Boletim GEAE

Grupo de Estudos Avançados Espíritas

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Fundado em 15 de outubro de 1992
Boletim Quinzenal de Distribuição Eletrônica

"Fé inabalável é somente aquela que pode encarar a razão, face a face, em todas as épocas da humanidade", Allan Kardec

Ano 11 - Número 459 - 2003            15 de julho de 2003

 

Editorial

Homenagem à Grande Dama da Educação Brasileira


Artigos

Salvação ? Não, Obrigado, Ricardo Di Bernardi, Brasil


História & Pesquisa

Entrevista com Eduardo Carvalho Monteiro sobre Anália Franco
Cronologia da Vida de Anália Franco

Painel

Médiuns ajudando à Polícia?, Washington Fernandes, Brasil




Editorial

Homenagem à Grande Dama da Educação Brasileira

Anália Franco Se uma mulher, sem grandes posses ou fama, iniciasse uma cruzada para amparar crianças orfãs, recolhendo-as e dando-lhes, além de uma educação primorosa, uma formação profissional, provavelmente encontraria em nossos dias grandes dificuldades. Se ela se empenhasse em conseguir bem mais que simples donativos, que buscasse um engajamento da sociedade nesta tarefa, mostrando que o papel da mulher se estende bem mais que o limite familiar e que dela depende a formação das futuras gerações, que o esforço empregado  e a dedicação ao próximo são valiosas oportunidades de crescimento pessoal, provavelmente seria evitada nas rodas sociais e acusada de ter posições extravagantes.

Imagine então, esta mesma mulher, lutando por seus ideais, na São Paulo da virada do século XIX para o XX, uma cidade provinciana, ainda centro de uma economia baseada na cafeicultura e ainda adaptando-se as novas realidades criadas pelo fim da escravidão. Cidade quatrocentona, onde o papel da mulher era adornar o lar e onde sua educação era considerada prejudicial ao perfeito desempenho de suas funções. Cidade onde matronas respeitáveis eram as que exerciam seu reinado doméstico isoladas das duras realidades da fome e da miséria.

Nesta São Paulo conservadora, ainda longe de ser a cidade cosmopolita do final do século XX, toda familia que se prezasse mostrava profundo respeito pelas tradições centenárias e não deixava de ser assídua frequentadora das missas celebradas nas importantes igrejas da cidade ou nas capelas de suas propriedades territoriais. Imagine-se agora uma mulher espírita e diante de uma grande obra !

Pois bem, esta mulher extraordinária existiu e embora sua obra tenha sido esquecida ou não se queira oficialmente relembrá-la, foi um dos maiores nomes da educação brasileira. Foi Anália Emilia Franco, abnegada servidora do Cristo, que deu vida ao chamamento evangélico do "vinde a mim os pequeninos" criando creches e orfanatos. Educou a infância carente, filhos de homens livres ou de ex-escravos, tendo inclusive sido uma das poucas vozes em favor das crianças negras enjeitadas pelos fazendeiros ao perderem seu valor comercial com o fim da escravidão. Foi, no Brasil, das primeiras a prover educação profissional para as meninas pobres, dando-lhes condições de sustentarem a sí próprias.

Foi espírita e em seus educandários direcionou o ensino religioso para o estudo do evangelho, sem partidarismos e sem fanatismos, participou de grupos espíritas e nunca escondeu este fato, o que lhe trouxe inimigos poderosos.

Curiosamente, desta mulher que tanto fez pelo ensino brasileiro, que bem pouco havia progredido até sua época, pouco se fala, quase não se fazem homenagens publicas e não fosse o bairro que lhe leva o nome, onde hoje há um famoso shopping e grandes instituições de ensino, estaria completamente esquecida pelas gerações mais jovens, justamente as maiores beneficiárias de sua atuação revolucionária.

Se a história oficial dela se esqueceu, o mesmo não se passa conosco, espíritas, que lhe guardamos as lições de aplicação do amor ao próximo em serviço ativo e oramos para que - dos planos elevados em que agora merecidamente deve se encontrar - continue olhando pela juventude brasileira, ainda tão carente de uma sólida formação intelectual e moral quanto nos tempos em que levantou entre nós seus educandários.

Nossa sincera homenagem à Analia Franco, a quem dedicamos esta edição do Boletim GEAE, merecidamente chamada pelo historiador espírita Eduardo Carvalho de Monteiro (vide entrevista nesta edição) de "A Grande Dama da Educação Brasileira".

Nota: A imagem apresentada neste editorial é uma reprodução de um quadro a óleo que retrata Anália Franco em sua juventude. A imagem é da página sobre Anália Franco, no site do Lar Anália Franco de Jundiaí.

Os Editores

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Artigos


Salvação ? Não, Obrigado. Ricardo Di Bernardi, Brasil


O homem primitivo, intimamente ligado à natureza que o rodeava, expressava de forma espontânea e verdadeira sua espiritualidade. Através de seu instinto sentia a existência do transcendental, sentimento esse que pulsava, de forma nítida, na essência energética daqueles seres simples e ignorantes, vazios de conhecimento, porém plenos de autenticidade. À medida que a civilização humana começou a galgar novos degraus da escala do progresso, deixando cada vez mais de ser instintiva, passou a reprimir para os porões do inconsciente as percepções inatas e verdadeiras. Deixando para trás a infância histórica, passou a humanidade a uma fase da constestação sistemática tal qual o adolescente que recusa a priori os conceitos estabelecidos. Na procura de respostas para as inúmeras indagações que acometem a mente humana, passa a duvidar até mesmo de seus instintos. A crença no extrafísico, antes alicerçada na própria naturalidade dos sentimentos inatos, passa a ser substituída pela dúvida e, sobretudo, a exigir participalçao do racional.

Contudo, o homem moderno, esteja ele ligado à ciência ou à filosofia, procura cruzar a fronteira do racional e integrar-se aos valores percebidos por seu próprio psiquismo, de forma subjetiva. O paradigma mecanicista de Newton vem cedendo lugar à concepção de um universo energético aberto a outras dimensões. Não mais a atitude infantil do homem primitivo que apenas, por via inconsciente, aceitava a existência espiritual, nem tampouco a postura adolescente da rejeição preconceituosa de qualquer referência à espititualidade. Estamos no alvorecer não só de um novo século, mas de um novo milênio. As perspectivas futuras apontam para uma ciência e uma religião não mais estanques, dogmáticas, preconceituosas e onipotentes. O universo passa a ser observado e sentido, não mais como uma matéria tridimensional. A multidimencionalidade da matéria, já admitida pela física moderna, abre as portas para a percepção da existência do mundo espiritual.

A humanidade já não se satisfaz com os preceitos rígidos das religiões dominantes. O homem é um ser que indaga e quer saber, afinal, quem é, de onde vem e para onde vai. A dissociação existente entre a ciência e religião, verdadeiro abismo criado pelos homens, levou os indivíduos a ter uma visão fragmentária da vida. Os conselhos religiosos, tão úteis em épocas remotas, hoje tornam-se defasados em relação à evolução contemporânea . As orientações dos ministros religiosos foram substituídas pelos médicos, psicólogos, pedagogos etc... O que freqüêntemente observamos é a deficiência de respostas às ansiedades íntimas do indivíduo ou da própria sociedade. O que lhes falta? Por que profissionais extramamente capacitados, sérios e estudiosos se sentem limitados para compreender o sofrimento humano?

Por que pessoas justas às vezes sofrem tanto, e concomitantemente, outras, egoístas, que se comprazem no sofrimento do próximo, prosperam tanto? Há quem viva semanas, meses ou poucos anos, enquanto outros vivem quase um século! Por quê? Por que para uns a felicidade constante e para outros a miséria e o sofrimento inevitável? Por que alguns seriam premiados pelo acaso com as mais terríveis malformações congênitas? Por que certas tendências inatas são tão contrastantes com o meio onde surgem? De onde vêm?

Não há como responder a essas questões, conciliando a crença em uma Lei Universal justa e sábia, se considerarmos  apenas uma vida para cada criatura. O ateísmo e o materialismo são conseqüências inevitáveis da rejeição às crenças tradicionais, surgindo, naturalmente, pela recusa inteligente a uma fé cega em  um Ser que preside os fatos da vida sem qualquer critério de sabedoria, e justiça. A cosmovisão espiritista, alicerçada no conhecimento das vidas sucessivas, onde residem as causas mais profundas de nossos problemas atuais, traz-nos respostas coerentes. O conceito de reencarnação propicia uma ampla lente através da qual poderemos enxergar a problemática das vidas.As aparentes desigualdades, vivenciadas momentaneamente pelas criaturas, têm justificativa nos graus diferentes de evolução em que se encontram no momento. Além disso, sabe-se, pelas leis da reencarnação, que cabe a todas as criaturas um único destino: a felicidade. A evolução inexorável é feita pelas experiências constantes e o aprendizado decorrente. Os atos da criatura ocasionam uma seqüência de causas e efeitos que determinam as necessidades da reencarnação, a si própria, em tal meio ou situação; nunca existe punição; existe, sim, conseqüência lógica. Há colheita obrigatória, decorrente da livre semeadura, e sempre novas oportunidades de semear.

Cada ser leva para a vida espiritual a sementeira do passado, trazendo-a inconscientemente consigo ao renascer. Se uma existência não for suficiente para corrigir determinadas distorções, diversas serão necessárias para resolver uma determinada tendência a longa caminhada da vida. Nossos atos do dia-a-dia por sua vez, são também novos elementos que se juntam a nosso patrimônio energético, pois os arquivos que criamos são sempre no nível de campos de energia, influenciando intensamente, atenuando ou agravando as desarmonias energéticas estabelecidas pelas vivências anteriores.

A teia de nosso destino, portanto, não é exclusivamente determinada por nosso passado. O livre-arbítrio que possuímos tece também os fios dessa teia a cada momento, num dinamismo sempre renovado. A diversidade infinita das aptidões, ao nível das faculdades e dos caracteres, tem fácil compreensão. Nem todos os espíritos que reencarnam têm a mesma idade; milhares de anos ou séculos podem haver na diferença de idade entre dois homens. Além disso, alguns galgam velozmente os degraus da escada do progresso, enquanto outros sobem lenta e preguiçosamente.

A todos será dada a oportunidade do progresso pelos retornos sucessivos. Necessitamos passar pelas mais diversas experiências, aprendendo a obedecer para sabermos mandar; sentir as dificuldades na pobreza para sabermos usar a riqueza. Repetir muitas vezes para absorver novos valores e conhecimentos. Desenvolver a paciência, a disciplina e o desapego aos valores materiais. São necessárias existências de estudo, de sacrifícios, para crescermos em ética e conhecimento. Voltamos ao mesmo meio, freqüentemente ao mesmo núcleo familiar, para reparar nossos erros com o exercício do amor. Deus, portanto, não pune nem premia; é a própria lei da harmonia que preside à ordem das coisas. Agirmos de acordo com a natureza, no sentido da harmonia, é prepararmos nossa elevação, nossa felicidade.

Não usamos o termo "salvação", pois históricamente está vinculado ao salvacionismo igrejista, uma solução que vem de fora. Na realidade aceitamos a evolução, a sabedoria e a felicidade para todas as criaturas. "Nenhuma das ovelhas se perderá", disse Jesus. Fazendo-nos conhecer os efeitos da lei da responsabilidade, demostrando que nossos atos recaem sobre nós mesmos, estaremos permitindo o desenvolvimento da ordem, da justiça e da solidariedade social tão almejada por todos.

Ricardo Di Bernardi
Homeopata e Presidente do ICEF
Instituto de Cultura Espírita de Florianópolis

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História & Pesquisa


(Seção em parceria com a "Liga de Historiadores e Pesquisadores Espíritas" -  Comitê Editorial da LIHPE)

Entrevista com Eduardo Carvalho Monteiro sobre Anália Franco

Eduardo Carvalho Monteiro, psicólogo por profissão, tem se dedicado a tarefa de preservação da memória do movimento espírita, sendo autor de diversas obras fundamentadas em suas pesquisas, entre elas "Anália Franco, A Grande Dama da Educação Brasileira", "Batuíra, Verdade e Luz", "Batuíra, O Diabo e a Igreja", "100 Anos de Comunicação Espírita em São Paulo". Também é o responsável pelo "Anuário Histórico Espírita" e grande incentivador da "Liga de Historiadores e Pesquisadores Espíritas".  Além de suas atividades como pesquisador e historiador, é assessor pró-memória da União das Sociedades Espíritas de São Paulo e criador do seu Centro de Documentação Histórica, bem como fundador e vice-presidente da Sociedade Espírita Anália Franco de Eldorado, Diadema. Não seria possivel deixar de mencionar que Eduardo além de espírita é maçon e, assim, suas pesquisas tem contribuido para resgatar os laços históricos entre o Espiritismo e a Maçonaria em terras brasileiras.
GEAE - Eduardo, gostaríamos de iniciar a entrevista perguntando-lhe como foi seu contato com a história de Anália Franco. O quê o levou a estudar e publicar um trabalho sobre a vida da grande Educadora?

Eduardo - Trabalhava já com a memória do Espiritismo quando um amigo, Presidente do Núcleo Espírita Anália Franco, da Zona Leste-SP, começou a insistir comigo que iniciasse uma pesquisa sobre a Educadora.Comecei despretenciosamente recolhendo material sobre ela,acabei entrando em sua faixa mental e, depois de 5 anos de pesquisas, o livro saiu. Devo dizer que foi uma pesquisa que me empolgou desde que comecei a penetrar no universo da grande educadora devido à grande personalidade que estava retratando.

GEAE - Em linhas gerais, como se desenvolveu sua pesquisa? Nos parece que  Anália Franco não tem tido, por parte do povo de São Paulo, o  reconhecimento que merece, principalmente quando se vêem homenagens  publicas a personalidades que bem menos fizeram pelo progresso da nação  que ela. O fato de Anália Franco ter abraçado a Doutrina Espírita tem  algo a ver com este "esquecimento"?

Eduardo - Como disse, foram cinco anos de pesquisa, cerca de trinta viagens pelo interior de São Paulo e Rio de Janeiro "perseguindo" seus rastros, em que tivemos a oportunidade de "descobrir" umas cinco pessoas que foram suas alunas, todas nonagenárias, é claro, debruçamo-nos por centenas de documentos em arquivos de São Paulo e da Entidade que ela fundou, a Instituição Beneficente e Instrutiva de São Paulo, visitamos Rezende, sua terra natal, consultamos e nos correspondemos com historiadores locais, foi, enfim, um exaustivo trabalho para reunir informações que estavam muito dispersas, colhendo uma aqui, outra ali, para, então montar o grande "quebra-cabeças", que foi escrever o livro.

Quanto à segunda parte da pergunta, é fato que muitos "valentões do Brás"ou "bêbados do Bexiga" mereceram mais referências de nossos cronistas da época do que Anália, no entanto, a história ainda lhe fará justiça. O fato de ela ser espírita numa época de grande influência clerical, ter sido apoiada pela maçonaria, ser republicana, defender minorias como os negros, tentar reabilitar mulheres decaídas, ser uma mulher com princípios feministas e outras atitudes que tomava, revelando independência, dinamismo e destemor, creio que tudo isso influenciou para que a sociedade da época tivesse tentado apagar seus méritos de mulher fantástica que foi. Como espíritas, sabemos, no entanto, que a recompensa está na sua consciência e não nas homenagens humanas que são fugidias.

GEAE - Conte-nos algo sobre a família e a época de Anália Franco, pois nos parece que ela foi uma pessoa que esteve muito além de seus  contemporâneos. Possivelmente não deve ter encontrado muita compreensão na sociedade de São Paulo na virada do século XIX para o XX.

Eduardo - Anália Franco não teve filhos, mas teve dois irmãos que deixaram grande prole e, alguns de seus descendentes tivemos a oportunidade de entrevistar, mas apenas D. Maura Marques Leite cultuava e conhecia alguma coisa de Anália. No desenrolar de sua carreira Anália Franco rompeu barreiras, desprezou preconceitos, desafiou tabus em nome da liberdade de pensamento e do seu docemente tresloucado sonho de ver uma humanidade mais feliz, tornando-a pioneira em várias iniciativas: defendeu o direito da mulher trabalhar fora e desprender-se da tutela do homem, criando cursos para levar adiante sua idéia; defendeu o acesso da criança pobre, até de meninas, à alfabetização; defendeu a alfabetização de adultos; defendeu o acesso da mulher à cultura e intelectualização. Estas e outras teses de emancipação da mulher, que fizeram a fama da feministas das décadas de 60 e 70, já eram defendidas no começo do século por essa mulher que viveu além de seu tempo. Por isso enfrentou muitas dificuldades e incompreensões, o que não diminuiu o seu ritmo de trabalho.

GEAE - Infelizmente o nome de Anália Franco é hoje em dia mais associado ao bairro - por causa do shopping e da faculdade - que a grande Educadora propriamente dita, poucas pessoas conhecem a extensão de sua obra, mesmo no meio espírita. A propósito, como foi que ela se tornou espírita?

Eduardo - Infelizmente é um fato lamentável que seu nome esteja ligado ao nome de um bairro sem que as pessoas saibam a grande mulher que foi. Aos poucos, será inevitável que ela seja reconhecida e estudada sua obra, ocupando o lugar que merece na História. Como espíritas sabemos que não devemos cultuar idolatria às pessoas, mas trata-se de reconhecer seus méritos de grande filantropa e educadora.

Não conseguimos saber ao certo como ela se tornou espírita, mas imaginamos que deva ter sido no episódio da cura de uma cegueira que ela teve por dois anos. Coincidentemente (ou não) quem ler a biografia de outra grande espírita e sua contemporânea, a espanhola Amália Domingo y Soler, verá que ela também se curou da cegueira por interferência espiritual, iniciando aí sua grande missão de divulgadora do Espiritismo.

GEAE - Ao ler seu livro sobre Anália Franco, nos chamou muito a atenção o fato dela  ter sido uma educadora, tal qual foi Allan Kardec, Eurípedes Barsanulfo e Vinicius. Há relação entre a atividade de Anália Franco e sua adesão  ao Espiritismo? Até que ponto o Espiritismo influenciou sua atividade  como educadora ou sua atividade como educadora influenciou sua vivência da Doutrina Espírita?

Eduardo - Minha intuição me diz que todos foram espíritos preparados nas Escolas do Outro Plano com uma mesma concepção da necessidade de desenvolver na Terra a missão de educar a criança para formar o cidadão de caráter e espiritualizado, contribuindo assim para a elevação do padrão vibratório da humanidade. Podemos acrescentar muitos outros nessa lista: Jerônimo Ribeiro, Thomaz Novelino, Herculano Pires, Leopoldo Machado... a lista é longa.

GEAE - Bezerra de Menezes, Eurípedes Barsanulfo, Batuíra e Vinicius são praticamente contemporâneos de Anália Franco. Ocorreu influência deles na obra de Anália Franco ou dela sobre eles?

Eduardo - No que tenho conhecimento, Batuíra e Anália eram bastante amigos e, naturalmente, trocavam muitas idéias e se visitavam entre si. Quanto aos demais, também acredito que possa ter havido contato entre eles e mútua influência,  por que, à época, os espíritas eram poucos e muito unidos.  Basta se ver que os jornais de Batuíra, Anália, o Reformador da FEB, traziam notícias e reproduções de artigos entre si. Apenas Bezerra, que desencarnou em 1900 não deve ter tido muito contato com os demais citados. Cairbar Schutel também carteava muito com Eurípedes e lhe pedia receitas para seus doentes.

GEAE - Considerando o estilo de ensino de Anália Franco, principalmente a orientação que imprimia à Instituição que dirigia e às suas professoras, em que ele diferia do ensino ministrado em outras Instituições da época?

Eduardo - A liberdade de pensamento. Anália dava noções cristãs a seus alunos sem lhes obrigar a seguir o Espiritismo. A maioria das outras Escolas, de orientação católica ou protestante, forçavam a criança a seguir suas religiões. Nas suas Instituições benemerentes, Anália não perguntava a que religião o assistido pertencia,acolhendo a todos.

GEAE - Caso comparemos o estilo de ensino das instituições dirigidas por Anália Franco com o aplicado nas escolas modernas, quais seriam as maiores diferenças?

Eduardo - Naturalmente que a Pedagogia progrediu muito e novas teorias meritórias surgiram, porém o método pestaloziano utilizado por Anália e adaptado às condições brasileiras Anália nunca foi ultrapassado.

GEAE - No livro você fala do grande apoio que a Maçonaria deu ao trabalho realizado por Anália Franco. Poderia nos falar um pouco sobre esta questão? Gostaríamos de aproveitar e perguntar: como a Maçonaria vê o Espiritismo e seu relacionamento com ele?

Eduardo - No começo do século XX, a obrigação de todo maçom e Lojas maçônicas de trabalharem pela educação do povo era levada tão a sério, que esta obrigatoriedade constava de sua própria Constituição. O maçom, no entanto, cultor da liberdade de pensamento, também lutava, em razão disso, pela laicidade do ensino e a separação do Estado e da Igreja, daí a aproximação com Anália, uma das poucas educadoras da época que tinha o mesmo pensamento a respeito e afinidades de princípios. Não consegui confirmar documentalmente, mas acredito que o esposo de Anália, Francisco Bastos tenha sido maçom.

A Maçonaria vê o Espiritismo como vê todas as religiões que não cerceiem a liberdade de pensamento de seus profitentes: aceitando e sendo tolerante com todas. Maçonaria não é religião ao contrário do que muitos pensam, mas uma Escola Iniciática que pratica rituais de mistérios tão antigos quanto o homem. Para entrar para a Maçonaria são selecionados na sociedade homens de bons princípios, crentes num Ser Superior, e uma das primeiras perguntas que lhe são feitas é se está disposto a respeitar os religiosos de todos os matizes que se tornarão seus Irmãos. A Maçonaria respeita tanto as religiões que para designar Deus escolheu um termo que não fere a crença de ninguém: Grande Arquiteto do Universo.

GEAE - Qual o papel que Francisco Antonio Bastos, marido de Anália Franco, exerceu em sua obra? Qual a razão do tratamento que lhe foi dispensado após  a desencarnação de Anália Franco, principalmente seu afastamento das atividades na Colônia Regeneradora D. Romualdo?

Eduardo - Bastos foi o companheiro dedicado e amoroso de Anália, seu braço direito na administração das Instituições criadas por ela e mais do que isso: dava-lhe a devida sustentação espiritual através das sessões no Centro Espírita São Paulo. Infelizmente, após o desencarne da esposa querida, Bastos foi obrigado a deixar a Instituição, pois a nova Diretoria  "não achava bem ficar um homem viúvo em meio a tantas meninas". Registre-se que muitas dessas meninas eram filhas adotivas (de papel passado) dele.

GEAE - As Instituições fundadas por Anália Franco ainda existem e ainda mantém os ideais de sua fundadora?

Eduardo - Segundo temos conhecimento, apenas duas das Instituições fundadas por Anália ainda funcionam: a própria Associação transferida para a cidade de Itapetininga-SP e o Lar Anália Franco de Jundiaí, este trabalhando admiravelmente segundo as idéias de sua fundadora. Vale registrar que na cidade de São Manoel-SP, ainda funciona o Lar Anália Franco fundado logo depois do desencarne de Anália por sua seguidora Clélia Rocha e que é uma referências da cidade em relação a bons serviços prestados à comunidade local.

GEAE - Temos noticias de Anália Franco no plano espiritual?

Eduardo - Sabemos que Anália Franco,ao longo da carreira mediúnica de Chico Xavier, psicografou várias mensagens que relacionamos em nosso livro "Anália Franco, a Grande Dama da Educação Brasileira". Este livro está esgotado, mas estaremos lançando uma segunda edição ainda esse ano.

GEAE - Gostaríamos de agradecer-lhe, em nome de todo o grupo, a gentileza da entrevista e pedir-lhe algumas palavras sobre como vê a importância de Anália Franco para a presente geração de Espíritas?

Eduardo - Eu acredito que a maior contribuição que ela nos deixou foi o seu exemplo. Anália foi uma maravilhosa sonhadora e tinha uma visão de futuro que, se nós tivéssemos tido em São Paulo dez mulheres como ela no começo do século XX, tenho a certeza de que os problemas sociais que o Estado enfrenta hoje seriam muito menores e as desigualdades mais amenas. A presente passagem de seu Espírito pela vida terrena deixou um rastro de luz e podemos nos orgulhar de ter tido esta grande mulher na família espírita.


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Cronologia da Vida de Anália Franco

(Baseada na cronologia apresentada no livro "Anália Franco, A Grande Dama da Educação Brasileira", de Eduardo C. Monteiro, Editora Eldorado Espírita de São Paulo)
Escola Maternal de Limeira

Foto de Crianças da Escola Maternal de Limeira
(Foto da página sobre Anália Franco no site do Lar Anália Franco de Jundiaí)

01/02/1853
Nascimento em Resende, Rio de Janeiro, Brasil
Pais: Antonio Marianno Franco e Teresa Franco
1861
Mudança para São Paulo
1868
Com 15 anos já auxiliava a mãe em Colégios em Guarantinguetá, Jacareí e arraial de Minas
28/09/1871
Lei do Ventre Livre, que tornava livres todos os filhos de escravos nascidos a partir desta data. Segundo a lei deveriam permanecer até os oito anos em poder do proprietário da mãe, na companhia dela, e a partir daí deveriam ser libertados mediante uma indenização paga pelo governo. Caso o proprietário optasse, podia utilizar o trabalho dos "libertos" até que eles completassem 21 anos, como retribuição pelas despesas com sua criação (vide "Abolição - Esperança de Ontem, Promessa de Hoje" de Altamarindo Carneiro, editora Panorama). Nos anos seguintes esta lei suscitou muitos abusos por parte dos fazendeiros, desinteressados em criar os filhos de seus escravos sem o retorno financeiro que desejavam. Anália escreveu cartas para as mulheres fazendeiras apelando em favor das criancinhas abandonadas e buscou meios de ampará-las.
1872
É aprovada num "Concurso de Câmara" passando a trabalhar oficialmente, como assistente da mãe
1875
Forma-se normalista em São Paulo na "Escola Normal Secundária"
29/12/1877
"A Província de São Paulo" elogia o exame de Anália
1888
É nomeada Professora Pública após "brilhante exame prestado"
13/05/1888
Lei Aúrea assinada pela Princesa Isabel libertando os escravos
1897-1898
Período provável de seus problemas com a visão e sua adesão a Doutrina Espírita
30/04/1898
Funda a Revista "Álbum das Meninas". Artigo de fundo intitulava-se "As Mães e as Educadoras"
1901
"As Preleções de Jesus", crônicas de Anália Franco publicadas em forma de livro
29/10/1901
Secretário Dr. Bento Bueno aprova pedido de 17/09/1901 para fundação da Associação
17/11/1901
Fundação da Associação Feminina Beneficente e Instrutiva de São Paulo
31/12/1901
Largo do Arouche, 58 - sede da 1ª Escola
25/01/1902
Fundação do Liceu Feminino (para formação de professoras para os Lares do Interior)
12/10/1902
Artigo do Dr. Alberto Melo Seabra na Rev. "Educação"
23/08/1902
Fundação da 1ª Escola Maternal do Interior em Dois Córregos
26/10/1902
Criação do Curso Noturno para Adultos
1903
Fundação da 1ª Escola Maternal de Jaú
01/03/1903
1º nº da Revista da Associação Feminina
05/07/1903
Fundação da Escola Maternal "Grande Oriente"
meados de 1903
Fundação do 1º Asilo-Creche em São Paulo
Fins de 1903
Discurso do senador Dr. Paulo Egídio sobre Anália Franco
01/12/1903
1º número de "A Voz Maternal"
31/12/1903
Mudança para Ladeira dos Piques nº 23 (depois foi alugada a casa nº 13 também)
31/12/1903
Eleição de Anália para Presidente da Associação/Revisão dos Estatutos
15/03/1904
Fundação da Escola Maternal de Itapetininga
09/07/1904
Fundação da Escola Maternal de Campinas
04/08/1904
Novo discurso do Dr. Paulo Egídio no Senado
12/10/1904
Proposta Dr. Uliysses Paranhos para fazer conferência sobre "Higiene das Familias" na Associação
31/12/1904
Reeleição de Anália como Presidente da Associação
31/08/1905
Apresentação de proposta para construção de prédio próprio da Associação
31/12/1905
Reeleição de Anália Franco
1906
Casamento com Francisco Antônio Bastos
31/12/1906
Reeleição de Anália Franco
1906
Abertura do Bazar da Caridade na Rua do Rosário, 18 e sucursal na Ladeira dos Piques, 23
03/12/1907
Reeleição de Anália Franco
26/01/1908
Empréstimo hipotecário para construção do Asilo e Creche e Albergue Diurno (3 pavilhões)
02/1908
Fundação da 1ª Escola Maternal de Sertãozinho
1908
Epidemia de Sarampo
08/1908
Fundação da 1ª Escola Maternal de Limeira
15/03/1908
Artigo "Ao cair do Crepúsculo" em "O Atibaiense" sobre Anália
31/12/1908
Reeleição de Anália
01/1909
Artigo de Anália Franco no jornal "A Voz Maternal" noticia o desencarne de Batuíra
07/01/1909
Fundação da 1ª Escola Maternal de Rio Claro
06/03/1909
Fundação da 1ª Escola Maternal de Jaboticabal
21/08/1909
Revisão Geral dos Estatutos da Associação
1910
Anália Franco cria a 1ª Banda do Brasil composta somente de moças - posteriormente batizada de Banda Femina "Regente Feijó". Esta banda formada pelas alunas de Anália viajou durante oito anos consecutivos apresentando-se e arrecadando fundos para sustento das Casas de Educação e Caridade.
29/09/1910
Proposta aceita da Loja Maçonica "7 de Setembro" para dirigir algumas escolas
17/12/1911
Aquisição da Fazenda Paraíso e fundação da "Colônia Regeneradora Dom Romualdo" (75 alqueires e antiga propriedade do Regente Feijó)
1912
Habilitação à Assistência das Sessões Práticas de Espiritismo - publicado em co-autoria com o marido
19/05/1912
Fundação do Lar "Anália Franco" de Jundiaí
31/12/1912
Reeleição de Anália Franco
07/11/1913
Fundação do Asilo-Creche de São Vicente
1914
Criação da Liga Educativa "Maria de Nazaré"
04/1914
Fundação do Asilo-Creche de Dobrada
31/12/1915
Reeleição de Anália
1916
Compêndio de Preces publicado pela tipografia da Colônia Regeneradora
10/01/1916
Fundação do Asilo-Creche do Rincão
25/04/1916
Pagamento e lavratura da escritura definitiva da compra da Fazenda Paraíso
1918
Surto de Gripe Espanhola
14/12/1918
Carta ao Dr. Antônio Ribeiro
26/12/1918
Última carta ao Dr. Antônio Ribeiro
06/01/1919
Ata-Testamento de Anália
20/01/1919
Desencarna em São Paulo
1951
"Poema de Mãe", mensagem de Analia Franco através da mediunidade de Francisco Cândido Xavier publicada no livro "Falando a Terra" (FEB)


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Painel

Médiuns ajudando à Polícia?, Washington Fernandes, Brasil

Nos Estados Unidos e na Europa, os Agentes Policiais consultam os médiuns para auxiliá-los em determinadas investigações criminais.

No 4º Encontro dos Delegados Espíritas, ocorrido em 20/11/01, o tema do evento foi "A Mediunidade Elucidando Crimes". A UDESP (União dos Delegados Espíritas de São Paulo) trouxe a São Paulo o Delegado dr. Antônio Camilo, da cidade de Pouso Alegre/MG, para palestrar e relatar como foi que ele tinha conseguido esclarecer um famoso crime da cidade, com base na mediunidade. Este evento atraiu interesse da mídia não-espírita, rádio, jornais e TV.

A UDESP fez uma reunião com um Delegado do DEIC (Departamento de Investigações Criminais do Estado), do DHPP (Setor de Homicídios), simpatizante do Espiritismo, para consultar sobre a possibilidade de que a Polícia pudesse recorrer a médiuns em casos em que a atuação policial não tivesse mais alternativas para prosseguir nas investigações. O Delegado aceitou que os médiuns possam colaborar com à Polícia, em casos em que eles não tenham mais nada a fazer.

No Brasil não existe um trabalho mediúnico neste sentido. A tradição na formação dos médiuns, depois de vários anos de estudo, estudando os grandes cientistas do mundo, ocorre muito para a chamada prática da assistência fluídica (o passe).

Ficou muito claro em "O Livro dos Médiuns (1861)", que o dever do médium é trabalhar gratuitamente no bem, cristãmente, utilizando suas faculdades mediúnicas para ajudar as pessoas, gratuitamente, em qualquer circunstância, estando preparado para colaborar no que estiver ao seu alcance. Ajudar à Polícia também seria, sem dúvida alguma, uma forma de praticar a caridade.

Em lugar algum foi restringida sua atuação somente para esta ou aquela prática, o que seria um contra-senso à sua realidade; O próprio Allan Kardec se utilizava dos médiuns em todas as circunstâncias, inclusive literárias, e também estando descrito em "O Livro dos Médiuns" que ele recorreu a um médium vidente quando foi assistir à ópera Oberon (LM, Cap. XIV, 168), e a eles recorria em qualquer circunstância. Se Allan Kardec vivesse hoje no Brasil, possivelmente ele fosse proibido de fazer isso, sob a alegação de que os médiuns somente devem trabalhar dando passe e estão proibidos de fazer outra coisa !!!.

Será que os Centros Espíritas não estão subdimensionando a prática e vivência da mediunidade?

Vemos com simpatia a possibilidade de ampliar a prática mediúnica, calculando que em médio prazo haveria uma revolução na atuação mediúnica nos Centros Espíritas, que se coadunaria mais com o Terceiro Milênio, onde o Espiritismo está chamado a prestar um grande contributo para a Regeneração planetária e a mediunidade será uma realidade natural da vida. Os estudos para este trabalho médiuns/polIcia estão em andamento, e contatos estão sendo feitos com os Centros Espíritas para tentar viabilizar tudo.

Naturalmente, há preocupação de que os médiuns sejam preservados de qualquer contato com a situação criminosa e a intenção é de assegurar uma forma de trabalho de modo que a Polícia nunca venha a saber quem foram os médiuns atuantes nas informações espirituais.

Contatos também estão sendo realizados pela UDESP com médiuns e policiais americanos, objetivando trazê-los ao Brasil, para fazer palestra, dando testemunho deste trabalho.

Este é um passo para que, no futuro, a mediunidade conquiste inevitavelmente o respeito e o reconhecimento da Segurança Pública de São Paulo, do Governo e da sociedade.

Aguardemos e confiamos.

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