Esta acontecendo no Museu Espírita de São
Paulo, sempre às quintas feiras as 20:30hs o Ciclo 2003 de Conferências
Públicas que homenageia a mulher. O tema central é A PRESENÇA
DA MULHER NO ESPIRITISMO. A última conferência que tivemos esteve
a cargo da Prof. Therezinha de Oliveira, reconhecida escritora e palestrante
espírita onde falou de biografias de mulheres médiuns e temas
que veremos reproduzidos em trechos, abaixo. Como preparação
para a palestra se apresentou a cantora espírita Priscila Beira. Estiveram
representadas no encontro as seguintes entidades: USE - União das Sociedades
Espíritas de São Paulo; FEESP - Federação Espírita
do Estado de São Paulo; ADELER - Assoc. de Editoras, Distribuidoras
e Divulgadoras do Livro Espírita; IPP - Instituto de Pesquisa Psicobiofísica;
EEAK - Editora Espírita Allan Kardec; LIHPE - Liga de Historiadores
e Pesquisadores Espíritas; LFU - Lar da Família Universal.
A conferência teve início às 20:00horas
onde a prof. Therezinha situou: "Então se nós buscarmos lá
pelo passado, vamos encontrar sempre o homem exercendo sobre a mulher o domínio
do fisicamente mais forte, restringindo a atividade da mulher ao interior
do lar, impedindo-lhe o acesso à cultura e ao poder, ainda hoje não
obstante dos progressos verificados, que vão inserindo a mulher melhor
na atividade da vida social de hoje, nos continuamos a ainda a encarar o ser
humano de modo diferente, quando ele se apresenta como homem e quando se
apresenta como mulher, até há uma espécie de rivalidade
entre os dois sexos e esta rivalidade em nada beneficia as relações
e o desenvolvimento entre ambos."
Conhecendo a conferencista, sabemos que ela não
defende aqui o feminismo equivocado. Depois de situar num contexto social,
busca na Bíblia algumas referências: "A mulher tem alma? Indagavam
os antigos, achando que não, porque na Bíblia, no velho testamento,
livro dos gêneses, capítulo 2, versículo 7, está
escrito que Deus ao criar o homem do pó da terra, lhe soprou nas narinas
o fôlego da vida, e o homem passou a ser alma vivente, mas depois ele
fez a mulher de uma costela de adão e não soprou absolutamente
o fôlego da vida nas narinas de Eva, então ela não teria
alma ou quando muito seria de natureza inferior a do homem. Este tema foi
até discutido num concilio no ano 585, não apenas discutiam
se a mulher teria alma, mas também dizia que a natureza da mulher era
má, era culpada de males, porque na bíblia também lemos
que ela é que aceitou a sugestão da serpente e desviou adão
da obediência a Deus."
O Espiritismo é rico em informações,
como vemos a seguir: "O Espiritismo há 146 anos com a publicação
do Livro dos Espíritos, já havia retomado o posicionamento de
Jesus a respeito de homem e mulher, ambos filhos de Deus. Neste mesmo livro
nós aprendemos que os espíritos não tem sexo na forma
como entendemos na organização física, são os
mesmos espíritos que animam o corpo dos homens ou das mulheres. Os
espíritos encarnam como homem ou como mulher conforme seja necessária
a experiência dessa encarnação para seu progresso, seu
desenvolvimento. Diz ainda Allan kardec no livro A Gênese, que a reencarnação
faz desaparecer os preconceitos entre os dois sexos." Gabriel Delane: "No
livro o Fenômeno Espírita, ele nos fala, que lá na Grécia
nos tempos antigos, a crença nas invocações era geral,
todos os templos possuíam mulheres, encarregadas de invocando os deuses,
proferir oráculos." Leon Denis: "Ergue de novo a mulher a inspirada
fronte, vem associar-se intimamente a obra da harmonia social, ao movimento
geral das idéias, o corpo não é mais que uma forma tomada
por empréstimo, a essência da vida é o espírito,
e neste ponto de vista o homem e a mulher são favorecidos por igual,
assim o moderno espiritualismo restabelece o mesmo critério dos celtas,
nossos pais, firma a igualdade dos sexos sobre a identidade da natureza psíquica
e o caráter imperecível do ser humano e a ambos assegura posição
idêntica nas agremiações de estudos"
Vemos na história que a tarefa da mulher médium
não é tão fácil como pode parecer a primeira vista.
"Ela realmente vai se sacrificar. Tem que deixar muitas vezes o conforto do
lar, e enfrentar hostilidades. Precisam e sentem que devem colaborar para
comprovar a imortalidade de todos nós, então a mulher
vai a beneficio da ciência entrar nos laboratórios, se submeter
aos maiores sacrifícios e humilhações a fim de serem
experimentadas por pesquisadores idôneos e competentes. A mulher foi
para os laboratórios, prestou-se a ser examinadas na sua mediunidade,
por estes homens eminentes, cientistas experientes, era preciso que alguém
se prestasse a este exame com coragem, com decisão.
Mas nem todas o fizeram, como a autora constata em Leon
Denis: "Quantas jovens de organismos delicados, quantas senhoras que conhecemos,
retraídas pelo temor a critica e as más línguas, afogam
e perdem bonitas faculdades medianias por não emprega-las bem com
uma boa direção, ao longo do tempo, muita mediunidade não
pôde oferecer a humanidade os frutos admiráveis do intercambio."
E nos primórdios do Espiritismo, nossa palestrante
encontrou biografias dignas de destaque. "Hydesville era um lugarejo no estado
de Nova York e para ali havia se mudado no final de 1847 a família
Fox, de religião metodista. Viviam o sr. Fox, esposa e duas filhas
menores, adolescentes. Margaret e Katherine. Havia outra filha, Leah, mas
estava casada, e morava na cidade de Rochester (...) a 28 de março,
iniciou-se estranhos ruídos, batidas, pancadas bastante incomodativas
que duraram. Em 31 de março de 1848, a família decidiu se recolher
mais cedo, para ver se os ruído desapareciam, mas eles voltaram com
mais intensidade. Então a menina perdeu o medo, e disse, "Sr. pé
rachado (abro parênteses para esclarecer que esta era a expressão
como designam a figura hipotética do demônio) faça
o mesmo que eu faço". Ela batia nos móveis e as pancadas do
espírito se manifestavam, quer dizer que havia ali uma inteligência,
correspondendo ao pedido da menina. Em breve a outra irmã, Margaret,
entrou na brincadeira e estabeleceu-se uma forma de comunicação.
O acontecimento não poderia deixar de atrair a
vizinhança toda. Continua nossa expositora: "Organizaram uma comissão
para estudar o fenômeno e criaram um alfabeto. Descobriram que o fantasma
que se comunicava era de um caixeiro viajante chamado Charles B. Rosma que
foi morto para ser roubado(...) Os Espíritos que se comunicavam com
as irmãs Fox, a partir dali, incentivavam-nas a fazer demonstrações
públicas das manifestações, mas as jovens e a sua família
não queriam, elas estavam vivendo aquele acontecimento, mas não
queriam subir ao palco, mas parece que os espíritos queriam que elas
fizessem demonstrações, porque em protesto eles não se
manifestaram por várias semanas. Ai família e as jovens cederam
a esta insistência dos invisíveis."
O acontecimento foi além das fronteiras da cidade,
conforme relata a prof. Therezinha. "No ano 1850, em Rochester, que era uma
cidade vizinha e maior, foi formada uma comissão especial para estudar
os fenômenos, agora era composta por homens dignos, respeitados, autoridades
locais, usaram de todo rigor, mas tiveram que concluir que não encontraram
nenhum processo pelo qual aquelas jovens pudessem ter produzido as tais batidas.
A partir daí ouve a expansão dos fenômenos, cada vez
mais (...) Ainda não era o Espiritismo. Vamos ver como as comunicações
evoluíram. Passaram de ruídos, batidas para letra do alfabeto,
mesa tripé circulo com alfabeto sim e não, prancheta ou cesta
com lápis acoplado. Neste caso já não seriam mais pancadas
mas já escritas. Com esta prancheta o espírito conseguia movimentar
o lápis e escrever.
Se os Espíritos escreviam, porque não começaram
logo pela psicografia? Nossa conferencista responde. "Ninguém acreditaria
que o médium estava escrevendo sob influência espiritual se
o lápis logo no começo estivesse na mão o do médium.
Foi preciso o fenômeno mais grosseiro (...) Também tivemos a
psicofonia que nem precisava do lápis. Os espíritos podiam
falar através dos médiuns. Atualmente temos TCI e TCM.
Precisamos lembrar que nesta época as irmãs não eram
Espíritas. As pessoas não tinham nenhuma idéia do que
aquele fenômeno significava, qual objetivo espiritual. Muito pelo contrário,
diante das manifestações através das jovens, sabe o que
pensaram? Em fazer render como espetáculo, em conseguir lucro, vantagem
material. A ignorância ainda era universal, eles não haviam
entendido o objetivo espiritual das manifestações. Também
não havia como hoje, os instrutores que entendem do intercâmbio,
que conhecem a mediunidade, e que podem orientar o médium. Então
imagine, aquelas jovens irmãs Fox e outros médiuns que foram
surgindo, todos eles sem nenhuma orientação, com a mediunidade
se manifestando e elas não tendo quem as pudesse orientar."
Uma época onde precursores pagavam, em alguns
casos, um preço alto demais. Nossa palestrante entra em detalhes reveladores.
"Não havia ninguém para indicar um caminho mais elevado e mais
seguro para as irmãs fox, e qual foi então o problema, sem
orientação as irmãs Fox, ficaram expostas a sessões
promíscuas. Muita gente, todo mundo falando, palpitando, exigindo,
provocando, hoje em dia não realizaríamos as manifestações
desta maneira, nós faríamos nosso recolhimento, buscaríamos
amparo espiritual, pedíamos propósitos elevados e só
depois entraríamos nas manifestações (...) Margaret e
Katie eram as médiuns, mas também a irmã delas, Leah
era médium de efeitos físicos. Katie e Margaret eram muito jovens,
e por causa disso; pela sua inexperiência e pelo ambiente que se formou
ao redor, elas começaram a sofrer situações vexatórias,
a título de controle das condições de experimentação.
Era difícil para a mulher, ser controlada, verificada. Examinavam
sua roupa para ver se tinha algum apetrecho que pudesse produzir os ruídos."
A platéia atenta tentava compreender como seria
a situação de crianças, sem esclarecimento, num ambiente
deste. A prof. Therezinha deu prosseguimento. "Consta que que Katie e Margaret
foram estimuladas ao consumo de álcool, porque elas trabalhavam no
meio daquelas demonstrações e ficavam um tanto esgotadas. Para
refazer-lhes as forças ofereciam-lhe bebida alcoólica como
estimulante. Isso talvez teria estimulado o alcoolismo entre elas. Katie casou
na Inglaterra, Margaret foi morar com ela, fugia assim um pouco as pressões
e comentários que sofria. Na sua estada lá na Inglaterra, Margaret,
recebeu depoimentos favoráveis até mesmo de William Crookes.
E como seria o relacionamento das irmãs nesta
situação conturbada de época? Vamos à palestrante.
"Leah a irmã mais velha tinha uma melhor percepção do
que era aquele fenômeno. Ela considerava o aspecto religioso, e as irmãs
estavam correndo ao alcoolismo. Leah recriminou violentamente as irmãs,
e tomou a si a educação dos 2 filhos de Katie. Margaret ficou
ao lado de Katie, e mais tarde quando voltou a nova York, quis se vingar
de Leah e acusou a irmã injustamente. Fez pior. No palco da academia
de música de Nova York, publicamente ela negou a realidade das manifestações,
teria sido tudo uma grande farsa. Como Margareth pode fazer isso? Quando
comissões de respeito tinham examinado, verificadas todas as possibilidades,
tinham concluído que absolutamente as jovens não estavam fraudando,
produzindo aqueles ruídos, mas ela fez, porque queria magoar a Leah.
Em 20 de novembro de 1889, Margaret foi advertia por seu espírito
guia, seu mentor e instrutor espiritual, então ela verificou o seu
erro e chamou a imprensa e fez uma declaração retratando as
falsas acusações reafirmando sua crença no
espiritismo."
Percebemos que os problemas vividos pela família
Fox em nada maculam o processo de esclarecimento humano e de implantação
da Doutrina dos Espíritos. Tivemos muitas mulheres médiuns já
na época de Kardec onde destacamos Ermance Dufaux, a Senhora Schmiths
e a Senhora Corbes. Nossa conferencista destaca outra médium importante
para o Espiritismo. "Katie King dizia ser ou ter sido encarnação
longínqua da filha do vulcaneiro John King, e ela trazia uma tarefa
para executar num período de três anos. A 1ª materialização
deste espírito ocorreu em 1872. Apesar de inicialmente precárias,
com o tempo e os exercícios o espírito Katie conseguiu se mostrar
melhor e permitir fotos. Willian Crookes se interessou pelos fenômenos
e iniciou sua observação. Um dos maiores cientistas de sua época,
Crookes era químico e físico inglês e tivera algum contato
com os fenômenos mediúnicos psíquicos, desde de julho
de 1869, e se propusera a examiná-los com rigor cientifico."
Veremos agora como foram algumas das experiências
deste importante cientista. "Crookes realizou suas experiências de 1870
a 1874. Com rigor científico ele examinou o trabalho de vários
médiuns e também de Florence Cook, só que ele surpreendeu
a todos com o resultado das pesquisas. Seus relatórios eram detalhados
e o resultado demonstrava que os fenômenos espíritas eram absolutamente
reais. Mas os resultados desagradaram a seus colegas de época. E, quando
não se pode combater a Verdade, se combate a pessoa. Começaram
a desmerecer o trabalho de Crookes dizendo que ele estava senil. Outros foram
mais longe e diziam que ele estava apaixonado pela médium. Vemos aqui
uma apreciação de Gabriel Dellane no livro Fatos Espíritas,
ele vai falar das precauções que foram tomadas, para nós
percebermos que não era fascínio de William Crookes. Procedeu-se
em relação a ela como se haveria feito com mais hábil
dos prestidigitadores. Eles imobilizaram suas mãos por meios de cordas,
cujo nós e laçadas são costurados e selados, com uma
correia cingiram sua cintura e ela ainda ficou sujeita a precauções
maiores, as extremidades daquela correia se fixaram no solo mediante uma argola
de ferro. Outras vezes passavam uma corrente elétrica pelo corpo todo
da jovem, de modo que um galvanômetro indicasse seus menores movimentos.
Apesar de todos os cuidados, Katie King se mostrava completamente liberta,
vestida com véus que não existiam antes.
O rigor científico nas pesquisas não satisfazia
aos céticos de carteirinha. "Houve também uma dúvida
se Florence e Katie seriam a mesma pessoa, pelo fato dela se parecerem muito.
Pelas observações de Crookes quando a força mediúnica
era insuficiente, quando o ectoplasma não permitia uma modelação
perfeita, então eles se aproveitavam do perispírito da médium
e revestiam tanto com ectoplasma que dispusessem. Mas na maioria das vezes
o espírito conseguia materializar-se plenamente, passando a se movimentar,
falar e agir com toda autonomia e independência, e era ai que Crookes
fazia as suas melhores verificações. E ele o fez durante bastante
tempo (...) Mas chegou o dia que era preciso se despedir e Katie deu instruções
aos que ficavam como deveriam cuidar de Florence Cook, pois ela se preocupava
com a sua médium. Ela confiava em Crookes e nos outros companheiros
e depois que ela deu suas instruções ela entrou na cabine e
despertou a médium, que dormia, porque geralmente é assim, o
médium de efeitos físico quando fornece bastante ectoplasma
ele adormece. Então Katie disse "acorda Florence, acorda, é
preciso que eu te deixe agora". Elas tinham estado juntas mais ou menos 02
anos, e Florence tinha desenvolvido um sentimento de amizade por este
espírito.
Deve ter sido uma despedida triste, como descreve nossa
conferencista. "Então em lágrimas ela pedia a Katie, que ficasse
algum um tempo ainda. Minha cara, dizia o Espírito, não posso,
a minha missão está cumprida, Deus te abençoe. Era a
despedida mesmo. Katie King ainda falou um pouquinho com Florence Cook, procurando
acalmá-la, mas Florence soluçava muito, achava a despedida
triste. Foi preciso que ela fosse socorrida por Crookes e outras pessoas.
Florence ainda iria continuar trabalhando como médium, viria a casar-se,
tornando-se a sra. Elgie Corner.
Chegamos ao termo de nossos trabalhos. "Neste ciclo de
conferências, outras companheiras irão falar das mulheres médiuns
que enriqueceram e enriquecem o movimento espírita no Brasil e no
exterior. Mas gostaria de comentar, como finalização, que encontramos
a mulher espírita, não apenas trabalhando como médium
no campo da mediunidade, mas também encontramos a mulher que dialoga
com os espíritos, que dirigi reuniões mediúnicas, que
instruem e prepara novos trabalhadores no campo da mediunidade, que escreve
para esclarecer e orientar a prática mediúnica. É
o espiritismo, esta abençoada doutrina que nos permite isso, ela não
apenas nos ilumina individualmente, nos consola e nos alenta, ela também
enseja, que estejamos encarnados como homens ou como mulheres, nos somemos
os nossos esforços e juntos continuemos a realizar o sublime intercâmbio
espiritual. Gostaria de convidar a todos os companheiros, homens e mulheres
para que trabalhemos juntos, trabalhemos com amor, apoiemo-nos, completemo-nos,
ajudemo-nos incessantemente para que esta mediunidade, este canal de intercâmbio
possa nos favorecer a todos, trazendo-nos o progresso intelecto-moral para
toda a humanidade."
O ciclo de conferências públicas do ICESP
terá prosseguimento todas as últimas quintas feiras do mês,
sempre às 20:30hs, no bairro da Lapa. Tradicional encontro que acontece
desde 1976 para discutir questões relativas ao nosso movimento, terá
ainda as conferencistas Miltes Aparecida Soares, Nancy Puhlman, Neide Schneider
e Heloisa Píres, entre outras.