Andando pelas ruas da velha cidade de Cordoba* se sente uma sensação estranha, de um lado um sentimento de admiração, de outro um aperto no coração, um leve pesar que traz reflexões sobre o problema do ser humano, de sua convivência com o próximo, de sua tendência em criar divisões, em estranhar-se mutuamente.
Por aquelas ruas, em que já andaram Árabes, Cristãos e Judeus - em sua maioria com as mesmas raizes andaluzas mas de tradições diferentes - ainda se tem a sensação de, a qualquer momento, encontrar Maimonides, caminhando e pensando nos mistérios da filosofia hebraica, de esbarrar com o mistíco Ibn Arabi ensinando a seus discipulos sobre o Amor como essência de Deus, em ouvir alguem comentando as últimas proclamações de Alfonso X, o rei sábio que procurou a justiça para todos.
A alma se enche de respeito perante a grande mesquita, hoje catedral, e estremece de terror diante do prédio que uma vez abrigou o tribunal do Santo Ofício.
Não há como deixar de pensar quanta riqueza, quanta grandeza, a diferença de idéias e de modos de ver a vida, trouxe para aquela cidade e quanto dor, quanto sofrimento, quanta pobreza, a obsessão posterior pela uniformidade religiosa não lhe causou.
Meu Deus, que caminhos diferentes poderiam ter sido trilhados se o seu povo tivesse sido capaz de compreender que as outras concepções da verdade não eram em si mesmas um mal, que o perigo estava realmente nos meios usados para suprimi-las. Que mais mal causou calar o Muezin e o Rabino, que deixar que chamassem os homens a sua fé diferente, que deixar que proclamassem o nome de Deus em linguas diferentes.
Ai de nós, a gente se sente naquelas ruas tomado da alegria de viver do povo andaluz, mas também carregado de velhos temores, pois é claramente visível que os erros cometidos ainda são possíveis de repetir-se.
Quando andando por lá, se considera que nós espíritas, tantos séculos depois, ainda nos ofendemos quando algum de nós pensa diferente. Que ainda tememos a leitura distinta dos nossos livros, que ainda queremos suprimir livros com os quais não concordamos, que de questões acessórias fazemos motivo de escandálo - Quanto receio passa pela alma !
Receio de que algum dia, nós espíritas, estendendo-nos como nova maneira de pensar da humanidade, levantemos fogueiras para os que creiam em um corpo fluídico para Jesus e que não possam ser convencidos pela lógica. Que, esquecendo Kardec, em vez do bom senso, usemos a velha e costumeira espada como argumento contra conceitos diferentes. Que novamente, no zelo da pureza doutrinária, se instituam novas guerras santas e se erguam tribunais de inquisição. Enfim, que algum dia tenhamos "espíritas-velhos" e "espíritas-novos", que com seus "atestados de pureza" só mostrem que novamente fracassamos.
Deus - Clemente e Misericordioso; Deus de Abrão, Isaac e Jacó; Pai Nosso; Causa Primeira de todas as Coisas - nos livre de perder-nos novamente por tais caminhos !
Examinando-se os refolhos da História, podemos constatar, desde o tempo de Jesus a existência das interferências dos habitantes do mundo espiritual na vida do plano físico.
No transcorrer da História muitos adjetivos foram-lhe atribuídos, mas somente após o advento da Doutrina dos Espíritos é que ela foi nomeada e estudada com detalhes, passando a ter a importância devida face aos benefícios ou malefícios, fruto de sua atuação.
A Doutrina Espírita a classifica, na sua qualidade, tendo como parâmetro os agentes influenciadores. Quando essa é exercida pelos bons espíritos podemos constatar que o resultado é positivo, haja visto que essa categoria de espíritos tem como escopo assistir o homem nas provas da vida, dando-lhe a sustentação necessária a fim de que possa vencer, dentro de sua possibilidade, os embates os quais escolheu ou fez por merecer.
Entretanto, considerando o Planeta que ora nos situamos e as condições morais dos habitantes da Terra, podemos deduzir, que ainda estamos mais à mercê das interferências espirituais provindas dos espíritos imperfeitos, ignorantes e até malévolos, do que dos bons.
Afora isso, podemos destacar a interferência que se faz de encarnado para encarnado, quando liberto dos laços da matéria durante o sono físico, onde sai a vaguear e mesmo a perseguir o seu desafeto.
Afirma-se na Codificação Kardequiana que os espíritos exercem influência espiritual em nossas vidas muito mais do que imaginamos.
A Ciência desde a sua instituição oficial digladiou com essa verdade, uma vez que após tanta relutância é de recente data o reconhecimento dos escritos dos espíritos.
Jesus quando encarnando na Terra por inúmeras vezes promoveu a libertação das criaturas que sofriam de interferência espiritual malévola já em grau avançado o qual se denomina obsessão simples, fascinação e dela à subjugação que, se não cuidada com o devido zelo, conduz o homem à possessão para culminar nas alienações mentais e loucuras absolutas e irrefutáveis.
Não importando a religião da criatura humana constitui fato consumado a interferência dos espíritos no plano da vida física.
E, diante desse fato é imperioso a atenção, observação e acurada percepção da categoria de espíritos atuantes para partir rumo à ação.
Caminhando na corrente da interferência positiva, ao homem é atribuída a oportunidade de haurir valorosos ensinamentos, uma vez que constitui desejo dos bons espíritos que sejamos bem sucedidos em nossas experiências na carne.
Caminhando na corrente da interferência negativa ao mesmo homem é dado a oportunidade de exercer a caridade quando se dispuser ao trabalho santificante da evangelização e encaminhamento para as moradas de tratamento espiritual o irmão desencarnado equivocado.
Tanto em uma como em outra situação podemos verificar a oportunidade de amar e servir valendo-se da mediunidade com Jesus.
Mas o que faz com que esses irmãos se liguem aos encarnados?
Segundo as obras da Codificação destaca-se como ponto importante de ligação deles conosco o fator pensamento e sentimento.
Podemos, dessa feita, concluir que a qualidade de nossos pensamentos e sentimentos é que determina a plêiade de espíritos que são as nossas companhias espirituais.
E como nos libertarmos da influência dos espíritos equivocados? Encontramos no ensino espírita a seguinte orientação: "Se você quer se livrar dos maus espíritos, ligue-se aos bons".
Entenda-se por isso que não basta que procedamos à uma ligação labial , é imperativo zelar pela nobreza de sentimentos e educação do pensamento, uma vez que são fatores determinantes da qualidade fluídica como veículo de ligação entre os dois mundos.
Consideramos importante destacar que o processo de cura dos irmãos sofredores se pauta pela tríade recomendada por Kardec o qual reflete a ação, oração e a vigilância preconizadas por Jesus.
Importa também afirmar que essa tríade constitui os elementos básicos de libertação e edificação da criatura humana face aos processos de interferência sejam elas provindas dos encarnados de mentes vigorosas ou desencarnados atormentados.
Destarte ainda evidenciamos que interferência espiritual sempre houve e sempre haverá na Humanidade, mas daí a se transformar em obsessão, fascinação, subjugação, possessão e loucura é uma questão de opção, sintonia e trabalho e reforma pessoal consoante as normas contidas no grande Tratado de Reforma Moral que é o Evangelho de Jesus.
Em relação ao artigo Roustaing do boletim 320, estou emitindo outros esclarecimentos aos prezados leitores e participantes, desse orgão de imprensa eletrônica a serviço do Espiritismo.
Resumidamente, a obra Os Quatro Evangelhos é uma reunião de notas, psicografadas por uma única médium, de Espíritos assumidos como "os evangelistas assistidos pelos apóstolos e Moisés", que foi organizada por J. B. Roustaing, o qual teve a soberba de lhe dar o subtítulo "Revelação da Revelação". Mas como pode ser, racionalmente, visto, afora os ensinos morais do Cristo, que se distorcidos a anularia, apresenta interpretações esdrúxulas dos milagres e outras passagens do Novo e Velho Testamento e graves contradições doutrinárias, algumas forçadas para validar a hipotese do corpo fluídico de Jesus. Assim, além de não ter a autoridade da universalidade dos ensinos dos Espíritos, evidencia-se como apócrifa, fruto de uma mistificação, e tendenciosa no sentido de valorizar, reafirmo, os dogmas da igreja católica (ver explicações no Boletim nº 317).
Nesse cisma de marca teológica (nem toda obra mediúnica é espírita), com compilações e plágios de O Livro dos Espíritos e de O Livro dos Médiuns, a concepção mística de Jesus pela virgindade de Maria, foi apanhada do Docetismo, uma doutrina gnóstica do início da era Cristã. Foi uma forma burlesca de contornar a não derrogação de uma lei natural, mas que não surtiu efeito, pelo menos nos esclarecidos, pois manteve a figura da divindade do Cristo; do semi-Deus (da mitologia grego-romana); da segunda pessoa da santíssima trindade; do filho único de Deus ( do extinto dogma geocentrista), etc.
Mais que isso, no volume 3 de Os Quatro Evangelhos, 7ª ed. FEB, pag.65, a máscara cai definitivamente com a seguinte profetização: " O Chefe da Igreja católica ( leia-se o Papa), nessa época em que esse qualificativo terá sua verdadeira significação, pois que ela estará em via de tornar-se universal, como sendo a Igreja do Cristo, o Chefe da Igreja católica dizemos será um dos pilares do edifício " e completa, sem disfarce, na pag. 66: " caminhará o Chefe da Igreja, a qual, repetimos, será então católica na legítima acepção desse termo". Será que não fui claro? Para quem genuflexamente é afeito ao religiosismo, às graças eucarísticas, à fé cega, essa doutrina está de bom tamanho. Aí temos uma das raizes dos problemas que grassam no atual movimento espírita brasileiro.
As peças do "rosário" de supostos
adeptos do roustanguismo, citados no Boletim nº 320,
foram tecidas, como citado, de um livro de Luciano dos Anjos, um roustanguista
calejado e também tendencioso como seu ídolo, o advogado
bordelense. Porque, segundo consta, para conseguir essa lista não
livrou ninguém, buscando qualquer sentido "fluídico" e outras
artimanhas para enquadrar tanto os culpados e desavisados quanto os inocentes,
muitos nem sabem porque estão lá. Mas, na ânsia, cometeu
o desplante, também, de
incluir o grande escritor e combatente espírita Carlos Imbassahy
nesse rol, o que é um desrespeito à sua memória, uma
levianidade! Isso é sério, e já foi devidamende refutado
por seu filho, o escritor espírita Carlos de Brito Imbassahy.
Sobre essa questão, devo dizer que ví na casa do meu particular amigo, o escritor Nazareno Tourinho, parceiro de Carlos Imbassahy no livro O poder fantástico da mente,ed. Eco, uma carta manuscrita a lápis, onde ele regeita essas tolices roustanguistas, com a frase: " Jesus, como era fluídico, fingia que comia; levava a comida à boca e ela se evaporava; e ele continuava nessa palhaçada até o prato esvaziar. Jesus fingindo!" e adiante se diz perplexo: " Neste Universo imenso, com mundos infinitamente superiores ao nosso, o Cristo, governador deste ínfimo planeta, era, no Universo, a 2ª pessoa depos de Deus". Para confrontar ver xerox no livro "Carlos Imbassahy - o homem e a obra" ed. FEESP, pag.30, do citado escritor. Nem mesmo em seu livro Religião, ed. FEB, Imbassahy cita a dita obra, tal a importância que lhe dava.
As citações que fiz Boletim nº 317 foram apenas referências de alguns autores cujas obras conheço bem e posso avalizar com seriedade. Como pretender listar contra-adeptos de uma obra reconhecidamente inútil e ruinosa para a comunidade espírita do Brasil e do mundo? Seria o mesmo que passar um atestado de ingenuidade. Para os que ainda tem dúvidas, basta navegar pelos saites, jornais, revistas, catálogos de editoras, colher informações verbais, etc, e tirar suas próprias conclusões. Interessante é que na seção Breve Introdução ao Espiritismo do saite do GEAE, que edita esse boletim, há uma orientação bibliográfica para todos que quiserem estudar e conhecer criteriosamente a doutrina,...mas por que será que esqueceram de incluir Roustaing e sua obra?
Quanto ao encalhe da edição francesa da obra de Roustaing, o qual me referí, foi também foi confirmado pelo próprio roustanguista Luciano dos Anjos, que inicialmente contestou esse fato, mas depois voltou atrás sobre isso e sobre a versão de uma 2ª edição em 1882, na série A Posição Zero (jornal Obreiros do Bem, Rj), quando disse: " Posso, porém, provar que não houve nova impressão, mas apenas novo alceamento de exemplares remanescentes da 1ª edição guardados em cadernos ou, até mesmo descosturados e desencapados, para receber novo encarte". Parece que enquanto os livros de Kardec se espalhavam pelo mundo, os de Roustaing mofavam na estante, pois a primeira edição foi a única, não se esgotou, e as sobras foram distribuidas gratuitamente. Essa ocorrência está documentada em O Corpo Fluídico, ed. Eldorado/Opinião E., do caro escritor Wilson Garcia, o qual me informou, há algum tempo, por telefone, desse "lamentável desastre editorial". Esse fato e mais a opinião de Kardec sobre a obra na Revista Espírita de junho de 1866, pags. 200 e 202( tradução magistral deJúlio Abreu Filho, ed. Edicel ) suscitaram um desagravo ao célebre mestre, por Roustaing e seus amigos. Essa afronta, um prefácio de 34 páginas, justamente o encarte de 1882 (acima referido), os roustanguistas da FEB fizeram desaparecer por "milagre", para que o livro fosse pelo menos lido no Brasil. Eles sabiam que com esse encarte, repetir-se-ia o fenômeno do encalhe ( ver cópia completa no saite do Grupo Espírita Bezerra de Menezes- www.novavoz.org.br). É bom que se diga que Roustaing deferiu-se a Kardec como " muito honrado chefe espírita" em correspondência à Revista Espírita de junho de 1861, pags.179 a 182, mas depois tornou-se seu inimigo, porque suas teorias não passaram no crivo da razão e do bom senso do mestre de Lyon.
Em relação à migração do Espiritismo da França para o Brasil, o país mais espirita do mundo, são estimados 10 milhões de adeptos, deveu-se à divulgação e aceitação das obras de Kardec e subsidiárias e não por livros ditados por Espíritos mistificadores pertencentes à falange de Loyolistas e inquisidores à Roustaing e sua médium, iludidos pela fascinação (O Livro dos Médiuns, cap. XXIII, item 246).
Quanto às várias mensagens da espiritualidade avalizando a obra em tela, expostas no Boletim 320, diria, concisamente, que já são por demais conhecidas as seguintes comunicações de Emmanuel e Bezerra de Menezes, pela mediunidade gloriosa de Chico Xavier: "Se algum dia, eu disser algo diferente do que disse Jesus e Kardec, fique com Eles e abandone-me" - Emmanuel e; "Estudar Kardec, conhecer Kardec, para viver Jesus" - Bezerra.
A primeira, um alerta ao próprio médium quanto à possibilidade das mistificações e a segunda, um guia doutrinário prevenindo os espíritas sobre as falsas profecias e revelações. Assim, mensagens assinadas por essas entidades que fujam dessas máximas, seja qual for a fonte, são suspeitas e deve-se ter o bom senso e a prudência de desconfiar da sua autenticidade. O uso de ditados apócrifos para servirem de argumentação é no mínimo acusar esses benfeitores de contraditórios. Até porque, Espíritos que advoguem as idéias de Roustaing e recomendem Os Quatro Evangelhos, estão precisando mais é de prece e doutrinação num bom Centro Espírita!
Como último recado, invoco Jesus, o nosso excelso e revolucionário mestre, que há quase 2000 anos já alertava com sua habitual firmeza; "Guardai-vos dos falsos profetas, que vêm a vós com vestidos de ovelhas, e por dentro são lobos roubadores. Pelos seus frutos os conhecereis", e dava seu diagnóstico figurativo: "cegos são, e condutores de cegos. E se um cego guia outro cego, ambos vêm a cair no barranco". No século passado, seu discípulo Allan Kardec repisou esses avisos dizendo que "não faltariam intrigantes, supostamente espíritas, que quereriam se elevar pelo orgulho, ambição, cupidez; outros teriam pretensas revelações com a ajuda das quais procurarão se pôr em relevo e fascinar as imaginações mais crédulas" (Obras póstumas. ed. IDE,pag 335).
Repito que minha intenção é esclarecer e alertar, mas se for caso estou pronto para a polêmica útil, como recomenda Kardec na Revista Espírita de novembro de 1858, sendo o mais veemente possivel na defesa de minhas idéias, sem manchar minha caneta na ofensa e intolerância, como diriam os saudosos polemistas Carlos Imbassahy e José Herculano Pires.
Resposta a Gustavo e Thais sobre o livro Abismo e para a Associação Cultural Espírita de Portugal sobre os livros de Zíbia Gasparetto e endereço do Centro Espírita de Curitiba.
Primeiro segue o endereço do Centro Espírita Luz Eterna: Rua Desembargador Hugo Simas, 135 - Bom Retiro, Curitiba, PR, CEP 80520-250.
Agora, quanto aos livros espíritas, poderão ser encontrados na Candeia Distribuidora de Livros Espíritas que possui um acervo superior a 3500 títulos, além de livros em outros idiomas, espiritualistas e fitas de vídeo, K7, CDs e chaveiros espíritas. Contatos poderão ser feitos pelo fone/fax (017) 523-1554, ou pelo endereço Caixa Postal 81, CEP 15800-000, Catanduva, SP, ou e-mail: candeia@catanduva.com.br ou pelo site www.candeianet.com.br que no momento encontra-se operando parcialmente estando disponíveis apenas o departametno do Círculo Candeia de Literatura. A partir da segunda quinzena de fevereiro a Loja Virtual com o acervo completo estará em funcionamento.
Sendo o que tínhamos para apresentar-lhes, esperamos ter colaborado com os confrades.
Abraços,
Ricardo Pinfildi
Diretor-Presidente
Candeia Distribuidora de Livros Espíritas
GRUPO DE ESTUDOS AVANÇADOS ESPÍRITAS
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