(Seção em parceria com a "Liga de Historiadores e Pesquisadores
Espíritas" -
A PSICOLOGIA
A
Psicologia, ou, por primeiro, a
Pneumatologia, segundo
Leibnitz (Nouveaux Essais, 1704, IV, cap. XXI), que se definia como a parte
da Filosofia que estuda a alma,
tinha por objeto, desde os tempos
da civilização grega até o século passado,
a
existência da alma, sua essência e natureza, e, posteriormente,
o estudo da percepção, da memória, das paixões,
etc.
Sob a influência de outras ciências, como
a Física, a Biologia, e outras, os psicólogos passaram a
estudar os fenômenos da consciência, deixando de se preocupar
com a Alma, que, "não tendo existência física, não
podia ser estudada em termos científicos" (Psicologia Geral, de
Afro do Amaral Fontoura, Rio de Janeiro, Gr. Aurora, 1966, 12a. ed. p. 25).
Mas não parou aí o objetivo da Psicologia.
Ele evoluiu do Estudo da Alma para o Estudo da Consciência, como
acima nos referimos, e do Estudo da Consciência para o Estudo do
Comportamento e deste para o Estudo da Conduta, considerando-se neste o
conjunto de fenômenos mentais como causa da conduta.
Daí, muitos definirem, hoje, a Psicologia como
a ciência que estuda a conduta.
É enorme o número de definições,
e a idéia da Alma difere, de um psicólogo para outro, dada
a divergência entre eles, quanto à natureza da Alma.
Harald HOFFDING, filósofo dinamarquês,
nascido em Copenhague, em 1863, na sua obra PSYCHOLOGIE (ed. 1900,
p. 1), diz que a Psicologia não está obrigada a explicar o
que é a Alma, porque a Física não está obrigada
a começar explicando o que é a matéria.
Os filósofos do passado objetivaram no estudo
da Psicologia os fatos internos do homem.
Sócrates considerava que é preciso que nós nos conheçamos
a nós mesmos para chegarmos à sabedoria, que se identifica
com o conhecimento de Deus. Ele distinguia, partindo desse princípio,
o mundo interno do mundo externo.
Aristóteles no seu tratado sobre a Alma, no qual
divide a Filosofia em quatro partes: Lógica, Ética, Física
e Metafísica, não incluiu a Psicologia porque, para ele,
esta fazia parte de todas as disciplinas filosóficas. Por sua vez,
Renato DESCARTES, filósofo e matemático francês (1596-1650),
entendia que a Psicologia era uma parte distinta da Filosofia.
Hobbes (Thomaz), filósofo inglês (15881679),
partidário do materialismo, e Baruch Espinosa, filósofo holandês
(1830-1677), apoiam-se no princípio da concomitância dos processos
orgânicos e psíquicos. E, dessa forma, é invocada a
lei de associação para reduzir a complexidade da vida espiritual
aos seus elementos componentes. O associanismo, como doutrina psicológica,
explica, então, os fenômenos psíquicos por meio da
associação, rejeitando a doutrina da faculdade.
Os positivistas do século XIV, por sua vez, consideram
a Psicologia como uma ciência experimental, independente da Filosofia
e sem relações especiais com a Metafísica, a Lógica
e a Moral.
Não se pode negar que a Psicologia Experimental,
como ciência autônoma, é uma conquista dos tempos modernos,
dado o impulso que a Psicofísica ou Psicofisiologia, a Psicocronometria
e outras lhe trouxeram.
Como decorrência das muitas maneiras pelas quais
os fenômenos psíquicos têm sido estudados, surgiram
muitas outras disciplinas psicológicas, dando maior amplitude ao
problema psicológico.
Apenas para referir citamos a Psicodinâmica, que
estuda os efeitos dinâmicos dos fenômenos psíquicos; a
Psicofísica, que, segundo Fechner, é o ramo da Psicologia que
estuda, experimentalmente, as relações entre os fenômenos
psíquicos e os fenômenos fisiológicos (o que hoje é
denominado de Psicologia Experimental), a Psicogênese, que estuda
a origem e o desenvolvimento da psique (termo usado como sinônimo
de Alma ou Espírito) no indivíduo ou na espécie (esta
dita Psicogênese Filética); a Psicografia, que, conforme Ampère,
é a parte da Psicologia que descreve os fenômenos da consciência,
sem explicá-los. E, assim, seguem-se outros ramos, como a Psicologia
Coletiva ou Social; Psicologia Comparada; Psicologia Etnográfica;
Psicologia Pedagógica; Psicologia Segmental: Psicologia Zoológica;
Psicometria; Psicocronometria; Psicoestática; Psicopatologia; Psicoanálise
(doutrina de Freud, aceita especialmente pelos nevrologistas) e mais outros.
Resumindo, a Psicologia estuda a Alma em suas manifestações
ou fenômenos e em sua natureza essencial. Assim, no primeiro caso,
temos a Psicologia Experimental e, no segundo, a Psicologia Racional. Para
os materialistas a Psicologia é um ramo das ciências naturais
e, para os espiritualistas, um ramo das ciências do Espírito.
É claro que compreendemos que esse volume de
correntes e escolas psicológicas são decorrentes das variadas
intensidades dos fachos luminosos que atingem este ou aquele filósofo
ou psicólogo.
Mas, compreendemos, também, que não alcançando
a Psicologia uma definição mais uniforme e uma conceituação
mais unitária, bem pouco ela pode nos dizer acerca da Alma, entendida
esta como Espírito reencarnado, e a respeito de suas manifestações
ou fenômenos e mesmo em sua natureza essencial, não considerando
as suas vidas anteriores e experiências pregressas, que repercutem
no seu avatar presente, e desconhecendo a existência do seu perispírito
ou corpo fluídico, de que é revestido, e que se faz "intermediário
de todas as sensações que o Espírito recebe, e por
meio do qual transmite a vontade externamente e atua sobre os órgãos"
("O Livro dos Médiuns", por Allan Kardec, Rio de Janeiro, FEB, 1904,
5a. ed. p. 60) "e a que se não dá muita atenção
nos fenômenos fisiológicos e patológicos" (ob. e p.
cit.) e que constitui "uma causa incessante de ação" (ob e
p. cit.).
À Psicologia, se bem examinarmos, poderemos propor
que seja parte da Espiritologia. O que me parece não podemos pensar
é em uma Psicologia Espírita, por entendermos que descabe o
vocábulo espírita como adjetivação. E bem considerando,
também nos parece ser impossível fazermos da Psicologia,
tão segmentada e conflitante, uma verdadeira Espiritologia, fundada
numa doutrina, que é o Espiritismo, oriundo de um processo sintético
de conhecimento, com uma concepção nova e de natureza global
para o estudo dos problemas humanos, como bem se refere o nosso nunca esquecido
companheiro de tantas jornadas espíritas Herculano Pires, "in" "Parapsicologia
e suas perspectivas" ; obra de cuja primeira edição tivemos
a honra de ser "padrinho".
OS PROCESSOS CIENTÍFICOS OU DISCIPLINAS CIENTÍFICAS QUE
INVESTIGAM OS FENÔMENOS PARANORMAIS
Dissemos atrás que, simplificando, a fenomenologia
psíquica é divida em FENÔMENOS NORMAIS, os que
entram nos quadros da Psicologia e muitas vezes nos da Psiquiatria, e FENÔMENOS
ANORMAIS, os que são objetos da investigação por
inúmeros processos ou disciplinas científicas.
Esclareçamos agora que FENÔMENOS ANORMAIS
não quer dizer que sejam "aqueles que possam ser contrários
às leis naturais, mas aqueles que se nos apresentam de uma maneira
inusitada e inexplicável' (Dicionário Enciclopédico
Ilustrado. - Espiritismo, Metapsíquica e Parapsicologia, de João
Teixeira de Paula, Editora Bels, S.A. 1976, 3a. ed. p. 166).
Digamos, também, que ANORMAL "é
o mesmo que Abnormal, Hiperfísico, Hipernormal, Hiperpsíqulco,
Metanormal, Metapsicofísico, Metapsicológico, Metapsíquico,
Parafísico, Paranormal, Parapsi-cológico, e seguem muitas
outras denominações.
No II Congresso Internacional de Pesquisas Psíquicas,
realizado em Varsóvia, Polônia, em 1923, em homenagem a J. Ochorowicz,
foi aprovado que a expressão CIÊNCIAS PSÍQUICAS
devia aplicar-se aos fenômenos que em França se conheciam por
METAPSÍQUICOS e na Alemanha por PARAPSICOFÍSICOS.
As ciências psíquicas avolumaram-se com
o surgimento da METAGNOMIA, METAPSICOLOGIA, PARAPSICOLOGIA, PSICOTRÔNICA,
BIOPSÍQUICA, PARAFÍSICA e outras.
Ora, como as ciências psíquicas se conceituaram
com base nos fundamentos, sustentados por Eugéne OSTY, médico
e investigador metapsíquico (1874-1938) e na decisão do precitado
Congresso, objetivando o conjunto dos fenômenos extranormais, que
são tributários do espírito humano, conquanto pareça
irem eles além das possibilidades fisiológicas do cérebro,
excluíram os fenômenos espiríticos. E, dessa forma,
os fenômenos espiríticos ficaram no espaço (isto
sem qualquer alusão ao fato de os fenômenos espíriticos
serem compreendidos no meio científico geral como fenômenos
das almas dos mortos e por isso mesmo não aceitos).
Mas o nosso saudoso João Teixeira de Paula estrilou
contra essa exclusão: "Aí repousa a nossa discordância,
porque, ao nos referirmos a Ciências Psíquicas, incluímos
nela não só o conceito de OSTY e o do Congresso, mas também
o dos fenômenos espiríticos" (ob. cit. p. 21).
O Dr. Hernani Guimarães Andrade, também
um querido amigo que muito admiramos, se fez também lamurioso: "lamentavelmente,
é tendência da Metapsíquica negar a manifestação
dos Espíritos, atribuindo ao médium as faculdades necessárias
e suficientes para desencadear todos os fenômenos" ("A Teoria
Corpuscular do Espírito", por Hernani Guimarães Andrade, São
Paulo, 1958, 1a. ed.).
No entanto, nós, como os caríssimos confrades
que nos lêem, bem podem ter percebido, não partilhamos dos
lamentos, porque, também, não partilhamos da idéia
desses grandes e respeitáveis companheiros de que o Fenômeno
Espírita seja parte integrante do Fenômeno Psíquico.
Para nós, como nos referimos, o Fenômeno Espírita
é gênero e não espécie, ele é global e
não segmento, e é com base nesta posição
que entendemos que nós espíritas temos que articular a Espiritologia,
a ciência do Espírito.
Não podemos nos distender mais neste capítulo.
Assim, aqueles que quiserem conhecer a Metapsíquica de Charles RICHET,
a Metagnomia de Emile BOIRAC, a Metapsicologia, proposta com restrições
pelo Congresso Internacional de Pesquisas Psíquicas, realizado em
Varsóvia em 1923, a Metapneumática, de MIRVILLE, a Parapsicologia
de J. B. RHINE, a Psicobiofísica, a que tanto se liga Hernani Guimarães
ANDRADE, e outras, respeitosamente sugiro que lancem mão das respectivas
bibliografias.
A ESPIRITOLOGIA
O LIVRO DOS ESPÍRITOS todos sabem que se
compôs, definitivamente, com a sua reimpressão em 1860. Ele contém
quatro livros ou quatro partes:
LIVRO PRIMEIRO
- As Causas Primárias
LIVRO SEGUNDO
- O Mundo Espírita ou dos Espíritos
LIVRO TERCEIRO
- As Leis Morais
LIVRO QUARTO
- Esperanças E Consolações.
Pois bem, o LIVRO SEGUNDO contém, para nós,
a doutrina da ESPIRITOLOGIA ou melhor a ESPIRITOLOGIA RACIONAL OU TEÓRICA,
e, em O LIVRO DOS MÉDIUNS, que trata do Espiritismo Experimental,
nós encontramos as teorias de todos os gêneros de manifestações,
que podem embasar a ESPIRITOLOGIA EXPERIMENTAL.
Portanto, para nós, a Espiritologia é
a ciência do Espírito que tem por objeto o estudo do Fenômeno
Espírita. Ela se divide em Espiritologia Racional ou Teórica
e em Espiritologia Experimental ou Prática. A primeira se ocupa
do Espírito como ser ou individualidade. A segunda se desdobra na
investigação dos fenômenos espíritas anímicos
ou da emancipação da alma e dos fenômenos espíritas
da mediunidade ou mediúnicos.
A classificação dos fenômenos espiritológicos,
que abrangem os anímicos, os mediúnicos, os físicos
extra-somáticos, os físicos-somáticos, os mentais,
os personísticos e os telepáticos, a sua definição
e a sua conceituação, constituirão, sem dúvida,
um excelente programa de trabalho.
Como todas as demais ciências a Espiritologia
também se relaciona com outras ciências ou disciplinas científicas,
dentre as quais a Biologia, a Fisiologia, a Física, a Química
e outras como oportunamente veremos.
Quanto ao Perispírito, que tem cerca de 70 outras
denominações, entre elas as de Aerossoma, Corpo Fluídico,
Corpo ódico, Corpo Pneumático, Duplo Fluídico, Ka,
Psicossoma, e que presumem se desdobrar no corpo bioplásmico, que
alguns chamam de "modelo organizador biológico", temos que
aprofundar o seu estudo para avaliá-lo como "o molde fundamental
da existência para o homem" ("Roteiro”, Francisco Cândido
Xavier, FEB, Rio de Janeiro, Cap. VI, p. 29).
E quanto ao vocábulo ESPIRITOLOGIA, formado
de espírito mais logia, significa Ciência,
tratado de Espiritismo (Dicionário Enciclopédico Ilustrado
- Espiritismo, Metapsíquica e Parapsicologia, de João Teixeira
de Paula, Editora Bels., 1976, 3a. ed. p. 85).
AZEVEDO SILVA, na sua obra FUNDAMENTOS CIENTÍFICOS
DO ESPIRITISMO, editada em 1941, publicou a tese que apresentou ao "
1 °: Congresso Brasileiro de Jornalista Espíritas, que funcionou
de 15 a 24 de Novembro de 1939, no salão da Sociedade de Geografia
do Rio de Janeiro. Nesta sua tese, ele nos reservou valiosa contribuição
acerca da classificação das ciências. Nós vamos,
com a máxima vênia, reproduzi-Ia:
"Assim, estudando a natureza e relação
das ciências, dividiu-as Spencer (Classification des Sciences, par
Herbert Spencer, Paris, Ancienne Librairie Germer Baillière et Cie.,
1893, p. 6) em duas categorias: ciências que têm por objeto
as relações abstratas, pelas quais os fenõmenos se
apresentam, e ciências concretas, que têm por objeto os próprios
fenômenos":
Desse critério resultou esta classificação:
• CIÊNCIAS ABSTRATAS
Lógica
Matemática
• CIÊNCIAS ABSTRATOCONCRETAS
Mecânica
Física Química
• CIÊNCIAS CONCRETAS
Astronomia
Psicologia
Sociologia
Não nos parece lógica esta classificação
do notável pensador e filósofo inglês, pois Mecânica
não é ciência-tronco, é uma derivação
da Matemática; não deve, pois figurar na relação.
Psicologia e Sociologia, igualmente, não são duas, uma é
derivada da outra: Sociologia da Psicologia. Ciência-mater seria,
pois, esta última, de vez que não pode haver sociedade sem
que haja o comércio das almas.
Nesta classificação Spencer procurou retificar
a de Augusto Comte, que assim as desdobrou:
• MATEMÁTICA
• FÍSICA
• QUÍMICA
• ASTRONOMIA
• BIOLOGIA
• SOCIOLOGIA
• MORAL
Esta classificação carece, realmente,
de ser retificada, não só porque o Mestre do Positivismo se
esqueceu de sua própria ciência - a Lógica, como porque
a Sociologia e Moral, tal como Psicologia e Sociologia, diferenciadas por
Spencer, também não são duas, mas uma só ciência,
pois que a Sociologia descansa na Moral, como base do Direito.
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