
L'Imitation, a segunda edição,
de 1865, seria apenas outra tiragem do primeiro livro. No entanto, em
AK
III 18 esse mesmo autor escreve: "Da 2a ed. - 1865 - em diante, essa obra
tomou novo título...". Para que esta última informação
seja compatível com a anterior, deve-se entender aqui '2ª edição
exclusive'.* De qualquer modo, é a terceira edição
que se tornou definitiva, servindo de base para as edições
posteriores em francês e nos vários idiomas em que foi traduzida.
Também devido à sua raridade e seu valor histórico,
a FEB lançou, em 1979, uma reprodução fotográfica
dessa edição. Na França, é hoje em dia publicada
por La Diffusion Scientifique. Em português, a tradução
clássica recomendada é a de Guillon Ribeiro (FEB), inteiramente
revista a partir da 104a edição.
1868 - (6 de janeiro) -
A Gênese, os milagres e as predições
segundo o Espiritismo (
La genèse, les miracles et les prédictions
selon le Spiritisme). Paris, Librairie Internationale. *
Esse foi o último livro publicado por Kardec. Pode ser encontrado
hoje em edição da La Diffusion Scientifique, de Paris. A
corrente edição da FEB foi traduzida por Guillon Ribeiro.
1890 - (janeiro) -
Obras Póstumas (
Œuvres Posthumes).
Paris, Société de Librairie Spirite. [450 pp.]
Editado por Pierre-Gaëtan Leymarie, esse livro reúne importantes
textos de Kardec, quer de caráter teórico, sobre diversos
assuntos, quer sobre fatos relativos às atividades espíritas
do mestre. Em
AK III 19 lê-se que uma segunda edição
veio a lume ainda no mesmo ano de 1890. Guillon Ribeiro traduziu o livro
para a FEB, a partir da primeira edição francesa. A edição
atual da Dervy-Livres conta com controversos comentários, introdução
e notas de André Dumas.
Consoante ao objeto deste nosso trabalho, a lista acima contém
apenas os textos mais importantes e, sobre eles, apenas algumas informações
básicas. O volume III da obra Allan Kardec é de consulta
obrigatória para o estudioso que queira acercar-se da fonte mais
extensa e segura de dados sobre o conjunto da produção de
Kardec.